José Mourinho
Ganhar só no futebol, a partir de certa altura, deve ser profundamente desmotivador para alguém como José Mário dos Santos Mourinho Félix. Habituado às vitórias dentro das quatro linhas de todas as equipas que tem treinado e também a derrotar os adversários por palavras em conferências de imprensa, o mais célebre treinador do nosso tempo sagrou-se oito vezes campeão em quatro países diferentes (Portugal, Itália, Espanha, Inglaterra), conquistou duas Ligas dos Campeões Europeus (pelo FC Porto e pelo Inter) e foi agraciado em 2010 pela FIFA com o título de melhor técnico mundial.
Talvez chegue mais cedo do que se pensa o dia em que, cansado de somar títulos desportivos, acabe por perseguir outros desígnios. Que também exijam estratégia vencedora, instinto predador, muitos jogos mentais e capacidade de condução de homens - características em que este aquariano de 52 anos se tem destacado com nota máxima.
Com inúmeros admiradores em todos os continentes e uma implacável legião de inimigos fiéis que constitui o maior atestado da sua competência, Mourinho gostaria certamente de marcar pontos também no campeonato da política. E nenhum seria tão apropriado para ele como uma eleição presidencial.
Um bom candidato deve ser "raposa para reconhecer as armadilhas e leão para afugentar os lobos", prevenia Maquiavel, autor de cabeceira deste setubalense que acaba de levar o Chelsea pela terceira vez à conquista do título inglês, confirmando o que dissera na primeira conferência de imprensa que deu naquele clube, em 2004: "Eu sou especial" (special one). Um rótulo que perdura.
Filho de guarda-redes, aprendeu desde menino a valorizar uma boa organização defensiva como condição indispensável aos triunfos.
Por cá, com a clarividência habitual, nem Benfica nem Sporting o quiseram nas suas fileiras: foi no Porto que o seu talento enfim explodiu aos olhos de toda a Europa do futebol.
Divide as águas? Seguramente: nenhum verdadeiro líder gera unanimidades. Nem ele as procura. De Cristiano Ronaldo, seu alvo de estimação, chegou a dizer que "o verdadeiro Ronaldo é o brasileiro".
Mas ninguém como ele consegue unir quem está sob o seu comando, fazendo-se obedecer na mobilização contra o inimigo. E quando não existe inimigo inventa-se um: reais ou imaginários, nenhum deles fica sem resposta.
Dizia o técnico do Arsenal, Arsène Wenger, que o futebol praticado pelas equipas de Mourinho é "chato". Resposta pronta do visado: "Chato é estar dez anos sem vencer." Wenger calou-se: a farpa atingiu-o em cheio.
Acreditem: com ele em Belém, a Presidência da República seria tudo menos uma instituição entediante.
Prós - Pouparíamos muito dinheiro em campanhas promocionais do País: José Mourinho é um dos raros portugueses reconhecidos em todo o mundo. Um Mourinho na suprema magistratura da nação reforçaria os nossos laços com os países islâmicos. Poderia convidar Cristiano Ronaldo a trabalhar com ele, fiel à máxima de Don Vito Corleone: os amigos devem estar perto e os inimigos mais perto ainda.
Contras - Israel retiraria o seu embaixador de Lisboa: os judeus detestam mourinhos. No calor de um debate presidencial, poderia enfiar o dedo no olho de um adversário, como fez ao ex-técnico do Barcelona Tito Vilanova quando treinava o Real Madrid. A esfera armilar na bandeira nacional daria lugar a uma bola de futebol.