Há-de aparecer alguém para pagar
Nestas coisas, como nas PPP, convinha ter alguma cautela para depois não faltar dinheiro para pagar a conta. Eu bem sei que no fim há-de aparecer alguém para pagar, que até poderá ser o próprio, mas estar a contrair encargos sem saber como se irá pagá-los, estar a contar com a subvenção estatal e os donativos dos contribuintes sem saber se os irá receber, tudo isso me parece pouco sério e uma imprudência.
Vi o seu apelo à recolha de donativos para fazer face à factura das presidenciais e só estranhei que no pedido que fez não tivesse logo avisado os potenciais doadores de que irá recusar todos os donativos que possam vir de pessoas singulares ou colectivas que estivessem na disposição de ajudar mas que andaram a ganhar a vida emitindo pareceres, foram ou são deputados ao serviço dos grandes interesses empresariais, advogados que trabalham em grandes escritórios, gestores e administradores de empresas com grandes negociatas com o Estado, de gente que trabalhe ou tenha trabalhado para o BES, para o BPN, para o lobby dos construtores, da banca, dos laboratórios médicos, dos manuais escolares, das farmácias, das autarquias, e por aí fora. Isso teria sido coerente e consequente com o que antes defendeu.
Sei que as contas da campanha serão apresentadas, serão claras e que baterá tudo certo, mas é pena que em questões tão sérias como as que abordou tivesse andado a dar tiros para o ar, acabando a acusar tudo e todos e desperdiçando o capital de simpatia e apoio que inicialmente gerou para a sua causa. A causa do combate à corrupção, aos lobbies, ao clientelismo político e de Estado, ao tráfico de influências, à fraude em geral, é um combate e uma causa de todos os cidadãos portugueses livres e sérios, que não pode continuar a ser tratada da forma que Paulo Morais tem feito. E não pode servir de bandeira para alimentar egos e protagonismos. Por isso, lamento ver Paulo Morais, por cuja causa tenho simpatia e na qual também me tenho empenhado à minha maneira e com os meios que tenho, a acabar assim a sua participação, desta forma inconsequente.
Já não bastava o resultado miserável que obteve como ainda acaba a pedir dinheiro aos contribuintes para pagar os custos da sua campanha. Se não tinha dinheiro não gastava. É tão simples quanto isto.