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Delito de Opinião

A importância de ser um guru capaz de prever os cataclismos

Pedro Correia, 11.02.24

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Vale a pena recordar o que o alegado mago da economia Nouriel Roubini vaticinou a propósito da crise financeira europeia (2008-2012) em geral e Portugal em particular:

 

Julho de 2009

O pior da crise já está para trás: recessão acaba este ano.

 

Junho de 2011

Uma "tempestade perfeita" pode afectar a economia mundial a partir de 2013. (...) Dívidas da Grécia, da Irlanda e de Portugal precisam de ser reestruturadas o mais rápido possível. Adiar essa decisão pode resultar num processo de default mais desordenado.

 

Junho de 2011

A zona euro encaminha-se para uma ruptura, com a saída dos membros mais fracos, incluindo Portugal, com a actual abordagem à crise.

 

Setembro de 2011

Portugal e Grécia são os países da zona euro com maior probabilidade de abandonar a moeda única, podendo fazê-lo num horizonte de três a cinco anos.

 

Setembro de 2011

A zona euro é uma fonte de risco sistémico. Se existir uma situação de desordem na zona euro, será pior que o Lehman Brothers.

 

Março de 2012

A Grécia sairá da zona euro, talvez no início de 2013. Portugal também pode abandonar a moeda única.

 

Julho de 2012

Hipóteses de Portugal e Grécia saírem do euro é de 85%

 

Julho de 2012

Zona euro vai desmoronar-se dentro de seis meses

 

Setembro de 2013

Se o Tribunal Constitucional chumbar mais medidas no corte da despesa em Portugal, um segundo resgate pode ser inevitável.

 

Novembro de 2013

A dívida de Portugal precisará de uma reestruturação. A situação de Espanha é insustentável.

 

Gravura: "quadradinho" do álbum Le Devin, de Astérix (Uderzo/Goscinny)

Perdoem-me a imodéstia

Pedro Correia, 30.12.23

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Mas quase tudo já estava antecipado aqui:

 

15 de Novembro 2022:

«Isto está a degradar-se mais depressa do que parecia. Ei-los a descer a rampa, já em marcha acelerada.»

 

29 de Dezembro 2022:

«Um governo, paradoxalmente, em fim de ciclo quando as eleições legislativas foram apenas há onze meses.»

 

2 de Março 2023:

«A marca desta governação: poucochinha. Por isso a maioria absoluta adquirida há um ano já está em queda livre. Tem tudo para acabar mal. Mais cedo do que muitos previam.»

 

3 de Maio 2023:

«Marcelo Rebelo de Sousa não fará a vontade a António Costa: vai dissolver, sim, mas apenas no momento em que entender. Que será, não por coincidência, quando der menos jeito ao primeiro-ministro. (...) Costa pagará com juros a sua bravata de ontem, comportando-se perante os portugueses como se comesse Marcelo de cebolada a pretexto de segurar in extremis um dos ministros mais desacreditados do actual elenco, algo tão desproporcionado que soa a falso desde o primeiro minuto. Entrámos numa nova etapa, nada edificante: um dos piores conflitos institucionais de que há memória entre um Governo e um Presidente - logo este, que durante cinco anos quase levou o Executivo ao colo. Episódio digno de figurar em qualquer antologia da ingratidão. De Gaulle dizia que o poder usa-se, não se delega. Mas Costa é fraco aprendiz do velho general: a bravata irá sair-lhe cara. Mais cedo do que pensa.»

 

18 de Maio 2023:

«Isto já não é um governo: é uma opera buffa. Com final anunciado.»

O futuro já não é o que era

Pedro Correia, 20.05.21

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O futuro já não é o que era. Houve tempos em que vender ilusões sobre o dia de amanhã era receita garantida de sucesso e a futurologia quase chegou a atingir o patamar reservado às mais respeitáveis ciências. Houve tempos em que se acreditava que o futuro só podia ser melhor. E não é preciso recuar muito no calendário. Em 1970, Alvin Toffler – ex-editor da revista Fortune – alcançou fama planetária com um best seller intitulado O Choque do Futuro em que antevia dias radiosos, marcados por uma intensa mobilidade social e laboral, produção de bens em larga escala e muitas horas de lazer, centradas nas delícias da sociedade de consumo.

Esses dias parecem-nos hoje estranhamente remotos e estas profecias optimistas parecem-nos hoje totalmente deslocadas. A fé inabalável no progresso humano que caracterizou as décadas imediatas do pós-guerra justificaram milhares de textos recheados de optimismo que agora só nos parecem péssima literatura.

 

Em 1950, havia a crença generalizada de que por volta do ano 2000 os robots substituiriam o homem na maior parte das tarefas mecanizadas. Em 1960, o físico norte-americano Gerald Feinberg, da Universidade de Columbia, previu que na passagem do milénio nasceria o primeiro bebé num planeta artificial.

A crença cega em ilimitados recursos financeiros ao serviço da inovação tecnológica levou várias mentes brilhantes a acertar totalmente ao lado. Na década de 60, Wernher von Braun, um dos pioneiros do espaço, admitiu que por volta de 1984 se fundaria a primeira colónia na Lua, provavelmente por iniciativa da União Soviética, e o biólogo marinho Alister Hardy, professor em Oxford, antevia na mesma época que antes do final do século haveria tractores a lavrar o fundo dos oceanos.


“Ninguém conhece a história da próxima aurora”, ensina um milenar provérbio africano. Mas o optimismo histórico da civilização ocidental levou-nos a acreditar durante demasiado tempo que era possível antever os alicerces do futuro, com a certeza antecipada de que ele seria risonho.

World Future Society [Sociedade Mundial do Futuro] chegou a congregar 60 mil membros. Em 1973 teve como orador convidado o vice-presidente Gerald Ford. Treze anos depois, uma delegação era recebida na Casa Branca pelo presidente Ronald Reagan, que lhe emprestou dignidade institucional.
Era o tempo em que o futuro estava na moda. Figuras respeitáveis anteviam um novo século com veículos “inteligentes” de transporte sem necessidade de condução, a proliferação de hotéis nas profundezas submarinas e migrações em massa de terráqueos para satélites artificiais da Terra.

 

Esse tempo terminou.

A World Future Society está hoje reduzida a 25 mil membros. Quase ninguém quer saber o que nos reservará o futuro. Pelo simples motivo de que só pode ser mau. A crença mudou de campo.

Do meu baú (5)

Pedro Correia, 08.02.21

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Se há exercício no jornalismo que se aproxima da quiromancia ou da cartomância, é este de predizer o futuro. O Expresso gosta de praticá-lo, a cada final de ano. É um pouco como praticar trapézio sem rede - embora as respostas surjam em regra muito arredondadas, para nelas caber tudo e o seu contrário, o que facilita de algum modo a tarefa.

Mas o que por vezes mais interessa são as perguntas. Repare-se na questão n.º 9 destas «100 perguntas para 2020» dadas à estampa na edição de 28 de Dezembro de 2019 daquele semanário. Uma questão afinal desdobrada em duas, sobre um tema sem a menor relevância neste mês de Fevereiro de 2021: «Joacine sai do Livre? E do Parlamento?» Poderá isto interessar a alguém excepto à própria deputada?

O jornal responde não respondendo, como acontece na grande maioria dos temas que aqui suscita: «A palavra à deputada Joacine.» Assim é demasiado fácil: qualquer um é capaz de escrever o mesmo.

 

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Os temas dividem-se em blocos que muito nos indicam sobre a hierarquia noticiosa do Expresso: política, sociedade, mundo, desporto e cultura. A economia está ausente porque foi tratada em local próprio, já aqui lembrado.

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No segundo bloco, destaque para dois temas relacionados com o SNS. Eis uma questão: «As urgências vão continuar a dar problemas?» Como hoje sabemos, raros assuntos estiveram tão em foco como este ao longo do ano que passou. Aqui o jornal não foge à questão, respondendo desta forma: «O atendimento de doentes urgentes será sempre o problema agudo do sistema de saúde. Com a saída de médicos (para a reforma, privados ou estrangeiro) as equipas do SNS não chegam para a procura e é utópico pensar que um dia irão chegar.» Isto porque - menciona-se na resposta à pergunta seguinte, a n.º 23 - «as condições de trabalho na rede pública - edifícios e equipamentos obsoletos, horários sobrecarregados, progressões congeladas e baixos salários, por exemplo - não irão mudar o suficiente para devolver atractividade ao SNS.»

E ainda ninguém adivinhava o que iria passar-se.

 

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Algumas perguntas, face ao sucedido, perderam razão de ser. Esta, por exemplo: «A selecção portuguesa irá revalidar o título europeu?» A resposta, como quase todas, vem arquitectada num estilo que permite diversas leituras no fim do ano. Mas neste caso não havia fuga possível: não chegou a acontecer o Campeonato da Europa de Futebol, tal como não ocorreram os anunciados Jogos Olímpicos de Tóquio.

Ou esta, pergunta n.º 85: «O concerto do ano vai ser o dos Faith No More?» Na resposta, dava-se como garantido que o regresso desta banda «irá consumar-se no festival NOS Alive». 

Como hoje sabemos, tudo ficou adiado para 2021. Se não chover.

 

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Ao nível ambiental, o Expresso não hesita em profetizar que «os episódios de seca tendem a ser mais extensos e intensos devido às alterações climáticas», registando-se nomeadamente «menos chuva». Podemos queixar-nos muito do sucedido em 2020, mas não da progressão da seca, pelo contrário: há muitos anos que o guarda-chuva e os impermeáveis não eram tão indispensáveis por cá.

Relacionada de algum modo com esta, surgia a pergunta n.º 71: «Greta vai entrar na política?» Assim, de repente, deixaria hoje vários leitores confundidos: é que esta activista sueca, tratada com tanta familiariedade pelo nome próprio, andou praticamente desaparecida ao longo de 2020 - e assim tem continuado nestes quase 40 dias de 2021. O Expresso proclamava-a «ícone de uma geração», com manifesto exagero. Porque, infelizmente, esta não se tornou a Geração Greta: tornou-se a Geração Covid.

 

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Tendo sido 2020 marcado pela pandemia do novo coronavírus, que causou mais mortos portugueses do que as guerras que travámos em África entre 1961 e 1974, pela queda mais abrupta alguma vez registada no PIB nacional, por dez inéditos estados de excepção e longas semanas de confinamento forçado, aliás ainda sem fim à vista, isto demonstra como são fúteis estes exercícios de jornalismo: entretêm alguma coisa, mas informam quase nada.

Repare-se só, a título de exemplo final, na pergunta n.º 98, em que o Expresso responde de algum modo em ca(u)sa própria: «A SIC vai consolidar a liderança nos canais generalistas?»

Resposta: «É provável que sim. (...) Tem vindo a reforçá-la ao longo dos meses, deixando o canal público e a estação de Queluz de Baixo para trás. Cristina Ferreira tornou-se num activo estratégico para o canal, mas os números provam que não é o único.»

Cristina Ferreira - «activo estratégico» da SIC em Dezembro de 2019 e hoje accionista e directora da TVI - confirma que o melhor mesmo é os jornalistas deixarem a quiromancia para os quiromantes. 

Do meu baú (4)

Pedro Correia, 20.10.20

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É sempre arriscado fazer previsões para o ano que vai seguir-se. Sobretudo quando a bola de cristal está embaciada.

Razões acrescidas para felicitar o risco corrido por quem escreveu e editou o último suplemento de 2019 do semanário Expresso. Parecia um exercício de trapézio sem rede - e era mesmo.

Mal havia decorrido o primeiro trimestre do ano em curso e já muitas previsões estavam estilhaçadas.

 

O prestigiado periódico não fez a coisa por menos, substituindo a prudência jornalística alicerçada em factos por exercícios de adivinhação, submetidos ao mote 50 perguntas para 2020.

Tentando responder a esta questão de âmbito mais genérico: «O que vai acontecer em Portugal e no mundo do ponto de vista económico ao longo do próximo ano?»

Selecciono aqui algumas dessas previsões:

- «Em 2020 perfila-se margem para [o turismo] crescer em valor.»

- «A segurança, o clima, a gastronomia e sobretudo a simpatia das pessoas irão continuar a cativar estrangeiros de várias origens e também para a compra de casas.»

- «Tudo indica que os salários vão subir.»

- «O Estado vai ter excedente [financeiro] se a economia crescer acima de 3% em termos nominais.»

- «A Alemanha não vai entrar em recessão.»

- «Outras cidades poderão seguir o caminho de Lisboa ou do Porto, que fixaram este ano limites [ao alojamento local] nas suas zonas históricas.»

- «Por vontade do Governo, sim, mas logo se verá [se começa a construção do aeroporto do Montijo].»

 

Relendo hoje o suplemento, datado de 28 de Dezembro de 2019, parecem ter passado longos anos - e não apenas dez meses.

Começando logo pela manchete: «Classe média resistiu à crise».

 

Outros títulos da mesma edição:

- Preços sobem menos que salários no próximo ano

- Três anos para mudar Coimbra, do Choupal até à Lapa

- Há 3964 imóveis à venda no arquipélago dos Açores

- Six Senses investe 10 milhões no luxo

- Há cada vez mais pessoas a viajar e Hong Kong está no topo

 

Mas valha a verdade: nem todas as previsões do Expresso saíram furadas. Esta ampla antevisão de 2020 vaticinava, com acerto, que continuaríamos a pagar "buracos" na banca e que a guerra comercial China-EUA prosseguiria.

Prognósticos que até o conceituado Professor Karamba seria capaz de ter emitido. Em 2019 ou noutro ano qualquer.

 

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Brechas súbitas em previsões a longo prazo

João Pedro Pimenta, 12.09.20

Só há umas semanas vi finalmente AI - Artificial Inteligence, de Spielberg. O filme data do Verão de 2001 e mostra como uma criança-robot pode adquirir emoções e capacidade de amar e sentir afeição pelos outros. É tocante e ao mesmo tempo perturbador, como é sempre que se toca nesta temática.

Mas o filme seria supostamente uma tentativa de antecipar o futuro. A certa altura, e para obter respostas, a criança artificial (Haley Joel Osment, o miúdo-actor daquele tempo) desloca-se pelo ar na companhia de Gigolo Joe (Jude Law no papel de um robot com função correspondente ao nome) até uma cidade abandonada e isolada por causa da subida dos oceanos, nos confins do mundo habitável, que não é outra senão Nova York. Um dos vestígios que restam por sobre as águas são as torres gémeas do World Trade Center. As mesmas que, ironia cruel, ruiriam em pó e chamas semanas depois do lançamento do filme, passaram hoje 19 anos.

Convenhamos que para um filme supostamente premonitório esse desaparecimento tão precoce do futuro imaginado retira alguma credibilidade, embora mais por má fortuna do que por incapacidade de previsão. Mas tornou reais outros medos que já tinham sido sublinhados noutros filmes-catástrofe. Veremos se essa antevisão da inteligência artificial também não resistirá ou se pelo contrário contém algo de premonitório.

 

Um Zandinga com Nobel

Pedro Correia, 27.07.19

 

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Paul Krugman sempre foi péssimo nas previsões, talvez por transformar cada texto jornalístico sobre economia em peças mais apropriadas a comícios políticos, confundindo opiniões com factos. 

Mal Donald Trump foi eleito, Krugman previu nada menos que isto: «Uma recessão global, sem fim à vista.» Num artigo que publicou em Novembro de 2016 no New York Times, o Nobel da Economia interrogava-se quando iriam os mercados recuperar, fornecendo de imediato a resposta: «Nunca.»

Previsão tão certeira como a que fizera meses antes, em entrevista à SIC, quando disse acreditar que Hillary Clinton sucederia a Barack Obama na Casa Branca.

No fundo, nada que destoasse do que anunciara em Maio de 2012, ao proclamar em primeiríssima mão que a Grécia «sairia da eurozona nos próximos doze meses»

Os factos, para azar de Krugman, persistem em ser teimosos. Ao contrário do que apregoava este profeta da desgraça, a economia americana tem registado um crescimento sem precedentes. Em Fevereiro, atingiu o centésimo mês de expansão contínua, reflectida na criação de postos de trabalho e na redução do desemprego para níveis que não se registavam há perto de meio século.

Mas o que seria de esperar de alguém que em 1998 anunciou «o fim da Internet» para daí a sete anos, equiparando-a à máquina de faxe? Apenas aquilo que é: um Zandinga com Nobel. Ora se não damos crédito ao júri de Estocolmo que na literatura já premiou gente tão obscura como Harry Martinson, Carl Spitteler, Shmuel Agnon e José Echagaray, porque haveremos de reconhecer mais lucidez intelectual aos que ali laurearam Krugman em 2008?

Previsões

Alexandre Guerra, 23.04.16

“Tivesse a economia americana tido um desempenho como aquele que o Congressional Budget Office previra em Agosto de 2009 – já depois das medidas de estímulo aprovadas e da recuperação em andamento – e o PIB dos Estados Unidos teria de ser hoje 1,3 bilião de dólares (trillion em inglês) maior do que aquilo que é.”

Esta constatação é de Lawrence H. Summers, antigo Secretário do Tesouro, que, na última edição da Foreign Affairs, refere que ninguém esperava que os níveis de recuperação do crescimento económico nos últimos anos fossem tão tímidos. Um erro de expectativa criado, em parte, pela experiência de outras recessões, a seguir às quais se assistiu a uma recuperação relativamente rápida, tanto ao nível do desempenho económico, como na criação de emprego. Desta vez, e apesar de todas as medidas de estímulo e das “agressivas políticas monetárias” da Reserva Federal, não foi assim.

Summers, actualmente professor de Economia em Harvard, lembra que em 2009 ninguém imaginaria que as taxas de juro norte-americanas estivessem perto do zero durante seis anos, que na Europa viessem mesmo para terreno negativo, e que os bancos centrais do G7 inundassem massivamente os respectivos mercados com liquidez. Mais, diz Summers, que se isto fosse dito na altura a qualquer analista ou economista, este não teria qualquer dúvida em prever um problema de inflação generalizada nas economias desenvolvidas. Ora, a verdade é que nem esta previsão se concretizaria.

Seja como for, por mais modelos matemáticos e sistemas estatísticos que se usem na elaboração de uma qualquer previsão económica, o mais provável é que esta nunca se concretize exactamente nos moldes em que foi pensada. O que é perfeitamente aceitável, já que existem inúmeros factores (alguns até à partida desconhecidos) que são de impossível antecipação.

É, por isso, fundamental que, além de toda a componente científica e técnica, exista bom senso e sensibilidade por parte de quem elabora ou defende uma previsão, porque, por vezes, é a essa componente subjectiva que se deve a credibilidade (e o sucesso) de algumas previsões, não apenas no campo económico, mas também noutras áreas de interesse da sociedade.

Pré-Visões do Euro 2016 - Portugal (2)

João André, 08.01.16

Fazer previsões sobre o desempenho específico de Portugal é naturalmente difícil a pouco menos de 6 meses de distância. As considerações que fiz sobre as outras equipas dirigiram-se a ideias gerais, sem especificar que jogadores serão chamados, quem estará em forma ou lesionado ou se haverá ainda outras circunstâncias que condicionem uma participação. Isto é tão óbvio que não deverá suscitar contestação. Ainda assim tentarei deixar algumas ideias gerais.

Pré-Visões do Euro 2016 - Portugal (1)

João André, 06.01.16

Quando a qualificação começou, o onze inicial de Portugal poderia ser adivinhado pela maioria. Era um onze experiente mas pouco rodado. Paulo Bento é uma criatura de hábitos e gosta de utilizar os jogadores que lhe deram garantias no passado. Como se viu no início, isso não chegou. Uma derrota em casa com a Albânia fez saltar Paulo Bento e chegar Fernando Santos. Na altura (como o indiquei aqui no blogue), achei que era uma má escolha. Não tanto pelas qualidades técnicas mas essencialmente pelo castigo de 8 jogos que pairava sobre Santos. Dei a minha opinião - que reitero agora - que um seleccionador não pode estar fora do banco por demasiado tempo, dado que o seu trabalho enquanto treinador é limitado. Felizmente o castigo foi reduzido para dois jogos e os estragos foram assim mais limitados.

Pré-Visões do Euro 2016 - Evolução de Portugal

João André, 05.01.16

Por motivos pessoais não me foi possível ir escrevendo a parte relativa a Portugal até agora. Retomo as minhas reflexões com o texto abaixo. Devido à sua extensão será necessário clicar em "Ler mais" para o resto.

 

Portugal chega a este Europeu em condições diferentes das de anos passados. A "geração de ouro" está completamente reformada e apenas um sucedâneo da mesma sobrevive em Ricardo Carvalho. Esta equipa verá Cristiano Ronaldo chegar ao Europeu já com 31 anos, longe dos 19 aquando do seu primeiro, em solo português em 2004. Foi também nesse ano que Portugal chegou mais longe em competições internacionais, com o segundo lugar, marcando o ponto máximo em termos de classificações da selecção portuguesa. Do meu ponto de vista não foi, no entanto, a melhor prestação. Abaixo analiso os últimos 20 anos de Europeus.

 

 

Pré-Visões do Euro 2016 - Restantes

João André, 22.12.15

Depois dos favoritos, dos potenciais e dos chatos chega a vez dos outros, aqueles que vão ao Euro para fazer figura de corpo presente, sonhar com um empate ou até uma vitória e que só em casos excepcionais conseguem mais do que retirar um pontinho às outras equipas. Não quero ser injusto: alguns deles poderiam merecer lugar noutra das listas. A Grécia em 2004 possivelmente cairia aqui. Nada impede que a campanha de uma destas equipas se torne excepcional, mas à partida isso não sucederá.

 

Albânia

Enfrentaram Portugal duas vezes e não me importaria que repetissem a dose em França. Irão provavelmente jogar de forma defensiva, de tracção atrás e tentando os contra-ataques rápidos como no golo que marcaram a Portugal. São, à excepção de um ou outro jogador, excessivamente tenrinhos e provavelmente sofrerão. Estarão felizes de ali estar e isso provavelmente levará a entusiasmo a mais. Lorik Cana tem experiência do futebol italiano e deverá organizar a defesa. No meio-campo veremos o irmão do Síço Granit Xhaka, Taulant, ambos nascidos na Suíça. Estes serão os nomes mais conhecidos da equipa que depende de alguns elementos da diáspora para compensar a falta de experiência. Um dia os albaneses poderão ser um nome de maior peso, mas para já vão essencialmente participar para mostrar a bandeira.

 

Hungria

Esta não é a Aranycsapat dos anos 50. Nem sequer uma das sólidas equipas do passado mais recente. É uma equipa de jogadores que teriam dificuldade em entrar na maioria das outras selecções. No entanto, treinada pelo alemão Bernd Storck, a Hungria ultrapassou estes obstáculos para se qualificar para o Europeu. Não será um sinal de ressurgimento deste país no panorama futebolístico europeu (é justo reconhecer que provavelmente não se teriam qualificado no formato anterior) mas demonstra que o espírito de grupo, a coragem e a sorte também têm o seu lugar (por exemplo no play-off com a Noruega). Os nomes mais conhecidos serão Ádám Bogdán (suplente no Liverpool), Gábor Király (o velhinho guarda-redes), Zoltán Gera (agora com 36 anos, chegou a jogar no Fulham), o capitão Balázs Dzsudzsák (andou pelo PSV, na Holanda) e Ádám Szalai (que fez nome no Mainz na Alemanha). Será difícil avaliar aquilo que pdoerão atingir, mas certamente que um ou dois pontos seriam já razão para alguma satisfação.

 

Irlanda do Norte

Venceram inesperadamente o grupo teoricamente mais fraco, mas também o mais equilibrado. Isso pode não dizer muito da sua qualidade mas garante mentalmente estes irlandeses do norte da ilha são bastante fortes. Também aqui estrelas são poucas ou nenhumas. O nome mais conhecido será Jonny Evans, central formado no Manchester United, durante muito tempo considerado o sucessor de Ferdinand, mas agora despachado para o West Bromwich Albion. Para lá de Evans será possível reconhecer Roy Carrol agora com 38 anos, que em tempos também andou pelo Manchester United (emora não muito a titular). Há depois alguns jogadores a alinhar nas Premier League inglesa e escocesa, com os outros em equipas de menor dimensão. Não os conhecendo bem, corro o risco do estereótipo. Praticarão um futebol à inglesa, durinho, forte, directo e fundamentalmente pouco adequado a um torneio destes. A minha espectativa? 3 derrotas e um goleada. Os adeptos irão no entanto divertir-se.

 

Islândia

Qualificaram-se à frente de República Checa e Turquia no grupo e no entanto coloco-os mais abaixo deles nas minhas expectativas. Isto resulta da sua muito pouca experiência e do futebol pouco adequado a um Euro jogado no Verão. Têm em Guðjohnsen o seu jogador mais conhecido e em Sigurðsson o melhor da actualidade. Em Finnbogason têm um avançado com experiência de melhores ligas (espanhola, holandesa e grega) e depois mais um ou outro em equipas de segunda linha. Do que lhes vi na qualificação, beneficiram de ser uma equipa com entusiasmo, solidária, e beneficiaram da sorte. Esta não estará excluída em França, mas provavelmente será menos importante. Ainda assim, se apanharem o adversário ideal, poderão surepreender alguma equipa.

 

República da irlanda

Mais uma equipa britânica a chegar inesperadamente à fase final. A Irlanda foi, nos tempos de Jack Charlton, uma equipa sólida com alguns bons jogadores que desequilibravam. Hoje em dia tenta manter-se solidária, disciplinada e esforçada, esperando que algum dos jogadores tenha um rasgo de sorte e mude o jogo. Foi assim que surpreenderam a Alemanha e que foram conseguindo ir obtendo uns resultados esforçados que os levaram ao play-off com a Bósnia e Herzegovina, o qual venceram de forma algo surpreendente. Os melhores jogadores serão James McCarthy, Aiden McGeady e Shane Long, sem esquecer os veteranos John O'Shea e Robbie Keane. É uma equipa onde os jogaodres frequentemente têm melhores desempenhos que nos seus clubes e praticam um futebol pouco complicado. Em Martin O'Neil têm também um excelente treinador que os organiza perfeitamente e extrai o máximo daquilo que podem dar. Num grupo com equipas baixas e mais fracas poderão obter um ou outro ponto em resultado do jogo musculado, remates de longe ou bolas paradas. Mais que isso não deverão conseguir.

 

Roménia

Mais uma equipa vinda do mais fraco grupo de qualificação (e que beneficiou do colapso da Grécia). Jogadores conhecidos são poucos: Răzvan Raț (o capitão), Săpunaru (que passou pelo FC Porto), Chiricheș e Torje (que passaram por ligas de peso), e os guarda-redes Tătărușanu (Fiorentina) e Pantilimon (que andou no banco do Manchester City). Há alguns jogadores a emergir nas camadas jovens (incluindo o filho de Gheorghe Hagi), mas é ainda cedo para terem um impacto. Vale-lhes terem ainda Iordănescu como seleccionador e figura tutelar da equipa (foi o responsável pela grande equipa romena dos anos 90) para equilibrar, mas este será um torneio para marcarem presença e (re)ganharem experiência.

 

Em resumo: nenhuma destas equipas é uma imediata candidata e as suas probabilidades serão baixas, mas nas condições ideais - atingido o pico de forma, uma ou duas exibições perfeitas moralizadoras, falta de pressão, sorte, etc - poderão levar a que cheguem longe e, excepcionalmente, vençam o torneio. É também muito provável que uma destas equipas seja a principal desilusão. Mas na maior parte dos casos será divertido vê-las jogar.

Pré-Visões do Euro 2016 - Chatos

João André, 21.12.15

Nesta lista colocarei aquelas equipas que, não sendo candidatas nem tendo sequer a capacidade para, em condições especiais, vencerem a competição, são daquelas que chateiam e, em um ou dois jogos, poderão eliminar favoritos. Nalguns casos será pelo poder das suas estrelas, noutros pelo colectivo. Em qualquer deles serão incómodos caso não impludam (e isso sucederá com alguns deles).

 

Eslováquia

Apesar de ter jogadores conhecidos como Škrtel e Hamšík, a grande força da Eslováquia é o seu colectivo. Deram muitos problemas à Espanha no início da qualificação com a sua capacidade de jogarem compactos e com entreajuda. Têm um conjunto de jogadores secundários com alguma qualidade em Hubočan, Weiss, Kucka, Nemec ou Stoch e podem assustar. Não irão provavelmente muito longe - passar a fase de grupos seria um sucesso - mas farão a vida difícil a alguns adversários.

 

Gales

É uma equipa cujo sucesso depende essencialmente da sua estrela: Gareth Bale. Felizmente para eles, Bale poderá beneficiar muito de Gales ser uma equipa que terá de defender com frequência e atacará essencialmente em velocidade. Bale será quase inigualável na sua capacidade de fazer longos sprints em velocidade e apoiado também em grande força física. A sua capacidade de atirar de distância também ajuda e não é por acaso que marcou 7 dos 10 golos da equipa na qualificação.

A equipa depende muito de uma defesa que defende atrás com a presença sólida se pouco espectacular de Williams e Davies e com Joe Allen e Aaron Ramsey no meio campo. O resto da equipa é medíocre, mas um contra-ataque galês conduzido por Bale poderá descarrilar a campanha de qualquer favorito.

 

República Checa

Mais uma equipa que se apoia na solidez. Tanto que a estrela é o guarda-redes Petr Čech. Dos restantes jogadores ainda se destaca o nome de Tomáš Rosický e poderemos reconhecer Gebre Selassie, Pilař, Kalas ou Necid. A verdade é que é uma equipa que depende enormemente não só das defesas de Čech como na sua voz de comando - dentro e fora do campo. No ataque não ameaçarão (poderão causar problemas em bolas paradas às equipas mais baixas) mas serão difíceis de quebrar defensivamente.

 

Rússia

Talvez alguns colocassem os russos no patamar acima, no de potenciais. A verdade é que os russos têm ainda um futebol excessivamente insular para dar o passo seguinte. Os jogadores ficam demasiado tempo na Rússia e são pouco expostos aos estilos do resto da Europa. Depois da modorra de Capello, Leonard Slutsskí revitalizou a equipa e fez os jogadore mais confiantes e capazes de jogar melhor futebol. Um dos problemas da equipa é o seu relativo envelhecimento: têm jogadores como Ignachevitch, Berezutski (ambos), Chirokov, Denissov, Jirkov ou Kerjakov que estão já nos seus 30 e não viram a sua geração renovada. Por outro lado ainda faltam jogadores mais jovens e só agora jogadores como Tcherichev, Dzagoev, Chtchenikov, Dzíuba (nenhum deles assim tão jovem quanto isso) começam a ter a sua oportunidade.

Em teoria esta seria uma equipa capaz de competir com qualquer adversário, especialmente quando lhe adicionamos Akinfeev, mas até este último sofreu por ter ficado apenas na Rússia: tivesse ele sido exposto a outras escolas e talvez falássemos dele como outro Neuer. É uma equipa com potencial para incomodar muito, mas provavelmente não mais que isso. No final, a veterania de uns e a falta de experiência de outros acabará por falar mais alto.

 

Suécia

Um nome: Zlatan Ibrahimović. Isto basta para que qualquer equipa encare um jogo com os suecos com cuidado. Não haverá muitos jogadores no mundo tão capazes de inventar um golo do absoluto vácuo como Le Zlatan. É também a personalidade mais divertida na competição e uma lufada de ar fresco ver como não se leva a sério a si mesmo.

Infelizmente o resto da equipa é relativamente medíocre, mesmo que relativamente sólida. Possuem os tradicionais centrais altos, forte e lentos, os médios altamente trabalhadores e os jogadores capazes de trabalhar para as estrelas. Quando enfrentarem algumas equipas poderão ser mesmo muito chatos, especialmente se defenderem muito atrás e usarem as bolas paradas (Larsson e Källström são excelentes nisso). E depois têm Zlatan. Poderão ser uma equipa chata de enfrentar, mas com Zlatan valerá sempre a pena ver os seus jogos.

 

Ucrânia

Iármolenko e Konopliánka: os dois extremos que farão a cabeça em água a qualquer adversário. É por eles que passará qualquer potencial sucesso ucraniano em solo francês. Da restante equipa sobram Piatov, Kutcher, Stepanenko, Ribalka e Kravets. Serão o elenco secundário. O plano será simples: dar a bola aos extremos e esperar que eles inventem golos do nada. É simples mas em certos jogos será provavelmente eficaz.

Pré-Visões do Euro 2016 - Potenciais

João André, 20.12.15

Nesta lista escrevo sobre aquelas equipas que, não sendo óbvias candidatas, poderão surpreender e ir longe na competição ou mesmo vencê-la. Seriam surpresas do mesmo tipo que a Dinamarca em 1992 ou a Grécia em 2004 (ou mesmo a Checoslováquia em 1976). São equipas que precisarão de vários factores do seu lado: nenhuma lesão, as estrelas a atingirem os seus picos de forma, elencos secundários sem falhas e até mesmo a jogarem os jogos da sua vida, um sorteio amigo e, extremamente importante, precisarão de sorte. Contudo, se todos estes factores se conjugarem, poderíamos ter um vencedor completamente surpreendente.

 

Áustria

É uma equipa a que não se costuma dar muita atenção, mas de forma injusta. Qualificaram-se como vencedores de um grupo com Rússia, Suécia e Montenegro (sempre incómodas) e são um grupo sólido e solidário no seu jogo. Não têm grande quantidade de estrelas mas jogadores como Fuchs, Prödl, Arnautović, Harnik e Janko são habitualmente incómodos e têm uma estrela capaz de jogar em meia-dúzia de funções diferentes em David Alaba. É improvável que deslumbrem ou que vençam a competição, mas fazem lembrar certamente a Grécia de 2004 (ou até a República Checa no mesmo ano). Pessoalmente preferiria não os enfrentar.

 

Croácia

Antes de mais nada, a razão para os colocar nesta lista: o meio campo Modrić-Rakitić-Kovačić. Se quiséssemos escolher um meio campo de tecncistas capazes de jogar de forma tacticamente sólida, dificilmente precisaríamos de ir mais além que este trio. Há depois alguns outros bons jogadores na equipa, como Ćorluka, Srna, Lovren, Perišić, Badelj, Kalinić ou Mandžukić. Chegaria para a maior parte das equipas. A grande questão é se Ante Čačić, o seleccionador, será capaz de levar este conjunto de jogadores a atingir o seu potencial.

 

Polónia

Em Lewandowski têm provavelmente o melhor ponta de lança do mundo de actualidade. Um jogador que mistura as qualidades de aríete, finalizador, organizador e pit-bull num só jogador. Em Szczęsny, Piszczek, Glik e Błaszczykowski têm um forte elenco de luxo e em Krychowiak uma parede em frente da defesa. Se a Áustria me faz lembrar a Grécia'04, a Polónia tem laivos da Dinamarca'92, especialmente se Szczęsny controlar as suas tendências para gaffes. Caso se aguentem na retaguarda e Lewandowski chegue saudável e em forma, podem ser uma surpresa.

 

Suíça

O que escrevi acima sobre a Áustria poderia escrever de novo sobre a Suíça. Nos últimos anos e especialmente sob a batuta de Ottmar Hitzfeld, a Suíça progrediu de equipa chata para equipa perigosa e com aspirações a mais. Para isso contribuiu muito a entrada da enorme comunidade de descendentes de imigrantes no país e que deram outro cariz à equipa.

Jogadores como Sommer, Bürki, Schär, Inler, Behrami, Xhaka, Frei ou Mehmedi poderiam ter lugar nos plantéis da maior parte das equipas do mundo. Lichtsteiner, Shaqiri, Drmić ou Rodríguez estarão na antecâmara da "classe mundial". Pessoalmente muito gostava de ter alguns destes jogadores a alinhar por Portugal. O ponto fraco poderá ser o seleccionador Vladimir Petković que chegou ao cargo de forma algo controversa e sofre com as comparações com Hitzfeld. Seja como for, são outra Dinamarca'92 em potência (senão mesmo Checoslováquia'76).

Turquia

Esta equipa anda há anos a pedir para nos surpreender. Formam talentos em série e, quando associados aos jogadores formados na diáspora (especialmente alemã) que trazem a disciplina, podem um dia destes explodir. O principal entrave costumam ser a falta de disciplina (que é compensada com uma paixão enorme) e os conflitos que possam surgir entre as facções religiosa e laica na equipa. Contudo, uma equipa com Turan, Çalhanoğlu, Yılmaz, Şahin e uma série de outros guerreiros e guiada por Fatih Terim (talvez o melhor seleccionador na prova) não pode nunca ser desprezada.

 

Em resumo: nenhuma destas equipas é uma imediata candidata e as suas probabilidades serão baixas, mas nas condições ideais - atingido o pico de forma, uma ou duas exibições perfeitas moralizadoras, falta de pressão, sorte, etc - poderão levar a que cheguem longe e, excepcionalmente, vençam o torneio. É também muito provável que uma destas equipas seja a principal desilusão. Mas na maior parte dos casos será divertido vê-las jogar.

Pré-Visões do Euro 2016 - Bélgica

João André, 17.12.15

A Bélgica é no papel uma das mais fortes selecções que estarão presentes em França. Nomes conhecidos não faltam: Courtois, Kompany, Witsel, Hazard, De Bruyne, etc. Todos estes são nomes que dão garantias, mas a segunda linha não deixa de impressionar.Posição por posição, poder-se-ia fazer uma comparação entre Bélgica e Portugal e só sobrariam Ronaldo e um ou outro jogador luso na combinação.

 

2016 afigura-se então como a grande oportunidade belga para ganhar alguma coisa. A Alemanha e a Espanha não estão tão fortes como no passado e os "diabos vermelhos" estão a entrar na fase de maturidade de alguns jogadores e de explosão das estrelas. Depois da semi-desilusão do Mundial (em que foram eliminados pelo génio de Messi), há a sensação que "desta vez é que é". Há no entanto três pequenos engulhos. Avancemos com eles:

  • O treinador Wilmots é respeitado mas há a sensação que lhe falta o extra táctico necessário para vencer uma competição destas. Para as qualificações isso não é um problema. Há pouco tempo para trabalhar e os mecanismos vêm dos clubes. Já antes da fase final há um mês inteiros para preparar a equipa e Wilmots não parece estar ao nível necessário para o fazer.
  • A fricção entre flamengos e valões. Este é curiosamente um aspecto que Wilmots parece ter conseguido fazer desaparecer (ou pelo menos minimizar). Há no entanto o risco que expluda a qualquer momento.
  • À táctica (relacionada com Wilmots mas não só) falta um defesa esquerdo. Isto pode parecer um pequeno pormenor, mas não o é. No papel a estrela é Hazard, só que na sua posição (ala esquerdo "invertido") ele necessita de um lateral que suba e arraste o lateral, de forma a que Hazard possa flectir para o centro. Vertonghen é habitualmente o lateral esquerdo, mas não sendo mau, o seu instinto não é o de subir, o que o atrasa e permite que a defesa se organize. Este pode parecer um aspecto menor, mas nega à Bélgica aquele que poderia ser o seu melhor jogador. É por isso que Wilmots chegou a experimentar Lukaku (um ponta de lança canhoto) a lateral esquerdo durante o jogo com Andorra. Vertonghen deveria ter um ala esquerdo clássico (canhoto) à sua frente, mas com Hazard o jogo fica demasiado afunilado e a influência da estrela é limitada.

 

Noutros aspectos a Bélgica está extremamente bem equilibrada. Courtois é dos melhores guarda-redes do mundo. Em Kompany e Vermaelen (se saudável) têm uma boa dupla. Alderweireld é sólido na defesa e no ataque a lateral direito. Witsel oferece serenidade, posicionamento e passe, Naingolan corre muito e é sólido em tudo. De Bruyne e Hazard oferecem qualidade, assistências, golos e imprevisibilidade. Mertens e Ferreira-Carrasco dão velocidade e irreverência, Januzaj é o joker e Benteke e Lukaku são os pontas de lança que Portugal mataria para ter. Além disso ainda sobram como reservas Fellaini, Mirallas, Lombaerts ou Dembelé entre outros.

 

Correndo tudo bem, com Vertonghen a cumprir o seu papel, Vermaelen saudável, Hazard a funcionar e bom espírito de grupo, a Bélgica será certamente uma das principais candidatas. Pessoalmente colocá-la-ia talvez acima da Alemanha e Espanha. O Verão nos dirá.

Pré-Visões do Euro 2016 - Inglaterra

João André, 16.12.15

Mais uma competição e mais uma vez o famoso ciclo inglês: criar expectativas, ficar lentamente desiludido com a prestação, reconhecer que a qualidade não é suficiente, ficar deprimido com a selecção. Basta ler os jornais ingleses para perceber que a Inglaterra anda há décadas presa a este ciclo. Vivem da glória do Mundial conquistado em casa em 1966 e com a ilusão que a próxima vitória está ao virar da esquina.

 

Isto esteve mais perto de ser realidade durante a geração de Beckham, Gerrard e outros. Foram derrotados apenas com grande esforço por brasileiros e portugueses em 2002 e 2004, respectivamente, e poderiam ter chegado longe. Hoje, com esses jogadores quase todos retirados ou afastados (apenas Rooney ainda está na selecção, tendo sido o menino prodígio em 2004), as expectativas são mais baixas, mas sobem sempre que um ou mais jovens excitantes começam a desabrochar.

 

Em termos de qualidade pura, a Inglaterra nunca está assim tão mal quanto se possa pensar. Na selecção actual tem um bom conjunto de jogadores. Carrick poderia ter jogado por um Barcelona; Rooney não terá chegado aos níveis que os compatriotas esperavam mas é um jogador excelente; Hart é uma guarda-redes com erros clamorosos ocasionais mas também na categoria imediatamente inferior às de Neuer, de Gea ou Courtois; Sterling, Barkley, Kane, Smalling, Stones, Wilshere (quando não lesionado) e Sturridge são simultâneamente altamente promissores e já temíveis. É uma equipa que, vista jogador a jogador, deveria aspirar pelo menos às meias-finais.

 

O problema é que os ingleses acabam sempre por falhar nas fases finais. As razões não são sempre claras, mas há algumas que saltam à vista. Antes de mais a falta de uma pausa de Inverno (quando jogam de forma ainda mais frequente) que não permite aos jogadores descansarem. Isto torna-se ainda mais premente quanto a Inglaterra gosta de jogar em velocidade. Ainda pior fica o cenário quando os torneios têm lugar no Verão, o que torna o jogo rápido e intenso da Inglaterra mais difícil, especialmente considerando que os ingleses gostam pouco de calor quando não numa praia de Tenerife.

 

O estilo de jogo inglês também é excessivamente simples. Não é coincidência que os jogadores europeus de ligas mais tecnicistas tenham sucesso na Premier League (após um período de adaptação ao aspecto mais físico) mas os ingleses tenham dificuldades no continente. Há muita vocação para o ataque rápido, desenfreado e pouco estruturado e para o jogo "mais com o coração que com a cabeça". Isto é motivado e impulsionado pelos adeptos, que querem um jogo emotivo e menosprezam discussões tácticas. É também o resultado de uma formação muito focada na parte física e pouco nas partes técnica e táctica. Tudo junto forma um estereótipo de jogador forte, rápido, com muito coração mas que não compreende o conceito de "pausa" no meio do jogo: parar e ver.

 

Outros aspectos contribuem: há pouca familiarização dos jogadores ingleses com outros estilos (as equipas na Liga dos Campeões têm poucos ingleses e as da Liga Europa consideram a competição exclusivamente como um fardo senão mesmo um castigo); a pressão exercida é excessiva (Peter Schmeichel foi para o Sporting perto do final da carreira porque queria um ambiente mais calmo); há sempre um circo a rodear a equipa (com WAGs, agentes, televisões, etc); a preparação nem sempre é a ideal; etc.

 

Ignorando este último aspecto, debrucemo-nos sobre aspectos tácticos e de jogadores. Antes de mais o maior problema de Roy Hodgson: não existe um onze ideal na sua cabeça. Existem variações do mesmo, mas ainda há muitas experiências a decorrer, especialmente à medida que jogadores jovens vão emergindo. Há jogadores que serão certos, senão no onze, pelo menos lá perto: Hart, Smalling, Jones, Stones, Clyne, Carrick, Wilshere, Henderson, Sterling, Sturridge, Barkley, Rooney. O problema é quais deles estarão aptos (Wilshere por exemplo está mais tempo lesionado que saudável) e como os integrar. Rooney é o principal problema, uma vez que há a sensação que deve jogar mas nas suas possíveis posições há jogadores mais capazes (Sturridge a ponta de lança, Barkley a "10", Sterling ou Oxlade-Chamberlein nas alas, Henderson no meio campo). Isto leva a um certo desequilíbrio táctico que torna difícil criar uma equipa.

 

Além disso, a relativa juventude (e impetuosidade) de muitos dos promissores jogadores que vão sendo integrados (entre eles Eric Dier, formado no Sporting), torna difícil a adopção de um estilo de jogo mais pausado, o qual é habitualmente mais adequado a estas competições. Também limita as opções tácticas, dada a inexperiência destes jogadores não só em relação aos seus colegas mais experientes como em relação aos outros jogadores jovens de outras partes do continente.

 

Num bom dia a Inglaterra será impossível de parar. Se nesse dia não houver lesionados, o sol não brilhar, a temperatura for baixa e a equipa adversária se atemorizar com a impetuosidade, a Inglaterra pode vencer qualquer um. Num torneio destes esse tipo de dia só costuma aparecer uma vez. A Inglaterra terá qualidade suficiente para sair da fase de grupos, mas provavelmente não mais que isso. E a espera e o ciclo repetitivo conitnuarão.

Pré-Visões do Euro 2016 - França

João André, 15.12.15

Antes de mais e sem rodriguinhos: considero a França a mais forte candidata ao título nopróximo europeu. Faço-o com a consciência que podem sair ao fim de três joguinhos sofríveis e terei depois aqui os leitores a ridicularizarem o meu post, mas também o faço "de peito aberto" para que esta opinião possa ser seguida.

 

Em geral as minhas razões: uma equipa muito forte, com mistura jogadores experientes e jovens; um treinador inteligente e pragmático; um torneio em casa, pouco mais de seis meses depois dos ataques em Paris. Pontos fracos: algumas lacunas na equipa; a por vezes excessiva precaução de Deschamps; e a falta de jogos competitivos.

 

Em relação à equipa, veja-se o seguinte elenco: Lloris (dos melhores guarda-redes do mundo), Sagna, Digne, Koscielny, Varane, Sakho, Zouma, Pogba, Schneiderlin, Cabaye, Matuidi, Kondogbia, Payet, Valbuena, Benzema, Griezmann, Giroud, Martial, Lacazette, Fekir, etc. Há pontos fracos: a alternativa a Sagna a defesa direito é fraca; na esquerda é uma escolha entre o inexperiente Digne e o excessivamente experiente Evra. Há dúvidas no meio campo criativo: Payet, Cabaye ou Valbuena podem oferecer essa opção, mas não é óbvio qual deles o fará e sob que forma (mais livre, mais recuado ou mais avançado, respectivamente). Martial (ou Coman) são excitantes mas ainda tenrinhos a este nível. Benzema poderá estar afectado pelas suas tribulações privadas. Giroud oferece outras opções mas não é o mais temível.

 

Há portanto muitas questões a que Deschamps terá encontrar resposta antes do torneio começar. A preparação poderá no entanto ser uma forma de colmatar essas lacunas e a falta de jogos competitivos. Deschamps sabe treinar e é esse o trabalho do seleccionador antes de um torneio começar. Aqui estará em vantagem a relação a treinadores que são figuras paternas ou motivadores (Wilmots na Bélgica, por exemplo). Os franceses também já demonstraram serem capazes de se exceder perante o seu público (Euro 1984, Mundial 1998) e assim que as coisas se afiguram difíceis lá irrompe a marselhesa no estádio, o que é sempre capaz de galvanizar. Associe-se a isto a ressaca dos ataques em Paris e o apoio à selecção francesa atingirá níveis estratoféricos.

 

Um dos maiores problemas é a tendência para a implosão do grupo. Ben Arfa tem vindo a apresentar-se como opção renovada, mas também costuma trazer tensões. O caso Valbuena-Benzema não está esclarecido. Não há um líder natural no grupo, alguém com a voz de comando presente nos anteriores sucessos franceses (Platini em 84, Deschamps em 98/2000). Falta também uma super-estrela (também Platini em 84, Zidane em 2000 mas essencialmente ausente em 98). Esse papel poderá ser reservado a Pogba, mas este parece ser cada vez mais um super-jogador que não se especializa em nada apesar de ser excelente em tudo. Fekir poderá ser a peça que falta ao puzzle, o que será uma surpresa para quem não o conheça (e ainda traz o bónus de estar lesionado parte da época mas em princípio recuperar perfeitamente a tempo de atingir o pico de forma).

 

É difícil prever o desenho táctico de Deschamps porque não sabemos quais os jogaodres que tem em mente (ou vice-versa: sem saber os jogadores não podemos prever a táctica). Na defesa Varane será quase garantido com boas possibilidades de emparceirar com Koscielny. À direita é Digne e à esquerda a ver vamos. No meio campo Pogba é garantido, mas não sabemos em que funções. Poderá ter Matuidi e/ou Kondogbia por parceiros num meio campo musculado ou Cabaye e Valbuena e/ou Payet num meio campo mais técnico e imprevisível. Benzema poderá ter Griezmann ao lado ou a flanqueá-lo. Neste caso será necessário procurar o outro extremo (Martial, Coman ou mesmo Matuidi seriam opções). Onde Fekir cabe não se sabe. Talvez no ataque ou no topo do meio campo. Depende da táctica.

 

Deschamps poderá ter à disposição variações entre 4-3-3, 4-2-3-1 (com extremos clássicos ou invertidos) ou 4-4-2 (com o meio campo em linha ou losango ou mais flexível). Do meio campo para a frente as opções são imensas. Na defesa Deschamps estará a rezar para que alguns dos seus jogadores permaneçam saudáveis. Seja como for, é esta a minha (pre)visão: Deschamps conseguirá escolher uma equipa equilibrada, irá treinar os jogadores correctamente, uma estrela saberá assumir as responsabilidades e o espírito do país irá unir os jogadores. Tudo isso se juntará para fazer a França campeã europeia.

Pré-Visões do Euro 2016 - Nota intermédia

João André, 15.12.15

Uma pequena adenda aos posts sobre as minhas antevisões: foram todos escritos (excepto os que virão sobre Portugal) antes do sorteio da passada sexta-feira. Por isso terão alguns deles uma referência ou outra a ter sorte com as equipas que calhem.

 

Uma (pré-)visão mais específica sobre o torneio só virá, da minha parte, daqui a uns meses, quando for para mim mais claro que jogadores estarão em forma, lesionados, que esquipas parecem estar a evoluir, etc.