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Delito de Opinião

O paternalismo do estado

Paulo Sousa, 19.06.21

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Esta publicação da PSP na sua página do Facebook pode causar algumas dúvidas.

  1. Usar sapatos, botas, sapatilhas, barbatanas, socas ou andar descalço, é apenas potencialmente perigoso ou dá direito a contra-ordenação?
  2. Em que sitio específico é considerado o fim do acesso à praia e o início da mesma?
  3. A regra aplica-se também às praias naturistas?
  4. Digam-me que isto não foi uma ideia do Ministro da Administração Interna.

 

Postal dedicado aos que ainda têm dúvidas de que nos tratam como crianças.

Conversas em família (6)

Maria Dulce Fernandes, 20.09.20

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Uma espreguiçadeira ao sol, calor, água fresquinha, o som das ondas a marulhar uns metros abaixo... O livro aberto em cima da barriga molhada era um excelente indicador de total relaxamento e de preguiça também.

Primeiro ouvi o grito. Depois o choro. Em seguida as vozes dos comentadores da insipiência que se avolumavam. Sentei-me meio arrelampada tentando focar a figura que corria na minha direcção com a criança nos braços, que chorava e gritava copiosa e desalmadamente.

Peixe-aranha, diz ele com a respiração entrecortada. Foi um peixe-aranha. Peguei-a no colo. O André do concessionário já tinha ido pelo nadador-salvador. Posso ver, neta? Não! Não mexas! Dói! Dói muito, conseguia perceber-se balbuciado por entre o pranto incontrolado.

O salva-vidas chegou rapidamente, já equipado com um recipiente com água muito quente. Falou-lhe mansamente e depois de uns goles de água fresca pela garganta e rosto, conseguiu que se acalmasse um pouco e explicou como seguir à risca as instruções de pé in - pé out. Estiveram neste preparo uns bons 20 minutos. Só depois conseguimos ver o arranhão e o inchaço. Parecia ter pegado de raspão!

A neta estava sentada no meu colo, embrulhadinha que nem um rebuçado mole e lambuzado, sequiosa e a recompor-se do SPT  de todas as emoções.

Já não dói tanto, neta? Dói um bocado, mas tenho mais é uma sensação esquisita no pé. É natural, todo aquele calor de escaldão para sair a toxina, deixaram-te o pé, que já estava inchado, um bocadinho dormente.

Sabes avó, não sei como o peixe-aranha me mordeu. Eu estava distraída a brincar com o avô à beira-mar e não o vi chegar, mas não percebo como é que me mordeu sem eu o ver. Por exemplo, se um cão ou um gato me mordessem o pé, eu tenho a certeza que via, a não ser que fossem invisíveis. Bem, o peixe-aranha não é invisível, mas engana a vista. Enterra-se na areia apenas com os olhos de fora… E com a boca também avó, senão como é que pode morder? Pois, a questão é assa mesmo. O peixe-aranha não morde. Olha, avó, a ti não sei, mas a mim mordeu-me bem. Sabes que os peixes têm barbatanas? Sei. A barbatana dorsal é aquela que abre em leque na costas. Esse peixe, que é um patifório da pior espécie e tem uma espécie de veneno chamado toxina na barbatana, enterra-se na areia com a dita cuja aberta de modo a poder ser facilmente pisado por um pezinho incauto que ande a cirandar pela beira-mar. Eu não andava a cirandar, andava a molhar o meu avô e não fiz mal ao peixe-aranha para ele me picar. Pois não, calhou. Estavas a passar pelo sítio em que ele estava escondido e pisaste-o na altura em que ele tinha a barbatana aberta. Então foi mesmo por acaso. Foi, foi mesmo coincidência. Mas sabes, avó, “essa coincidência foi mesmo muito dolorosa e causou uma estranha impressão”.

E eu tenho a impressão que a minha neta nunca irá parar de me surpreender, coincidência ou não.

Amanhã acaba o Verão.

O sol está mais quente

Marta Spínola, 01.07.15

Pois está, e não são precisos estudos para o saber. A mim basta sair da praia e escaldar os pés todos no processo.
É um facto, nos últimos anos sinto a areia muito mais quente muito mais depressa que quando era pequena. Ou tinha pezinhos de amianto, ou não sei. Talvez haja estudos sobre os pés de crianças dos anos 80 e a areia da praia. 

Já nem é só a areia do fim da praia, nem é preciso ser um grande areal. O sol aquece e a areia ferve com ele. Se vou descalça queimo-me, se calço chinelos às vezes a areia mete-se entre eles e um dos dedos, um tormento até os poder tirar.
Sair da praia pode ser uma dor, o que podia ser poético mas não é. Não deixo de ir, naturalmente, mas dói.