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Delito de Opinião

Tudo como dantes no quartel general dos Abrantes

Rui Rocha, 22.10.16

Agora a sério. Salvo para o próprio e para meia-dúzia de alucinados que tanto acreditam no fulano como podiam ser prosélitos de uma seita sul-coreana de adoradores da lua em quarto minguante, Sócrates está politicamente morto e passou a interessar (a interessar-nos, reconheçamos todos) pelo mesmo motivo pelo qual a mulher barbuda era a atracção principal das feiras de saltimbancos. As desculpas esfarrapadas para a posse dos milhões que torrou, os hábitos de novo rico, a pose de macho alfa, as mamalhudas resolvidas que iam de férias sem cuidar de saber quem as pagava, os aguadeiros que colocou em lugares estratégicos da administração pública e da Justiça, as tentativas trapalhonas de controlar a comunicação social, as relações turvas com os donos disto tudo por mera coincidência entretanto caídos em desgraça, as teses académicas expresso escritas directamente em língua francesa quando o auto-proclamado autor semanas antes era incapaz de dizer merci bócu, as sucessivas edições esgotadas de livros no país onde a única coisa que se lê é a edição de A Bola de 2ª feira quando o Benfica calha de ganhar ao Domingo, os blogues pagos a tença mensal para trabalhar a meta-mentira de cada mentira que o personagem ia construindo, os próprios nomes dos acólitos (Perna, Mão de Ferro, por amor de Deus!?!?), tudo isto pode não chegar para uma condenação judicial mas é mais do que suficiente para que Sócrates se apresente agora como uma versão pobre, decadente e, sobretudo, muito menos séria do Palhaço Batatinha. Nada disto dá para um Feios, Porcos e Maus à portuguesa porque falta a esta gente até a densidade para darem bons filhos da puta. Tudo somado, quando a poeira assentar, teremos o enredo para um Duarte & Companhia de badamecos de terceira apanha. A questão essencial é todavia outra. O gozo, a verrina, o enxovalho que dirigimos a Sócrates está bem e é higiénico. Diz de nós que mantemos sanidade e sentido comum. Mas e os outros? Aqueles que o acompanharam e que por aí continuam. Os Galambas, os Pedros Silvas Pereiras, os Costas, os apaniguados, os compagnons de route. Os que beberam do fino. Eram cegos, não viam, eram burros, não entendiam, eram oportunistas, não queriam ver? Como podemos continuar a tolerar e a conviver com esta gente?

Junk food

Rui Rocha, 25.06.15

Marco António Costa está a braços com acusações de diversa natureza. Algumas delas, encontram-se sob investigação do Ministério Público e, relativamente a estas é necessário dar tempo ao tempo da Justiça antes de formular um julgamento político. Mas, relativamente a factos de outra natureza, há já indícios mais do que suficientes para avaliar politicamente a sua conduta. A gestão da Câmara de Gaia, na qual esteve directamente envolvido, assumindo responsabilidades de co-autoria moral e material de quantos desvarios ali se praticaram, com evidência do mais despudorado desprezo pelo interesse público e pela sustentabilidade das contas municipais, deveria ser objecto de estudo para exemplo de práticas que deveríamos ver erradicadas definitivamente da gestão da coisa pública. Mas a leitura política da condução dos assuntos de Gaia perpetrada por Marco António Costa e companhia não pode limitar-se à sua pessoa isolada. Marco António Costa tem funções relevantíssimas no PSD e é um compagnon de route de Passos Coelho. Desse PSD e desse Passos Coelho que são responsáveis por quatro anos de medidas gravosas para a generalidade dos portugueses que foram vendidas como contrapartida da governação irresponsável de José Sócrates. Pois bem. Se é verdade que as opções políticas do governo de Passos Coelho eram numa apreciação global inevitáveis, discutindo-se apenas a sua calibração e critério de aplicação, há todavia uma matéria em que o país não estava condicionado pelas imposições da Troika. Na verdade, no que respeita à seriedade, nada nos obrigava nem obriga a ser menos exigentes. Pelo contrário. Em momentos em que são impostos sacrifícios generalizados à população, é obrigatório que os que exercem o poder assumam um comportamento exemplar e uma prática e um discurso absolutamente coerentes. Ora, não é sério um partido apresentar o rigor nas contas públicas como bandeira, carregando entretanto sobre a sociedade com um brutal aumento da carga fiscal, enquanto mantém como número 2 alguém responsável por uma gestão desbragada. Pedro Passos Coelho apresentou-se aos eleitores com o desígnio de cortar gorduras. É portanto politicamente inaceitável que mantenha o famoso Big MAC a seu lado. No que me diz respeito, pelo menos, há já muito tempo que enjoei de junk food.

Uma de espiões

Rui Rocha, 24.06.15

Quatro espiões, um francês, um alemão, um italiano e um português foram capturados. Os captores levam o francês para interrogatório, atam-lhe as mãos a uma cadeira e ao fim de duas horas de tortura ele acaba por lhes dar todas as informações que pretendiam. A seguir, levam o alemão para interrogatório, atam-lhe as mãos a uma cadeira e ao fim de quatro horas de tortura ele acaba por falar. Por último, levam o italiano. Atam-lhe as mãos a uma cadeira e passam mais de vinte e quatro horas sem lhe conseguirem arrancar uma palavra. Os captores acabam por desistir e por o levar novamente para junto dos outros. O francês e o alemão ficam extremamente impressionados com a resistência do italiano e perguntam-lhe como é que conseguiu resisitir sem falar. O italiano responde: eu bem queria, mas não conseguia mexer as mãos! Entretanto o português, bem, o português não chegou a ser interrogado. Descoseu-se logo que lhe abriram uma conta de e-mail.

Que vergonha, rapaz!

Rui Rocha, 01.05.15

Pelo visto, Passos Coelho andou por Aguiar da Beira a visitar empresas de lacticínios. Certamente influenciado pelos vapores do leite, aproveitou a cerimónia de inauguração da Queijaria Sabores do Dão para proferir um dos seus inesquecíveis discursos. Afirmou Passos Coelho, entre outras coisas de proveitosa substância, que "os portugueses não querem andar aos trambolhões". Com o sentido de oportunidade que se lhe reconhece, o primeiro-ministro decidiu logo ali ilustrar o sentido das suas palavras, espalhando-se estrepitosamente ao comprido. É facto que Aguiar da Beira tem mais queijarias do que notáveis. Mas é preciso um tipo ser abundantemente cretino para se lembrar de dirigir ao natural da terra Dias Loureiro (esse mesmo), um vibrante elogio: "conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos". Perante tamanha falta de vergonha, esperam-nos tempos memoráveis. A campanha eleitoral vem aí e já veremos que rasgados encómios terá Passos Coelho guardados para o comício de Lisboa (terra natal de Alves dos Reis), para a sessão de esclarecimento de Peso da Régua (onde veio ao mundo Duarte Lima) ou para o almoço-convívio com o núcleo social-democrata de Vilar de Maçada.