Barões privados com dinheiros públicos
Mais do que a racionalização financeira do sistema, o corte no financiamento público de colégios privados que o Ministério da Educação está a ensaiar é um acto de coragem. Desengane-se quem, a este propósito, lucubra argumentos em torno da liberdade de escolha – alguém achará que, se eu optar por beber água engarrafada, o Estado deve financiar o litro de água que bebo para que me custe o mesmo que a da torneira? – ou quem julga ser um ataque às escolas católicas – quem o diz é o PSD, e não os órgãos próprios da Igreja.
Não tendo caracteres disponíveis para relatar alguns casos escandalosos de negócios privados no sector da educação, aconselho a reportagem “Dinheiros públicos, vícios privados”, de Ana Leal, que passou na TVI em Dezembro de 2012. Nesta investigação revelava-se o caso do Grupo GPS, detentor, à época, de 26 colégios, que auferia 25 milhões de euros do Orçamento do Estado para concorrer com escolas públicas e no qual pontificavam ilustres ex-governantes, deputados e dirigentes de PSD e PS.
Sendo injusto conotar todas as instituições detentoras de colégios privados com as do Grupo GPS, talvez tivesse sido prudente que a AEEPC, associação que os representa, escolhesse para seu director executivo e porta-voz um professor de carreira ou um pedagogo com provas dadas no sector, ensaiando a despartidarização que a nomeação do ex-chefe de gabinete da ministra da Educação do governo de Santana Lopes não garante.
Como se deve imaginar, esta decisão do Ministério da Educação não será pacífica, desde logo, dentro do PS. É muito dinheiro e muita gente importante que vive na sombra destes negócios privados com dinheiros públicos que não se esgotam na educação. Seria um excelente sinal que este corte nas gorduras do Estado também chegasse a outras áreas de negócio com características semelhantes, como a saúde ou a segurança social, desmanchando o baronato financeiro que vive em torno das velhas lógicas do bloco central.