Profetas da nossa terra (54)
«Temos um seleccionador que é dos melhores do mundo.»
Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, 19 de Maio de 2014
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«Temos um seleccionador que é dos melhores do mundo.»
Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, 19 de Maio de 2014
Não, não é de religião que falo, nem dos ungidos por ela. Tão pouco me refiro ao anterior Papa Bento XVI, ou aos "ventos" nortenhos, com a sua tão típica troca entre bês e vês.
Não, nada disso. É de Vítor Bento e de Paulo Bento que me ocupo. Um a sair de um banco que deveria ser bom. O outro a sair de uma selecção que já foi boa. Ambos numa altura igualmente complicada para as áreas em que trabalhavam. Um percebe-se, o outro nem tanto.
Mas o que é que deu no país? Será que estamos sob a influência de uma corrente de "bento" gelado, vindo de uma qualquer depressão situada algures nos Açores, já que nem sequer o tempo que temos corresponde à estação em que nos encontramos?
Confesso que não terei ficado muito admirada com qualquer das saídas, porque, julgo - e é mera opinião pessoal -, nenhum dos Bentos se encontrava, no momento actual, adequado ao que se lhes estava e pedir.
Paulo Bento diz adeus, quatro dias depois de uma das mais humilhantes derrotas da selecção nacional de futebol. Era a previsão mais fácil de fazer.
Se há coisa que é típica dos portugueses é a facilidade com que aceitam a continuação de situações pantanosas. Depois de ter apresentado uma selecção de coxos no Mundial do Brasil, Paulo Bento deveria ter sido sumariamente despedido. Foi o que o Brasil fez a Scolari, que conseguiu resultados muito melhores no Mundial. Mas a irreformável Federação Portuguesa de Futebol decretou a sua continuidade, com os resultados que estão à vista. Depois do que se passou hoje Paulo Bento não tem outra alternativa que não seja ir-se embora. E de caminho pode levar com ele os que o apoiam na FPF.
«Alguns já estarão a afiar as facas e a comprar cachecóis da República Checa para ver se saímos na próxima quinta-feira.»
Paulo Bento
Portugal, 3 - Dinamarca, 1 (sexta-feira)
Islândia, 1 - Portugal, 3 (hoje)
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João Moutinho não jogava - e passou a jogar.
Carlos Martins não jogava - e passou a jogar.
Cristiano Ronaldo não marcava - e passou a marcar.
Helder Postiga não marcava - e passou a marcar.
João Pereira não era convocado - e passou a ser.
Nani estava lesionado - e deixou de estar.
Portugal empatava e perdia - e passou a ganhar.
Tirando isto, tudo na mesma.
A selecção nacional de futebol venceu esta noite a da Dinamarca, no estádio do Dragão, por 3-1. Dez notas a propósito deste jogo:
1. Paulo Bento entrou com o pé direito como principal responsável técnico da selecção. Mereceu esta vitória.
2. O homem do jogo foi Nani. Marcou dois golos e fez uma soberba assistência para o terceiro, de Cristiano Ronaldo. Ficamos inevitavelmente a pensar como teria sido bem diferente o destino da selecção no Mundial da África do Sul se Nani não tivesse ficado impedido de actuar devido a uma lesão que ainda hoje permanece envolta em mistério.
3. Cristiano Ronaldo voltou hoje às boas exibições na selecção, sobretudo no segundo tempo. O golo que marcou foi um justo prémio para o seu desempenho.
4. Paulo Bento lançou João Pereira como defesa direito. E o atleta do Sporting conquistou de imediato o lugar. Lamentavelmente, o anterior seleccionador prescindiu daquele que é o melhor lateral direito português na convocatória para a África do Sul.
5. Nota muito positiva também para João Moutinho, fundamental na condução dos lances ofensivos da selecção. Também ele, recorde-se, não recebeu convocatória para o Mundial. Erro crasso, como se comprova.
6. Num rasgo de sabedoria, Paulo Bento fez regressar Carlos Martins à selecção dois anos depois. E fê-lo alinhar como titular, demonstrando assim que os problemas do passado no Sporting estão esquecidos. Ser líder também passa por gestos como este.
7. A entrada em campo de Varela, embora apenas no final do encontro, foi outro sinal positivo de Paulo Bento, que prescindiu deste atleta quando era treinador do Sporting.
8. No onze titular, figuraram quatro jogadores que alinham por clubes portugueses: João Pereira (Sporting), Moutinho (FC Porto), Fábio Coentrão e Carlos Martins (Benfica). É um bom sinal.
9. Simão Sabrosa, que renunciou à selecção, não fez falta nenhuma.
10. Declaração final de Cristiano Ronaldo: "Tem sido bom trabalhar com Paulo Bento e isso reflecte-se no campo." Uma declaração cheia de significado. Que todos certamente entenderam.