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Delito de Opinião

O problema continua a ser de estupidez

Sérgio de Almeida Correia, 03.03.25

Vídeo. Luís Montenegro ameaça com moção de confiança e passa empresa aos  filhos(créditos: daqui)

Teria sido bom e desejável que o caso Spinumviva não tivesse acontecido.

Melhor ainda que o Governo se preocupasse apenas em governar e o País não estivesse suspenso e em situação de semi-paralisação, há semanas, por causa da falta de habilidade política, esperteza saloia e total falta de vergonha do primeiro-ministro Luís Montenegro.

Todo o espectáculo a que temos assistido, e que só se prolonga por culpa exclusiva do primeiro-ministro, devia ter morrido à nascença se aquele não estivesse preocupado em ter sol na eira e chuva no nabal.

Se como advogado e jurista o modo como conduziu a “cessão” de quotas a favor da sua mulher e dos filhos já deixava muito a desejar, o que se tem seguido está ao mesmo nível. O que aconteceu na Assembleia da República e em S. Bento não tem justificação e Luís Montenegro deveria ter abordado a situação de outra forma.

Como muitos notaram em múltiplos artigos de jornal e comentários nas rádios e televisões, a estratégia de vitimização pode funcionar para alguma população. Não serve à generalidade das pessoas. E qualquer cidadão medianamente inteligente, que se dê ao trabalho de pensar e de acompanhar a actualidade política e empresarial, rejeita-a.

Em causa não está uma acusação de corrupção, nem ninguém acusou o primeiro-ministro de coisa idêntica ou similar. 

Há, isso sim, um conjunto de situações atinentes à sua vida profissional, familiar e empresarial, no mínimo problemáticas de um ponto de vista ético e político, que suscitam muitas dúvidas, e que ele em vez de esclarecer desde o início sem rodeios, nem subterfúgios, entendeu ir contornando, deixando sair a informação que lhe interessava à medida que lhe convinha, ou que os seus spin doctors lhe diziam.

Afirmou o primeiro-ministro Luís Montenegro que lamentava a desconfiança que se instalou sobre quem exerce cargos políticos e governativos.

Lamenta ele, é verdade, mas sem razão, porque também para isso contribuiu. E lamentam ainda mais todos os portugueses, com razão, que ao longo dos anos têm tido fartos motivos para desconfiar dos seus líderes políticos, vendo essa desconfiança aumentar em cada dia que passa com a displicência com que muitos, a começar por ele, não obstante os maus exemplos que vinham do passado, assumem funções políticas e governativas e exercem os mandatos em que são investidos. Os maus exemplos não têm faltado e os políticos, os maus políticos, só têm de se queixar de si próprios.

Quando o primeiro-ministro, querendo fazer de Calimero, pergunta se “seria justo e até adequado fechar tudo, abandonar tudo, só porque circunstancialmente fui eleito presidente do PSD e agora exerço as funções de primeiro-ministro”, importa dizer-lhe que ele não foi “circunstancialmente eleito”. Ele foi eleito líder do PSD porque escolheu candidatar-se à liderança do partido, porque é político profissional há dezenas de anos e nunca fez nada fora da política. Porque fez uma opção que só a ele, e quando muito à sua família, dizia respeito.

Na vida há que fazer opções e não foi por desconhecer o que se passa em Portugal há décadas, e o risco a que os políticos estão expostos, tantos têm sido os exemplos, que o primeiro-ministro foi tão imprevidente.

Também nada obrigava Luís Montenegro a encerrar empresas ou a deixar a sua actividade profissional pelo facto de se ter tornado presidente do PSD, embora devesse pelo menos ter pensado nisso e preparado o futuro quando se apresentou a eleições perante os portugueses como candidato a primeiro-ministro, encontrando nessa altura soluções adequadas à sua situação profissional e empresarial, que não o colocassem em risco, ou à governação e aos compromisso políticos assumidos, de modo a que no futuro não pudessem vir a revelar-se comprometedores.

Mais a mais sabendo quais as implicações decorrentes da sua eventual eleição para presidente do PSD, qual o programa que teria de cumprir e as decisões que se lhe imporiam. Estou certo de que se o negócio da empresa de Luís Montenegro fosse a exploração de uma geladaria, um negócio de reparação de automóveis ou uma banca de jornais ninguém estaria preocupado com as avenças do grupo Solverde e não se teria assistido ao charivari que aí veio.

E não pense o primeiro-ministro, mais um erro, que o problema ficará sanado pelo facto de só agora, tarde e a más-horas se predispôr a fazer o que poderia ter feito antes de assumir funções governativas. O mal está feito e com excepção da dissolução da empresa não há nenhuma outra que lhe salve a face. Depois, quando sair da actividade política, logo constituirá outra sociedade com quem quiser e dedicar-se-á à reconstituição da sua carteira de clientes.

Ninguém com dois dedos de testa e um mínimo de boa-fé acredita que a empresa sobreviverá entregue a um estudante e a um recém-licenciado, por muito dotados que sejam, em matérias que implicam conhecimentos altamente especializados, aconselhamento em negócios que valem milhões e uma boa rede de contactos. A não ser que alguém lhes coloque uma mão por trás e continue a aconselhá-los e orientá-los até que ganhem asas e se emancipem.  

Se a Solverde fosse minha, provavelmente, não tendo acabado com a avença antes, já a teria cortado cerce, tal o grau de exposição e os danos causados aos seus accionistas. Se a concessão for renovada dirão que houve favorecimento, se a perderem imputarão responsabilidades ao "granel" gerado.

De qualquer modo, pergunta-se se será que aquela empresa, com aquele mesmo objecto social, alguma vez teria conseguido a carteira de clientes e as avenças, e o sucesso que obteve, se tivesse sido constituída sem um sócio que antes fosse líder parlamentar do maior partido português, deputado em várias legislaturas, com uma agenda recheada de contactos dentro e fora da política?

Ou será que Luís Montenegro está convencido de que se ele não tivesse o seu currículo político e a sua formação académica, mérito dele e do nosso sistema de partidos, conseguiria que fossem encomendados trabalhos por ajuste directo com algumas autarquias do seu partido, enquanto advogado, ou que enquanto empresário alguma vez conseguiria aquelas avenças? Não há nisto nenhum mal, porque isso também é trabalho e “investimento” dele, mas não se queira atirar mais areia para os olhos das pessoas.

Ainda me recordo do problema suscitado com Pedro Siza Vieira e uma sociedade imobiliária que este detinha com a mulher quando assumiu funções como ministro.

Nessa altura, o Rui Rocha, hoje líder do Iniciativa Liberal, escreveu aqui no Delito de Opinião umas linhas sobre o assunto. E o PSD, através de mais um dos seus craques em São Bento, afirmou que "quem não cumpre regras legais das incompatibilidades, quem não cumpre a lei não pode ser ministro, é a própria lei que culmina essa violação com a demissão. Se não fosse a lei, devia ser pelo menos a consciência do senhor ministro Adjunto, do senhor ministro Siza Vieira, ou a consciência do primeiro-ministro a dizer-lhe que ele devia imediatamente cessar funções".

Quanto à posição do CDS-PP, o núncio Paulo já esclareceu o país. Mas será que aquilo que o PSD disse em 2018 em relação a Siza Vieira se deverá aplicar hoje a Luís Montenegro? 

O primeiro-ministro esteve mal na forma como conduziu este processo desde a primeira hora. Esteve mal nas respostas que foi dando e nas que optou, num primeiro momento, por omitir, permitindo que a bola continuasse a rolar e a aumentar de volume, dando gás ao discurso populista, demagógico e oportunista de quem só se sente bem na política se esta for uma choldra e andarem todos enlameados.

E esteve ainda pior na tentativa de vitimização, nas perguntas que atirou para o ar, como se não soubesse já as respostas e aquelas possuíssem algum sentido. Enfim, promovendo um espectáculo indigno de uma democracia consolidada e de políticos com dimensão, evitando perguntas da comunicação social e levantando a voz sem motivo, como se o facto de querer falar alto lhe desse razão.

Não dá. Não lhe dá a ele, também não dá a Pedro Nuno Santos, nem a ninguém. Têm altura, é verdade, não têm é estatura política.

A infeliz encenação na discussão da moção de censura do Chega, a dramatização da declaração prestada em S. Bento, rodeado pela sua equipa, numa imagem que quase parecia de velório, é bem o que ficará dos vários actos da opereta dos últimos dias.

Com ou sem voto de confiança, com mais uma ou menos uma inócua moção de censura, o destino político de Luís Montenegro está mais do que traçado. Será tudo uma questão de tempo, ainda que o Presidente da República se mantenha mudo.

Passos Coelho, com todos os defeitos que possa ter, só não tomará neste momento conta do partido se não quiser. 

E não, não me comovo com nada do que aconteceu porque o problema não é de inveja. Nem sequer, desta vez, é de corrupção.

Como normalmente sempre acontece neste tipo de casos que se colocam na política nacional com cada vez mais frequência, este é apenas mais um problema de estupidez. Da grossa.

Mas contra isso, apesar do número elevadíssimo de casos que temos tido, e continuamos a ter, ainda não há vacina, pese embora ser altamente contagiosa e afectar todos os partidos políticos.

Há por isso que investir no combate à doença. Talvez com as verbas do PRR.

A resiliência à estupidez tem sido grande entre os nossos políticos e os nossos partidos. E recorrente. E a recuperação, a cura, por mais que se mudem as moscas, é que não há maneira de se ver.

 

Em tempo: à cautela, leia-se o art.º 372.º do Código Penal.

Este país não tem emenda

Contra-reforma em marcha: ressuscitem-se as freguesias extintas no séc. XIX

Pedro Correia, 18.01.25

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Em votação esmagadora, a Assembleia da República aprovou ontem a reversão de parte significativa da reforma do mapa administrativo, que vigorava desde 2013. Das 4259 até então existentes, baixou-se o número para 3092 após amplo debate público. Agora são repostas 302 - quase um terço das que haviam sido agregadas para ganhar escala, racionalizar meios, atrair investimento e reforçar capacidade reivindicativa perante o poder central. 

Espantosamente, o PSD que promoveu a reforma - imposta no memorando de entendimento assinado pelo Executivo socialista em Maio de 2011 - esteve agora na primeira linha da contra-reforma. Como se fosse um partido de duas caras. E se calhar é mesmo.

Só a Iniciativa Liberal votou contra, o que muito a honra.

 

Dizem-me que a contra-reforma se tornou "imprescindível" porque algumas freguesias sofriam afrontamentos e experimentavam dolorosas "crises de identidade" em consequência da agregação. 

Lamento muito. Por isso atrevo-me a sugerir ao parlamento que aproveite o balanço para restaurar também as centenas de municípios extintos nas reformas administrativas de 1835 e 1853, em pleno reinado de D. Maria II.

Chegou a hora de ressuscitar essas sedes de concelho, que chegaram a ser cerca de 900. Atenção Águas Belas, Buarcos, Colares, Dornes, Ericeira, Freixo de Numão, Galveias, Horta, Idanha-a-Velha, Juromenha, Lavradio, Messejana, Negrelos, Odeceixe, Penha Garcia, Quiaios, Rabaçal, Samora Correia, Tentúgal, Ucanha, Vilar de Maçada e Zebreira: é tempo de todas soltarem o grito do Ipiranga. De A a Z.

E não parem aí, senhores deputados: vão mais longe. Equiparem cada paróquia eclesiástica a um município. São só 4361, não custa nada. Aliás antes de haver freguesias já existiam paróquias em Portugal: in illo tempore, o termo "freguês" servia para designar os paroquianos, enquanto fregueses do pároco.

Engatem a marcha-atrás, operem o milagre da multiplicação das paróquias. Para que a contra-reforma seja imparável.

 

Confirma-se, mais a sério: etapa a etapa, vamos voltando ao Estado pré-troika. O mesmo que nos condenou à perda da soberania financeira.

Eis uma evidência: este país não tem emenda. 

O PS deve cinco Orçamentos ao PSD

Pedro Correia, 03.10.24

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Quando Marcelo liderava o PSD, entre 1996 e 1999

 

O PSD aprovou cinco Orçamentos do Estado apresentados na Assembleia da República por executivos minoritários do PS. Aconteceu com os orçamentos de 1997, 1998 e 1999, viabilizados por decisão de Marcelo Rebelo de Sousa quando liderava os sociais-democratas como principal força da oposição. E com os orçamentos de 2010 e de 2011, quando José Sócrates chefiava o Governo e Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho ocupavam a presidência do partido laranja.

O contrário jamais sucedeu.

Não há memória de vermos a bancada parlamentar socialista contribuir, com a abstenção, para a passagem de um Orçamento do Estado submetido ao hemiciclo de São Bento por executivos minoritários do PSD.

Moral da história? O PS deve cinco Orçamentos ao PSD. Tão simples como isto.

As "Pessoas Que (Não) Menstruam"

jpt, 22.08.24

O diretor da Universidade de Verão do Partido Social Democrata (PSD), Carlos Coelho, discursa durante a sessão de encerramento da Universidade de Verão do partido em Castelo de Vide, 04 de setembro de 2022. NUNO VEIGA/LUSA

(Foto de Nuno Coelho, Lusa, retirada daqui)

Há duas décadas conheci em Maputo uma jovem antropóloga espanhola, competente e simpática, que ali leccionava com agrado discente e apreço colegial. Um dia, em conversa decorrida no café do "campus", aludi - e decerto que com amoroso desvelo - à "minha mulher". Ela saltou, inopinadamente, furiosa com a utilização que eu fizera do possessivo, cenho (até belo) franzido, voz alterada, invectivando-me "és o dono dela? é tua propriedade?".

A nossa relação era curial, naquele pacífico tom de colega, e aquela sua reacção extravasava-a por completo. Eu sabia-a dada aos execráveis nacionalismos - dos daquela turba que se diz "catalã" e nisso geneticamente mais aparentada com os franceses do que com os portugueses e marroquinos, entre outras lérias. E de pendor feminista - ideário louvável, ainda para mais naquele país austral, onde, tal como na esmagadora maioria das sociedades, a igualdade de direitos e a equidade de oportunidades é um necessário desiderato, mas ainda bem longínquo... Mas que me agredisse assim - apesar de ser eu um verme masculino e um desprezível mouro independente -, com armas sintácticas e semânticas, foi-me surpreendente.

Avanço que detesto quando algum não falante de português como língua primeira me vem dizer, doutoral, como devo falar a minha língua - como aquela espanhola naturalizada portuguesa por via de casamento que gritava, mão na anca, que a devíamos chamar "presidenta", "colona" miserável, disse-a, entre outras mudas alusões à comercialização dos seus dotes físicos. Entenda-se, desses alterfonos aceito correcções e propostas, mas não mandamentos linguísticos. Tal como detesto estrangeirismos inúteis, pois desprovidos de conteúdos semânticos - como o "seivar" no lugar de "guardar" ou "gravar", o patético "deletar" em vez de "delir", ou o insuportável "link" como "elo", para exemplos. Já para não falar dos inúmeros que são meros arrivismos guturais, a julgarem-se cosmopolitas. Não é isto nacionalismo linguístico. Mas apenas a consciência de que nem tudo o que vem "lá de fora" é de oiro. Aliás, nem tudo o que desse "lá" por cá aporta reluz...

Mas apesar de tudo isso, e porque estava num bom dia, à minha colega não respondi desabrido, mas sim sorridente. O que lhe piorou a disposição, pois as feministas quando estúpidas e/ou ignorantes - e "ele" há-as - sentem como machismo (o que chamam "mansplaining") a explanação ponderada e eficiente da sua ignorância e/ou estupidez. Avisei-a pois de que quando o amor da minha vida se me referia como "o meu marido" não estava a afirmar-me como sua propriedade, qual escravo (ainda que eu dela me sentisse assim, e disso ufano, na escravidão voluntária que alguns historiadores referem). E aduzi que quando tratava alguém, respeitosamente, por "Senhor" ou "Senhora", ou mesmo "Minha Senhora" não me estava a reclamar seu servo ou lacaio. Não ficou ela convicta, a conversa ali morreu, lembro apenas que um antes apalavrado jantar em nossa casa com ela e o "companheiro" (decerto seria esse o estatuto) não se veio a realizar, por mútuo esmorecimento de vontades.

Leio agora que a Pessoa Que Não Menstrua Carlos Coelho - um antigo excitadinho da jsd, que pelos vistos 40 anos depois continua na politiquice - vem defender a Pessoa Que Menstrua (ou Menstruou) actual ministra da Juventude. Ambos repudiando a utilização dos termos "homem" e "mulher", considerados vilanias anacrónicas, pois coisas do "antigamente". E afirmando ser necessário seguir as instruções que vêm "de fora", o palavreado das "organizações internacionais".

Diante disto o que é que um tipo diz a este ex(?)-jotinha? Um mero "vai-te menstruar, pá!"? Ou explica-se-lhe, com verdadeiro mansplaining, as matérias do conteúdo social (semântico) da língua? Hum, duvido que esta pessoa desmenstruada, mero jotinha profissional, chegue a tais compreensões... Quanto à menstruada ministra, de qual nunca ouvira falar, presumo que seja da mesma estirpe. E é esta tralha humana que se julga "atenta". E, ainda pior, que nos governa.

Misericórdia

jpt, 09.05.24

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Vários amigos sabem que a minha alergia ao jornal "de referência" Público me impede de o ler diariamente (vejo apenas o que me enviam sob recomendação, às vezes com vero sadismo). Agora recebi este texto de João Miguel Tavares. O colunista - insuspeito de cumplicidade com o amplexo PS - zurze em bons termos o nóvel governo por causa da atrapalhada demissão da chefia da Santa Casa de Misericórdia, entregue à antiga ministra socratista Ana Jorge. Logo de seguida, em jantar com gente que me é imensamente (para não dizer mais...) querida, também o assunto foi abordado, criticando-se "a pés juntos" (e com pitons) o malvado governo.

Pouco sei do assunto, a instituição ter-se-á metido em jogatanas no Brasil e perdido uma fortuna. Por isso o anterior governo mudou a sua direcção. Agora este quer mudar de novo. E está uma trapalhada. "Deselegante", para não dizer pior, é o que atiram aos governantes, que destrataram a actual (e inocente) chefia. O próprio João Miguel Tavares - de quem os socialistas sempre dizem pior do que Maomé disse do toucinho - se indigna.

Ora eu leio o texto e interpreto-o ao contrário. Não sou eleitor do partido do governo (nem das ficções com que está "coligado"). E já há anos escrevi que o seu actual presidente é um Jorge Silas (os sportinguistas campeões compreender-me-ão...). E até julgo que o PSD é "farinha do mesmo saco" que o PS (ainda que talvez as últimas remessas tenham menos "bicho" - ainda que tal não seja difícil, tão putrefactos estão os tipos do "Rato").

Ainda assim, ocorre-me uma ideia acerca do fundamental disto tudo. O governo contactou a chefia das Misericórdias e pediu-lhe que se demitisse. A senhora recusou-se. Acontece que a sua nomeação fora política, é um cargo de "confiança política", não adveio de qualquer concurso. Ou seja, o que é curial (moral) - independentemente de contratos vigentes - é que o cargo esteja sempre "à disposição", e muito em especial se muda o governo. E quando se pede a alguém que se demita - muito em particular uma profissional sénior de estatuto elevado -, é para evitar que seja demitida, sempre um acto ríspido. Pode ser injusto, as pessoas em causa podem sentir-se injustiçadas, os postos podem ser muito apetecíveis, as funções até exaltantes... Mas é o curial: sair quando se lhes é pedido. Até porque ninguém as obrigou a aceitar os postos. E porque não se tratam - os elevados a estes postos de "confiança política" - de desvalidos em busca do "leite para as crianças", assim passíveis de caírem nas ruas da amargura, nas filas do Banco Alimentar.

Lembro-me de há anos ter encontrado um amigo - o tipo não conta a história em público portanto não o identifico - que, já noite longa, me confidenciou o que lhe acontecera. Anos antes fora convidado para um belíssimo cargo de óbvia "confiança política" (desses exaltantes - e bem pagos -, e que ainda para mais são trampolim para um futuro aconchegado). Recusou, pois não queria estar sujeito à tal "confiança política" de gente daquela cor partidária - e daquela estirpe, o que lhe era mais importante. Insistiram. E recusou de novo, "disse-lhes que os meus avós se levantariam da tumba para me perseguirem no caso de eu trabalhar para eles...". Ri-me com o desplante do homem e brotou-me, apesar de com ele fazer alguma cerimónia, "estúpido do c....!". Ele riu-se num "pois!". E pediu mais 2 duplos (Dimple, lembro bem). No fim da noite, alvorada já, paguei eu a conta, claro! Que era robusta...

Ou seja, deixemo-nos de coisas, a septuagenária socratista é que esteve muito mal. Tal como estarão todos os outros apparatchicos que não saírem pelo seu pé! O resto são amendoins...

Não tem emenda

Legislativas 2024 (8)

Pedro Correia, 16.02.24

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Rui Rio estava sabiamente remetido ao silêncio há largos meses. Lembrou-se agora de falar: não para criticar o PS mas para propor um "pacto" entre o PSD e o PS. Em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas de Março, quando o PSD estabeleceu como prioridade total desalojar o PS do poder que ocupa há mais de oito anos. Parece uma rábula do Ricardo Araújo Pereira.

Continua como antes: nada beneficiou com o retiro sabático. Não tem emenda.

Coitada da Heloísa

Legislativas 2024 (4)

Pedro Correia, 08.02.24

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Luís Montenegro tentou fazer-se representar no debate televisivo com a CDU por Nuno Melo, presidente do CDS, o segundo partido da coligação AD. Paulo Raimundo recusou de imediato a sugestão do social-democrata, acusando-o de fugir à discussão. O secretário-geral do PCP é inflexível: não tolera debater com um "número dois".

Perdeu excelente oportunidade de fazer avançar alguém do PEV, o partido-fantasma que integra a CDU com os comunistas. Coitada da Heloísa Apolónia: ainda não é desta que deixa de ser invisível.

O programa eleitoral pode esperar

Legislativas 2024 (3)

Pedro Correia, 07.02.24

 

Pelo menos três partidos ou coligações começaram a maratona de debates televisivos da pré-campanha para as legislativas de 10 de Março sem terem apresentado os respectivos programas eleitorais: PS, Aliança Democrática e Chega.

Não por impreparação, certamente. Julgo que também não por incompetência. Por desleixo, sim. Mas sobretudo por inequívoca falta de respeito pelos eleitores. Se a nossa cultura democrática fosse mais sólida e exigente do que é, isto bastaria para serem penalizados nas urnas.

"Banho de ética" dos amigos de Rui Rio (epílogo com dois novos capítulos)

Pedro Correia, 02.02.24

A dupla fuga de Montenegro

Legislativas 2024 (1)

Pedro Correia, 31.01.24

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Luís Montenegro (natural do Porto mas residente em Espinho onde passou grande parte da infância e juventude) sempre foi candidato a deputado por Aveiro. Agora, que é presidente do PSD, decidiu candidatar-se por Lisboa. Gesto incompreensível, vindo de um homem do Norte: então é defensor da descentralização e fez até justas proclamações contra a macrocefalia alfacinha, mas corre a empoleirar-se no distrito da capital? Incompreensível por outro motivo: assim evita o embate nas urnas com Pedro Nuno Santos (natural de São João da Madeira), que também sempre foi candidato por Aveiro. Foi e volta a ser: mantém-se lá.

Percebo mal esta dupla fuga de Montenegro. Ao distrito adoptivo e ao confronto directo com o secretário-geral socialista. Parece ter-se esquecido disto: uma das qualidades mais valorizadas num político, seja de que quadrante for, é a coragem.

Este atributo avalia-se por actos, não por palavras. Ao esquivar-se ao duelo em Aveiro com o antigo ministro da ferrovia e dos aeroportos, o líder laranja parece fazer campanha contra si próprio.

Se ainda ninguém lhe disse isto, fica dito agora.

Marxista no Chega, tendência Groucho

Pedro Correia, 25.01.24

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«Se os meus princípios não vos agradam, arranjo outros.» (Groucho Marx)

 

«Com uma proposta de governo liderada pelo futuro primeiro-ministro, Luís Montenegro, a vitória do PSD é a mudança necessária e imprescindível para defender um SNS verdadeiramente ao serviço das pessoas e para seguirmos no rumo de mais progresso e mais justiça para Portugal. Portanto Portugal está à espera e precisa de Luís Montenegro.»

Deputado Rui Cristina, em intervenção no 41.º Congresso Nacional do PSD (25 de Novembro 2023)

 

«Fica patente existir na actual liderança do PSD uma maior preocupação com ajustes de contas internos, imposição de egos que na essência não assumem compromissos sérios com o partido. (...) Após uma reflexão profunda e amadurecida pela dor e sofrimento das consequências da mesma, não encontro alternativa que não seja uma rotura para com as decisões tomadas pela direção do partido.»

Deputado Rui Cristina, em carta dirigida ao secretário-geral do PSD (22 de Janeiro de 2024)

 

«Rui Cristina, actual deputado social-democrata, sai do PSD e está prestes ser anunciado como cabeça de lista do Chega pelo distrito de Évora, revelou fonte do partido à SIC. O anúncio está previsto para os próximos dias.»

Notícia da SIC (22 de Janeiro de 2024)

"Banho de ética" dos amigos de Rui Rio (com dois novos capítulos)

Pedro Correia, 21.01.24

"Banho de ética" dos amigos de Rio

Pedro Correia, 11.01.24

A dificuldade não está na rejeição

Sérgio de Almeida Correia, 01.12.23

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Algumas pessoas ficaram admiradas com o resultado da sondagem da Universidade Católica/Público/RTP, dada a conhecer no passado dia 28 de Novembro. Ainda todos estão lembrados dos resultados de outras sondagens aquando das últimas legislativas e do que veio a acontecer. O país não quis saber de empates técnicos nem de vitórias tangenciais e resolveu entregar uma maioria absoluta a António Costa. Por essa razão convém moderar as análises e o ímpeto das conclusões.

Ainda assim, atrevo-me a dizer publicamente o que penso, arriscando a crucificação num pelourinho por delito de opinião.

E neste momento em que se discute a liderança do PS e todos os outros partidos se afadigam a prepararem-se para as eleições – alguns na mira de conseguirem adiar por mais algum tempo o seu próprio funeral – parece-me evidente que a golpada marcelista, amplamente favorecida pelo descalabro da governação (seria difícil encontrar outro termo para o desastre que foi, salvo raríssimas excepções, a performance do XXIII Governo Constitucional), poderá vir a revelar-se como uma bênção para a reforma do sistema político e eleitoral. De uma assentada, os portugueses podem abrir caminho para se livrarem de quase todos os pantomineiros que fazem hoje a maioria da classe política que nos trouxe até ao imbróglio em que estamos.

Dos diversos cenários apresentados pela sondagem acima referida, algumas conclusões são inequívocas: i) Os portugueses não gostam de radicais; ii) Qualquer que seja o cenário dispensam Luís Montenegro; iii) Pedro Nuno Santos (PNS) não lhes merece o aval da confiança.

Quanto à primeira não constitui novidade. O país reconhece-se ao centro na extensa faixa que vai da democracia-cristã/liberalismo/social-democracia até ao socialismo democrático mais ou menos esquerdista.

Depois, em relação ao líder do maior partido da oposição, o PSD, verifica-se que apesar de tudo o que aconteceu com o Governo e com o PS, Luís Montenegro não consegue melhor do que um resultado sofrível qualquer que seja o cenário.

Não é de estranhar. Chegou a líder por ser tão anódino quanto foi deputado ao longo dos anos, sem um lampejo que o resgatasse à mediocridade carreirista da JSD ou da seita aventaleira que o ajudou a crescer. E agora que se vai apresentar a eleições traz consigo, como se viu no congresso do passado fim-de-semana, um camião com um atrelado de sarcófagos de onde vão saindo umas múmias que não deixaram saudades. Que seja castigado e as sondagens não lhe sejam particularmente favoráveis depois de tantos anos de PS no Governo não é uma fatalidade.

Mas se o teste havia de chegar com as eleições europeias ou com as autárquicas, o Presidente Marcelo fez o favor às hostes laranja de anteciparem o futuro e se livrarem de Montenegro e da sua tralha bem mais cedo, pois que quanto mais depressa o PSD iniciar a sua renovação e posicionar uma nova geração de líderes, que seja recrutada noutro lado que não seja entre as levas de imperiais do Ribadouro, menos difícil será construir uma alternativa na área política do seu eleitorado, colocando um ponto final na balbúrdia venturista à sua direita.

Em terceiro lugar, há o problema PNS para resolver. Este é um problema interno do PS e que só terá solução, acreditemos que sim, se nos próximos dias 15 e 16 de Dezembro os militantes socialistas o resolverem.

Os resultados da sondagem explicam por que razão é que PNS não quer debates com os outros candidatos à liderança do partido. Não se trata, evidentemente, de evitar dar trunfos à direita, mas sim de evitar o debate político e fugir do confronto com as suas próprias contradições, com o cataventismo socratista e a vacuidade petulante e oportunista do discurso.

Em 2017 (não vale a pena recuar mais), PNS, que já era crescidinho, afirmou que "O PS nunca mais irá precisar da direita para governar". Em 2018 sublinhou que "o PS não está refém da direita para governar". Depois, quando anunciou a sua candidatura, começou por atacar o candidato José Luís Carneiro, acusando-o de não ser suficientemente combativo contra a direita e vincando que com ele "o PS não vai ser muleta de ninguém", esclarecendo que o seu foco e o da sua candidatura "é derrotar a direita e não mais do que isso", antes de entrar na contabilidade cacical de saber quem apoia quem.  Como se esta tivesse interesse para alguém com excepção dos bípedes que ficam com insónias ante a perspectiva de não saberem quem apoiar para manterem os tachos dentro do partido e fora dele.

Bastou passarem dois dias, depois de acusar JLC de desvio direitista, e logo começou, de mansinho, a chegar-se para o centro, não fosse o diabo tecê-las. Daí que tivesse saído a terreiro para dizer que "o diálogo à direita e ao centro é fundamental" e que "há matérias onde o entendimento com o PSD é desejável e importante" (quais?), ao mesmo tempo que dizia que "a memória da geringonça é boa". Ora bem. E ainda disse que até a uma coligação pré-eleitoral não fecha portas. Colocou a primeira cereja no topo do bolo da coerência, qual franciscano, com que pretende desfilar nos próximos dias. 

Em rigor, para PNS o que é preciso é estar em todas, com todos "e com todas" desde que isso lhe garanta o poder. E se possível também com "todes", que foi para isso que o talharam, no "berço de oiro", na humilde loja do sapateiro, e em especial no albergue onde lhe construíram as ambições conforme as ocasiões.

Percebe-se, ademais, qual o motivo para que directas abertas, como mostram as sondagens, também sejam dispensadas por PNS, pois que é muito melhor deixar a escolha do líder do PS nas mãos dos caciques que controlam as concelhias e o aparelho do que confiar na decisão dos simpatizantes que não têm tempo para a militância e dos quais dependem os resultados eleitorais do partido.

Como lá mais acima dizia, se os militantes socialistas quiserem dar um contributo ao país poderão começar por se livrarem de PNS, mandando-o tomar conta das empresas familiares, de maneira a que não mais tenha necessidade de esconder os carros quando for para a campanha eleitoral. Esta é uma oportunidade única e irrepetível. 

Seria uma pena se os portugueses, que de uma assentada se podem livrar do neo-socratismo e do basismo cavaquista e passista, encetando um caminho de renovação das suas elites políticas, não aproveitassem os ventos fortes que sopram de todos os quadrantes, e a chuvada que se prepara nos próximos dias, para lavarem o terreiro e removerem de lá toda a barracada de feira que se foi instalando, dispensando os vendedores de tapetes, ligaduras e sarcófagos, os milhares de arrumadores e de traficantes de influências, os penduras de ocasião, a malta das sementes dos vários tipos de relva, enfim, livrando-se de toda a tralha de gigantones, coristas e emplastros acumulada nos últimos carnavais. 

As queixas dos portugueses

Paulo Sousa, 19.06.23

Na sexta-feira passada assisti a uma Assembleia Municipal que, de forma diferente do habitual, decorreu fora da sede de concelho. Há uns anos instituiu-se uma rotação esporádica destas sessões entre as diferentes freguesias do Município de Porto de Mós. Julgo que estas Assembleias Municipais Descentralizadas ocorram uma vez por ano e esta foi a primeira vez que visitaram a Freguesia do Juncal.

O público não aderiu em massa, longe disso. Pelo que já verifiquei noutros tempos, em que durante alguns anos me deslocava a Porto de Mós e não perdia uma, na generalidade o público não sente a vida autárquica como sendo coisa sua. Excepção feita nas campanhas eleitorais em que, ágil, se desloca às sessões de esclarecimento, vulgo porco no espeto com minis e vinho a gasto.

Antes de se deslocar a uma AM, para usar da palavra no designado “período antes da ordem do dia”, o público prefere cumprir a sequência natural das coisas e começa por apresentar as suas reclamações na respectiva Junta de Freguesia. Só depois de repetidos pedidos não terem resultado é que então, talvez, se desloque ao plenário municipal. Como resultado disso, ao se ouvirem os Presidentes de Junta, escutam-se as queixas mais representativas dos seus fregueses.

Pelo que me recordava doutros tempos, o padrão dos assuntos mais repetidos prende-se com buracos por tapar, equidistância na distribuição dos contentores do lixo e o estado de estradas e caminhos.

Desta vez, apercebi-me que o padrão se alterou. Em praticamente todas as intervenções dos Presidentes de Junta, repetiu-se a queixa pela falta de médicos e pelo deficiente estado do SNS.

O Presidente, Jorge Vala, explicou que existe no concelho uma Unidade de Saúde Familiar (USF), constituída por, julgo, três antigos Centros de Saúde, e também por diversas Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP). A maioria das queixas prende-se com este último modelo.

A regular abertura de concursos para colmatar a falta de médicos há muito que passou a ser apenas uma esfarrapada desculpa para a evidência de que este modelo não é capaz de atrair profissionais de saúde. Pelo contrário, há muito menos queixas do funcionamento das USF, onde o sistema de incentivo, assente em critérios objectivos de desempenho, leva a que quem ali trabalhe possa beneficiar de um significativo aumento salarial.

Fiz umas pesquisas e tropecei nesta avaliação custos-consequências comparativa das USF e UCSP. Respeita ao ano de 2015 e não sei se haverá alguma mais recente. Na generalidade comprova as vantagens do modelo USF relativamente ao das UCSP. Sobressai uma enorme diferença entre o custo por inscrito e o custo por utilizador. As UCSP têm mais utentes inscritos e assim, estatisticamente, podem diluir os seus custos por uma base mais alargada, o que explica o seu menor custo por inscrito.

Mas se observarmos ao número de pessoas que realmente as elas recorre a situação inverte-se, pois as USF, embora tendo menos utentes inscritos (também por serem poucas), compensam isso com o facto de serem úteis muito mais vezes. Assim conseguem um bem menor custo por utilizador.

Ao ver isto, recordei-me do que assisti há pouco tempo, uns dias antes de uma viagem sobre a qual aqui postei. Como ali conto, o meu companheiro caiu de bicicleta e ficou com um significativo golpe no nariz. Depois de uma lavagem com a água que transportávamos para hidratação, pedalámos ainda uns quinze quilómetros até chegar a uma destas UCSP. E é aqui que as duas histórias se juntam.

O senso comum de um leigo como eu dizia que a coisa se resolvia com uns pontos. Após demorado debate, os técnicos ali presentes acabaram por concluir que ele teria de ir para o hospital, pois podíamos estar perante uma situação grave. Não valia a pena argumentar que se fosse esse o caso ele não teria ali chegado a pedalar. Além disso, não sou entendido na matéria e, pior ainda, eu estava de calções, o que anula qualquer razão que se possa ter num debate.

Lá chamaram uma ambulância dos Bombeiros Voluntários e lá foi o João para o Hospital de Leiria. Valerá a pena lembrar que, entre a queda e a chegada ao Hospital, já tinham passado umas três horas. O médico que o assistiu nas urgências não se coibiu de reclamar pela falta de noção que fizera mobilizar uma ambulância e dois bombeiros, sobrecarregar as urgências, para simplesmente aplicar três pontos.

Atrevo-me a dizer que, a boa-vontade que terá faltado na avaliação que desencadeou toda aquela operação não se teria verificado se, em vez de se alimentar um aparentemente inócuo jogo do empurra (é verdade que se aproximava a regimental hora do “despegar”), houvesse ali aquele pequeno benefício material chamado incentivo pelo desempenho.

Ora, se o serviço prestado pelas USF é comprovadamente melhor, porque é que se insiste em manter as UCSP? A resposta mais provável é que isso obrigaria a fazer reformas e o governo maioritário de António Costa é incapaz de tal travessura.

Regressando à AM, perante tamanhas falhas de serviço, os Presidentes de Câmara não têm como acorrer à sua população nos pedidos desta natureza. Isso é especialmente difícil para um autarca do PS, porque se sentirá com menor margem para apontar para o verdadeiro culpado de não reformar, de não resolver, de não decidir.

Ora, tendo o meu Presidente da Câmara sido eleito por um partido da oposição, acaba por ter mais margem de manobra para se escudar em explicações à população. Apesar disso, imagino que por achar que não foi eleito para apontar culpados contratou no ano passado com uma seguradora o Plano de Saúde para Todos os munícipes que, não obrigando ninguém a nenhum pagamento, lhes permite aceder a um alargado leque de consultas de diversas especialidades no privado, com descontos significativos. Esta medida tem conseguido um elevado nível de satisfação.

Recordo um dos Presidentes de Junta que lembrou o que as estatísticas já comprovam: o facto de se estar a morrer mais cedo, por falta de assistência médica. Há gente a morrer antes da idade que a ciência dos nossos dias permitiria.

A redução da esperança média de vida já levou até a uma correcção da idade da reforma. A explicação oficiosa é que isso resulta da pandemia, mas os números mostram-nos que o aumento da mortalidade não-covid é uma realidade.

Constatar isto, que não deixa de ser uma forma de miséria, é triste.

António Costa insiste em desmentir a realidade, fazendo afirmações que não são mais do que tentativas de criar uma narrativa. Insiste e, sem temer o ridículo, volta a insistir. Quem é que ainda se lembra daquela segunda-feira, em que de entre o cerrado nevoeiro iria surgir não o Dom Sebastião, mas a solução de parte dos problemas do SNS? E os palermas aplaudem, em especial os beneficiários da ADSE (o SNS versão Premium). A ideologia que lhes sustenta a visão sectária do país, consome-lhes o humanismo, que se gabam de ter em abundância. São a manifestação de uma outra forma de miséria.

A miséria final vai para a oposição do PSD de Montenegro que, em vez de dar voz aos portugueses, em vez de tomar a iniciativa e de marcar conferências de imprensa ao lado das filas de espera, onde milhares de portugueses passam madrugadas para conseguirem uma consulta, continua apostada na velha regra de que para conseguir chegar ao poder lhe basta fingir-se de morto. Perante o que vejo, mais do que fingir-se de morto, o PSD de Montenegro, precisa antes de conseguir fingir que está vivo.

Naufrágio à vista

Sérgio de Almeida Correia, 31.05.23

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(Créditos: Público/Paulo Pimenta)

Haverá um provérbio popular que reza qualquer coisa como "com o mal dos outros posso eu bem", mas este não se aplica às declarações do presidente do Partido Social-Democrata (PSD). Digo isto sem qualquer ponta de ironia, muito menos satisfação.

Com o número de anos que o Partido Socialista (PS) já leva de governo, seria natural, penso eu, que o maior partido da oposição, vivendo em estabilidade interna, estivesse em condições de assumir o poder. Só este cenário seria compatível com a virulência das críticas que se têm ouvido na Assembleia da República, pelos ouvidos colados às portas fechadas de Belém, e nas regurgitações do pastorinho de Boliqueime quando há dias, com a maior desfaçatez e sem ponta de memória, numa daquelas visões em que de tempos a tempos é pródigo, afirmou que o "Governo socialista é especialista: em mentira e na propaganda e truques" e irá deixar "uma herança extremamente pesada" ao seu sucessor. O dito chegou ao ponto de referir que perante o actual estado do país este "precisa de saber que há uma alternativa sólida e serena", personificada, segundo ele, em Luís Montenegro e num futuro governo social-democrata. 

E face a esta revelações, em que ainda ninguém tinha reparado, depois dos agradecimentos e das palmadas nas costas, que fez Montenegro?

A resposta, sob a forma de agradecimento público ao idílico cenário de um governo laranja, antecipado por Cavaco Silva, chegou-me pela entrevista que aquele deu na segunda-feira passada à RTP e de que esta manhã alguns jornais fizeram eco.

E essa não podia ser mais sincera e cativante quando o Montenegro general e comandante-chefe das tropas da Oposição, do alto do seu garbo de proprietário espinhense, esclareceu os portugueses de que a sua expectativa, para Junho de 2024 – ainda com mais doze meses de governança socialista pela frente, com mais um ano de "descalabro", com mais moções, comissões, casos, casinhos, inquéritos, prescrições à vista em processo de vigaristas, e a continuação do corrupio de galambinhas e galambões –, é perder as eleições europeias por apenas dois ou três pontos. E  acrescentou para serenar as dúvidas que um resultado destes, ou seja, mais uma derrota do PSD que ele dirige, não será um mau resultado. Pois não. Desde que se mantenha na liderança, para ele, Montenegro, todos os resultados são bons. O país que se dane. 

Por aqui se vê a relevância e a confiança que Luís Montenegro a si próprio se atribui para um dia chegar a primeiro-ministro. Felizmente. 

Eu sei que o PS anda há vários anos pelas ruas da amargura, em matéria de quadros políticos e dirigentes capazes, entregue como tem estado aos caciques e seguranças das concelhias. E não, não me estou a referir a um primeiro-ministro esgotado, teimoso e sem paciência, que a dormir sabe mais que os outros todos "à coca", ou a gente discreta como Jorge Seguro Sanches, que tendo estado muito bem, como se viu depois, em retirar-se daquele circo da Comissão de Inquérito Parlamentar à TAP,  que só tem servido para nos envergonhar, se perde no meio daquela realeza proletária, de raízes pequeno-burguesas, cujas cabeças cravejadas de diamantes adornam a bancada parlamentar do partido à custa da maioria absoluta "do Costa" e da total ausência de líderes políticos à direita, à esquerda, ao centro, em cima ou em baixo. 

É que nem o desgraçado nível de preparação política de alguns deputados, basta olhar para a CPI à TAP e ver que há quem nem papéis tenha em cima da mesa, não faça perguntas e passe as reuniões a brincar com o telemóvel, pode justificar a falta de ambição, de esperança e de sentido de Estado do líder do PSD.

De carisma, ensinou-o Weber, num caso destes nem a brincar se pode falar.

Como se depreende das palavras de Montenegro à RTP, um verdadeiro funcionário político do pior que a democracia gerou, Portugal passa bem sem este PSD estupidamente medíocre que floresceu à sombra dos negócios autárquicos, do passismo e das intrigas de comadres e seminaristas.

Previsivelmente, em cada dia que passa Portugal fica pior com a falta de uma oposição capaz, bem preparada, sem telhados de vidro, transparente e acima de tudo inteligente (não estou ainda a delirar), que não se deixe arrastar pela sucessivas vagas populistas, se aguente à bronca, saiba lidar com Venturas e Mortáguas, e esteja disponível para fazer as perguntas que se impõem nos debates parlamentares – em vez de irem para lá ler umas cábulas repetitivas e mal amanhadas –, apresentando propostas sérias para resolução dos problemas que a todos afligem. Enfim, que tenha capacidade para confrontar o Governo, este ou outro qualquer, com as suas decisões políticas e alguma estupidez à mistura, seja quanto ao lítio e as decisões de um tal de Matos Fernandes ou os "Vistos Gold", e mostre capacidade para fazer política com decência, argumentação capaz e elevação, largando a politiquice rasteira a que se habituaram nos tempos do "ismos" laranja, e que querem que todos os portugueses agora engulam sob o rótulo de "alternativa". Alternativa uma porra.

Seria bom que Portugal conseguisse abandonar a rota da mexicanização, obrigasse o PS a reformar-se, e os militantes e simpatizantes do PSD levassem a cabo uma "operação Montenegro", para se livrarem de mais este emplastro saído do "viveiro" da JSD, pois que a ser verdade o relatado pelo semanário Tal e Qual, quanto à possível aquisição do Grupo Cofina, proprietário do Correio da Manhã e da CMTV, por um grupo próximo do líder do PSD, numa operação dirigida por mais um desses crânios do passismo, tal só servirá para que os cartéis partidários de segunda e terceira linha tomem definitivamente conta do país e os portugueses fiquem mais preocupados com a cada vez mais provável vaga de fundo para levar a Cristina à Presidência da República. Depois só falta o mestre André tomar conta do resto. Até à implosão final.

Daqui a três sondagens

Pedro Correia, 09.05.23

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Luís Montenegro que se cuide: ou descola nas pesquisas de opinião que ainda o posicionam com "empate técnico" face a António Costa ou arrisca-se a ser empurrado borda fora no partido que lidera antes do próximo ciclo eleitoral.

Não é inequívoco que o PSD tenha ultrapassado a fase correspondente à de António José Seguro no PS. Aguardemos pelas três próximas sondagens. Já falta pouco.

Duzentas e dezassete sondagens depois

Pedro Correia, 26.01.23

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Desde 2017, o PS não era destronado nas intenções de voto dos portugueses expressas em sucessivos barómetros e sondagens. Que há ventos de mudança no ar, fica evidente nestes números ontem divulgados na pesquisa da Pitagórica para a CNN Portugal e a TVI: o partido laranja lidera agora, com 30,6%, enquanto os socialistas baixam para 26,9% - uma queda abrupta de nove pontos percentuais desde o inquérito anterior. Sinal inequívoco de que a maioria absoluta obtida há um ano nas urnas por António Costa se esfumou sem remissão por efeito das incontáveis trapalhadas deste governo. Duzentas e dezassete sondagens depois.

Mais significativo ainda: segundo o mesmo estudo de opinião, 53% dos portugueses avaliam negativamente o desempenho do executivo Costa, que praticamente não precisa de oposição para naufragar em toda a linha. A cada passo vai cavando a própria sepultura. Tendo um prazo de validade já indicado por Marcelo Rebelo de Sousa: ou o partido ainda absoluto ganha juízo ou haverá eleições legislativas antecipadas em 2024.

Sinal inequívoco de decadência. Quando até o Presidente da República, que tem andado com o governo ao colo, já se confessa farto de assistir impávido a tão monumentais tiros no pé

Curtas

Paulo Sousa, 19.01.23

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Os últimos dias tem sido férteis na revelação de casos e casinhos que mais me parecem um destrunfar, como se de poupanças se tratassem, de coisas guardadas na gaveta para usar um dia contra alguém a quem se pretenda atacar.

Soubemos que Luís Montenegro, e um seu muito próximo colaborador, estarão envolvido em benefícios poucos claros e que, mesmo vindo a revelar-se no futuro legalmente estéreis, merecem uma avaliação política.

Numa democracia evoluída, estes dois casos seriam suficientes para o afastamento destas duas personagens.

E é aí que que me leva o raciocínio que motivou este postal.

Estes casos mostram o quão tóxico se tornou o PS no nosso regime. É tanto o nepotismo, o abuso, o favorecimento, a endogamia e a prevaricação do partido que governou sozinho o país em 22 dos últimos 28 anos, que estes dois casos acabam por parecer coisas banais e sem importância.

E ninguém o leva a sério?

Sérgio de Almeida Correia, 10.01.23

2.-brasil-1536x1022.jpg(créditos: Ponto Final)

Portugal deve enviar as suas forças especiais para estabilizar e reassumir a soberania do Brasil”. “Tiveram 200 anos de recreio e é hora de acabar com os fugitivos de Portugal para o Brasil e vice-versa para se fugir à extradição”, lê-se na publicação, que é acompanhada de uma imagem das Armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que vigorou entre 1815 e 1823. (...) “[E]m respeito pela democracia, Lula da Silva deve ser nomeado Presidente do Governo local e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, nomeia o Governador-Geral do Brasil e assim a Polícia Judiciária Portuguesa deverá estar pronta e atenta para caçar os fora-da-lei e demais foragidos em polícia única nas duas margens do Oceano”.

 

Amigo de José Cesário e da conselheira Rita Santos, mandatário de Pedro Santana Lopes, eleito para a assembleia municipal de Proença-a-Nova, membro da Comissão das Relações Internacionais do PSDcontinua de vento em popa.

Não sei por que raio, em Portugal, tirando o PSD, ninguém o leva a sério. Mas talvez Montenegro o queira incluir na próxima lista de deputados, quem sabe se pelo círculo do "fim do mundo". Se, entretanto, é claro, não lhe derem outro destino, não o nomearem para a TAP ou o Presidente da República não o chamar para seu conselheiro.

Este país tem cada vez mais falta de humoristas capazes na política, mas olhem que este é dos bons. Em S. Bento, sempre nos faria rir.