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Delito de Opinião

O que diz Alexandra Leitão

Pedro Correia, 21.03.23

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Parecem frases de alguém da oposição, mas foram proferidas por uma deputada socialista: Alexandra Leitão. Anteontem, domingo à noite, naquele programa de debate da CNN Portugal onde também surge José Pacheco Pereira, incapaz de esboçar uma criticazinha que seja ao seu amigo António Costa. Ele lá saberá porquê.

 

O que diz Alexandra Leitão?

Isto:

«O que temos claramente é uma situação em que quem parece contribuir para a inflação é quem compra. Ou seja, aqueles que vivem essencialmente do seu trabalho e estão há muitos meses a perder poder real de compra.»

«O que me preocupa é estarmos numa situação em que os preços da alimentação continuam a crescer a um ritmo muito superior à inflação média. As pessoas sentem cada vez mais necessidade em adquirir [apenas] o cabaz básico. Os salários em Portugal cresceram só 1,1% no último trimestre, isto significa que temos hoje menos justiça social do que há um ano.»

«Se há mais arrecadação fiscal, se também pelo lado da oferta o Estado tem vantagens com este aumento da inflação, então os salários deviam começar a aumentar.»

 

Felizmente há vozes lúcidas no PS. Esta é uma delas.

Anntónio Costa deve detestar ouvi-la. Mais um motivo para eu a apreciar.

O PS como Banco Alimentar

jpt, 27.02.23

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Há alguns anos regressei ao Portugal. E nisso, após 25 anos, regressei à casa que fora paterna e ao meu velho bairro, os Olivais. Desde então, de vez em quando, fui blogando sobre a Junta de Freguesia, ocupada por um inenarrável conjunto de militantes do PS - pois não só é notória a sua incompetência executiva como o é, e ainda mais, a concepção patrimonialista e paternalista, vilmente anacrónica, que aquela gente tem do poder. E também porque de conversa em conversa se vão ouvindo episódios enjoativos das suas práticas - mas não se podem escrever, pois o vulgar freguês não tem provas. Enfim, lá fui resmungando com o estado do bairro sob a presidência da inacreditável Rute Lima (a cuja é também colunista do jornal da SONAE, o que mostra o tipo de gente que vem dirigindo o periódico). Pois apesar da descrença no PS ainda assim me espantava como era possível que um partido daqueles se atrevesse a descer tão baixo, promovendo gente desta laia para dirigir uma freguesia com mais de 30 000 eleitores no centro da capital.
 
Há 15 dias a TVI emitiu uma reportagem sobre as práticas da Junta de Freguesia dos Olivais, a qual por si só deveria ser letal. Mas nada se passou... Hoje emite uma segunda, ainda mais tétrica - isto vai ao ponto, entre outras várias coisas, de uma das vereadoras da Junta, a da Educação, ser diariamente abastecida de refeições distribuídas nas escolas para alimentar a sua família... Fazendo literal a velha expressão "tacho".
 
E tudo isto não é um defeito "local", da nossa freguesia: aliás, a presidente Rute Lima (a tal colunista do jornal de referência "Público") foi logo contratada para integrar a nova presidência da câmara de Loures, quando esta foi tomada pelo PS ao PCP, sinal de como é apreciada pelos seus correligionários. E a hipocrisia é ainda maior: vê-se na reportagem de hoje que a "presidente" da concelhia do PS (a ex-ministra Temido, que é militante daquele partido há uma dúzia de meses mas já preside...) a anunciar que o partido "acompanha com preocupação" os acontecimentos: não conheciam a presidente e sua equipa (há mais de uma década na freguesia)? A colunista do "Público" acumula Olivais e Loures sem que saibam de seu perfil e trote?
 
Deixemo-nos de rodeios ou hesitações: o PS é isto. Da morcã que confisca a alimentação escolar para a sua família (alargada) aos académicos e jornalistas socratistas que agora acampam na Cultura ou nas Obras Públicas. E a tralha entre eles. Pois já não é um partido. É mesmo só um Banco Alimentar. Para gente execrável.

A justiça dos patrícios

Paulo Sousa, 24.02.23

Segundo o Expresso, o julgamento do ex-primeiro-ministro está paralisado devido a uma falha do atual Governo.

Entretanto, em 2024 alguns dos crimes de que é acusado, irão prescreve.

Estou certo que os mais convictos apoiantes do poder socialista justificarão esta falha como resultado da incompetência que já assistimos em tantos outros casos, e não a um propósito deliberado.

Eu acho que os socialistas no poder são muito incompetentes mas, antes disso, têm também um forte sentido gregário de protecção mútua. Por isso, atrevo-me a afirmar que se António Costa não dissesse o que disse quando visitou Sócrates na prisão (que ele era um lutador naquilo que acreditava ser a sua verdade – a frase politicamente mais mortífera da última década), agora não lhe poderia fazer “o jeito” de o poupar a um julgamento.

Pelo caminho António Costa já o acusou de “aldrabar” o PS. Para o partido que tomou o poder em Portugal, essas afirmações serão o julgamento que conta. E que a justiça dos plebeus não se atreva meter o bedelho onde não é chamada.


Foto: DR

As políticas habitacionais

jpt, 22.02.23

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Num recente domingo soalheiro apetecidas razões familiares levaram-me a passear por Carcavelos. Não só junto à praia mas também pude conhecer o "campus" da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Nova - instituição estatal que, por razões que desconheço, se apresenta sob nome em língua estrangeira... Mas esse pormaior não me fez distrair do fundamental, reconhecer umas excelentes instalações, até me tendo permitido, apesar de leigo na matéria, a saudar a arquitectura daquela unidade. Algo que, ao que ali me constou por via de voz bastante bem informada, se adequa à qualidade do ensino ministrado por um muito competente corpo docente. Imagine-se até que lá ensinam alguns antigos políticos, os quais, mesmo não sendo provenientes de uma carreira académica padronizada e - até ainda mais surpreendente - não sendo militantes do BE nem do MES, o fazem com notória excelência...
 
Enfim, depois de visitar com alguma delonga as espaçosas instalações, calcorreei as simpáticas imediações, um bairro residencial muitíssimo aprazível, pontilhado de uma adequada toponímia, como exemplificam a rua Carlos Lopes (o imortal campeão) e avenida Francisco Lucas Pires (um excelso político injustiçado por uma morte precoce).
 
Nesse entrementes pedonal cruzei uma grande área vizinha ao tal "campus" da School of Business & Economics e fronteira ao estuário do "mighty Tagus". Está dotada de uma cerca metálica meio bamba, um portão entreaberto anunciando a proibição de entrada e serem aquelas instalações pertença do Ministério da Defesa Nacional. Como o anuncia o torreão militar já arruinado junto à avenida que bordeja o terreno, e alguns edifícios em pior estado que (mal) se vislumbram entre o matagal que preenche o enorme espaço, o qual considerei, com alguma hipérbole, uma "herdade"....
 
Surpreendi-me com tamanho abandono estatal em área tão "nobre", pois "gentrificada" com boas habitações e bom urbanismo, um excelente "campus" para a actual ciência-Mãe e instalações da NATO. Fui agora ver do que se trata - não tenho a certeza mas penso ser o antigo bairro militar do Forte de São Gonçalo. Se assim for congratulo-me pois - via motores de busca - tomei conhecimento de que ali será construído uma instalação cultural integrada em vastos espaços de lazer. A inauguração será em 2014.
 
Entretanto, ainda que excêntrico a este postal, não quero deixar de aqui assinalar o meu apoio às novas políticas habitacionais do bom governo em curso, avessas aos especuladores absentistas.
 
Enfim, "22/28 (and counting...)".

O muro não caiu, apenas se deslocou para dentro do PS

Paulo Sousa, 20.02.23

Na passada quinta-feira, António Costa apresentou o 4.º pacote de medidas para a habitação desde que é Primeiro-Ministro. Desde 2016 que, de dois em dois anos, apresenta o que será a solução definitiva e que afinal nunca resulta. Olhando para a frequência dos anúncios, que terá sido alterada apenas pela pandemia, podemos dizer que dois anos é o tempo médio de amadurecimento de cada um destes fracassos.

Em cada uma destes grandes anúncios, as regras, as soluções, os impostos, os apoios, os culpados vão sendo alterados. Estranhamente, como se ninguém soubesse que a confiança se acumula gota-a-gota e se perde aos alguidares, muitos proprietários receiam colocar casas no marcado de arrendamento. Num dos anteriores pacotes de medidas até se criou o conceito de contratos de renda vitalícios. Como é que querem atrair moscas com vinagre?

Todo este ziguezague governativo comprova que, também na habitação, as boas práticas que funcionam noutros países não são para aqui chamadas. Nós governamo-nos, que é como quem diz, não de acordo uma linha de raciocínio, mas de acordo com preconceitos ideológicos.

Nas redes sociais, os apoiantes da narrativa vigente insultam os senhorios, fingindo não reparar que estas medidas pretendem transformar proprietários em senhorios à força.

De tão “visionário” que é este 4.º pacote, arrisco dizer que o PS não se teria atrevido a apresentá-lo durante a vigência de geringonça, pois seria logo acusado de estar a ser arrastado pelos radicais.

Depois existe aquela maravilha que consiste no estado se propor a pagar rendas ao preço de mercado (por exemplo 1700€/mês) para as colocar no mercado a valores acessíveis (por exemplo 1300€/mês), tendo até sido dito que poderia pagar as rendas vincendas. Quem irá avaliar cada um destes casos? Estou certo que alguns amigos do PS já estarão a pensar em como podem fazer pela vida a partir desta ideia.

Ao mesmo tempo, o estado propõe-se a reabilitar cada imóvel de forma a que este esteja em condições para ser colocado no mercado e ainda a verificar o enquadramento de cada um dos agregados familiares candidatos. Tudo isto vezes dezenas de milhares de habitações. Olhando para a excelência dos serviços públicos, podemos mesmo perguntar o que é que pode correr mal?

Recomendo a audição deste Conta-Corrente em que o convidado do programa, Vítor Reis, antigo presidente da IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana), pessoa muito experiente nesta área, que aborda estes e outros aspectos deste 4.º pacote de medidas, esclarecendo até o ínfimo peso marginal dos Alojamentos Locais no mercado da habitação, assim como o enviesamento em que consiste anunciar o fim dos Vistos Gold neste contexto.

A questão da constitucionalidade das medidas será tratada em devido tempo, mas esta imposição coerciva sobre o património dos contribuintes, esta declarada ilegitimidade em ter casas vazias (António Costa dixit) cheira a geringonça requentada, cheira a PREC da habitação e cheira a neo-gonçalvismo. Por uma questão de coerência e de revivalismo, este 4.º pacote devia ficar mais uns dias na gaveta e ser apenas apresentado no próximo dia 11 de Março.

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PS: Acabei de saber que a jotinha que chegou a ministra, e que além de assessora nunca faz mais nada na vida, também se chama Gonçalves. Há coisas que nem contadas.

O PS (também) nos Olivais

jpt, 14.02.23

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Cresci nos Olivais (Lisboa), bairro sui generis para tal, a nossa geração sabe-o - e lá voltei após 25 anos, já cinquentão . Nestes últimos anos botei breves postais face a uma "junta de freguesia" com características de puro caciquismo, mediocridade intelectual e executiva e anunciado nepotismo. Nas últimas eleições municipais sublinhei como as perdas de votação do PS na freguesia - muito devidas às manigâncias e arrogâncias da sua presidente - foram, por si só, suficientes para a derrota da candidatura de Medina à câmara. Enfim, 40 anos de PS, sob apenas dois presidentes de junta, culminaram na evidência de que o PS só tem esta indigência para propor no centro da capital, algo denotativo de estado degenerado daquele partido.

Ontem o telejornal da TVI emitiu uma reportagem letal sobre os socialistas da junta de freguesia, comandados há uma década pela peculiar Rute Lima (uma colunista do jornal "Público", o que denota o servilismo político das direcções do jornal). Nela são denunciados múltiplos exemplos de puro nepotismo - por exemplo, várias contratações de parentes por afinidade ou consanguinidade dos membros da junta, contratados em feriados (inclusive num 1º de Janeiro recente....!) , manipulação de concursos públicos, etc. E termina a reportagem com uma nota escandalosa, anunciando uma reunião dos eleitos decorrida no último domingo, destinada à destruição documental...

Alguns dirão que é apenas um caso pouco relevante, uma minudência paroquial, mera questiúncula de freguesia - apesar de esta ser bem maior do que muitas das câmaras do país, e sita no centro da capital. Mas não é correcta essa visão. De facto, todos os regimes, todos os sistemas políticos, todos os partidos e ideologias, são permeáveis a (más) influências de grandes interesses económicos... Mas o problema é quando os regimes ficam prisioneiros deste tipo de petty-corruption (a contratação da namorada do vereador e putativo novo presidente, a contratação do filho da presidente, a adjudicação directa da pequena prestação de serviços ao camarada de partido, etc.). Pois isto significa a degenerescência do regime, evidente caso de top-down, de cima a baixo... E patenteia a inexistência de dinâmicas internas dos partidos incumbentes em se regenerarem, enviesarem para rumos democratizadores e desenvolvimentistas. 

Sobre este caso dos Olivais há ainda três pontos relevantes: nada disto é surpreendente, não só ecoa a fatigada vox populi do bairro como traduz todo o aspecto caciquista que este poder lisboeta patenteava, diante da cumplicidade apoiante da liderança partidária; tudo isto vem a público devido a uma reportagem jornalística inserida naquilo a que os próceres socialistas constantemente atacam - e convém lembrar o tétrico actual presidente da Assembleia da República, agora a pavimentar a sua candidatura a Belém, sempre na sua peleja contra a investigação jornalística, a que chama "jornalismo de sarjeta", e pronto a procurar legislar para obstar à efectiva liberdade de expressão e fértil em pressões sobre as administrações e direcções dos órgãos de comunicação social. E finalmente, ainda mais demonstrativo do que é o PS actual: como deixei aqui no final de 2021, a socialista Rute Lima, que tem este entendimento do exercício  dos poderes autárquicos, foi logo cooptada para em tempo parcial trabalhar na gestão da câmara de Loures, conquistada pelo seu partido nas últimas eleições. Pois é isto que o PS considera relevante e necessário  para o exercicio do poder. Autárquico e nacional.

Rushdie Comes Again

jpt, 08.02.23

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(Fotografia de Richard Burbridge)

Na The New Yorker um grande artigo - "The Defiance of Salman Rushdie", escrito por David Remnick - sobre o regresso de Rushdie, debilitado mas recuperado do fanático atentado que sofreu há meses.... Encontro-o na página da revista no Twitter, na qual a este propósito abundam os comentários pejados da sanha assassina dos fascistas idólatras da superstição, uma coisa pavorosa.
 
(Uma viscosa aberração que é também "muito cá de casa". Pois não propôs há tão pouco tempo o PS de Costa um candidato ao Tribunal Constitucional, antigo governante de Guterres, íntimo correligionário de Sócrates, que como deputado dizia no parlamento serem os terroristas islamitas iguais aos artistas ditos iconoclastas - e isso diante do silêncio geringôncico, que para esse indivíduo não houve escrutínio"woke" nem "causas" libertárias?).

Cristina Ferreira e as redes sociais

jpt, 04.02.23

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A popular apresentadora de televisão foi acolhida na Assembleia da República, na qual defendeu a regulação dos conteúdos das "redes sociais". Presumo que a verdadeira "namorada de Portugal" esteja ainda desiludida com a revogação dos preceitos mais "controleiros" da lei - dita "Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital" - que o (ex-)deputado socialista Magalhães havia tentado estipular - e que haviam desagradado aos malvados adoradores do Algoritmo, ao próprio Presidente da República, reconhecido instangrameiro, e, presumia-se, aos tuíteristas do Tribunal Constitucional. Ciosa defensora da pluralidade informativa e da ética republicana na comunicação social, Ferreira, ela própria com responsabilidades directivas televisivas, estará preocupada com os processos monopolistas decorrendo nesses meios, sempre em prol de uma efectiva liberdade de informação promovida por uma comunicação social livre de pressões políticas, ameaçada que tal liberdade está pelo verdadeiro vazio legislativo existente.

Entretanto, Ferreira, que em tempos idos deixara no ar a hipótese de se candidatar a Belém, vai já pavimentando esse caminho. Presumo que para esse desiderato contará com o apoio do ilustre Senador, antigo cabeça de lista nacional escolhido pelo então primeiro-ministro José Sócrates, cônjuge de membro dos governos por aquele capitaneados e actual colega europarlamentar de Silva Pereira - entre outros -, e que do alto da sua (senatorial) experiência política nos alerta para o processo em curso, que será alimentado pelas tais "redes sociais" e pela imprensa "monopolizada". Processo no qual "o Ministério Público, entretido que está na sua guerrilha diária contra o Governo e os políticos, por via do seu órgão oficioso, o Correio da Manhã," minam a democracia, tal como ela deve ser. Esperemos então pelo pacote legislativo que nos defenderá da perfídia ôntica da ralé das "redes" e dos ilegítimos anseios dos capitalistas da comunicação social.

Duzentas e dezassete sondagens depois

Pedro Correia, 26.01.23

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Desde 2017, o PS não era destronado nas intenções de voto dos portugueses expressas em sucessivos barómetros e sondagens. Que há ventos de mudança no ar, fica evidente nestes números ontem divulgados na pesquisa da Pitagórica para a CNN Portugal e a TVI: o partido laranja lidera agora, com 30,6%, enquanto os socialistas baixam para 26,9% - uma queda abrupta de nove pontos percentuais desde o inquérito anterior. Sinal inequívoco de que a maioria absoluta obtida há um ano nas urnas por António Costa se esfumou sem remissão por efeito das incontáveis trapalhadas deste governo. Duzentas e dezassete sondagens depois.

Mais significativo ainda: segundo o mesmo estudo de opinião, 53% dos portugueses avaliam negativamente o desempenho do executivo Costa, que praticamente não precisa de oposição para naufragar em toda a linha. A cada passo vai cavando a própria sepultura. Tendo um prazo de validade já indicado por Marcelo Rebelo de Sousa: ou o partido ainda absoluto ganha juízo ou haverá eleições legislativas antecipadas em 2024.

Sinal inequívoco de decadência. Quando até o Presidente da República, que tem andado com o governo ao colo, já se confessa farto de assistir impávido a tão monumentais tiros no pé

Que farei com esta maioria?

Sérgio de Almeida Correia, 24.01.23

Image.jpeg(créditos: Indranil Mukherjee/AFP)

Na sequência das eleições de 30 de Janeiro de 2022, o líder do PS e actual primeiro-ministro afirmou no seu discurso de vitória que os portugueses tinham acabado de mostrar um cartão vermelho a qualquer crise política e que desejavam estabilidade, “com certeza, segurança e um Governo do PS para os próximos quatro anos”.

Volvido praticamente um ano sobre essa data, o mínimo que se poderá dizer é que vivemos num estado de crise e conflitualidade permanentes, sem estabilidade, sem certeza de nada e na maior das inseguranças.

Ninguém sabe quando cairá o próximo membro do Governo, nem que outras revelações surgirão até que António Costa tire alguns minutos para reflectir sobre o que quer fazer com a actual maioria e de quem se quer rodear para os próximos três anos, levando o ciclo de governação até ao fim, cumprindo o seu programa e dando resposta às muitas e cada vez mais incontornáveis dificuldades dos portugueses. De todos.

O grande perigo da maioria absoluta, de todas as maiorias absolutas, é o fechamento do partido que governa, o seu afastamento da sociedade e a entrega da governação aos velhos fiéis, a jovens que já saem esclerosados e com todos os vícios desagradáveis das juventudes partidárias, e aos amanuenses que embora nada saibam fazer viveram e vegetam à sombra do partido.

Apesar de tudo o que aconteceu anteriormente, em vez de aproveitar a maioria absoluta para alargar o campo de influência do partido e a base de apoio do Governo, uma vez mais se viu o partido maioritário “encolher” rapidamente e proceder à distribuição de lugares no aparelho de Estado com pouco ou nenhum critério.

As situações sucedem-se umas a seguir às outras a uma velocidade estonteante. E quando os problemas não são no Executivo, logo surgem no parlamento ou nas autarquias as habituais confusões.

Os erros são sempre os mesmos. O padrão de actuação, protecção, explicação e “confissão” repete-se sem que se compreenda se quem os comete está convencido de que os eleitores são estúpidos ou se o objectivo é apenas o de que os seus vizinhos não fiquem com tão má imagem da peça, da encenação, da coreografia e dos figurantes.

O último episódio da recuperação da “fita do tempo” pelo ex-ministro Pedro Nuno Santos é mais um daqueles episódios que raia a imbecilidade política. Porque de um quadro partidário com a sua experiência e responsabilidade política não é aceitável que cometa tantos erros em tão pouco tempo. Porque não é crível que numa matéria tão sensível como a da TAP e num prazo tão curto se esquecesse de tanta coisa. Porque não é normal que um ministro, um chefe de gabinete e um secretário de Estado se esqueçam todos ao mesmo tempo de uma situação como a de Alexandra Reis, a tal ponto que só as declarações da Presidente da Comissão Executiva da TAP lhes fizesse regressar a memória.

Se o objectivo era não passar por incompetente, desatento ou mentiroso, então teria sido preferível que Pedro Nuno Santos tivesse ficado calado. Para mal já estava bem.

Há situações que não podem ser previstas, nem são à partida previsíveis, e a que será sempre preciso atalhar e resolver ao longo do percurso antes que resvalem encosta abaixo.

Mas também há outras em relação às quais se espera que um primeiro-ministro e líder partidário experiente e com visão de Estado seja capaz de antecipar antes que ocorram, evitando futuros problemas ou minorando o seu eventual aparecimento e efeitos nefastos.

Um governo de maioria absoluta não pode ser, durante quatro anos, uma espécie de carro de bombeiros lotado, com as luzes a piscar e as sirenes sempre a apitar e à procura da ocorrência, com a tripulação a tentar segurar-se enquanto cai aos trambolhões de cada vez que descreve uma curva; atravessando cruzamentos sem saber quem vem lá nem qual a direcção que deve tomar, enquanto o condutor vai virando a cabeça e olhando para todos os lados sempre à procura de ver onde está o Presidente da República, qual polícia-sinaleiro de braços no ar e apito na boca sorrindo para todas as câmaras. 

Elogio da desfaçatez

jpt, 21.01.23

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Todos os regimes políticos têm problemas e crises, advindas de um feixe de causas variadas - não vou arengar sobre isso. Mas uma das causas independe de dinâmicas culturais vigentes, de factores sociológicos ou de impactos económicos. Trata-se da influência dos indivíduos na história (pequena ou Grande, pouco importa).  Neste caso de agora refiro-me à prevalência da desfaçatez, a profunda, despudorada, desfaçatez de Pedro Nuno Santos - que vem agora dizer que afinal sabia... o que evidentemente sabia e evidentemente tinha de saber.

E o doloroso é perceber que há imensos adeptos do PS que se enrolam em torno deste homem - que como ministro chegou a humilhar-se e que segue agora nesta postura invertebrada.  Mais do que as não tão grandes diferenças ideológicas entre os partidos dominantes no país o que torpedeia o nosso rumo é esta gente, estes "pedros nunos"...

Diamante

Sérgio de Almeida Correia, 20.01.23

Como escreveram Gomes Canotilho e Vital Moreira, "o princípio democrático-representativo inerente à representação parlamentar justifica também o status representativo do deputado e do correspondente mandato livre cfr. art.º 155.º-1) que hoje justificará o seu estatuto autónomo perante instruções ou ordens dos colectivos partidários ou grupos parlamentares, inclusivamente, a manutenção do seu mandato apesar da saída de partido ou apesar da sua não disponibilidade para aceitar o << princípio da rotação >> erguido por certos partidos a princípio estruturante da sua actividade parlamentar"(Constituição da República Portuguesa Anotada, II Volume).

Pensar que o mandato é livre quando se está dependente de terceiros para quase tudo, até para se poder ter uma vida profissional fora da política, é demasiado mau. Quantos deputados poderão hoje reclamar um estatuto de liberdade?

O problema é político, mas mais do que isso é essencialmente ético. Não querer vê-lo é politicamente desqualificador porque as pessoas, os eleitores, não são estúpidos. 

Com uma maioria absoluta e tudo sob controlo e a correr sobre rodas, perante uma sucessão interminável de problemas internos no governo, no parlamento e nas autarquias, o último dos quais é o caso da deputada "lobbyista", o líder parlamentar do PS entende que este caso "não afecta a imagem nem fragiliza a direcção" da bancada.

Claro, acredito mesmo que não há nada, rigorosamente nada, que afecte a imagem do PS.

E quanto à direcção de bancada, o brilho tem sido tão intenso que mais parece uma mina de diamantes a céu aberto.

É mesmo caso para dizer que se tratou de mais uma tirada brilhante.

Curtas

Paulo Sousa, 19.01.23

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Os últimos dias tem sido férteis na revelação de casos e casinhos que mais me parecem um destrunfar, como se de poupanças se tratassem, de coisas guardadas na gaveta para usar um dia contra alguém a quem se pretenda atacar.

Soubemos que Luís Montenegro, e um seu muito próximo colaborador, estarão envolvido em benefícios poucos claros e que, mesmo vindo a revelar-se no futuro legalmente estéreis, merecem uma avaliação política.

Numa democracia evoluída, estes dois casos seriam suficientes para o afastamento destas duas personagens.

E é aí que que me leva o raciocínio que motivou este postal.

Estes casos mostram o quão tóxico se tornou o PS no nosso regime. É tanto o nepotismo, o abuso, o favorecimento, a endogamia e a prevaricação do partido que governou sozinho o país em 22 dos últimos 28 anos, que estes dois casos acabam por parecer coisas banais e sem importância.

Da "ética republicana"

Pedro Correia, 13.01.23

 

Líder do PS-Coimbra, presidente da Câmara de Condeixa-a-Nova, demite-se após condenação para "salvaguardar imagem" do partido. O autarca foi condenado a uma pena suspensa de quatro anos pelo crime de participação económica em negócio quando era vice-presidente do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça.

 

Pedro Magalhães Ribeiro, assessor do primeiro-ministro e antigo presidente da Câmara do Cartaxo, demite-se por ter sido condenado em processo judicial por violação dos deveres de neutralidade e imparcialidade, ficando impedido de exercer cargos públicos durante dois anos e nove meses.

 

Presidente da Câmara de Espinho, suspeito de corrupção, renuncia ao mandato. O socialista Miguel Reis, que liderava aquela autarquia desde Outubro de 2021, foi detido na terça-feira pela Polícia Judiciária, que o investiga por corrupção activa e passiva, prevaricação, abuso de poder e tráfico de influências.

 

Rui Laranjeira, companheiro de Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Protecção Civil, nomeado pela Câmara do Barreiro para coordenador municipal da Protecção Civil. Despacho de nomeação foi assinado pelo presidente da Câmara, Frederico Rosa - de quem Patrícia Gaspar foi mandatária nas últimas eleições autárquicas.

 

Rita Marques, ex-secretária de Estado do Turismo, forçada a rejeitar convite para trabalhar numa empresa a que reconheceu o estatuto de utilidade pública, permitindo benefícios fiscais, rejeitou o convite. Após o Presidente da República ter dito que não era uma situação correcta, nem do ponto do vista legal, nem no plano ético.

 

Carla Alves, secretária de Estado da Agricultura, demitiu-se após 25 horas no cargo. O marido, ex-presidente da Câmara de Vinhais, é acusado de corrupção e prevaricação: o casal tem contas bancárias arrestadas. Demissão ocorreu após o Presidente da República ter afirmado que Carla Alves «era um peso político negativo» .

 

Alexandra Reis, secretária de Estado da Tesouro, demitiu-se 25 dias depois de tomar posse e após quatro dias de polémica por causa de uma indemnização de 500 mil euros paga pela TAP, poucos meses antes, para deixar administração da empresa. Presidente da República comentou: «Conclusão política foi bem retirada.»

Miguel Alves, secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, forçado a demitir-se após ser acusado pelo Ministério Público do crime de prevaricação quando era presidente da Câmara de Caminha. Permaneceu apenas 55 dias no Governo, . Era há seis anos líder do PS-Viana do Castelo, função a que também renunciou.

 

A propósito da demissão du jour

João Sousa, 12.01.23

Pedro Magalhães Ribeiro, assessor do gabinete de Costa e ex-presidente da Câmara Municipal do Cartaxo, demitiu-se por, segundo a Comissão Nacional de Eleições, ter "usado canais de comunicação da autarquia para fazer campanha eleitoral". É comum a actividade da CNE despertar-me reticências: vejo-a amiúde construir casos bastante forçados, como admito parecer-me este, e vejo-a também assobiar para o ar em situações muito mais graves. Mas isto diverte-me: António Costa escolhe-os a dedo. E agora fico a pensar: será que o questionário-maravilha anunciado por Costa já inclui a pergunta "Alguma vez usou canais de comunicação da sua autarquia para fazer campanha eleitoral", ou irá ele afinal ter 35 perguntas em vez das 34 anunciadas por Mariana Vieira da Silva?

Demos, no entanto, o mérito a quem o merece. Há meses, Mariana Vieira da Silva foi fustigada por ter empregado (com salário topo-de-gama) um jotinha recém-formado. É agora óbvia a sua perspicácia: se é necessário garantir que os nomeados não têm rabos-de-palha, vai-se buscá-los aos bancos de escola. E se mesmo isto não for suficiente, ainda veremos o próximo governo de Costa com ministros vindos - da creche.

Adenda (13/01/2023, 09:56): afinal, já vai em 36 perguntas em vez das iniciais 34

Primeiro a negação, depois a remodelação permanente

Sérgio de Almeida Correia, 06.01.23

40087469-1600x1067.jpg(LUSA, daqui)

Perdi, é este o termo adequado, algumas horas nos dois últimos dias a acompanhar a apresentação e debate da moção de censura ao Governo.

O voluntarismo, nalguns casos, a impreparação e a exaustão, noutros, dos que botaram faladura em nome da oposição foi notável.

Do inenarrável Sarmento – líder da bancada do PSD – ao deputado "Mr. Músculos" Duarte Pacheco (enquanto está na Mesa sempre passa mais despercebido), do discurso requentado de Catarina Martins ao esforço da bancada da IL para mostrar serviço, dos diamantes da bancada socialista à lengalenga mofienta do que resta do velho PCP e ao deslocamento da deputada do PAN, dir-se-ia estar-se perante uma reunião magna de estudantes de qualquer academia. Com excepção de Rui Tavares (Livre), de Cotrim de Figueiredo (IL) e do sempre truculento Ventura (Chega) foram raros os momentos de algum interesse. 

Os discursos perdem-se em chavões, lugares-comuns, gracejos desajeitados, leituras apressadas de notas que pouco interessam. Não há ali ponta de substância. 

O primeiro-ministro acaba por embarcar no estilo, e confortável na sua maioria absoluta, que apenas se mantém compacta pelo cheiro do poder, vai tentando defender o indefensável.

As oportunidades perdem-se como quem devolve ao mar cestos de peixe miúdo. Alguns sucessos recentes em matéria de finanças públicas ou emprego numa conjuntura difícil não escondem o deserto de ideias, e de gente, de que se faz hoje a acção política e governativa.

Mas o que é mais surpreendente é que, ao arrepio de tudo o que seria previsível e mandaria o bom-senso, até mais o faro político, o líder da maioria esteja de tal forma enredado no aparelho do partido que dispense os melhores e se sinta na obrigação de defender quem nunca deveria ter escolhido para integrar um governo, gente que pouco tempo volvido, no último caso algumas horas apenas, se vê obrigada a apresentar a demissão do cargo em que acabara de ser empossada pelo Presidente da República.

Não sei, até porque estou longe, o que pensam e comentam os portugueses, mesmo os que apoiam ou se revêem nas políticas do PS, e que nos cafés, no trabalho, nos transportes públicos ou em casa vão olhando para os títulos dos jornais, ouvindo os protagonistas e assistindo a demissões e remodelações em catadupa num executivo formado por um partido que ainda há menos de um ano venceu as eleições com maioria absoluta.

Também não sei quando é que o próximo se demitirá – há um na calha que ontem foi referido, embora ninguém saísse em sua defesa –, mas o espectáculo que está a ser revelado é mau demais para que as próprias estruturas do partido não se manifestem.

Entregue, de norte a sul e ilhas, aos caciques dos aparelhos das concelhias, começa a ser difícil encontrar uma linha de rumo sem turbulência que permita cumprir o programa de Governo sem sobressaltos até ao fim do ciclo legislativo.

A não ser que o primeiro-ministro, a seguir à peregrina proposta de querer ir discutir com o Presidente da República "um circuito" que "permita evitar desconhecer factos" relacionados com as pessoas que escolhe para os seus governos [🤦‍♂️], comece a adjudicar a escolha dos futuros membros dos governos da República a uma dessas empresas de recrutamento de altos quadros.

O grande e saudoso Pedro Baptista, que um dia me disse, perante a minha desconfiança e depois de com grande mágoa se afastar da militância no PS-Porto, que o partido era irreformável, não está cá para assistir a nada disto. Teve a sorte (Soares e Sampaio também) de ser poupado a este espectáculo de desgoverno político, mas imagino o que ele não diria, depois de uma vida de combate por um Portugal decente, sobre o que está a acontecer. Não haveria na nossa língua vernáculo suficiente para expressar com rigor os seus, e os meus, sentimentos nesta hora.

Total falta de respeito democrático

Pedro Correia, 05.01.23

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No debate de urgência convocado ontem pelo PSD - principal partido da oposição - para a Assembleia da República, António Costa primou pela ausência. E deu ordem a toda a equipa governativa para não se deslocar à sala das sessões em São Bento. Excepto - por estrito dever de função - a ministra dos Assuntos Parlamentares. Que esteve inteiramente só na bancada do Executivo do hemiciclo.

Isto no mesmo dia em que o grupo parlamentar do PS, pela 21.ª vez nesta legislatura iniciada em Março, chumbou audições a actuais e anteriores membros do Governo - neste caso a Fernando Medina, Pedro Nuno Santos e à ex-secretária de Estado do Tesouro Alexandra Reis. As audições tinham sido solicitadas pelas bancadas do PSD, PCP, BE e Chega.

Isto no mesmo dia em que a ex-ministra socialista Alexandra Leitão publicava um desassombrado artigo de opinião no Expresso, a propósito da mais recente crise governativa, deixando este aviso pleno de lucidez: «A crise recente deveria fazer soar os alertas no Governo e no PS, porque, como é sabido, muitas vezes as eleições não são ganhas pelos partidos da oposição, mas sim perdidas pelos governos.»

Maioria absoluta, poder absoluto, arrogância absoluta.

Tem tudo para acabar mal.

Azeredo Lopes e a impudicícia

jpt, 05.01.23

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As interpretações sobre o desempenho e o comportamento dos ministros socialistas - que têm dominado o país, grosso modo, desde 1995 - vão variando consoante as adesões ideológicas e/ou identitárias dos observadores. Mas interrogo-me como é possível que os tradicionais apoiantes não se interroguem diante disto: Azeredo Lopes foi ministro da Defesa de António Costa. Levado a tribunal por qualquer coisa do seu ministério defendeu-se invocando défice intelectual, uma incapacidade em entender documentos muito simples respeitantes aos assuntos que tutelava. Por isso mesmo foi mandado em paz. Diria qualquer um que saiu envergonhado mas inocentado. Mas não, pois como leio hoje "Estão neste momento na CNN a perguntar a uma pessoa que não sabe o que é um paiol, o que acha dos misseis Russos Zircon.". E lá estava ele, em evidente cúmulo de impudicícia, ombreando com um oficial do ofício, a comentar aquilo sobre o qual clamou em tribunal não perceber.

Não encontro melhor retrato da governação do PS. E da falta de vergonha pessoal que a alimenta.