Tenho imensa dificuldade em reflectir sobre política usando termos geométricos que me parecem cada vez mais anacrónicos.
O debate "esquerda/direita" reduz a política à dimensão do futebol. Infelizmente, Rui Rio parece prisioneiro deste discurso.
O PSD tem um problema central desde Outubro de 2015: necessita de novas parcerias estratégicas para voltar a ser um partido de poder a nível nacional - e até a nível autárquico, relativamente às principais cidades.
O principal desafio da liderança que emerge do congresso de Viana é este: o de construir uma alternativa de poder aos socialistas. Trata-se de um dilema que tem vindo a atravessar as principais famílias políticas europeias, cada qual na sua esfera de influência.
Não por acaso, vemos o impensável: a CDU da chanceler Angela Merkel viabilizar o candidato da Alternativa para a Alemanha no Estado da Turíngia.
Não por acaso, vemos o PSOE em Espanha abraçar o Podemos, repudiando um legado de quatro décadas, edificado por Felipe González desde o congresso extraordinário dos socialistas em 1979.
Não por acaso também, vemos conservadores e verdes formar coligação na Áustria - surpreendendo tudo e todos ao romperem as clássicas barreiras ideológicas entre ambas as formações.
Os extremos crescem por essa Europa fora. Veja-se o Vox, já terceiro maior partido espanhol.
Portugal dificilmente será excepção.
Isto força toda uma reconfiguração de alianças nos tabuleiros políticos à margem dos moldes tradicionais. Quando escuto um político dizer hoje que é impossível o eleitorado expandir-se do centro para os extremos, questiono-me se esse político conhecerá bem o chão que pisa.