“(...) Outra pergunta que comecei a fazer a mim mesma foi a seguinte: a tendência predominantemente pessimista que os meus pensamentos têm vindo a experimentar nestes últimos dias dever-se-á ao estado do mundo, que é mau e piora mais depressa do que podemos esperar salvá-lo, o que me inquieta e enfraquece – ou dever-se-á simplesmente ao nível insuficiente das hormonas tiroideias, o que significaria que o estado do mundo não é tão assustador como tende a parecer-me, e me deveria levar a dizer de mim para mim: lembra-te do teu hipotiroidismo e acredita que o estado do mundo acabará por se recompor.”
(Lydia Davis, Contos Completos – Diário da Tiróide)
I mused for a few moments on the question of which was worse, to lead a life so boring that you are easily enchanted, or a life so full of stimulus that you are easily bored.
O lisboeta tem uma gravata na língua, acha que o palavrão é para quando se descuida. Não entende que é ele que faz do palavrão um descuido. Todo o palavrão tem arte, a gente lá em cima sabe.
(Alexandra Lucas Coelho, em O Meu Amante de Domingo)
É muito difícil saber o que nos leva a preferir as feias. Não é nada de bom. As feias têm mais razão para ser ciumentas, e isso agrada mais a um homem do que uma cara bonita. Mas quem não sabe o que é apaixonar-se por uma feia não sabe o que é a paixão.
A única obsessão que toda a gente quer: "amor". As pessoas pensam que ao amar se tornam inteiras, completas? A união platónica das almas? Eu não penso assim. Penso que estamos inteiros antes de começarmos. E o amor fractura-nos. Estás inteiro e depois estás fracturado - aberto.
She loved to walk down the street with a book under her arm. It had the same significance for her as an elegant cane for the dandy a century ago. It differentiated her from others.
(Milan Kundera, in The Unbearable Lightness of Being)
I needed to temper (my dad's) enthusiasm a bit (about attending Princeton), and so I announced that I would be majoring in patricide...My mom was actually jealous.
(David Sedaris, in When You Are Engulfed in Flames)
Aquela conversa de travesseiro, "quem é o meu quindizinho?". "Sou eu. Quem é a minha roim-roim- roim?" "Sou eu", e ele inventou de dizer que jamais se separariam e que ele seria, para ela, como aquele nervinho de carne que fica preso entre os dentes, e ela disse "Credo, Osvaldo, que mau gosto!", e saiu da cama e depois nunca mais. Acabou por metáfora errada.
(Luis Fernando Veríssimo, em O Melhor das Comédias da Vida Privada)
(...) a sua fantasia favorita era a visão de si mesmo, sentado sozinho num sala vazia durante horas e horas, sem ser interrompido, sem ser incomodado, sem ser requisitado por um único ser humano.
Toda aquela itinerância com guias, disse ele passado um momento. Naqueles horríveis crocodilos de turistas, a entrar e a sair de igrejas, museus e mesquitas. Não, não, não. Gosto de estar quieto, de descobrir uma cadeira confortável. Está a ver o que quero dizer? Gosto de absorver um país.
Olhou tristemente para Pockey Protero, a sua melhor amiga, sentada do outro lado da mesa, toda esparramada na cadeira e a largar as cinzas do cigarro sobre o prato cheio de gelado derretido e restos de bolo encharcado, com as deploráveis maneiras à mesa que só os muito ricos se podem dar ao luxo de exibir.