"Banho de ética" dos amigos de Rui Rio (epílogo com dois novos capítulos)
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Luís Montenegro (natural do Porto mas residente em Espinho onde passou grande parte da infância e juventude) sempre foi candidato a deputado por Aveiro. Agora, que é presidente do PSD, decidiu candidatar-se por Lisboa. Gesto incompreensível, vindo de um homem do Norte: então é defensor da descentralização e fez até justas proclamações contra a macrocefalia alfacinha, mas corre a empoleirar-se no distrito da capital? Incompreensível por outro motivo: assim evita o embate nas urnas com Pedro Nuno Santos (natural de São João da Madeira), que também sempre foi candidato por Aveiro. Foi e volta a ser: mantém-se lá.
Percebo mal esta dupla fuga de Montenegro. Ao distrito adoptivo e ao confronto directo com o secretário-geral socialista. Parece ter-se esquecido disto: uma das qualidades mais valorizadas num político, seja de que quadrante for, é a coragem.
Este atributo avalia-se por actos, não por palavras. Ao esquivar-se ao duelo em Aveiro com o antigo ministro da ferrovia e dos aeroportos, o líder laranja parece fazer campanha contra si próprio.
Se ainda ninguém lhe disse isto, fica dito agora.
"Eu não voto por rótulos. (...) Eu não quero saber das campanhas eleitorais para nada.
Eu quero saber das ideias que as pessoas têm e da maneira como depois as vão defender e praticar."
Agostinho da Silva (1906-1994)
Hesitante - fraco traço pessoal e geracional, bem sei - fui à procura de um dito de alguém melhor. Queria um respaldo - profético, de preferência - ao que queria dizer, algo que vou sentindo e ouvindo mas vejo ainda informe, expresso de várias formas, nestes dias. Apareceu-me esta citação, presumo que real, da boca de alguém que reconheço, respeito, em irónica contramão ao que desejava.
É que eu quero efectivamente saber de campanhas eleitorais, admito. Ainda espero que nelas me transmitam ideias, e se possível algumas maneiras de as pôr em prática. Espero que os líderes se disponham a falar para quem quer votar. Foquem-se, fónix! Não falem uns para os outros. Queremos lá saber das piadas do petróleo no Rato, ou da espetada na Madeira. Falem e escrevam para nós, eleitores, incluindo os que estão indecisos. Dêem sinais claros de que sabem o que estamos a viver nestes últimos anos. Precisamos de evidências de que as pessoas que desejam estar envolvidas na coisa pública têm na cabeça um horizonte de acção para uma geração; de que têm visões chãs (não pequeninas) para cada sector; de que conhecem o que cada região tem para dar.
Para começo, e em resumo: é falar para quem quer votar.
«Se os meus princípios não vos agradam, arranjo outros.» (Groucho Marx)
«Com uma proposta de governo liderada pelo futuro primeiro-ministro, Luís Montenegro, a vitória do PSD é a mudança necessária e imprescindível para defender um SNS verdadeiramente ao serviço das pessoas e para seguirmos no rumo de mais progresso e mais justiça para Portugal. Portanto Portugal está à espera e precisa de Luís Montenegro.»
Deputado Rui Cristina, em intervenção no 41.º Congresso Nacional do PSD (25 de Novembro 2023)
«Fica patente existir na actual liderança do PSD uma maior preocupação com ajustes de contas internos, imposição de egos que na essência não assumem compromissos sérios com o partido. (...) Após uma reflexão profunda e amadurecida pela dor e sofrimento das consequências da mesma, não encontro alternativa que não seja uma rotura para com as decisões tomadas pela direção do partido.»
Deputado Rui Cristina, em carta dirigida ao secretário-geral do PSD (22 de Janeiro de 2024)
«Rui Cristina, actual deputado social-democrata, sai do PSD e está prestes ser anunciado como cabeça de lista do Chega pelo distrito de Évora, revelou fonte do partido à SIC. O anúncio está previsto para os próximos dias.»
Notícia da SIC (22 de Janeiro de 2024)
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A geringonça.
Meio século depois do 25 de Abril, chegámos a isto: queremos a democracia para nós enquanto toleramos e até aplaudimos a implantação de ditaduras noutros quadrantes. Tenho pensado nisto enquanto escuto à minha volta várias vozes mostrando indiferença ou até uma discreta simpatia pelos regimes de Cabul e de Teerão, entre outros.
Ao ouvir isto concluo, uma vez mais, que pecamos por falta de apego à liberdade. Tenho a convicção de que muitos portugueses não se importariam de voltar a ver por cá um regime "musculado". Só isso explica a defesa que fazem, nas redes sociais, dos regimes autoritários ou ditatoriais implantados além-fronteiras.
O mais contraditório é que muitas das pessoas que emitem opiniões deste género estão sempre a enaltecer o "nosso" 25 de Abril. Enquanto negam que outros povos tenham o seu próprio 25 de Abril. Democracia aqui, tudo bem; ditadura noutros países, tudo bem também.
«Não me venham falar em direitos humanos», vou lendo e escutando demasiadas vezes. Frase que poderia ter sido proferida por Salazar, reeditada neste Portugal do século XXI. Como se a atracção pelos regimes de "pulso forte" estivesse inscrita no nosso código genético. E se calhar está mesmo.
Os espanhóis têm um saboroso ditado que se aplica tantas vezes à vida política portuguesa: «A perro flaco todo son pulgas.» É isso mesmo: quanto mais frouxo é o cão, mais são as pulgas que o incomodam – e acabam por ditar a lei.
Ele bem se coça, mas elas não o largam. É uma evidência zoológica. Mas é sobretudo uma evidência política. Os factos estão à vista: só não repara neles quem não quer.
Com umas legislativas marcadas para daqui a uns longos meses e que garantidamente produzirão uma enxurrada adicional ao ruído mediático a que estamos normalmente sujeitos, dei por mim, na madrugada de ano novo, numa conversa com um jovem com quem partilhei uns copos de uma bebida destilada.
Talvez impelido pelo voluntarismo fogoso da idade, notei que o que ele dizia sobre o referido evento eleitoral assentava na busca de uma proposta partidária límpida, sólida e escorreita. Da mesma maneira que quando se dá um pontapé numa bola ou se aperta um parafuso, da mesma maneira que uma acção tem uma consequência, ele procurava uma solução que nos resolvesse os nossos problemas que não vale a pena aqui discriminar para não alongar demasiado o postal.
Fiquei tentado em não lhe cortar as vazas no carácter linear da escolha que procura, mas acabei por ter de partilhar com ele que o cepticismo poderá ser uma excelente arma de defesa da remanescente sanidade mental. Não estou em condições de garantir que o é, pois cada qual terá a sua opinião e chegará à sua conclusão se entender que vale a pensa gastar tempo a pensar nisso. Ainda assim, tenho de confessar que me sinto razoavelmente confortável em andar sempre com uma dose generosa de descrença à mão de semear.
Falamos daquela clássica distinção entre a esquerda e direita baseada na forma como avaliamos a natureza humana, essencialmente boa mas estragada mais tarde pela sociedade, vulgo capitalismo, como defendem os esquerdalhos, ou naturalmente egoísta e que por isso carece de instituições que funcionem como contrapeso a esses impulsos, como acham os direitolas.
Tive de lhe perguntar como é que numa visão de esquerda, pessoas maduras, cheias de mundo e de humanos defeitos, conseguiriam alguma ocupar um lugar num governo, sem terem consciência que eles próprios nunca poderiam encaixar nessa visão idílica de serem essencialmente bons. Nem foi necessário começar a nomear governantes recentes para mostrar que só um alienado pode achar isso de alguém, muito menos das mais destacadas figuras públicas que nos têm tentado apascentar. Mas adiante.
A conversa seguiu e dei por mim a acinzentar-lhe as convicções dizendo que quando votamos, estamos apenas a ajudar a escolher alguém que garantidamente nos irá desiludir. E este pensamento aplica-se não só mas principalmente ao eleitor que vota no partido que irá ser governo. Por isso, não podemos deixar de ter compaixão por aqueles que engrossam as veias do pescoço a defender a pureza de uns ou de outros, especialmente dos que comprovadamente não fazem outra coisa para além de desiludir.
Este jovem interlocutor era novo suficiente para não se recordar de que o final do cavaquismo teve traços em comum com a actual situação, ainda que durante essa era tenha havido uma evolução efectiva das condições de vida dos portugueses. Por isso, e na lógica que defendi, está na hora de nos irmos desiludir com outros, pois já chateia ser desiludidos sempre pelos mesmos. Depois de acabada a garrafa, regressamos à sopa da pedra.
A SIC fez esta estrondosa descoberta: 56% dos eleitores argentinos são de "extrema-direita". Eis uma demonstração prática de jornalismo preguiçoso - aquele que se apressa a pôr rótulos na política e varre contextos, circunstâncias e questões concretas para debaixo do tapete. Neste caso, vale a pena lembrar que a Argentina já foi um dos países mais ricos do globo: em 1912 tinha a nona economia mundial, à frente de países como Alemanha, França e Dinamarca.
Nos últimos anos os rótulos mais frequentes desta subespécie de jornalismo são "populista" e "extrema-direita". Sem nunca haver os respectivos contrapontos. O que define a diferença entre um populista e um não-populista, por exemplo.
Será não-populista o governo peronista que terminou funções com o país mergulhado em 143% de inflação anual, uma moeda que perdeu 99,2% do valor face ao dólar nos últimos 20 anos e quatro em cada dez argentinos em situação de pobreza nesta que já foi a mais próspera nação da América do Sul?
Se proliferam os extremistas de direita, onde andam os extremistas de esquerda, suas réplicas do campo oposto?
Faz sentido designar 56% dos eleitores como extremistas, seja qual for a ideologia política que estiver em causa?
O jornalismo preguiçoso não responde a nada disto. Nem esclarece como é que um ultraliberal, como o recém-empossado Presidente argentino, Javier Milei, pode ser catalogado de "extrema-direita" e até rotulado de fascista quando o fascismo proclama a existência de um Estado forte e este economista, pelo contrário, quer um Estado mínimo. Consciente - mal ou bem - de que na Argentina, nove bancarrotas depois, o aparelho estatal não faz parte da solução, mas do problema.
Hoje, mais que nunca, não há "direita". Há direitas. Meter no mesmo saco os herdeiros ideológicos do marechal Pétain e os herdeiros ideológicos do general De Gaulle, só para mencionar duas figuras históricas da direita conservadora, nacionalista e até reaccionária que se combateram entre si em França, é grave erro de análise. Tal como, por exemplo, meter Giorgia Meloni e Milei na mesma gaveta. A verdade é que Milei acaba de derrotar nas urnas os discípulos ideológicos de Juan Domingo Perón, esse sim um fascista clássico (e amigo de nazis).
Casos diferentes que devem ser analisados não como amálgama, antes como sintoma generalizado dum protesto difuso com aspectos comuns mas motivações tão diversas que escapam a rótulos simplistas. E têm igualmente erupções à "esquerda", como ocorreu em 2015 na Grécia, com a vitória eleitoral do Syriza.
A dicotomia partidos velhos versus partidos novos está hoje presente nos cenários eleitorais um pouco por toda a parte. Isto tem a ver com dinâmicas históricas e crises sociais: nenhuma etiqueta pronta-a-colar a explica.
A verdade é que os partidos e os próprios sistemas políticos, tal como as pessoas, também envelhecem.
Em Portugal, não por acaso, do vetusto PPD/PSD já emergiram três novas forças políticas na última década. Impulso de regeneração de um sistema que gera anticorpos: nuns casos resulta, noutros nem por isso. Resultou em proporções diferentes, e até ver, com a erupção do Chega e o nascimento da Iniciativa Liberal. Não resultou com a efémera Aliança do evanescente Santana Lopes.
Acontecerá o mesmo ao PS quando passar à oposição.
Há muitas incertezas no horizonte. Mas de uma coisa podemos ter a certeza desde já: o próximo ano político vai decorrer em ritmo muito acelerado. Pouco propício, portanto, àqueles políticos que adoram colher benefícios máximos da gestão do silêncio enquanto permanecem mergulhados em dúvidas dignas do príncipe Hamlet, convictos de que os jornais "amigos" não deixarão de desbravar caminho por eles com uma sucessão de não-notícias, capazes de transformar um grão de ervilha numa descomunal bola de neve.
Na não-notícia, como se infere, o não é palavra fundamental. "Beltrano de Tal não desmente que possa avançar para o cargo X, informação que nos foi transmitida por fontes próximas. Beltrano, ao que sabemos, não se tem revisto nas opções políticas de Fulano Y embora opte por não entrar em ruptura com o dito cujo. Os seus mais destacados apoiantes não excluem uma candidatura ao posto de comando embora não haja ainda a certeza de quando e onde e como isso possa suceder."
Fica aceso o rastilho.
O curso habitual destas não-notícias é aquele que todos sabemos: com três canais informativos a emitir durante 24 horas e à míngua de matéria para preencher antena nos intervalos dos desafios de futebol, qualquer pequeno ruído mediático, amplificado por incessantes ecos de hora a hora, ganha os contornos de uma Cavalgada das Valquírias. O grão de ervilha numa coluna matutina de jornal transforma-se na bola de neve a rolar em horário nobre das pantalhas nessa noite.
Este processo, que poderia colher frutos noutros tempos, torna-se inconsequente em anos de acelerado calendário político, como 2024 sem dúvida será. Um ano pouco propício às dúvidas hamletianas de gente sempre tolhida nas teias do seu próprio tacticismo. Quem quiser ir a jogo terá de assumir-se como tal, à esquerda e à direita, sem subterfúgios. Caso contrário, o xadrez político jogar-se-á com as peças que estão no tabuleiro.
As que não estão, estivessem.
Imagem: Laurence Olivier em Hamlet (1948)
É natural que a Procuradora-Geral da República possa dizer com toda a naturalidade "Não me sinto responsável por coisa nenhuma", o que aliás parece não ser coisa nova lá para os lados do rectângulo.
E estou em crer que é uma visão partilhada, comungada e subscrita por todos os que por ali tudo cumprem escrupulosamente sem que ninguém seja responsável por coisa nenhuma.
Veja-se, por exemplo, o Conselho de Estado de onde sai tudo, ninguém confirma, todos se desmentem, sem que ninguém viole as suas obrigações de sigilo.
E deve ser tudo tão natural que até é um juiz, titular de órgão de soberania e sindicalista, quem vem publicamente fazer de defensor oficioso da actuação do Ministério Público, não obstante as minhas dúvidas sobre se isso será compatível com o dever de reserva que sobre ele impende e decorre do respectivo estatuto.
Mas depois de ver magistrados jubilados, um deles conselheiro, a exercerem funções pouco compatíveis com o seu estatuto e, pelo menos num caso, sem o conhecimento do CSM, em Macau, presumo que tudo isso devam ser apenas consequências menores de frases infelizes, minudências, bizarrias e disfuncionalidades sistémicas da alegre vida das corporações e dos partidos que cuidam de nós.
P.S. Então e o Sócrates publica as memórias antes ou depois de ser julgado? Temo que, entretanto, ao tempo que as coisas duram, também fiquem todos afectados pelo Alzheimer, como o outro.
Dirigentes da Internacional Socialista reunida no Porto em 1976: François Mitterrand, Isaac Rabin, Willy Brandt, Mário Soares, Olof Palme, Harold Wilson e Joop den Uyl. Outros tempos, bem diferentes dos actuais
O título já diz muito: «A demissão de António Costa, uma estocada para a esquerda a sete meses das eleições europeias». Mas todo o texto justifica leitura atenta. Este artigo no Público espanhol é uma excelente radiografia das encruzilhadas e bloqueios da social-democracia europeia. Que hoje só governa com maioria absoluta em Malta, o menor dos 27 Estados da UE. Em Espanha, acaba de ajoelhar perante extremistas e separatistas. Em Portugal, com poucos anos de intervalo, vê dois primeiros-ministros a contas com a justiça.
Tudo isto reflecte a mudança do eixo político ocorrida nas últimas quatro décadas, fragmentando o espectro ideológico e reduzindo drasticamente as famílias partidárias clássicas - democracia-cristã, socialismo democrático e comunismo. Uma autêntica revolução silenciosa que tem mudado o nosso continente muito para além das mais arriscadas previsões feitas por académicos e politólogos na já longínqua década de 80.
(créditos: Tiago Petinga/LUSA)
Já era de esperar. À ameaça sucedeu o anúncio. A concretização chegou à hora marcada com a formalização da candidatura de Pedro Nuno Santos à liderança do PS.
O ex-ministro, enfant terrible da jotinha socialista, o terror dos banqueiros e da troika, e qualquer dia também dos justiceiros do Ministério Público e dos juízes de instrução criminal, há muito que não conseguia esconder a sua ansiedade por este momento. Fico satisfeito por ele. Depois do anúncio da localização do novo aeroporto, em que tanto se empenhou, embora tivesse durado pouco, o rosto maior, e mais alto, do nunismo pode finalmente dar largas à sua euforia e facúndia sem os constrangimentos do costismo.
Em relação aos melões costuma dizer-se que só se sabe se são bons depois de abertos. Não é o caso do candidato Pedro Nuno Santos. É melão grande e que não engana.
Aqui estamos perante um melão vistoso que se tentou abrir várias vezes e como que por artes mágicas fechava-se de cada vez que o queriam cortar. Ou porque se percebia logo que estava a ser cortado pelo lado mais verde, ou porque a faca tinha dificuldade em entrar, ou porque começavam logo a sair umas sementes com formas curiosas que besuntavam tudo e mais ninguém queria continuar com a cirurgia. O resultado é que, como não podia ficar ao ar para não se estragar, enfiavam-no de novo dentro do frigorífico, onde já não teria qualquer hipótese de voltar a amadurecer. Esse processo durou vários anos sem que, todavia, à primeira vista, produzisse melhorias substanciais, com excepção de um aumento de pilosidade na casca.
A consequência dessas tentativas de servirem o melão antes do tempo foi que, entretanto, não só não amadureceu como o bom presunto com cura de 40 meses que havia sido oferecido por algumas empresas para lhe servirem de acompanhamento, quando fosse a inauguração do novo aeroporto de Lisboa, acabou devorado por alguns camaradas mais esfomeados na festa de passagem de ano 2022/2023, assim que perceberam que com os Reis chegariam tempos difíceis.
Após sucessivas galambadas e marcelices, eis que trazem de novo o melão para a mesa numa altura em que escasseiam o presunto e as facas. Pois bastou abrirem a porta do frigorífico e o danado do melão rolou pelo chão da cozinha, depois de olimpicamente resistir à queda da terceira prateleira do frigorífico sem se desmanchar no contacto com o soalho. Milagre, é milagre, gritaram em Belém.
A partir daí, logo Francisco Assis doutoralmente filosofou sobre a qualidade do melão e aquilo que ainda se poderia esperar dele, estando eu neste momento convencido de que muitos dos apóstolos que comungaram com José Sócrates, traíram Seguro e enganaram Costa vão aparecer a toda a velocidade para se sentarem na grande mesa corrida onde vão servir o melão aos fedayin que fizeram carreira na JS.
Ninguém sabe se o melão chegará para todos, nem de onde virá o presunto, se de Sines se do Palácio Palmela, mas começaram os empurrões para ver quem consegue chegar primeiro aos bancos onde se vão sentar os elementos do novo Secretariado. Mais os cônjuges, os filhos, os enteados, as noras, os primos, os netos e os vizinhos.
Enquanto isso, José Luís Carneiro, ciente de que os portugueses estão cansados de tanto melão, tantas foram as vezes em que lhes saíram uns exemplares farinhentos e com sabor a robalo, está a tratar de ver se consegue arranjar uma equipa capaz de preparar umas saborosas pataniscas de bacalhau, sequinhas, sem o óleo daquela mercearia do Largo do Rato onde ultimamente se têm abastecido, acompanhadas por um arroz de tomate malandrinho, a fugir pelo prato, que sem grande cozedura permita aproveitar um dos vinhos correntes e populares que o autarca Isaltino prometeu oferecer ao próximo secretário-geral do PS.
Neste momento ninguém sabe qual dos dois, se Pedro Nuno Santos ou José Luís Carneiro, acabará no Master Chef a mostrar os seus talentos ao provador de vichyssoises, acompanhado pelo candidato que virá do Ribadouro – e anda em todo o lado a prometer, à pala de Marques Mendes, camarão de Espinho e postas mirandesas à fartazana sem encargos para o pessoal –, mais o liberal das lampreias, o pirilampo rabeador do Algueirão, a padeira bloquista e o camarada dos paios alentejanos.
Na verdade, essa ignorância em que os portugueses estão não traz nada de novo. E tem um lado positivo, para além do de colocar os banqueiros, e não só os alemães, a tremer. É que se no fim o melão for intragável, não houver camarão, lampreia, doçaria de feira, queques ou broa para todos, o melhor será escreverem ao Secretário-Geral da ONU, que nos deixou à guarda de um infantário em autogestão, com a lotação esgotada, onde os cães alçam a perna em qualquer lugar sabendo que gozam da protecção do PAN, e não há limoeiro que escape, para ver se o cavalheiro arranja algum sítio, mas longe da Urbanização da Coelha, onde nos possam acolher e preencher as declarações do IRS. Com tudo a zeros.
Depois das belas mistelas que têm andado a fazer na cozinha e na copa desde que a despensa ficou à sua guarda, e em que ainda não se percebeu o que esteve o Chef a preparar durante quase dois anos, é natural que a louça suja se acumule, os copos estejam um nojo e cheios de dedadas e marcas de batom, as baratas corram vertiginosas de um lado para outro, haja restos de comida pelo chão, as luvas se apresentem com cortes, todas encharcadas por dentro e a cheirar mal, os puxadores das gavetas impregnados de restos de comida e o chão pingado e pegajoso, onde são visíveis as marcas das pegadas dos ajudantes da copa com restos de farinha e massa, sendo impossível no meio de tanta falta de higiene e ausência de limpeza distinguir os panos que servem para limpar a bancada dos que são usados para enrolar as tortas.
Não obstante, há sempre um figurão de roupão e pantufas, que chegou com o anti-ciclone dos Açores e passa a vida a entrar e a sair da cozinha enquanto vai espreitando para dentro do frigorífico a ver se já lá estão as lampreias e os fios de ovos, não escondendo nesse ínterim o afã dos dedinhos sapudos na recolha de umas lascas de presunto caídas na banca, perguntando a todos aqueles com quem se cruza e que envergam avental se a mesa já está posta e o vinho escolhido.
Não, não está e já não vai estar.
Porque com o lote de ajudantes respeitáveis, com experiência de alta culinária, doçaria conventual e salgados que arranjaram, os únicos que se alambazam são os ratos que de quando em vez são pulverizados com insecticida pelos especialistas do Palácio Palmela, razão que os motiva a continuarem as suas frequentes e prolongadas incursões às gavetas dos pacotes de bolachas e afins quando vislumbram junto ao fogão e ao forno mais movimento dos barões de polainas e das duquesas de cores garridas.
De qualquer modo, enquanto os empregados da tasca da esquina, chefiados pelo chefe de sala do Ribadouro, correm à procura de bandejas, se afadigam a colocar aventais novos e apertam os laçarotes pretos na ânsia de iniciarem funções, talvez seja melhor arranjarem uma máquina para cortar a pasta, não vá a supervisão do Banco de Portugal abrir uma investigação para apurar a razão de não guardarem, na falta de lei especial, o fundo de maneio no porta-luvas do BMW. Ou, por causa dos assaltos, no bolso do avental.
Há 191 políticos a braços com a justiça desde 2017, noticiou a CNN Portugal em maio passado. Sem surpresa, a peça revelou que é entre o PS e o PSD que há mais casos. Agora, na campanha eleitoral que se avizinha, vai andar tudo doido, a começar pelos que ainda estão virgens, e sonham ter a experiência. O resto, como diria a Teresa Guilherme na Casa dos Segredos, "não interessa nada".
É bom, nestes tempos interessantes que vivemos, recordar António José Seguro. Em 2014, dizia ele numa entrevista: "O PS associado aos negócios e interesses é apoiante de António Costa". A isto, o nada augusto César dos Açores, mandatário de Costa, respondeu com a sua habitual elegância ser "uma entrevista de uma pessoa que acha que adquire milagrosamente autoridade e crédito na proporção apenas da insinuação difamatória e do efeito de ruído que produz". E quem foi que acusou Seguro de fazer declarações que tinham "como único objectivo emporcalhar o espaço público"? Espantemo-nos: Galamba.
E ainda diziam que no tempo do outro é que havia trapalhadas...