Malagueño


“Beleza e Drama”, em inglês apresentada como “Beauty & Drama”, assim se intitula a exposição integrada na 4.ª edição da Bienal Internacional de Macau que está patente ao público no mastodôntico Grand Lisboa Palace, no Cotai, até 26 de Outubro de 2025.
Trata-se de uma mostra de 143 artefactos pessoais, fotografias, gravuras, desenhos, esboços, esquiços, litografias, esculturas, peças de cerâmica, que visam apresentar um tempo diferente e menos conhecido de Pablo Picasso, da sua infância e da sua relação com sua andaluza Málaga natal.
Com curadoria de Mario Virgilio Montañez Arroyo e o apoio do Museo Casa Natal Picasso, da Agencia Pública para la Gestión de la Casa Natal de Pablo Ruiz Picasso y otros Equipamentos Museísticos y Culturales e do Ayuntamiento de Málaga, a exposição está dividida em sete áreas temáticas.

Começando por nos apresentar a sua genealogia, percorremos imagens da sua meninice, das suas primeiras roupas e sapatos de bebé, datados de 1882, aqueles com os quais começou a andar e ganhou liberdade para descobrir o mundo, e recordam-se os seus primeiros anos na Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, em Madrid, adolescência que lhe deu formação no realismo clássico dos grandes mestres. Por aqui acedemos ao conhecimento de detalhes de um mundo desconhecido da maior parte dos seus admiradores, que no entender do curador se mostram fundamentais para compreender a sua obra e evolução.

“Mulheres”, assim se chama a primeira área temática, presta homenagem às mulheres mais importantes da vida de Picasso, com especial destaque para Françoise Gilot e Jacqueline Roque. Seguem-se “Cerâmicas”, incursão tardia na vida do artista, explorada quando caminhava já para os 70 anos, “Beleza” e “Mitos” – “bons artistas copiam; grandes artistas roubam”. Aqui fica-se a conhecer a sua reinterpretação de narrativas antigas , antes de se chegar à quinta secção, e uma da mais belas, intitulada “Touros”, onde é possível ver fotografias do pintor com alguns dos toureiros que admirava, e uns quantos dos seus fantásticos desenhos de touros, cavalos e picadores, hoje controversos, mas nem por isso menos belos, da festa brava e de todos os seus protagonistas.

As duas última secções são “Técnica” e “Top Ten”. A primeira revelando-nos as suas experiências na gravura, impressão e recursos a técnicas mistas. “Top Ten” é um conjunto de obras essenciais, no entender do curador, demonstrativas do seu génio artístico, apego à família, à tradição e à sua maneira de estar revolucionária. São elas Figure with a Striped Bodice (1949), Paloma with her doll, Black Background (1952), Painter Picking up his Brush, and Model with Turban (1927-28, provavelmente início de 1930), Cavalier and Horse (1952), Flute Player (1951), Luncheon on the Grass (after Manet) II (1962), The Fauns and Centaurs (1947), The Great Bullfight (1949), Games and Reading (1953) e Bust of Woman with Bodice (Jacqueline in Profile) (1957-58).

Um dos pontos, que diria alto e polémico, aliás na sequência de uma série da BBC, já com alguns anos, reside no desenho (talvez mais correctamente sketch), da pequena Raymonde, com 13 anos, que Picasso e a sua companheira Fernande Olivier terão pretendido adoptar e acabou devolvida a um orfanato em virtude de se ter descoberto que a pintara nua.
Com um interessante e apropriado recurso à Inteligência Artificial, facultando o acesso a ecrãs interactivos, registo a excelente ideia de se fazer a ligação entre secções com painéis onde se vêem reproduções de edifícios andaluzes, laranjeiras e bancos típicos dos jardins andaluzes, numa atmosfera que permite ao visitante a experiência sensorial de deixar envolver pelos aromas do jasmim, tão típico daquela região espanhola e também da China. Existe um espaço próprio para crianças, bastante conseguido e bem decorado, para aquelas poderem entreter-se e desenhar. E no final quem quiser poderá ainda adquirir reproduções e múltiplos brindes numa pequena loja junto à saída.


Numa exposição única, original e imprescindível, fica uma nota menos para a dimensão quase minúscula e a fraca iluminação de muitas placas com os detalhes das obras, em especial nalgumas que estão em língua inglesa, e para a total ausência do português, língua oficial de Macau, e do castelhano nessas mesmas placas. Ponto a rever em futuras exposições.
Por fim, seria interessante conhecer os custos desta mostra. É público que as concessionárias de jogo estão obrigadas a múltiplos investimentos nas áreas social, cultural e de espectáculos, mas a nova política de tornar tudo confidencial deixa o público sem conhecer os contratos de concessão, que por natureza e tradição deviam ser públicos, e os valores dos investimentos que estão a ser feitos.
Até para se poder comparar as opções de cada concessionária e os custos relativos dos investimentos.
Porque uma sociedade onde tudo de repente se torna secreto e confidencial, mesmo as coisas mais corriqueiras, que sempre foram públicas e que devem ser do conhecimento público, é uma sociedade doente e de gente doente. E isso nunca é bom para ninguém.

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