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Delito de Opinião

Edite Estrela apoia Cavaco

Rui Rocha, 28.12.10

A recandidatura de Cavaco Silva corre-lhe bem. A conjuntura já lhe era favorável. Alegre, o principal opositor, apresenta-se sem base de apoio coerente. A clivagem política não se faz, em Portugal, entre esquerda e direita. Faz-se entre partidos do arco da governação e partidos do arco-da-velha (PCP e Bloco). Embora ocupem, aparentemente, espaços contíguos, PS e Bloco estão à distância desse fosso profundo que os separa. Alegre dedica-se ao esforço inglório de saltar de um lado para o outro. Em cada viagem, desbarata credibilidade. E, desta vez, não tem uma história de injustiça para contar. Em 2011, não existe um moinho com bochechas ao vento contra o qual um bardo quixotesco possa espetar a barba. Sem moinhos não há crónicas épicas de cavalaria. A Nobre, por seu lado, não faltam causas. O seu problema é esse. No fundo, os portugueses têm sobre o seu destino uma avaliação racional. Nobre será muito mais útil dedicado às causas humanitárias do que enredado em jogos políticos em Belém. Ocorre-me agora que Nobre daria, por exemplo, um excelente Presidente da AMI. Os portugueses também acham que o futuro dele será por aí. O candidato do PCP é a cara do partido. Não lhe tira uma vírgula mas, também não lhe acrescenta um ponto. Muito menos uma exclamação. É, portanto (não resisti), muito útil a Cavaco. Impede a consolidação de votos num candidato de esquerda. Essa que, em termos de projecções e sondagens, poderia criar a ilusão de uma onda de vitória. Estas coisas fazem-se de momentos. Uma desistência à boca da urna não vai provocar um momento de entusiasmo à esquerda. Pelo contrário. A acontecer, vai certificar o desespero da causa. De Defensor de Moura dizia-se não apresentar desígnios óbvios de candidatura. Até ao debate com Cavaco Silva. Ali se percebeu que a sua presença tem como objectivo ajudar o actual Presidente a vencer a eleição. Uma parte dos portugueses não gosta especialmente da auto-suficiência de Cavaco. Mas, têm um lugar no coração para todos os injustiçados. Sugerir que Cavaco tem uma ligação nebulosa ao BPN é dar-lhe uma oportunidade de vitimizar-se,  bater no peito e proclamar a sua indignação. Em tudo isto, só faltava uma Estrela que indicasse ao actual  Presidente o caminho de Belém. Pois ela surgiu por alturas do Natal. Estas declarações da auto-intitulada madrinha de Sócrates (tens aí um afilhado porreiro, pá!), insistindo na tecla do BPN, reforçam a ideia de um Cavaco acossado. Num campo onde a sua robustez é de betão: o da idoneidade pessoal. Edite Estrela torna-se, assim, mais uma apoiante improvável de Cavaco. Afastando-se da crítica à forma como este exerceu o mandato presidencial que termina, esta gente dedica-se a bater com a cabeça na parede. Quando se pensava que iríamos assistir a uma vitória do actual Presidente por falta de comparência, eis que os adversários entram em campo para marcar golos na própria baliza.