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Delito de Opinião

Legado positivo de António Costa

Pedro Correia, 15.03.24

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Desde que se amigaram com o PS para formar a geringonça, PCP e BE perderam 25 deputados.

Em 2015 tinham 36, somados: 19 bloquistas, 17 comunistas.

Hoje restam-lhes 9 (5 do BE + 4 do PC). Quatro vezes menos.

 

Eis o mais visível legado político da geringonça: praticamente a extinção da esquerda radical.

Neste caso, um legado positivo de António Costa - sou o primeiro a reconhecer.

Estultícia e cinismo

Pedro Correia, 14.03.24

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Não estão ainda apurados os resultados eleitorais das eleições legislativas. Não está formada a nova Assembleia da República. Não está indigitado o novo primeiro-ministro. Não está formado nenhum governo novo. Muito menos se conhece um programa desse governo que ainda não existe.

E no entanto, cego perante todas estas evidências como uma galinha sem cabeça a correr à toa, o PCP apressou-se a anunciar ao País a apresentação de uma moção de rejeição. De quê? Do tal programa inexistente do tal governo ainda por formar liderado pelo tal primeiro-ministro que não foi indigitado enquanto os votos das legislativas continuam a ser contados para designar quatro deputados ainda em falta e quando a nova legislatura não teve início nem sequer tem data marcada para o efeito.

Tanta estultícia só pode ser interpretada como uma tentativa desesperada dos comunistas para se manterem à tona do mapa mediático após terem visto encolher ainda mais o seu grupo parlamentar, perdendo um terço dos escassos deputados eleitos há dois anos. Restam-lhes 1,7% dos lugares no hemiciclo.

Tudo isto complementado com um pormenor de supremo cinismo por parte do Comité Central: enviaram ontem às televisões o maltratado João Ferreira, que em Novembro de 2022 foi posto à margem enquanto Paulo Raimundo era ungido em circuito fechado como secretário-geral do PCP.

Ferreira não serviu para liderar o partido, mas já serve para dar a cara em defesa desta estulta decisão mesmo sem ter assento na Assembleia da República. Como se fosse o néscio de turno lá na sede, forçado a defender o indefensável.

Depois admiram-se de já ninguém votar neles. Prova inequívoca de que o povo é sábio.

Da defesa dos operários à protecção das focas: eis como Costa domou a esquerda

Legislativas 2024 (13)

Pedro Correia, 29.02.24

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Não sei se mais alguém pensa como eu. Mas achei louvável a intervenção do candidato do MRPP no debate organizado pela RTP com os representes dos pequenos partidos. Não pelas ideias, claro: são mais antigas do que o animatógrafo, a grafonola, o hidroavião e o zepelim. Mas pela sinceridade: vê-lo defender abertamente «uma sociedade comunista» revela-nos, por contraste, até que ponto o PCP se tornou reformista, longe de qualquer ideal revolucionário.

Há quanto tempo não ouvimos um secretário-geral deste partido advogar os dogmas do marxismo-leninismo? É possível um verdadeiro comunista votar seis orçamentos do Estado em estrita obediência às normas do pacto de estabilidade e aplaudir a maior contracção do investimento público registada na democracia portuguesa, como aconteceu durante a geringonça?

 

Há muito que o PCP deixou de amedrontar as "classes dominantes": tornou-se um partido fofo, respeitador da moral burguesa e dos bons costumes. Isto explica-se, em parte, por já não ser acossado pela defunta "esquerda radical" que se acoitava sob a bandeira do BE: Catarina Martins deu uma guinada ao Bloco, tornando-o num movimento "eco-socialista", quase pós-ideológico, new age. Chegou até a intitulá-lo «social-democrata». Por muito que isso incomode os professores Francisco Louçã e Fernando Rosas, a "renegociação da dívida" e a saída de Portugal do sistema monetário europeu deixaram de figurar entre as proclamações bloquistas, hoje mais embaladas por jazz de hotel do que pelos estridentes acordes d' A Internacional.

Música para os ouvidos do PS, que nestes oito anos reduziu os partidos à sua esquerda a caricaturas de si próprios. Enquanto seduzia a classe média com duas percepções dominantes: contas certas e ordem nas ruas.

 

Esquerda radical neutralizada: eis o grande contributo de António Costa para sedimentar o regime instaurado com a Constituição de 1976, alterando-lhe o eixo dominante ao leme de um partido socialista que há muito deixou de o ser.

Os antigos pregoeiros da revolução andam hoje mais preocupados com a extinção das focas do que com a extinção da classe operária. Quem ainda sonhar com a insurreição comunista pode sempre votar no MRPP.

«Atenta às questões dos trabalhadores»

Legislativas 2024 (12)

Pedro Correia, 28.02.24

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Nada mais conveniente, para os partidos com fraquíssima representação parlamentar, do que integrar manifestações alheias para aparecerem na fotografia, fingindo que os poucos afinal são muitos. Consultar a agenda diária de manifestações e colar-se a elas: eis uma forma fácil e expedita de fazer política.

Nestes dias iniciais de campanha eleitoral das legislativas de 2024 o campeão desta chico-espertice tem sido Rui Tavares. No sábado conseguiu aparecer um par de vezes nos telediários integrando-se em duas concentrações populares em Lisboa: uma no Rossio, de repúdio pelos dois anos de agressão da Rússia à Ucrânia; outra na marcha contra o racismo e a xenofobia, na Alameda D. Afonso Henriques. 

Exibiu-se em qualquer dos eventos, transmitindo assim a mensagem subliminar de que toda aquela gente apoia o Livre. 

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A mesma táctica tem vindo a ser seguida por dois outros partidos muito carentes de votos: o PCP e o Bloco de Esquerda.

Aproveitando um protesto dos trabalhadores da empresa multinacional Teleperfomance, também em Lisboa, Paulo Raimundo e Mariana Mortágua surgiram na primeira fila. Com a certeza de que picariam o ponto nos noticiários da noite.

O secretário-geral do PCP lá se ajeitou com o megafone para debitar banalidades, proclamando-se «solidário» com os trabalhadores. A porta-voz do Bloco nem necessitou de megafone, sem ficar atrás do comunista ali na caça ao voto. 

A diligente repórter da RTP deu uma ajudinha. Dizendo isto: «Porque é ao lado dos trabalhadores que o Bloco quer estar.» Enquanto mostrava a bloquista enxugando uma furtiva lágrima de comoção. E culminou a peça desta forma: «Atenta às questões dos trabalhadores, Mariana Mortágua promete que as condições dignas de trabalho vão estar num entendimento à esquerda pós-eleições.»

Linguagem carregada de tintas épicas: pedia sonorização a condizer. Pena não se terem escutado os acordes d' A Internacional. Até a mim daria vontade de chorar.

Cá está ele

Pedro Correia, 25.02.24

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Ontem à noite participou num debate na CNN Portugal. Com deputados de outros cinco partidos políticos. Sobre uma triste efeméride: o segundo aniversário da agressão russa à Ucrânia, com o seu brutal cortejo de mortos, mutilados, desaparecidos, violações, pilhagens e destruição de todo género. A maior invasão de uma nação europeia por um país vizinho desde a II Guerra Mundial - réplica exacta do que Hitler fez à Polónia em 1939 mal selou o pacto de amizade com Estaline.

Fixem-lhe a cara e o nome: chama-se João Pimenta Lopes, é representante do PCP no Parlamento Europeu. Foi um dos escassos deputados que se puseram ao lado do ditador Putin, recusando condenar a Rússia na eurocâmara. A 1 de Março de 2022 - cinco dias após a invasão, quando os blindados russos se encaminhavam para Kiev e os mísseis de Moscovo matavam dezenas de civis. A resolução foi aprovada por esmagadora maioria: 637 votos favoráveis, 16 abstenções e 13 miseráveis votos vontra - incluindo o de Lopes e da sua camarada Sandra Pereira.

Convém não esquecer. Faltam três meses para as próximas eleições europeias. Quem nos representa em Bruxelas deve ser avaliado - e chumbado - também por isto.

Coitada da Heloísa

Legislativas 2024 (4)

Pedro Correia, 08.02.24

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Luís Montenegro tentou fazer-se representar no debate televisivo com a CDU por Nuno Melo, presidente do CDS, o segundo partido da coligação AD. Paulo Raimundo recusou de imediato a sugestão do social-democrata, acusando-o de fugir à discussão. O secretário-geral do PCP é inflexível: não tolera debater com um "número dois".

Perdeu excelente oportunidade de fazer avançar alguém do PEV, o partido-fantasma que integra a CDU com os comunistas. Coitada da Heloísa Apolónia: ainda não é desta que deixa de ser invisível.

A Terra é plana

Pedro Correia, 05.02.24

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«A CDU tem aqui um resultado que não parece tão mau como as sondagens indicavam. A CDU foi o terceiro partido mais eleito entre estes círculos - Flores, São Jorge e Faial. A CDU é um partido fundamental, com muita importância.»

Carmo Afonso (RTP 3, ontem, às 22.32)

 

(O Partido Comunista Português, uma vez mais, não conseguiu eleger qualquer deputado nos Açores: a última vez que isso aconteceu foi em 2012. Flores, São Jorge e Faial são ilhas, mas não formam nenhum "círculo". A CDU nem sequer é partido, excepto na República Federal da Alemanha)

Andas irreconhecível, PCP

Pedro Correia, 01.02.24

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Nunca tinha visto, mas há sempre uma primeira vez para tudo. O PCP, tão cioso da independência nacional, da soberania, da insubmissão ao imperialismo americano e outros chavões que vai martelando como se os portugueses fossem pregos, surge agora com cartazes políticos escritos em "amaricano". Integrado numa coisa anglófona intitulada "The Left".

Menos mal não ser italófona: assim evita proclamar-se "Sinistra".

Imagino que se trate de publicidade financiada pelo Parlamento Europeu, onde o partido da foice e do martelo ainda mantém dois lugares. Eis a prova do algodão: "European Parliament" - rezam os tais cartazes, também no idioma do império.

Sorrio quando vejo isto. Imaginando que jamais sucederia se Álvaro Cunhal ainda andasse por cá. Logo ele, que combateu com firmeza a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia - actual UE. Os seus sucessores, embora mais frouxos, mantiveram no essencial esta posição: em 2012 o PCP advogou até a realização de um referendo nacional para retirar o nosso país das instituições comunitárias. E em 2020 aplaudiu o Brexit com um entusiasmo polvilhado de redundâncias: «A saída do Reino Unido da União Europeia constitui um acontecimento de grande importância para o povo do Reino Unido», sublinharam os comunistas. No seu programa eleitoral para as legislativas de Março, decalcado dos anteriores, insistem em advogar «uma saída negociada do euro» para «recuperar a soberania monetária».

Tanta conversa sobre soberania, tanto bater no peito à Tarzan sobre independência e tal, tanta rejeição dos ditames de Bruxelas - e afinal ei-los amestrados, exibindo mensagens na língua de Donald Trump, neste 2024 em que Portugal devia celebrar o quinto centenário do nascimento de Camões.

What a shame, PCP. Já não és o que eras. Andas irreconhecível.

Na morte de Odete Santos

Pedro Correia, 28.12.23

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Foto: Global Imagens

 

Quando Odete Santos abandonou por vontade própria a Assembleia da República, em 2007, deputados de todas as bancadas tributaram-lhe uma calorosa ovação em plenário. Acompanhei esse momento e questiono-me se aquela rara unanimidade voltaria a ser hoje possível, fosse quem fosse a figura em causa. Sinto-me inclinado a supor que não: os hábitos políticos mudaram muito, a crispação acentuou-se, as trincheiras foram-se aprofundando.

Odete estava há muito retirada dos palcos mediáticos. Depois do Parlamento, chegou a fazer teatro em Setúbal, cidade adoptiva desta jurista natural da Guarda. Era pessoa de verbo fácil e gargalhada espontânea. Não escondia o que pensava nem temia ser inconveniente, por vezes face ao próprio cânone do PCP, que representou durante 27 anos no hemiciclo de São Bento. «Calma, Odete» era a frase-bordão que lhe dizia o secretário-geral Carlos Carvalhas, ambos caricaturados nos bonecos da divertida e saudosa Contra-Informação da RTP.

Isso ficou patente, aliás, na entrevista que lhe fiz para o Diário de Notícias, a última que concedeu enquanto deputada. 

Quando lhe perguntei se devia haver «mais mulheres» na cúpula dirigente dos comunistas, ela não hesitou um segundo na resposta: «Sim. Deveria haver mais mulheres. Não tenho dúvidas nenhumas.»

 

Sempre simpatizei com ela. Tinha o coração ao pé da boca. Entre ortodoxos e moderados nas fileiras comunistas, alinhava com os primeiros. Mas não por cálculo ou conveniência: era isso o que sentia, era isso o que realmente pensava. Fazia parte da sua maneira de ser e da fidelidade de longa data ao magnético «camarada Álvaro» que a levou à militância no pós-25 de Abril.

No entanto, na rua Soeiro Pereira Gomes nem todos lhe apreciavam o estilo algo dissonante e a popularidade que granjeou fora das paredes partidárias. Odete nunca fez parte dos organismos executivos (Secretariado, Comissão Política), nunca foi líder parlamentar, nunca foi candidata presidencial - ao contrário dos cinzentos e sensaborões António Abreu, Francisco Lopes e Edgar Silva, funcionários diligentes mas totalmente desprovidos de carisma.

Apreciava teatro, cinema, literatura. Era vibrante declamadora de poesia. Gostava de acampar. Nunca fugia a um debate, mesmo com quem estivesse nos antípodas do seu pensamento: permanece na memória de muitos a sua vigorosa defesa de Cunhal, na RTP, como "maior português de sempre" num simulacro de concurso em que emergiu como vencedor Salazar, enaltecido por Jaime Nogueira Pinto. Nem D. Afonso Henriques, nem D. Dinis, nem D. João II, nem Vasco da Gama, nem Camões. A memória histórica é curta, os extremos exercem sobre muitos uma atracção irresistível. 

 

Nessa entrevista que lhe fiz em Abril de 2007, confessava abandonar o parlamento com «uma sensação de alívio». Saudades, só as «do futuro» - parafraseando o "poeta militante" José Gomes Ferreira. Deixando no entanto antever alguma mágoa: sentia que devia ter sido mais bem aproveitada pelo partido que nunca renegou. «Tenho pena de não ter criado condições para fazer trabalho de organização, que é importante.» Por uma vez, ficou-se pelas entrelinhas - aliás facilmente entendíveis.

Lembrei-me de várias ocasiões em que privei com ela - nomeadamente em campanhas eleitorais - ao saber ontem a triste notícia do seu falecimento, aos 82 anos. Era de um tempo em que vultos de diversos partidos se cruzavam nos corredores parlamentares sem confundirem divergência com ódio ou insulto ao adversário. Parece uma era já remota, nestes dias em que abunda o carreirismo político, cada um fala quase só para a sua bolha e as personalidades com voz própria e autonomia profissional estão cada vez mais distantes da vida parlamentar.

Não tenho a menor dúvida: a democracia portuguesa perde com isso.

Sem surpresa e sem vergonha

Pedro Correia, 07.09.23

Ontem, na Assembleia da República, o PCP votou contra a visita (já realizada) do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa à Ucrânia. Foi, sem surpresa, o único partido parlamentar a fazê-lo - comprovando a sua colagem à tirania de Vladimir Putin, invasor da Ucrânia. Este voto aconteceu no próprio dia em que o ditador russo voltou a castigar a população civil do martirizado país vizinho, como responsável máximo pelo ataque a um mercado da cidade de Kostiantinivka, em Donetsk. Com consequências trágicas: pelo menos 17 mortos e 34 feridos. Gente simples, gente pobre - a tal gente que os comunistas tanto gostam de evocar na sua propaganda.                                                      

Votaram contra a ida (já consumada) de Marcelo. Sem uma palavra, mesmo que simbólica, de compaixão pelas vítimas. Sem um pingo de vergonha.

 

Ao lado de quem estão

Pedro Correia, 24.08.23

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Falta pouco para começar uma nova Festa do Avante! Organizada por um partido que apoia a invasão da Ucrânia pela Rússia. Um partido que recusou estar presente na sessão especial da Assembleia da República em que Volodimir Zelenski - lider da nação agredida e violentada - discursou por videoconferência. Um partido que votou contra uma resolução do Parlamento Europeu que condenou a agressão imperialista à soberania ucraniana ordenada pelo ditador russo. Um partido que se opôs, isoladamente, à visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Kiev.

Um partido que descreve assim o Presidente da Ucrânia: «Personifica um poder xenófobo e belicista, rodeado e sustentado por forças de cariz fascista e neonazi, incluindo de carácter paramilitar.» Palavras que replicam as de Putin. Podiam - e já foram - ter sido proferidas por ele.

 

Vale a pena indagar quem são os artistas que se preparam para actuar numa festa promovida pelo PCP. Artistas, aparentemente, sem um rebate de consciência por se associarem ao partido que em Portugal tem actuado como aliado objectivo da Rússia, potência invasora da Ucrânia. Em violação flagrante do direito internacional e da Carta da Organização das Nações Unidas.

Eis alguns dos nomes, estampados no cartaz oficial da Festa do Avante!:

Agir

Carolina Deslandes

Jorge Palma 

Mísia

Paulo de Carvalho

Ricardo Ribeiro

Rodrigo Leão

Rui Reininho

Tim

 

Vale a pena fixá-los. Para sabermos ao lado de quem estão. E para mais tarde recordar.

Engonhas, sovinas ou caloteiros?

Sérgio de Almeida Correia, 30.06.23

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(créditos: foto daqui)

A notícia de que o PCP, à semelhança de qualquer mau patrão capitalista, não cumpre as suas obrigações para com os trabalhadores ao seu serviço não é nova, não obstante ser lamentável que um partido que se reclama dos trabalhadores e está sempre a atacar as grandes empresas, os capitalistas, o patronato em geral, de cada vez que tem um problema laboral com os seus próprios trabalhadores se remeta ao silêncio. 

Com o património imobiliário que tem, beneficiando de isenções fiscais que há muito deviam ter terminado em relação a todos os partidos políticos, recebendo as subvenções a que por lei tem direito e com os lucros que também obtém da sua actividade empresarial, o mínimo que seria de esperar era que não se comportasse da maneira que o faz, fugindo às suas responsabilidades, não pagando contribuições obrigatórias por lei, de valor irrisório, e fazendo propostas manhosas, de "legalidade duvidosa", como referiu o advogado da queixosa.

Em suma, prejudicando quem para si trabalhou, mostrando falta de seriedade e de carácter, comportando-se como um desses vulgares caloteiros que contratam mão-de-obra no exterior em regime de semi-escravidão a redes mafiosas para também não terem responsabilidades, não fazendo os descontos devidos, não pagando o que deve, prejudicando os trabalhadores e o Estado.

E se as coisas funcionam assim em relação a uma ex-dirigente que até foi deputada, agora imagine-se como será o tratamento em relação a outros trabalhadores de estatuto inferior. Aos que não têm voz, "às vítimas da fome" que não têm um Garcia Pereira que os defenda.

Enfim, olhando para este caso também se percebe o incómodo que é dizer alguma coisa sobre a situação dos trabalhadores na China ou em Macau e a ausência de direitos – como o direito à greve ou à contratação colectiva, por exemplo – que em Portugal são considerados sagrados pelo PCP e vistos como "conquistas irreversíveis dos trabalhadores". É, irreversíveis dos trabalhadores dos outros, não dos deles.

Por isso a luta é contra o roubo e a exploração dos trabalhadores dos patrões vizinhos, não dos próprios. É bom que no Brasil também o saibam.

Uma miséria.

Ir à bola

jpt, 24.06.23

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Há cerca de 15 meses, uns tempos após a invasão russa da Ucrânia foi anunciada uma manifestação em Lisboa, julgo que junto à sede do PCP, contestando posições explicitamente pró-russas que esse partido assumiu. Os promotores integravam imigrantes e recém-chegados refugiados ucranianos. Então eu escrevia num blog colectivo dedicado ao desporto sportinguista. Um dos co-bloguistas, um tipo com simpatia (e porventura militância) pelo PCP, escreveu no seu recanto pessoal refutando o direito dos estrangeiros se manifestarem contra os portugueses "que pagam os impostos". Indignado com aquela imundície fasciszante, que em muito ultrapassava  uma diversidade de interpretações sobre questões de política internacional, saí do blog comum, ainda que este excêntrico à temática pois monopolizado pelas coisas do futebol. Fi-lo pois sigo subordinado a um fundamental princípio, omnipresente ainda que apenas ocasionalmente de necessária invocação: o de que "não vou à bola com estes gajos". Um dito que neste caso tinha sentido literal! Alguns sportinguistas leitores contactaram-me, dizendo-me "exaltado", "exagerado", naquilo do "não havia necessidade".

Passaram os tais 15 meses. Nos discursos difundidos pelos líderes de Moscovo foi-se invisibilizando a inicial justificação para a acção militar - que os seus líderes julgaram que seria célere: a de enfrentarem um poder ucraniano "drogado" e "nazi", ilegítimo pois emanado de um "golpe". Primeiro sendo esquecido o item relativo aos psicotrópicos, este um tópico já antigo, herdado do propagandear desde o ocaso soviético da degenerescência "ocidental", dada ao hedonismo drogado - as pessoas que queriam passar para o lado ocidental faziam-no pelo anseio de terem acesso às drogas, era argumento de então, assumido por vários "quadros intelectuais" do PCP - e agora também à "homossexualidade", esta uma inovação invectivadora do mesmo teor sob a matriz discursiva de Putin.

E depois, de modo mais gradual, foi-se subalternizando a redução das particularidades políticas ucranianas ao seu nazismo - esta que fora uma evidente mobilização do nacionalismo russo, exponenciado na II Guerra Mundial, e às históricas tensões naquele terra, potenciadas já sob o sovietismo. E nisso vem ficando como legitimação da guerra o ser a Ucrânia um títere do expansionismo belicoso norte-americano e da UE, cujo apoio a Kiev é considerado a causa da guerra.

Após os tais 15 meses, de uma guerra terrível e de inúmeras ameaças russas de utilização de armas atómicas, e nas vésperas das recentes confrontações internas entre os próceres de Moscovo - e só por si é inenarrável a adesão de políticos portugueses a um regime que inclui um "warlord" como o é o chefe da empresa Wagner -, a inominável líder parlamentar do PCP vem invectivar a presidente do  Parlamento Europeu, continuando a perfilhar os tópicos discursivos do regime imperialista de Moscovo: o nazismo de Kiev, a responsabilização da UE (só não  refere a "droga").

Não haja qualquer dúvida, não sou eu o "exaltado". Pois não dá mesmo para "ir à bola com este tipo" de gente. Nem numa mera e pacífica geringonça bloguística, quanto mais em coligações políticas. Tamanho o asco que provocam estes malandros.

Se fosse

Pedro Correia, 16.06.23

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Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, foi esta manhã convidada de honra da Assembleia da República, tendo participado na tribuna de São Bento, ao lado de Augusto Santos Silva, na sessão parlamentar, onde discursou e respondeu a questões que lhe foram dirigidas de todas as bancadas.

Após a intervenção que ali fez, os deputados do Bloco de Esquerda e do PCP recusaram aplaudir a convidada. Se fosse um ditador "socialista", até pediam autógrafo.

A coerência dos comunistas

Pedro Correia, 16.05.23

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O PCP é muito crítico da Ucrânia, nação violentada, e mantém uma atitude fofinha em relação à Rússia, potência violadora. Entre outros motivos, justificam os comunistas, porque «não se pode ignorar que o regime da Ucrânia suspendeu a actividade de diversos partidos».

Eis, portanto, um motivo que deveria levar o PCP - geralmente elogiado pela sua inabalável coerência - a criticar a República Popular da China, país onde todos os partidos estão proibidos, como no Portugal de Salazar, excepto o partido único, o do poder absoluto, o que governa aquele país com punho de ferro há 74 anos. 

Afinal a coerência dos comunistas portugueses é como as ondas na praia: vêm e vão. Por isso lá anda o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, em visita de amizade à China, a convite do partido homólogo. O tal partido único, o tal do punho de ferro, o tal que desde 1949 empurrou toda a oposição para a cadeia, o exílio ou a morgue. 

Também em nome da coerência, espera-se que Raimundo faça como o seu antecessor no partido, Jerónimo de Sousa, que numa visita a Pequim em 2013 apelou ao reforço do investimento chinês em Portugal. Não consta que por lá tenha levantado a voz contra a participação chinesa na EDP, através da China Gorges, e na REN, através da Fosun. 

O apelo de Jerónimo aos seus camaradas chineses foi escutado: a República Popular da China é já o quinto país estrangeiro que mais investe em Portugal e o maior investidor no nosso mercado de capitais - a tal «economia de casino» a que aludem os comunistas cá no burgo.

Bom tema de conversa entre Raimundo e os seus amáveis anfitriões à hora do chá.