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Gente boa, sobra por aí alguma lágrima, pequenina que seja, uma gotita, também pela sem-abrigo cujo filho foi encontrado numa lixeira? Só para saber. Não é para trocar nobrezas. Só para adivinhar em que grau de seca vamos chorando o mundo.
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Gente boa, sobra por aí alguma lágrima, pequenina que seja, uma gotita, também pela sem-abrigo cujo filho foi encontrado numa lixeira? Só para saber. Não é para trocar nobrezas. Só para adivinhar em que grau de seca vamos chorando o mundo.
O coração também bate nas pedras. É muito, muito simples.
Estava quase a largar este Javier Marías, este de Quando os Tontos Mandam, mas decidi continuar. Chateiam-me as prosas aristocráticas, moralistas. JM daria um grande bloguista. E decidi isso porque a certa altura o homem, traduzido em mais de quarenta línguas, o que deve querer dizer que a minha irritação vale o que vale, escreve isto: “Se se vetasse o exercício das suas tarefas a todas as pessoas com um antecedente de depressão ou de desequilíbrio leve (crise de ansiedade, por exemplo) não sobraria ninguém apto para trabalho nenhum”. É verdade. Ia na página 49. Vou continuar, mas não prometo nada: o livro, as crónicas que Marías publicou no El País Semanal entre 2015 e 2017, tem 304.
Primeiro foi o Halloween, agora é o Thanksgiving. A seguir será o Mamby on the Beach na praia de Carcavelos, o Bay to Breakers na Ponte 25 de Abril, o Fun Fun Fun Fest no Meco, o Saint Patricks Day, e, por fim, o 4 de Julho e majoretes na Avenida da Liberdade? Que país tão poroso, raios!...
Agora sempre que vou à FNAC não encontro o (livro) que procuro. Tenho que andar nos alfarrabistas, e às vezes nem aqui tenho sorte, além de que é um lugar péssimo para a asma. Alguém tem por aí a Ilha dos Condenados, do Stig Dagerman?
Uma pergunta: se durante uma lide o touro der uma cornada num desses moços apertadinhos em sedas, adornos, luces, fru-frus, aos gritos de hei, hei, o animal tem direito a palmas, ou fica mal? Só para saber.
Quando a vi agora na imprensa chilena percebi logo que tinha morrido, ela, Ana de Recabarren, que só os anos, 93, e a doença calaram. Conheci-a em 98, em Santiago do Chile, na sede da Associação dos Familiares dos Detidos Desaparecidos, de que fora uma das fundadoras, e nunca mais esqueci o seu olhar já seco e a sua voz apostada: "Vivos mos levaram, vivos os quero!" Em 1976, a DINA levou-lhe o marido, Manuel, dois filhos, e uma nora, grávida. Ana maldisse então tudo o que mexia na terra e no céu mas depressa secou as lágrimas e arregaçou as mangas.E nunca mais baixou os braços. Até há dias. São estas pessoas que são o sal da terra.