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Delito de Opinião

Governo com mais mulheres

Pedro Correia, 06.04.24

 

É o Governo que tem mais mulheres desde sempre em Portugal: são 24 entre 59 titulares de ministérios e secretarias de Estado.

Percentagem: 40,6%.

Facto positivo, sem sombra de dúvida.

 

ADENDA: Escrever que este é o Executivo com «mais mulheres desde o 25 de Abril», como faz o Polígrafo, é um sofisma. Antes do 25 de Abril - I República e Estado Novo - só houve uma mulher no Governo: Teresa Lobo, subsecretária de Estado da Saúde e Assistência (1970-1973). 

Futebol e paridade

João André, 17.05.21

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Vi ontem a final da Liga dos Campeões, na qual o Chelsea defrontou uma equipa fortemente influenciada pela escola holandesa de posse de bola e jogo pelos flancos. Apesar de o Chelsea ter algumas das maiores estrelas do futebol mundial, acabou por perder o jogo por 4-0, resultado que já se encontrava ao intervalo e acabou por dar a vitória ao Barcelona.

Barcelona? Ontem? Liga dos Campeões? Sim. Como é óbvio, não falo da final da Liga dos Campeões masculina entre Chelsea e Machester City, que o Porto irá acolher a 29 de Maio, mas da final feminina, que teve lugar ontem em Gotemburgo.

Não sou alguém que siga muito o futebol feminino, em grande parte porque são raros os jogos transmitidos na televisão. Mas quando posso tento vê-los. São bem disputados, mais abertos que os jogos masculinos e com uma competitividade e qualidade que aumenta de ano para ano. Não é um desporto com nomes como Messi, Ronaldo, Mbappé ou Haaland, mas tem Harder, Kerr, Miedema, Bronze (inglesa de pai português), Henry, Renard ou Marozsán. No jogo de ontem apaixonei-me pelo futebol de Alexia Putellas e Martens (ambas do Barcelona).

Por curiosidade fui ver qual o prémio monetário para o Barcelona pelo feito: 460 mil euros. O prémio para quem vença a final no dia 29? 19 milhões de euros. Cerca de 41 vezes mais. Em França, em 2018, o orçamento da Liga masculina era de 1.900 milhões de Euros. O da liga feminina 19 milhões. Um rácio de 100 para 1. Será que o futebol masculino é 100 vezes melhor? Ou sequer 40 vezes? Será sequer 10 vezes melhor como a diferença de prémio monetário entre a França (vencedora do Campeonato do Mundo masculino de 2018, 38 milhões de dólares) e os EUA (vencedoras do Campeonato do Mundo feminino de 2019, 4 milhões de dólares) indicaria?

Certamente que não. Não é uma questão de ser essa a minha opinião, é uma questão de realidade. A audiência do Mundial feminino de 2019 foi de quase mil milhões pela televisão e quase 500 milhões por outras plataformas. No masculino foi de cerca de 3,5 mil milhões, ou pouco mais do dobro. Será então justo que as mulheres sejam pagas tão pouco e joguem em condições bastante piores que os homens quando estão a fazer o mesmo trabalho?

O argumento contra a paridade de pagamento é o habitual: não geram as mesmas receitas. No entanto este é um argumento falso porque incluí um círculo vicioso: se as mulheres não têm os seus jogos transmitidos, não poderão gerar visibilidade e não atrairão mais receitas. Sem essas receitas não podem desenvolver o jogo e ficam presas às condições em que jogam.

E para que não se pense que isto é nada, as mulheres frequentemente jogam nos campos de treino das equipas masculinas, equipam-se com roupas e calçado concebidos para homens, têm de usar equipamento de treino de menor qualidade (o melhor vai para os homens) e quando os clubes lhes oferecem massagistas e médicos, estes são especialistas em - adivinhem - desportistas masculinos e não fazem a menor ideia de como gerir a saúde das profissionais que têm pela frente. Há excepções, como as que o Lyon e o Wolfsburgo iniciaram e vários clubes começam a copiar (em Portugal o Sporting chegou a ter os jogos da sua equipa feminina no Estádio Alvalade XXI, algo muito de louvar, não sei se o continuaram).

Seja como for, é difícil engolir o argumento da falta de receitas quando olho para o que me aparece na televisão. Homens de meia idade que devem ter chutado uma bola pela última vez quando Jimmy Carter era presidente a falar de um desporto que mal compreendem. Tipos gordos a atirarem dardos a uma parede podem receber um total de uns milhões (não contando sponsors) nos torneios oficiais. De snooker nem falo. Baseball ou cricket, que têm interesse limitado (mesmo que com muita gente) no mundo, geram muitos milhões. Que aconteceria se déssemos a mesma visibilidade ao futebol feminino?

Sinceramente não sei porque ninguém o sabe, mas estou em crer que, mesmo que nos restringíssemos à população feminina como alvo, seria possível gerar muito dinheiro em receitas. As mulheres, e aqui vou apenas por conhecimento pessoal, têm muito mais interesse em ver outras mulheres a chutar uma bola do que em ver homens a fazer o mesmo. Isso já daria para aproximar as diferenças de receita e as diferenças salariais. Entretanto, o dinheiro pago a quem represente a selecção nacional do seu país deveria ser o mesmo, quer se trate de um homem ou de uma mulher, dado que a função é exactamente a mesma: representar o país.

Acredito que tudo isto seja possível e que, mesmo que a paridade não seja completamente alcançada (algo que desejo), pelo menos poderíamos diminuir o fosso. Seria justo. O futebol de ontem, uma exibição de enorme classe do Barcelona contra uma equipa de enorme qualidade com a do Chelsea, demonstrou que o futebol feminino pode ser muito mais interessante que o masculino.

 

PS - nota para dar os parabéns aos meus colegas de blogue sportinguistas. Uma vitória merecedíssima no campeonato nacional e que todos os adeptos do clube devem festejar.

Uma coutada do "macho ibérico"

Pedro Correia, 20.06.18

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Curioso: em todos os órgãos de informação deparamos diariamente com copiosas e exaustivas prelecções sobre a necessidade de estabelecer mecanismos de paridade que assegurem o aumento da participação feminina na sociedade portuguesa, mas são raríssimos os media que asseguram essa participação dentro de portas.

Eis um caso evidente daquele velho princípio do São Tomás: faz o que ele diz, não faças o que ele faz.

 

Comecemos pelas televisões. Todas dirigidas por homens.

Ricardo Costa, na SIC. Sérgio Figueiredo, na TVI. Paulo Dentinho, na RTP. Octávio Ribeiro, na CMTV.

 

Nos jornais diários, vemos o mesmo Octávio Ribeiro à frente do Correio da ManhãFerreira Fernandes recém-nomeado director do Diário de NotíciasDavid Dinis encabeçando o Público,  Afonso Camões na liderança do Jornal de NotíciasMário Ramires dirigindo o i, André Veríssimo conduzindo o Jornal de Negócios.

Nos desportivos, Vítor Serpa dirige A Bola; António Magalhães, o Record; José Manuel Ribeiro, O Jogo.

Homens, apenas homens.

 

Tal como na agência Lusa, dirigida por Pedro Camacho.

 

Domínio absoluto masculino igualmente ao nível dos jornais digitais.

José Manuel Fernandes dirige o ObservadorAntónio Costa lidera o Eco, Mário Rodrigues está à frente do Notícias ao Minuto.

 

E nos semanários?

Pedro Santos Guerreiro dirige o ExpressoMário Ramires dirige o SolEduardo Dâmaso dirige a SábadoFilipe Alves dirige o Jornal EconómicoJoão Peixoto de Sousa dirige a Vida Económica.

Mas aqui encontramos a primeira excepção feminina num reduto quase apenas reservado a homens: Mafalda Anjos, directora da revista Visão.

 

Finalmente, as rádios de expansão nacional.

Quem lidera a informação radiofónica? João Paulo Baltazar na Antena 1, Arsénio Reis na TSF, Graça Franco na Rádio Renascença.

A emissora católica é assim a segunda - e última - excepção ao domínio quase absoluto do "macho ibérico" no jornalismo português.

Em 26 títulos, 24 são dirigidos por homens. Noventa e dois por cento.

 

Mas tenho a certeza de que continuaremos a ler, ver e ouvir excelentes peças em todos estes órgãos de informação denunciando inadmissíveis "discriminações de género" na sociedade portuguesa.