Dia de Natal
Não era homem de rotinas, mas gostava de rituais, porque davam à sua vida um sentido que na maior parte das vezes lhe escapava.
- Já estou pronta!
Antes de ela falar, já lhe tinha chegado do quarto o perfume que anunciava a iminência destas mesmas palavras. Se havia momentos em que essa previsibilidade o irritava, em dias como este enchia-o de ternura.
Dia de Natal. De manhã a missa, à tarde a reunião familiar, em casa dos pais, como sempre.
- Vamos?
Sorriu-lhe, sinceramente embevecido. É possível amar as pessoas pela capacidade que têm de suportar a dor que lhes infligimos? Claro que sim.
Há muito que não se confessava. Fê-lo pela última vez no dia do seu casamento, para poder comungar, e preferia continuar assim, com as suas culpas. Um assunto que só lhes dizia respeito. A ele e a ela, que as suportava com uma abnegação adorável.
- Vamos, querida.