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Delito de Opinião

Uma novela escabrosa

Sérgio de Almeida Correia, 11.01.24

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Em tempos já me tinha mostrado preocupado com o papel (não me refiro a dinheiro) que alguns "empresários" locais desempenham e com a imagem que transmitem de alguns "negócios" em que se envolvem. Foi em 2019 e estava em causa uma crónica de Diniz de Abreu sobre "O descalabro da Global Media". 

Entretanto passaram-se mais de quatro anos. O descalabro, se tal é possível, agravou-se, e estamos a assistir à continuação de uma escabrosa novela, sempre com um conhecido empresário local e destacado patriota na ribalta. 

Que o negócio da Global Media e alguns "investimentos" em Portugal começavam a cheirar mal não constitui novidade.

Que o nome do principal accionista do grupo Global Media volte à tona também não.

O que representa novidade é saber-se, de acordo com o que foi dito por José Paulo Fafe na audição que decorre na Assembleia da República, que tenham sido descobertas dívidas no valor de "2,1 milhões [de euros] em Macau e 700 mil euros em Malta em empresas de jogo 'online' que nunca funcionaram, ou melhor, de licenças de jogo 'online'".

Haverá sempre a possibilidade de se leiloar a Medalha de Mérito Industrial e Comercial para pagar alguma coisa, mas as afirmações são suficientemente gravosas para deverem ser devidamente esclarecidas. É que fiquei sem perceber se a dívida de 2,1 milhões em Macau diz igualmente respeito a empresas de jogo 'online' que nunca funcionaram ou a licenças de jogo 'online'. 

Não é por nada, mas independentemente de continuarem actuais as perguntas que formulei em 2019 [No fim, a gente revê o filme e só pergunta, entre nós, aqui, que contribuição deu Kevin Ho, através da Global Media, para a credibilidade e prestígio dos empresários de Macau? E aos investimentos chineses na Europa? Que confiança se transmitiu?], a coisa fede, sendo ademais conveniente recordar que também por causa do jogo online e outros "cambalachos" similares há quem esteja na RAEM a cumprir pesadas penas de prisão.

E todos eles foram patriotas, durante anos a fio, enquanto havia cacau para fazer o chocolate que era depois distribuído por outros patriotas que ultimamente, sabe-se lá porquê, até clamam, para espanto meu que sempre os conheci avarentos, discretos e mudos, por portais de transparência e, imagine-se ao que isto chegou, querem saber os critérios, as razões e os valores das adjudicações nas obras públicas.

Ou me engano muito ou deve estar na altura de um conhecido advogado de Macau prestar mais um serviço caritativo, escrevendo novo artigo no Diário de Notícias. Antes que o jornal feche ou acabe a gestão patriótica da Global Media.

A internacionalização tem os seus custos. Aquele senhor que queria transformar Tróia numa espécie de Marbella e estava a fazer um hotel e um casino em Cabo Verde que o diga. Às vezes é preciso meter algum "kumbu". Não é o mesmo que dar entrevistas à imprensa local destinadas a talentos.

[daqui]