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Delito de Opinião

Um Zandinga com Nobel

Pedro Correia, 27.07.19

 

Paul_Krugman_China_AP_img.jpg

 

Paul Krugman sempre foi péssimo nas previsões, talvez por transformar cada texto jornalístico sobre economia em peças mais apropriadas a comícios políticos, confundindo opiniões com factos. 

Mal Donald Trump foi eleito, Krugman previu nada menos que isto: «Uma recessão global, sem fim à vista.» Num artigo que publicou em Novembro de 2016 no New York Times, o Nobel da Economia interrogava-se quando iriam os mercados recuperar, fornecendo de imediato a resposta: «Nunca.»

Previsão tão certeira como a que fizera meses antes, em entrevista à SIC, quando disse acreditar que Hillary Clinton sucederia a Barack Obama na Casa Branca.

No fundo, nada que destoasse do que anunciara em Maio de 2012, ao proclamar em primeiríssima mão que a Grécia «sairia da eurozona nos próximos doze meses»

Os factos, para azar de Krugman, persistem em ser teimosos. Ao contrário do que apregoava este profeta da desgraça, a economia americana tem registado um crescimento sem precedentes. Em Fevereiro, atingiu o centésimo mês de expansão contínua, reflectida na criação de postos de trabalho e na redução do desemprego para níveis que não se registavam há perto de meio século.

Mas o que seria de esperar de alguém que em 1998 anunciou «o fim da Internet» para daí a sete anos, equiparando-a à máquina de faxe? Apenas aquilo que é: um Zandinga com Nobel. Ora se não damos crédito ao júri de Estocolmo que na literatura já premiou gente tão obscura como Harry Martinson, Carl Spitteler, Shmuel Agnon e José Echagaray, porque haveremos de reconhecer mais lucidez intelectual aos que ali laurearam Krugman em 2008?

Competências sobrestimadas

Rui Rocha, 19.07.15

Paizinho Krugman vem agora dizer  que sobrestimou a competência do governo grego. Pelo visto, não passava pela cabeça de Paizinho Krugman que Tsipras & Varoufakis não tivessem um plano de urgência para o caso de as negociações com os credores levarem a resultados inaceitáveis. Pois muito bem. O que eu gostaria realmente de saber é que tipo de plano poderia ser esse, dadas as circunstâncias. É que uma saída do euro e a sua substituição pelo dracma, ou coisa que o valha, pressuporia sempre a existência de reserervas cambiais significativas. E isso é coisa que a Grécia não tem. Ora é surpreendente que Paizinho Krugman (ou Varoufakis), proficientes como são em questões económicas, desconheçam a impossibilidade prática de a Grécia optar por moeda própria nesse cenário. Por isso, das duas uma: ou alguém anda aqui a enganar deliberadamente a opinião pública ou, então, teremos de concluir que não é só a competência do governo grego que tem sido sobrestimada.

O SOL errou

Rui Rocha, 02.03.12
A incursão de Krugman em território português parece ter constituído, para muitos, uma tremenda desilusão. Habituados a invocar o seu pensamento económico como justificação para políticas de estímulo artificial da procura por via do endividamento do Estado contra toda a racionalidade, os argumentos dos arautos domésticos dessa abordagem foram desmistificados, olhos nos olhos, pelo próprio nas intervenções que fez nos últimos dias. Todavia, e ao contrário do que decorre da 1ª página do SOL de hoje, não houve qualquer inflexão recente no discurso de Krugman, nem qualquer influência de Passos Coelho sobre as posições do Prémio Nobel da Economia. Por exemplo, est post publicado em 23 de Fevereiro deixa bem claro que as propostas de Krugman não se dirigem, nas actuais circunstâncias, aos países periféricos e sobreendividados da Zona Euro. Aliás, a necessidade de desvalorização de salários como forma de recuperar a competitividade é algo que Krugman tem defendido ao longo dos últimos dois anos. Bem significativa desta perspectiva e do sentido do que defende é a afirmação feita em Portugal de que não será necessário atingir o nível dos salários chineses (sublinho isto para atalhar alguma interpretação que recorra a conceitos como salários nominais e inflação). A importância de deixar claro que Krugman não defende agora algo de diferente do que vinha fazendo há anos está em  chamar os boys pelos nomes. Aquilo a que assistimos nos últimos tempos foi à invocação do argumento de autoridade de forma descontextualizada e abusiva como meio para justificar políticas desbragadas que contribuíram para cavar o buraco em que nos encontramos. Portugal tem duas soluções. A saída do Euro ou o cumprimento da austeridade que nos é imposta. Aos portugueses e ao governo que os representa cabe escolher o caminho. E, depois disso, assegurar uma repartição eticamente aceitável dos sacrifícios que qualquer das soluções implica. Prometer mais do que isso, invocando Krugman, Schumpeter ou o Bruxo de Fafe não é mais de que insistir no caminho da desonestidade intelectual. Na senda do pensamento mágico que, em boa medida, nos trouxe até aqui onde estamos.

Krugman em vão, 1 e 2.

Luís M. Jorge, 01.02.12

1: Daqui.

É oficial: Eva Gaspar não sabe ler. No início de janeiro, Eva Gaspar inventou um post onde Krugman teria defendido a tese de que Portugal e Grécia poderiam não ter alternativa a uma política de austeridade. Hoje, Eva Gaspar diz que Krugman terá dado uma entrevista ao Le Monde onde defendeu que os chamados periféricos devem cortar os salários em 20%, uma solução que, assegura a jornalista do Negócios, este economista tem vindo a defender nos últimos dois anos. Qualquer pessoa minimamente familiarizada com o que Krugman escreve sabe que este nunca poderia defender tal coisa. Aliás, basta ler o que Krugman diz na entrevista para se perceber que, em momento algum, Krugman defende a posição que Eva Gaspar lhe atribui:

 

Le problème de compétitivité viendrait donc de salaires trop élevés en Europe du Sud par rapport à l'Allemagne ?


Au final, le problème est celui d'un déséquilibre des balances des paiements. Mais, si on prend l'exemple de l'Espagne, les salaires espagnols n'ont pas toujours été au-dessus de la moyenne. C'est un phénomène récent. Après la création de l'euro, il y a eu des afflux massifs de capitaux dans les pays dits à la périphérie de l'Europe qui ont provoqué une bulle du crédit.

Ainsi, que faut-il faire ?


Le problème de la zone euro, c'est sa construction même. Tout cela n'arrive pas par surprise : il y a vingt ans déjà, cette union monétaire provoquait des débats académiques, on se demandait comment ce système pouvait gérer un choc asymétrique, une récession plus profonde dans un pays que dans un autre. Mais la question a été négligée. Aux Etats-Unis, ces chocs asymétriques sont gérés, pas toujours parfaitement, grâce à un système budgétaire intégré et une mobilité très élevée.

L'Europe n'a aucun de ces deux atouts. II lui faut donc quelque chose d'autre pour donner plus de souplesse au système. Une politique monétaire moins stricte avec une inflation plus élevée - autour de 4 % - offrirait une part de la flexibilité qui manque à la zone euro.

2: Nos comentários, aqui:

(...) o que Portugal tem que fazer é sair do Euro e não perder tempo com esse gajo, esse judeu (...)

Não ouçam Krugman, não.

Luís Menezes Leitão, 01.02.12

 

Salvo o devido respeito, este post do Rui Rocha não me convence minimamente da necessidade de continuar a seguir a política de Vítor Gaspar, que é evidente que só pode conduzir ao desastre. Mas o Rui Rocha acha que no confronto entre os avisos de Krugman e a política de Gaspar, a razão tem que estar do lado desta última. Vejamos quais os argumentos.

 

Em primeiro lugar, é utilizada a estratégia que na gíria futebolística se chama "jogar o homem e não a bola". Antes de tudo, Krugman, um economista respeitado internacionalmente e que já recebeu o prémio Nobel, merece os piores epítetos. É em primeiro lugar um "académico (teórico, portanto)", o que constitui um supremo pecado. Mas, apesar do seu "mérito académico", o que faz são "colunas bem escritas de opinião política". Se os economistas, não se podem expressar politicamente, não se percebe qual a sua utilidade. Para além disso, é parcial. Tem, imagine-se, "uma posição marcada quer no âmbito da discussão das opções internas americanas, quer quanto às relações entre os EUA e a Europa (e o dólar e o euro)". Tratar-se-ia, portanto, de um americano perigoso que só quer destruir o euro.

 

Mas o que é que este perigoso americano defende? "Que os Estados com contas públicas equilibradas (isto é, a Alemanha e poucos mais) devem adoptar uma política expansiva". Se bem me lembro, foi essa a solução adoptada, quer nos EUA, quer na Alemanha para sair da Grande Depressão. Nessa altura aprendeu-se que a austeridade não era a solução para sair de uma crise, e todos os manuais de economia recomendam que não se adopte medidas de austeridade em alturas recessivas. E esta conclusão é universal, independentemente de estar em causa o frio do Alaska ou o sol português. Mas como a proposta de Krugman só vale para a Europa em geral e não para cada Estado em Portugal, todos os Estados europeus têm que sofrer medidas de austeridade. Apesar de como se estar a ver, irem cair todos como peças de dominó.

 

Quanto à afirmação aqui de Krugman de que os salários têm que baixar 20%, falta referir uma coisa: que Krugman propõe que isto se faça por via da inflação. Ora, a inflação é um processo muito menos agressivo de conseguir o ajustamento. Basta emitir moeda que o preço dos produtos sobe e os salários reais diminuem progressivamente. E a emissão de moeda nesta fase de crise económica profunda não parece trazer quaisquer riscos de espiral inflacionista nem de descredibilização do euro. Os americanos não têm parado de imprimir dólares desde a crise sem qualquer problema. Já um corte salarial de 25% em dois anos tem efeitos dramáticos na economia, como todos os dias estamos a ver.

 

Diz-se depois que "para Portugal a austeridade não é uma escolha. É, antes de mais, uma imposição da realidade e, depois, daqueles de quem dependemos para comprar os melões". Que eu saiba, não foram aqueles de quem dependemos para comprar os melões que mandaram lançar impostos extraordinários ou cortar os subsídios. Foi antes uma decisão de um Ministro das Finanças que já conseguiu incumprir o défice para 2012 nas primeiras duas semanas do ano. Pela minha parte entre os avisos de Krugman e as políticas de Gaspar opto claramente pelo primeiro. E gostaria que alguém me demonstrasse que Krugman não tem razão. Porque o que resulta da sua posição é que a política de Vítor Gaspar só por milagre pode conduzir a um resultado útil. E como eu não creio em milagres, acho que é altura de encarar essa realidade.

Não invocarás o nome de Krugman em vão

Rui Rocha, 01.02.12

Sem pôr em causa o mérito académico (teórico, portanto) de Paul Krugman, convém não esquecer que os textos que publica no seu blog ou nos jornais são, antes de mais, colunas bem escritas de opinião política. E que essa opinião tem uma posição marcada quer no âmbito da discussão das opções internas americanas, quer quanto às relações entre os EUA e a Europa (e o dólar e o euro). Depois, importa perceber que aquilo que Krugman defende, bem ou mal, é uma solução geral cuja viabillidade só pode ser aferida perante situações concretas. Ora, os estímulos que preconiza dependem de eléctrodos. Que são, no caso, aquilo com que se compra os melões. Coisa que manifestamente nós não temos. Da mesma maneira que não temos dinheiro para pagar aos funcionários públicos se não nos emprestarem. O que Krugman nega é a via da austeridade como solução para a Europa globalmente considerada. Na sua visão, os Estados com contas públicas equilibradas (isto é, a Alemanha e poucos mais) devem adoptar uma política expansiva. Mas, como aqui reconhece implicitamente, esse já não era o caso de Portugal nem da Grécia em 2008. Isto para dizer que invocar Krugman como voz autorizada contra as políticas de austeridade concretamente aplicadas em Portugal é como defender que a escolha do vestuário a usar no Verão deve ser feita tendo em conta as temperaturas médias do Alaska no mês de Dezembro. Aliás, o próprio Krugman admitiu recentemente que (...) il faudrait que, disons d'ici les cinq prochaines années, les salaires baissent, dans les pays européens moins compétitifs, de 20 % par rapport à l'Allemagne. Infelizmente, para Portugal a austeridade não é uma escolha. É, antes de mais, uma imposição da realidade e, depois, daqueles de quem dependemos para comprar os melões. Significa isto que não há espaço para a crítica e para opções de política interna? Claro que há. Ao alcance dos decisores continua a questão do combate ao desperdício e da  gestão racional e eticamente aceitável dos escassos meios que existem. A escolha, agora mais do que nunca dramática, coloca-se, por exemplo, entre a captura de rendas pelos poderes instalados e a existência de uma barreira de protecção mínima para os que se afogam na enxurrada e precisam realmente de apoio. Ou entre a compressão de alguns direitos adquiridos e a necessidade de dar resposta a 30% de desemprego entre os jovens. São estas as decisões políticas que o governo deve fazer e é por elas que deve ser julgado.

Pior do que na Grande Depressão.

Luís Menezes Leitão, 01.02.12

 

 

Estas declarações de Paul Krugman demonstram bem o grande erro que tem vindo a ser a política de austeridade adoptada por Vítor Gaspar. Devo dizer que nunca tive ilusões em relação ao óbvio fracasso da suas políticas. Na verdade, como tive ocasião de registar aqui, logo na sua primeira comunicação ao país Vítor Gaspar fez o que não podia fazer: lançou um imposto extraordinário em vez de adoptar uma política de controlo da despesa. E no orçamento seguinte transformou o corte de despesa em corte de salários, o que não passa de um imposto sobre salários, que obviamente vai gerar menos consumo e mais recessão. Ora, como refere Krugman, no Economics de Paul Samuelson, que qualquer estudante conhece, consta que não se pode lançar mais impostos em épocas de recessão, o que só produz mais recessão, e consequentemente menos receita fiscal. É evidente que vamos entrar numa espiral de austeridade e recessão da qual o país não vai conseguir sair. É por isso que cedo ou tarde Passos Coelho vai ter que substituir Vítor Gaspar. Mas este ataque dos cavaquistas foi um péssimo serviço ao país, uma vez que colocar o Ministro das Finanças sob cerco do Presidente é a garantia segura de que o Primeiro-Ministro o vai manter no cargo. O que o Presidente devia fazer era exercer os seus poderes constitucionais em relação ao Orçamento, que foi para isso que foi eleito. Se o promulga pura e simplesmente, a partir daí que deixe o Governo em paz.

Pérolas a PIIGS.

Luís M. Jorge, 31.01.12

Correndo o risco de maçar a poetisa Elisabete, o doutor Amorim e outros vultos tormentosos do liberalismo e da moral, aqui deixo o envio para um artigo recente de Paul Krugman no New York Times. Chama-se “O Fiasco da Austeridade“. E como sei que a sabedoria, principalmente a que nos chega  dos sãos princípios da escola da vida, nem sempre é acompanhada por um conhecimento profundo de línguas estrangeiras, eis um bom resumo em português.