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Delito de Opinião

Não acerta uma

Pedro Correia, 10.07.24

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Ventura com Orbán: diz-me que aliados escolhes, dir-te-ei quem és

 

Desde que fez um brilharete nas legislativas de 10 de Março, conseguindo eleger um grupo parlamentar com 50 deputados, André Ventura tem andado em evidente desatino. Não acerta uma.

O mais recente disparate protagonizado pelo líder do Chega foi a súbita mudança de família eleitoral. Decidiu abandonar a bancada da Identidade e Democracia, trocando-a pelo novíssimo grupo Patriotas Pela Europa, que tem como figura tutelar o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. 

Problema: Ventura tomou esta iniciativa no dia em que Orbán abraçava em Moscovo o agressor da Ucrânia, agindo como cavalo de Tróia do ditador russo na União Europeia. Não podia haver pior ocasião para pôr o Chega a reboque do partido governamental da Hungria. «Um passo extraordinariamente perigoso para a Europa», como sublinhou El Mundo em editorial.

Quatro dias depois, os russos bombardearam Kiev, destruindo grande parte do maior hospital pediátrico ucraniano. Numa vaga de ataques que causaram pelo menos 38 mortos, incluindo quatro crianças. Novos quadros de horror, somados a tantos outros nesta criminosa violação do direito internacional que se prolonga há 29 meses.

Agora é oficial: Ventura, amigo do melhor amigo de Putin no espaço comunitário. Parceiros no Parlamento Europeu, cúmplices e compinchas, enquanto a Ucrânia sangra e sofre. 

Diz-me que aliados escolhes, dir-te-ei quem és.

Vão ter o que merecem

Pedro Correia, 07.06.24

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Estes são os dois deputados que o PCP tinha até agora no Parlamento Europeu. Sandra Pereira desde 2019, João Pimenta Lopes desde 2021

Deputados que alinharam com a Rússia na violação da soberania ucraniana - por vezes em coro afinado com a mais rançosa franja extremista da direita

A 1 de Março de 2022, apenas cinco dias após o início da invasão da Ucrânia pela clique moscovita, o Parlamento Europeu aprovou - por esmagadora maioria - um voto de condenação dessa agressão que violentou grosseiramente o direito internacional. Houve 637 votos a favor, 26 abstenções e apenas 13 votos contra. Pereira e Lopes integraram essa minoria absoluta pró-Moscovo.

Como vassalos de Putin, um e outro.

Vão ter - e o partido deles - o que merecem no escrutínio deste domingo. 

A purga

Pedro Correia, 28.05.24

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Pedro Marques

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M.ª Manuel Leitão Marques

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Pedro Silva Pereira

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Margarida Marques

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Isabel Santos

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Sara Cerdas

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Carlos Zorrinho

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Isabel Estrada Carvalhais

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João Albuquerque

Estes são os nove deputados do PS no Parlamento Europeu. Nenhum deles continuará por lá. Todos serão "repatriados" por decisão de Pedro Nuno Santos, que fez uma razia inapelável na lista do partido.

Nunca se tinha visto nada assim nas fileiras socialistas: chumbo a cem por cento. Na opinião do líder, não se aproveitou nem um. Dá que pensar.

Cá está ele

Pedro Correia, 25.02.24

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Ontem à noite participou num debate na CNN Portugal. Com deputados de outros cinco partidos políticos. Sobre uma triste efeméride: o segundo aniversário da agressão russa à Ucrânia, com o seu brutal cortejo de mortos, mutilados, desaparecidos, violações, pilhagens e destruição de todo género. A maior invasão de uma nação europeia por um país vizinho desde a II Guerra Mundial - réplica exacta do que Hitler fez à Polónia em 1939 mal selou o pacto de amizade com Estaline.

Fixem-lhe a cara e o nome: chama-se João Pimenta Lopes, é representante do PCP no Parlamento Europeu. Foi um dos escassos deputados que se puseram ao lado do ditador Putin, recusando condenar a Rússia na eurocâmara. A 1 de Março de 2022 - cinco dias após a invasão, quando os blindados russos se encaminhavam para Kiev e os mísseis de Moscovo matavam dezenas de civis. A resolução foi aprovada por esmagadora maioria: 637 votos favoráveis, 16 abstenções e 13 miseráveis votos vontra - incluindo o de Lopes e da sua camarada Sandra Pereira.

Convém não esquecer. Faltam três meses para as próximas eleições europeias. Quem nos representa em Bruxelas deve ser avaliado - e chumbado - também por isto.

Andas irreconhecível, PCP

Pedro Correia, 01.02.24

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Nunca tinha visto, mas há sempre uma primeira vez para tudo. O PCP, tão cioso da independência nacional, da soberania, da insubmissão ao imperialismo americano e outros chavões que vai martelando como se os portugueses fossem pregos, surge agora com cartazes políticos escritos em "amaricano". Integrado numa coisa anglófona intitulada "The Left".

Menos mal não ser italófona: assim evita proclamar-se "Sinistra".

Imagino que se trate de publicidade financiada pelo Parlamento Europeu, onde o partido da foice e do martelo ainda mantém dois lugares. Eis a prova do algodão: "European Parliament" - rezam os tais cartazes, também no idioma do império.

Sorrio quando vejo isto. Imaginando que jamais sucederia se Álvaro Cunhal ainda andasse por cá. Logo ele, que combateu com firmeza a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia - actual UE. Os seus sucessores, embora mais frouxos, mantiveram no essencial esta posição: em 2012 o PCP advogou até a realização de um referendo nacional para retirar o nosso país das instituições comunitárias. E em 2020 aplaudiu o Brexit com um entusiasmo polvilhado de redundâncias: «A saída do Reino Unido da União Europeia constitui um acontecimento de grande importância para o povo do Reino Unido», sublinharam os comunistas. No seu programa eleitoral para as legislativas de Março, decalcado dos anteriores, insistem em advogar «uma saída negociada do euro» para «recuperar a soberania monetária».

Tanta conversa sobre soberania, tanto bater no peito à Tarzan sobre independência e tal, tanta rejeição dos ditames de Bruxelas - e afinal ei-los amestrados, exibindo mensagens na língua de Donald Trump, neste 2024 em que Portugal devia celebrar o quinto centenário do nascimento de Camões.

What a shame, PCP. Já não és o que eras. Andas irreconhecível.

Quando um véu vale mais do que uma vida

Pedro Correia, 20.10.23

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O Hamas é financiado, treinado e armado pelo Irão, Estado teocrático e homicida.

Inimigo n.º 1 do Ocidente.

Inimigo n.º 1 do seu próprio povo.

Capaz de liquidar jovens indefesas, como a curda Jina Mahsa Amina, ontem justamente distinguida (a título póstumo) com o Prémio Sakharov pelo Parlamento Europeu. Morta após três dias de cruel detenção pela polícia religiosa por se ter alegadamente atrevido a sair à rua com o véu islâmico mal posto.

É indispensável que as jovens portuguesas de 22 anos (idade da infeliz Jina, assassinada em Setembro de 2022) saibam que ainda existem ideologias totalitárias prontas a pôr um pedaço de tecido acima da vida humana.

Raras vezes um prémio foi tão merecido e comovente como este, extensivo ao movimento de libertação das mulheres iranianas. O Parlamento Europeu - que nele honra a prestigiada memória de Andrei Sakharov, outra vítima do totalitarismo - volta a ser digno de elogio.

 

Leitura complementar:

- Os barbudos que odeiam as mulheres (25 de Setembro de 2022)

- Onde estão as feministas? (18 de Outubro de 2022)

Se fosse

Pedro Correia, 16.06.23

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Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, foi esta manhã convidada de honra da Assembleia da República, tendo participado na tribuna de São Bento, ao lado de Augusto Santos Silva, na sessão parlamentar, onde discursou e respondeu a questões que lhe foram dirigidas de todas as bancadas.

Após a intervenção que ali fez, os deputados do Bloco de Esquerda e do PCP recusaram aplaudir a convidada. Se fosse um ditador "socialista", até pediam autógrafo.

A entrevista à "Visão"

jpt, 16.12.22

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Vejo agora que o primeiro-ministro Costa deu uma grande entrevista (de Natal?) à tão socialista revista "Visão". Amanhã de manhã irei até às faldas do castelo local adquirir um exemplar, mais que não seja porque leio nas redes sociais muita gente indignada com uma saída de Costa, à qual até acho graça - espetou ele uma farpa ao Iniciativa Liberal, dizendo-o constituído por "queques que guincham"... De facto não vejo qual o problema. Aliás, o que me chateia mesmo é quando a "chungaria guincha".
 
(Já agora, haveis lido o que o eurodeputado Marques, colega do eurodeputado Silva Pereira, antigos titulares da selecção de Sócrates, veio guinchar sobre a tão bem apessoada eurodeputada grega que foi apanhada com a boca na botija? Pena é, afinal, que os Marques e companhia tenham passado tantos anos a guinchar fininho...)

Sempre, sempre ao lado dos amigos

Sérgio de Almeida Correia, 24.09.21

Okamura-Le-Pen-Wilders-800x450.jpg(Martin Divisek/EPA/EFE)

Em 16 de Setembro pp., a comunicação social deu conta da aprovação pelo Parlamento Europeu de uma resolução sobre a nova estratégia União Europeia-China.

A referida resolução tece um conjunto de considerandos visando a actuação recente da RPC, com especial referência ao que se passa nas Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau. Aí se recomenda que o Vice-Presidente da Comissão/Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (VP/AR) e o Conselho "elaborem uma estratégia UE China mais assertiva, abrangente e coerente que una todos os Estados Membros e defina as relações com a China no interesse da UE no seu conjunto”.

Para o Parlamento Europeu, a defesa dos nossos valores e da promoção de uma "ordem multilateral assente em regras” deverá ser fundamental, acrescentando-se que sendo a China “um parceiro de cooperação e de negociação para a UE, mas também um concorrente económico e um rival sistémico num número crescente de domínios”, tal “estratégia precisa de ter em conta a natureza multifacetada da relação da UE com a China” e assentar em seis pilares, a saber:
1) Diálogo aberto e cooperação;
2) Empenho reforçado em relação aos valores universais, às normas internacionais e aos direitos humanos;
3) Análise e identificação dos riscos, das vulnerabilidades e dos desafios;
4) Estabelecimento de parcerias com parceiros que partilhem as mesmas ideias;
5) Fomento da autonomia estratégica aberta, inclusive nas relações comerciais e de investimento;
6) Defesa e promoção dos principais interesses e valores europeus mediante a transformação da UE num interveniente geopolítico mais eficaz.

Numa primeira leitura, aparentemente, não há lá nada que se afigure inadequado aos objectivos da União Europeia e de Portugal.

Depois, no desenvolvimento desse primeiro enunciado verifica-se que há referências aos direitos humanos, aproveitando-se para se instar “a China a autorizar um inquérito independente e transparente sobre as origens e propagação do vírus SARS‑COV‑2”; convidam-se “os Estados Membros da UE a acompanharem melhor o impacto da interferência do Governo chinês na liberdade académica” e condena-se com “a maior veemência possível as sanções infundadas e arbitrárias impostas pelas autoridades chinesas”, não se deixando de sublinhar que “a apreciação e o processo de ratificação do Acordo Global de Investimento UE China não poderão começar até que sejam levantadas as sanções chinesas contra deputados ao Parlamento Europeu e instituições da UE”.

Há, igualmente, todo um conjunto de outras apreciações sobre múltiplos assuntos, destacando-se, em especial, a condenação às violações das Declarações Sino-Britânica de 1984 e Luso-Chinesa de 1987, quanto ao futuro, respectivamente, de Hong Kong e Macau.

A resolução é extensa e mereceu imediato repúdio por parte das autoridades chinesas, o que não será de admirar tendo presente a forma como a RPC encara o direito internacional, as relações entre Estados soberanos e os mecanismos de cooperação internacional, os quais só são importantes, digo eu, quando sirvam os seus próprios interesses e de acordo com a leitura que em cada momento seja feita pelas suas autoridades.

É isso que explica, por exemplo, que a RPC rejeite sistematicamente quaisquer críticas que lhe sejam feitas pela comunidade internacional, alegando sempre que se tratam de intromissões nos seus assuntos internos.

Mas, ao mesmo tempo, não faltam as manifestações de solidariedade com os regimes venezuelano, sírio, cubano ou norte-coreano de cada vez que estes são objecto de condenação internacional; como se essas manifestações de solidariedade não fossem elas próprias interferências nos assuntos internos de terceiros estados. Apoiar política, militar e economicamente regimes opressores também é uma forma de interferência nos assuntos internos de outros países.

De igual modo, é essa postura dúbia e interesseira que justificou a recepção em Xangai de uma delegação taliban de alto nível, cerca de um mês antes da queda de Cabul, sabendo-se que esse movimento representava a oposição interna daquele que era ainda ao tempo o governo legítimo do Afeganistão. Não obstante, até agora, a RPC não reconheceu oficialmente o novo governo islâmico afegão, embora tenha dado sinais de poder vir a fazê-lo em breve.

Todavia, esse posicionamento, podendo ser criticável, não nos diz directamente respeito. Bem ao contrário do que acontece com a actuação dos deputados portugueses no Parlamento Europeu. E quanto a estes, no que à aludida resolução diz respeito, nem todos estiveram de acordo com o seu teor.

O resultado da votação revelou que a resolução, em cuja versão final tiveram papel destacado os deputados Isabel dos Santos e Pedro Marques, foi aprovada com 571 votos a favor, 61 contra e 40 abstenções. Quanto a este ponto o que aqui deverá ser a todos os títulos salientado é que os únicos portugueses que votaram contra a resolução foram dois deputados do PCP: Sandra Pereira e José Pimenta Lopes.

Conhecendo-se as posições passadas do PCP, de inequívoco apoio aos regimes ditatoriais e às violações de direitos humanos cometidas na Venezuela, em Cuba, na Coreia do Norte, na Síria ou na Rússia, do mesmo modo que ontem subscreviam os atentados aos direitos humanos na União Soviética, em Angola, na Etiópia ou nos defuntos países do Leste europeu, deverá ser registada a firmeza e coerência desses dois parlamentares comunistas portugueses no Parlamento Europeu.

A deles, é verdade, mas também a de todos aqueles ao lado de quem os comunistas portugueses votaram. Entre esses inclui-se um grupo de parlamentares da extrema-direita europeia onde pontuam os representantes alemães da Alternative für Deutschland, do Rassemblement Nationale de Marine Le Pen, dos nacionalistas flamengos do Vlaams Belang, dos extremistas checos e do PVV holandês.

Aos comunistas portugueses não chegava absterem-se na votação dessa resolução para tentarem passar despercebidos. Para o PCP era importante mostrar que votavam ao lado da extrema-direita europeia. Em defesa dos interesses de grupo e das negociatas que à sombra dos atropelos aos direitos humanos, e a pretexto do combate ideológico, se vão cometendo por esse mundo fora.

Para um partido que se reclama campeão do antifascismo, das “conquistas de Abril” e “dos direitos dos trabalhadores”, não deixa de ser significativo que quando estão em causa os direitos humanos e as liberdades se predisponha a votar ao lado dos radicais da extrema-direita europeia. Nem a Lega per Salvini, antiga Lega Nord, se atreveu a tanto, já que Adinolfi Matteo, Baldassarre, Bizzotto e os outros votaram a favor da resolução.

Felizmente, coerência é coisa que aos comunistas portugueses não falta. E amigos ao lado de quem possam votar também não. 

É bom lembrá-lo neste momento quando se está à porta de mais um acto eleitoral e os extremos se tocam.

Paulo Rangel no Parlamento Europeu sobre Moçambique

jpt, 18.09.20

Tem estado bem Paulo Rangel, e o PSD, no acompanhamento desde há meses no Parlamento Europeu da situação em Moçambique relativa à guerra no Cabo Delgado. E fez ontem uma boa intervenção, adequada àquela instituição, fundamentada e ponderada.

Deixo também aqui a Resolução do Parlamento Europeu, de 17 de setembro de 2020, sobre a Situação Humanitária em Moçambique (2020/2784(RSP) [basta aceder: Resolução PE Moçambique.pdf], que sistematiza a preocupação com a situação militar e humanitária e explicita a inadmissibilidade das gravíssimas violações de direitos humanos consagrados nas convenções internacionais (convém sublinhar isto, pois vou lendo gente em Moçambique defendendo que em guerra, em particular com estes "insurgentes", vale tudo ...).

Realço a pertinência do ponto Z. desta Resolução: "Considerando que, apesar da brutalidade e da perda terrível de vidas, a situação em Cabo Delgado não conseguiu atrair a atenção internacional, o que significa que se perdeu tempo precioso para resolver o problema mais cedo".

Mas não deixo de notar e muito lamentar o clamoroso erro, do ponto Z. 22. "Recorda que a população de Moçambique, tanto da fé cristã como muçulmana, vive há muito em coexistência pacífica e manifesta convicção de que este modelo de tolerância e de solidariedade prevalecerá ...". Um reducionismo inadmissível, pois é mais do que exigível que políticos e seus assessores percebam um pouco mais sobre as realidade sobre as quais elaboram. Mera questão de cultura. 

(Lateralmente: ao ver esta intervenção interrogo-me sobre a imagem que o Parlamento Europeu transmite para o seu eleitorado. Ou seja, sobre a total cegueira e surdez face aos efeitos das dimensões representacionais dos órgãos políticos. Pois, e se é certo que o funcionamento do Parlamento Europeu não presume que a sala esteja cheia, dado que há múltiplas tarefas dos deputados, assistir a uma comunicação relevante - e esta é-o particularmente - feita numa sala vazia constrói a imagem de um parlamento relapso. 

E se é para falar nas dinâmicas de representação, da imagem que os políticos dão às populações do seu comportamento e o das suas instituições, alguém poderia dizer ao deputado luxemburguês Charles Goerens que é simbolicamente letal, sendo ele o único atrás de um colega de bancada que aborda uma situação dramática, estar, sossegadamente, esparramado na cadeira, só lhe faltando coçar a micose. Um verdadeiro "morcon", como se dirá em francês ...)

Crise no PAN?

jpt, 25.06.20

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Parece que o líder do aparente ecologista PAN está a ser contestado pelas suas hostes. Não será particularmente surpreendente. O partido cresceu imenso nas últimas eleições, a reboque da vaga internacional de preocupações ecológicas. Mas logo desapareceu da agenda mediática e mesmo da política, e não só pelo seu real vazio substantivo - que melhor contexto para afirmação poderia pedir um partido ecologista do que uma pandemia com estas características de emergência e difusão?, e o qual desaproveitou completamente dada a sua efectiva inexistência. Pois também se tratou de um eclipse comunicacional devido ao carinho da imprensa pelo "boi de piranha" espicaçado pelo PS, esse composto de histriónicos racistas e de assessores de saias, e o jeito que dão às audiências publicitárias as atoardas desventuradas. 

Mas as causas fundamentais deste triste espectáculo - um partido ecologista a desagregar-se devido a questiúnculas  em plena pandemia é verdadeiro manancial para um "estudo de caso" de ciência política - são mesmo internas.  Há algum tempo aqui deixei mostra de que André Silva, o inopinado líder de partido parlamentar, não aparentava possuir nem pinga de elegância devido a completa ausência de clarividência de atitudes, face à sua boçal pose em reunião de deputados com o presidente Sousa. Um rústico, por assim dizer ... E ao saber-se hoje, na sequência do abandono do deputado europeu e de outros eleitos autárquicos, que também sai a deputada por Setúbal, Cristina Figueiredo, lembro a patética figura que a pobre fez quando se candidatou, uma coisa mesmo inenarrável, uma mulher ignorante e desnorteada, adornando-se com todos os tiques do aldrabismo. 

Enfim, a renovação do sistema política é mesmo necessária. Mas, como é mais do que evidente, não é com gente desta. E com este impensamento.

Sobre a votação que equipara o nazismo ao comunismo

Paulo Sousa, 19.11.19

O Parlamento Europeu aprovou recentemente a resolução sobre a importância da memória europeia para o futuro da Europa, por ocasião do 80º aniversário do início da Segunda Guerra Mundial.

Além de outros detalhes o documento dá enfoque i) aos massacres, ao genocídio, às deportações, aos crimes contra a humanidade e violações em massa dos direitos humanos perpetrados pelos regimes nazi e comunista, ii) ao facto de os crimes do regime nazi terem sido julgados e punidos nos julgamentos de Nuremberga e o mesmo nunca ter sido feito relativamente aos crimes do Estalinismo, iii) ao trágico passado da Europa que deve continuar a servir de inspiração moral e política.

O PS enquanto partido humanista e responsável membro do PSE votou favoravelmente o documento em Estrasburgo. Mas entretanto, quando o mesmo foi colocado à votação na Assembleia da República, mudou de posição. Estas incoerências estão incluídas nas demais que fazem de António Costa um político hábil. Em política a maleabilidade é uma habilidade. Já sabíamos isso há muito mas neste caso específico podemos avaliar mais um caso em que se consegue trocar princípios por fins. Sabemos que não quer irritar os seus ex-futuros parceiros. Para que algo idêntico fosse aprovado no nosso Parlamento foi necessário retirar a palavra comunismo do documento.

A expressiva votação do Parlamento Europeu de 535 contra 66, com 52 abstenções, foi possível com forte apoio dos deputados dos Estados Membros que pertenceram ao lado de lá da Cortina de Ferro. Eles conheceram os regimes nazi e comunista, sofreram os seus crimes contra a Humanidade e por eles foram privados da sua liberdade. Recordam-se disso e não terão duvidado em escolher de que lado queriam estar nesta simbólica tomada de posição.

Os comunistas estão convencidos que pelo combate que deram aos nazis acumularam karma points suficientes para os ilibar dos mais de 100 milhões vitimas que causaram. No fundo a tomada de posição do Parlamento Europeu anula exactamente esse argumento desrespeitoso da memória das suas próprias vítimas.

Sem nos surpreender, os comunistas tugas, e demais partidos radicais, irritaram-se com tudo isto.

Não podemos negar que o PCP dá um toque vintage ao espectro político português. Foices e martelos nos parlamentos europeus são uma antiguidade e em toda a Europa nenhuma loja de ferragens razoavelmente séria se arrisca a inclui-los na mesma família de produtos. Martelos estão nas ferramentas e as foices nas alfaias. Mistura-las na mesma prateleira ou corredor dá má fama à casa.

Pelo exotismo, o nosso PCP bem podia ser transformado em mais uma atração turística do nosso país. Um bocado como os golfinhos no Jardim Zoológico embora com menos cor e alegria.

Conhecendo a imensidão de crimes que foram cometidos pelos comunistas, e depois olhando para o nosso PCP a definhar, temos de acabar por ser portuguesmente condescendentes para com eles. Se tivessem cometido uma fracção dos crimes que motivaram a referida votação já teriam sido varridos da nossa vida política. Existem por puro conservadorismo dos seus eleitores o que não deixa de ter graça para um partido que se diz revolucionário.

Bruxelas e arredores

jpt, 27.08.19

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Em Bruxelas, da qual parti, vão agora confluir os três primeiros da lista europeia do PS, todos antigos governantes de Sócrates (Pereira, seu braço-direito, e ao que parece também usufruindo dos serviços do "chófer", e os dois Marques). E agora também esta Ferreira, feita Comissária Europeia, que foi ministra do Sócrates secretário de estado, quando tudo começou para ele. Maternal, chocou o ovo da mamba, por assim dizer. E fê-lo tão bem que ele, já PM, década e meia passada até a lançou para a Câmara do Porto.

Costa continua a "narrativa" de que não havia indícios sobre algo errado. Alguns amigos meus, daqui a uns anos, vir-me-ão, pesarosos, repetir o choradinho "Eu não vi". Mas não. Percebem, sabem. Vivem nisto porque vivem disto. E por isso, nos pequenos jeitos que vão tendo, sufragam esta gente.

Adenda: 

eu já nem me lembrava mas vejo ecos disso. Esta mulher - para além de complicadas relações matrimoniais com um enorme rombo na Caixa Geral de Depósitos, que me parecem pelo menos moralmente duvidosas - tem esta concepção política: "O dinheiro é do Estado, é do PS!". Ou seja, diz ao eleitorado que o dinheiro que a administração pública gasta, o sempre respeitável erário público, é do partido que está no poder. E, lembremo-nos, para além das complicadas relações matrimoniais com um enorme rombo na banca pública, Ferreira clamou ao seu eleitorado que "o dinheiro é do Estado, é do PS!", quando o seu antigo secretário de estado José Sócrates era o primeiro-ministro. Uma quase infinita desfaçatez.

E é esta mulher, é esta prática da política e é esta visão do mundo, que Costa envia para Comissária Europeia. E é esta mulher que os painelistas avençados e administradores não executivos do costume, mais os dêénes e públicos, irão agora gabar em uníssono.

Mais uma adenda: Henrique Pereira dos Santos teve a gentileza de comentar este texto no meu mural do Facebook . E julgo curial trazer esse comentário para aqui, até porque discordante do teor do postal (ou de parte dele): "acusar Elisa Ferreira de ter chocado maternal ente o ovo, suando foi a primeira vítima de Sócrates (eu estava lá) não é rigoroso. Sobre o resto não tenho nada a dizer, mas sobre o período em que Sócrates se chamava a si próprio o Zé das Sobras por causa da contenção com que Elisa Ferreira o tentou manietar sei o que vi de camarote." Muito lhe agradeço o comentário. E o esclarecimento. 

 

Costa e a "diletância"

Pedro Correia, 18.02.19

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António Costa falou há pouco no Palácio de Belém, onde assistiu à posse dos novos ministros e secretários de Estado, na quarta remodelação governamental ocorrida nesta legislatura. Aproveitando o local e a ocasião para fazer propaganda política, já a pensar na eleição de 26 de Maio, que permitirá aos portugueses escolher os nossos próximos eurodeputados. No dia em que, segundo uma sondagem da Aximage, a sua avaliação é a mais negativa, aos olhos dos portugueses, desde que assumiu o cargo de chefe do Executivo.

Confrontado pelos jornalistas, acabou por dizer aquilo que talvez não pensasse inicialmente, omitindo o respeito institucional que lhe deve merecer o Parlamento Europeu. Pronunciando-se, ainda por cima, na sede do representante máximo do poder político português - que não é ele, como sabemos.

«É saudável que haja membros do Governo que estejam disponíveis a servir o País no Parlamento Europeu. O Parlamento Europeu não pode ser só um local de diletância política e de sound bites», declarou o primeiro-ministro. Pouco lhe faltou para apelar, ali mesmo, ao voto em Pedro Marques e Maria Manuel Leitão Marques, os ministros que acabam de sair para concorrerem ao órgão legislativo que tem sede em Bruxelas e Estrasburgo.

Vão substituir, no elenco de candidatos do PS, os eurodeputados Francisco Assis (que foi o cabeça-de-lista em 2014) e Ana Gomes. Ambos "diletantes", presume-se. E especialistas em sound bites. Terá sido por isso que Costa lhes passou guia de marcha? Devem estar ambos satisfeitíssimos por receberem estes doces qualificativos, da parte de quem por cá manda, na hora do regresso à pátria.

Os limites da decência

Diogo Noivo, 01.02.19

Ontem os eurodeputados Marinho e Pinto (PDR), Miguel Viegas, João Pimenta Lopes, João Ferreira (PCP) e Marisa Matias (BE) deram respaldo ao regime de Maduro no Parlamento Europeu. A sensação de vergonha alheia é inevitável. Vergonha e assombro foram também as reacções normais e decentes à inauguração da praça Hugo Chávez, na Amadora, em 2016.

Mas hoje a decência foi atirada violentamente pela janela fora. O voto de pesar e condenação pela morte de manifestantes na Venezuela recebeu o voto favorável de todos os partidos com assento parlamentar, com a excepção do Bloco, PCP e PEV. Perante isto, a sensação que se impõe é de asco profundo. Tratava-se tão somente de expressar tristeza e de condenar a morte de pessoas que exerciam o seu direito de manifestação e de liberdade de expressão.

Em Portugal há quem diga - sem se rir - que não há extrema-esquerda no nosso país.

 

[ADENDA]: parece que o facto de o voto de pesar reconhecer a legitimidade de Juan Guaidó constituiu um agravo inaceitável para PCP, PEV e BE. Portanto, a condenação da morte de manifestantes subordina-se a apreciações sobre o apoio a este ou aquele político. Contudo, não é preciso especular sobre o que faria a extrema-esquerda se o reconhecimento de Guaidó não constasse do voto: o PS apresentou um voto onde tal reconhecimento não existia e, ainda assim, PCP e PEV votaram contra e o BE absteve-se.

Na ditadura de Nicolás Maduro: Venezuela sem pão nem liberdade

Pedro Correia, 12.12.17

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Amanhã, em Estrasburgo, o Parlamento Europeu reunido em sessão solene entregará o Prémio Sakharov 2017 a representantes da oposição democrática e plural da Venezuela.

Será um momento muito importante. Pelo seu simbolismo e pelo alento que dará à vasta frente política e social que combate a oligarquia de Caracas e o seu rosto mais visível, o ainda Presidente Nicolás Maduro, autoproclamado "filho de Chávez", que lega à posteridade um regime corrupto e um país arruinado, onde vigora a maior taxa de inflação do mundo e os artigos de primeira necessidade - começando pelo papel higiénico - são hoje bens de difícil acesso.

 

A  Venezuela é hoje um país sem pão nem liberdade.

Um país onde mais de cem jovens foram abatidos este ano na rua só porque protestavam contra a o Governo.

Um país com centenas de presos políticos.

Um país onde a justiça está submetida ao poder político e a procuradora-geral, perseguida por esbirros de Maduro, teve de se asilar num país vizinho quando investigava os tentáculos do narcotráfico em Caracas.

Um país onde vigoram as maiores taxas de homicídios e de crimes violentos do planeta.

Um país onde os principais meios de informação foram encerrados ou mudaram compulsivamente de proprietários para passarem a entoar hossanas ao regime.

Um país onde os opositores mais destacados são forçados a rumar ao exílio ou vegetam nos calabouços de Ramo Verde, sinistro símbolo da repressão "bolivariana".

 

Prestigiado galardão que visa distinguir os combatentes pelos direitos humanos, o Prémio Sakharov reforçará a resistência ao déspota que transformou a precária democracia venezuela numa ditadura.

Maduro anulou a Assembleia Nacional onde a oposição dispõe de larga maioria, mandando prender deputados que gozam de imunidade jurídica face à própria lei venezuelana. Fez eleger um parlamento fantoche, destinado a "redigir uma nova Constituição" que porá fim à de 1999, proclamada pelo seu antecessor. Promoveu a maior fraude eleitoral do século na América Latina. Muda datas eleitorais à mercê dos caprichos e conveniências políticas. E já anuncia que não permitirá candidatos da oposição nas presidenciais de 2018, enquanto garante que o seu  Partido Socialista Unido da Venezuela governará pelas "décadas e séculos que estão por vir". Linguagem típica de ditador.

 

Segue-se uma resenha de algumas das principais notícias ocorridas na Venezuela desde 30 de Julho, quando foi oficialmente eleito o parlamento fantoche, alcunhado de Assembleia Constituinte, composto apenas por fervorosos apoiantes de Maduro:

 

Assembleia Nacional, eleita há 20 meses com larga maioria da oposição, foi esvaziada de funções.

Procuradora-geral da República exila-se na vizinha Colômbia.

Presidente da Câmara de Caracas, em prisão domiciliária desde 2015, refugia-se em Espanha.

Juízes venezuelanos forçados a abandonar o país.

Cinco magistrados fogem de Caracas para se reunirem ao Supremo no exílio.

Famílias inteiras deixam a Venezuela só com a roupa que trazem vestida.

342 presos políticos permanecem nos cárceres de Maduro e vários deles são torturados.

Caritas venezuelana alerta: há 300 mil crianças subnutridas em risco de morte no país.

Músico Adrían Guacarán, de 44 anos, morreu após 24 horas à espera de um medicamento que não havia.

Caos na saúde: mulheres dão à luz em salas de espera de hospitais.

Malária, difteria e sarampo: epidemias regressam ao país de Maduro.

Animais morrem de fome no maior jardim zoológico venezuelano.

Governo de Maduro manda encerrar duas populares rádios de Caracas.

Jornal independente Ultima Hora fecha por falta de papel de impressão.

Maduro manda emitir notas de 100 mil euros para fazer face à maior inflação do mundo.

Preços subiram 56,7% só em Novembro.

Eleições autárquicas realizaram-se quase sem candidatos da oposição.

Maduro quer proibir principais forças da oposição a concorrer às próximas presidenciais.

Capazes disso e de muito mais

Pedro Correia, 06.07.17

Por uma vez, estou de acordo com Marinho e Pinto. É chocante o absentismo crónico dos eurodeputados, principescamente remunerados pelos contribuintes dos seus países. Nem 5% marcaram presença no plenário que fazia a avaliação da anterior presidência europeia - ainda por cima sabendo-se que compete ao Parlamento Europeu fiscalizar o desempenho do Conselho Europeu, o que aumentava a responsabilidade de quem não se dignou comparecer no hemiciclo de Estrasburgo, onde havia mais de 700 lugares vazios.

Só a folha que assinala o registo de presenças não estava vazia: constavam lá 703 assinaturas de eurodeputados, que se limitaram a pôr o gatafunho no papel antes de darem de frosques. Não se admirem se algumas destas sumidades aparecerem um dia destes na televisão a debitar lições de ética de política aos compatriotas que lhes pagam os salários.

São capazes disso e de muito mais.

Um parlamento vazio.

Luís Menezes Leitão, 04.07.17

Queixa-se Juncker com razão de que é ridículo o Parlamento Europeu estar quase vazio para fazer um balanço da presidência de Malta. É estranho ele só reparar nisto agora, pois eu tenho visto sempre os deputados portugueses a discursarem para uma sala vazia. Tal é a consequência de termos instituições europeias que não servem absolutamente para nada. Se o Parlamento Europeu se levasse a sério estabeleceria um quorum mínimo de funcionamento, coisa que até uma assembleia de condomínio tem. Mas como isto é tudo a fazer de conta, salvo nos principescos ordenados pagos aos deputados europeus, o Parlamento Europeu pode funcionar completamente vazio, que ninguém quer saber. Afinal de contas para que serve um Parlamento sem iniciativa legislativa? Criticaram o Brexit mas ponham mas é os olhos no Parlamento Britânico, que está sempre cheio. É a diferença entre uma instituição parlamentar a sério e outra de faz de conta.