Frases de 2024 (16)
«Quando os comediantes fazem alguém sorrir, Deus também sorri.»
Papa Francisco, recebendo humoristas de todo o mundo no Vaticano (14 de Junho)
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«Quando os comediantes fazem alguém sorrir, Deus também sorri.»
Papa Francisco, recebendo humoristas de todo o mundo no Vaticano (14 de Junho)
No meio da extraordinário e memorável acontecimento que foram as Jornadas Mundiais da Juventude, que agitaram o país entre fins de Julho e princípios de Agosto (sim, o país: não se esqueça que houve peregrinos em todos os distritos), houve um momento mais fora, literalmente, porque saiu directamente do palco das Jornadas mesmo antes da sua fase final, a vigília e a Missa do Envio. Teve também um público diferente e uma quantidade de gente considerável, mais menos massiva. Falo da ida de Francisco a Fátima, na manhã do dia 5 de Agosto.
E falo porque foi o único momento ligado às jornadas que presenciei. Esperavam-se 500 mil pessoas, mas não terão estado muito mais de 200 mil, talvez porque os peregrinos estavam em Lisboa e juntar Fátima aos supracitados momentos finais das jornadas era quase sobre-humano. Andava-se pois sem o sentimento de sardinha em lata, mas ainda assim não dava para passadas largas.
Logo no início, um ambiente estranho. Atrás dos montes erguia-se uma enorme nuvem de fumo que cobria o sol tímido da manhã, bem apropriada a algumas descrições bíblicas, mas com helicópteros, noticiosos ou de combate a incêndios, a zumbir ao redor. Era o enorme fogo que se arrastava entre Castelo Branco e Proença-a-Nova, a algumas dezenas de quilómetros, cuja base decerto o Papa viu, ele que estava prestes a chegar. Antes, uma coluna de carros desenfreados passou para o ir receber, e vários transeuntes exclamavam "olha o Marcelo!"
Todas as pessoas convergiam para as margens da estrada antes da entrada no santuário, por onde passaria Francisco. Não demorou. A certa altura, as palmas antecederam a passagem do Papa, que surgiu, perfeitamente visível, perante a euforia das pessoas. A sua entrada no recinto seria a conta-gotas, porque parava constantemente para abraçar e benzer mais uma criancinha. Mas chegou enfim à capelinha das Aparições.
A visão quase cortada do Papa. Mas o Sumo Pontífice ficou visível.
Não era uma cerimónia canónica, embora se tivesse rezado um terço. Mas a ida a Fátima tinha sido um desejo expresso de Francisco, que ali se rodeou de pessoas com deficiências várias e de reclusos, entre outros marginalizados da sociedade. Certas partes do terço foram rezadas, a custo mas com fervor, por pessoas com claras deficiências. E depois, o discurso improvisado: de novo a Igreja para todos, a capelinha das Aparições como modelo de Igreja acolhedora, sem portas, como uma mãe que acolhe todos os seus filhos, assim como "Nossa Senhora Apressada" (o mote para as Jornadas). Palavras caras a Francisco e que não cessou de pregar enquanto esteve em Portugal. Depois, despediu-se e saiu para o papamóvel, numa marcha lenta que demorou largos minutos a sair do recinto. Entretanto, já a nuvem negra se tinha dissipado e brilhava o sol quente de Agosto. Pouco depois, o helicóptero que transportava o Papa de volta a Lisboa sobrevoava o santuário, despedindo-se de Fátima.
Além das palavras - e da visão em carne e osso - do Papa, o que me ficou foram as multidões, que como já disse, não eram tão grandes como as de Lisboa, e a sua grande diversidade. No geral, eram faixas etárias mais elevadas do que nas Jornadas, embora também com bastante gente mais nova. E acima de tudo, as proveniências. Viam-se muitos espanhóis, de várias regiões, como um grande grupo do País Vasco, e outros da Andaluzia, de Cuenca ou das Astúrias, e alguns até com a tradicional bandeira carlista e os dizeres "viva Cristo-Rey". Também franceses, italianos, coreanos, brasileiros, PALOPs, mexicanos e outras origens mais raras. Um grupo com a bandeira de El Salvador, por exemplo, com um cartaz e pagelas do martirizado Arcebispo Romero, já canonizado. Congoleses que procuravam o santuário, quase ao seu lado. Vietnamitas há muito radicadas nos Estados Unidos. E, surpresa das surpresas, um minúsculo grupo vindo do Irão, católicos assírios, como me disse o bispo, que ostentava uma barba que lembrava aqueles relevos de povos da Antiguidade da Ásia Menor. À margem do epicentro das jornadas, Fátima não deixou de cativar não só o Papa mas também pessoas das paragens mais improváveis que não quiseram deixar de passar ali.
Foto: Mário Cruz / Lusa
Lisboa ficou irreconhecível na semana que passou. A Jornada Mundial da Juventude - «a mais bem preparada» das quatro que este Papa testemunhou ao vivo, segundo confissão do próprio Francisco - trouxe a Portugal mais de um milhão de jovens oriundos de 151 países. Organização em larga escala e com eficácia máxima da Igreja Católica: nenhuma instituição política ou sindical está hoje em condições de mobilizar nem sequer a décima parte deste número.
Só a missa no novíssimo Parque Tejo congregou cerca de milhão e meio de crentes, enfrentando as elevadas temperaturas que se fizeram sentir na capital. Cifras históricas neste tempo que alguns, enclausurados em borbulhas divorciadas dos factos, proclamam ser de indiferença total perante as religiões.
Quem milita contra este Papa batalha por uma causa perdida. Francisco é hoje, sem dúvida, a figura mais carismática a nível mundial.
Uma espécie de anti-Guterres. O inverso da ONU, inútil como nunca.
Este pensamento acompanhou o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana
“Porque é que vais tão cedo? Disseram nas notícias que apenas começavam a cortar os acessos às sete horas”. “Talvez porque eu não acredite muito nesse tipo de informação. Tenho todo um passado de aborrecimentos com agentes da autoridade, que seguem ordens e para quem as declarações pouco valem. Está calor e não me apetece nada mesmo fazer uma caminhada forçada e de depois ter de obrigar as pernas a carregar-me durante mais oito horas. Vou cedo e com calma."
O percurso habitual encontrava-se praticamente igual, apenas riscado em quase toda a extensão por barreiras amarelo canário, mas as estradas estavam perfeitamente transitáveis e não houve qualquer impedimento, muito pelo contrário. Conseguimos fazer o trajecto diário do ponto X ao ponto Y em metade do tempo.
Imersa nos meus pensamentos, reparava pontualmente que aqui, ali e acolá, poderiam ter tido atenção à paisagem urbana. Aquela estrada de beira do Monsanto tinha mato seco e lixo. Fez lembrar aquela história da empregada que varria para debaixo do tapete, mas para pior, pois nem as barreiras amarelo canário escondiam algum desalento na paisagem daquela zona nobre da cidade.
No sítio do costume começava o engaiolar dos acessos, que, tal como previ se iniciaram mais cedo, com a chegada dos transportes que despejavam homens e mulheres de azul às catadupas, vindos de todos os pontos do país. Ainda de portas fechadas, facilitamos o acesso aos WCs, coisa parca na nossa cidade, e ao cafezinho também.
Como habitualmente, ao soar das oito estávamos prontos para enfrentar as turbas, mas não foi assim que aconteceu e sabíamos bem, espectadores activos e passivos que fomos de outras visitas de altíssimos dignitários.
Com as forças da ordem estrategicamente colocadas no tabuleiro das operações, aguardámos a chegada do Peregrino, cuja comitiva motorizada o faria passar mesmo ali à frente.
Constantemente actualizados pela barragem policial, a contagem decrescente foi acrescida de 10 minutos, mas finalmente o Peregrino chegou sorridente no seu automóvel branco, foi acenando a todos sem pressas, e dirigiu-se ao jardim que tinha montadas estruturas onde o Peregrino se sentaria para ouvir as confissões dos jovens.
Uma colega pediu para passar para “lá”. O agente, muito simpático, deixou-a ir mas não chegou longe, como seria de calcular. De qualquer modo, conseguiu gravar para a nossa memória de pessoas simples alguns momentos marcantes. Foi bonito. Foi bom.
Naquela manhã chorei. A humildade e simplicidade deste Peregrino sempre me levou à lágrimas. Recordei mais uma vez a manhã de 17 de Abril de 2016 e deixei as lágrimas correr enquanto murmurava baixinho a oração que Jesus nos ensinou.
Neste décimo dia do mês de Agosto, em que passo oficialmente a ser incluída na terceira idade, envio um grande bem haja a quem mudou a mentalidade dos católicos desiludidos, porque somos todos, todos, todos criaturas de Deus.
(Fotos minhas e da Sandra)
(créditos: Miguel A. Lopes/Pool via Reuters)
Embora educado de acordo com os seus valores, e de uma vez, estando de férias em casa de uns tios, me terem posto a ajudar à missa, da qual rapidamente me afastaram depois de ter ido, mais o outro sacristão estival, provar a vinhaça do cura, há muito que me afastei da Igreja Católica Apostólica Romana, da missa dominical e dos seus ritos.
Do clero, em geral, sempre desconfiei, até porque o meu irmão teve a infelicidade, a que eu escapei por ser mais novo e contar com a sua ajuda, de passar por um colégio interno gerido por um louco, acompanhado de outros dementes, que impunham castigos medievais, e eu próprio conheci alguns que me inspiravam tudo menos confiança.
E apesar de algumas vezes, ao longo da vida, me cruzar com um ou outro mais mundano, civilizado e bem disposto que passava lá por casa para tomar chá com a Mélita, a quem até quase ao final da adolescência, e mesmo depois, muito mais tarde e mais velho, acompanhava à missa para ela não ir sozinha, nunca gostei da "padralhada". E do Cerejeira nem é bom falar.
Todavia, não foi isso que me impediu de ir acompanhando a sua vida, de ver como muitos faziam o seu percurso opondo-se à ditadura, mantendo-se firmes na defesa dos verdadeiros valores da instituição que serviam, lutando contra e denunciando as atrocidades do colonialismo; ou de eu próprio voar para Roma mais do que uma vez, de percorrer o Vaticano, de numa ocasião ter ido a Castel Gandolfo, de continuar a entrar nos seus templos espalhados por Itália e pelo mundo, e aí me recolher para, à minha maneira, ir conversando com Ele, até porque a fé não se explica, cada um tem a sua e as pessoas não são todas iguais e dotadas de igual racionalidade.
Depois, as posições conservadoras do Papado, as ideias ultra-radicais de uns quantos padres, a forma como a Igreja se ia afastando da sociedade, protegendo bandidos ricos e ignorando pobres e desvalidos, ao mesmo tempo que através dos seus membros se envolvia em negociatas pouco recomendáveis, com mafiosos e gente estruturalmente desonesta, e o modo como muitos dos seus se comportavam, tão depressa fazendo de empreiteiros como de ladrões, antes mesmo dos sucessivos escândalos que abalaram as paredes milenares do seu edifício, do Banco Ambrosiano à pedofilia e à protecção durante anos de mentecaptos de batina e de toda a canalhada pedófila, tudo isso contribuiu para olhar para ela não com um mas com os dois pés atrás. Dali nunca vinha coisa boa. Até há pouco.
A ascensão de Francisco, a inteligência e a franqueza com que iniciou o seu caminho, a leitura que fiz da sua encíclica Laudato Si' e de outros textos, as suas sucessivas intervenções, que não se afastando daquela que será a própria lógica da Igreja imprimiram uma marca distintiva de humanidade e de uma maior aproximação ao mundo real e aos problemas do quotidiano, tentando mudar por dentro, firmemente, contra toda a resistência de muitos no seu interior, fizeram-me olhar para ele, enquanto Papa e ocupante do trono de S. Pedro, com outros olhos.
Verdade seja dita que de alguém que tomou o nome de Francisco pelas razões que logo nos deu a saber, que jogou futebol e gosta de futebol, que se apaixonou e namorou na juventude antes de fazer a sua escolha, que é capaz de apreciar os pequenos prazeres desta vida, e de olhar para os outros como se nunca tivesse saído do mundo, já faziam dele um tipo diferente.
Mas ver como foi capaz de reaproximar a Igreja das pessoas, de que a JMJ de Lisboa constitui inequívoco exemplo, de compreendê-las, de se envolver com todos, devolvendo fraternidade, candura e ternura de onde estas se tinham eclipsado, despojando-se de muita da pompa e da ostentação cultivada pelos seus antecessores, mostrando ao seu rebanho e aos outros, dos mais crentes aos menos crentes, aos agnósticos e aos ateus, que nem tudo está perdido e que há um caminho comum a percorrer com todos, incluindo com os que não acreditam e com os seguidores de outros credos, para a construção de um mundo melhor, mais justo, mais equilibrado, mais verde e mais inclusivo, fazem dele um homem diferente.
Acompanhando à distância a visita de Francisco – e também alguns excessos do Estado laico e dos seus representantes de ocasião –, vi, não obstante as suas limitações físicas e o natural cansaço, próprios de uma pessoa adoentada e com a sua idade, o seu empenho em chegar a todos, em dar uma imagem diferente da Igreja, em deixar o exemplo, em lançar uma semente que possa frutificar saudável. Como vi a sua aposta num diálogo franco e aberto, sem que isso o obrigue a mudar de convicções, de valores ou de princípios.
Não creio, ainda que quisesse acreditar, que alguma vez mudarei a minha relação com a Igreja e o clero, ou a forma como olho para Deus. Todo o sofrimento que vi, e o que ao longo da vida fui obrigado a acompanhar, não me permitem pensar de outra maneira. Porque há sofrimentos absolutamente inexplicáveis, injustiças inauditas e crimes que nenhum Deus poderoso, se existisse, no seu perfeito juízo permitiria. E não me venham com as vossas justificações, poupem-me à estupidez.
Não obstante, do homem que por momentos está como Papa, daquele que diz, e repete, que a Igreja é de todos – embora eu ainda não consiga alcançar que Igreja será essa, nem quando será de todos –, e que diz aos fiéis que "sejam surfistas do amor", linguagem que sou capaz de entender, só posso dizer que não existe. Este Papa não existe.
Francisco sim. E este parece-me ser, com todos os seus defeitos, nos dias que correm, um tipo absolutamente excepcional.
Quem sabe se por isso, por uma vez, não deverei dar graças a Deus?
«O "todos, todos, todos" gritado por meio milhão de pessoas no Parque Eduardo VII é uma imagem que ficará comigo. Há quem considere isto falta de critério. E, de facto, é. Jesus não tinha qualquer espécie de critério quanto ao amor ao próximo. Está escrito: quem deves amar? Toda a gente. Incluindo quem te esbofeteia. É uma proposta excessiva e humanamente inatingível? Sim, mas o essencial não é atingi-la - é deixarmo-nos guiar por ela. É esforçarmo-nos por colocar o perdão, em vez da vingança, no centro das nossas vidas.
Francisco arrasta multidões, em parte porque são fortíssimas as ressonâncias evangélicas das suas palavras. Depois, claro, há os católicos em geral a quem Francisco muito irrita, e que invadem eucaristias direccionadas para a comunidade LGBT. Estamos tão habituados a uma Igreja prescritiva, que quando alguém diz, como ele, que "o Senhor não aponta o dedo, abre os braços", há logo quem pense que Francisco está a "facilitar". Mas não há nada de fácil nisso. Deixar os imperfeitos à porta é muito mais cómodo do que os acolher em casa.»
João Miguel Tavares, no Público
«Se Deus te chama pelo nome, não és um número.»
Papa Francisco aos peregrinos da JMJ, quinta-feira, no Parque Eduardo VII
Em Macau e em Hong Kong ainda não se aperceberam disso. Conseguem ter as crises, beber a água destilada e ainda enriquecer com ela.
Mas tirando isso, está tudo muito certo, Francisco, com excepção de um único ponto a favor da dita: a água destilada é fundamental para manter os charutos em bom estado.
Sem água destilada nos humidificadores aquilo fica tudo seco. Nem a benta os salva.
E aí sim, é o caos.
Este ano, rompendo um hábito antigo, farei férias em Agosto. Quero fugir de Lisboa - já hoje quase intransitável - na altura da grande enchente que se anuncia com a Jornada Mundial da Juventude.
Procuro o mesmo hotel onde fiquei no Verão passado, à beira-mar, a cerca de 40 km da capital. Com entrada a 29 de Julho.
Ainda há vagas. Mas pedem-me um preço absurdo: cerca do dobro do que paguei em 2022. «Efeito da inflação?», pergunto na recepção, com óbvia ironia.
«Não, é por causa do Papa.»
Questiono-me se Francisco fará ideia desta obscena espiral especulativa praticada em nome dele, que tantos exemplos de frugalidade e desprendimento material nos tem dado. É óbvio que não.
Alarguei o perímetro: vou distanciar-me ainda mais de Lisboa. A preços do ano passado, também junto ao mar. Já feita a reserva. Fico a ganhar com a troca.
15 de Março de 2013, voto parlamentar:
«A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, saúda o Estado do Vaticano, a Igreja Católica e todos os que professam a sua fé, pela eleição do novo Sumo Pontífice.»
O PCP recusou votar a favor.
28 de Fevereiro de 2014, voto parlamentar:
«Pela primeira vez, a ONU denunciou crimes contra a humanidade a serem cometidos contra o povo norte-coreano, numa demonstração preocupante e denunciadora da intolerância, da repressão, do ódio e do clima de terror empregues pelo regime de Pyongyang.
A actuação da Coreia do Norte constitui, evidentemente, uma ameaça séria à paz nos limites das suas próprias fronteiras, como representa uma ameaça à segurança regional e internacional. E, por isso, deve merecer uma condenação firme e consensual da comunidade internacional.
Portugal e os povos da Europa têm na tolerância um valor de referência. A demonstração do repúdio e condenação por actos premeditados contra a segurança, a liberdade, a integridade e a dignidade humanas é um imperativo moral constitutivo ou integrante da democracia.
Assim, a Assembleia da República associa-se à Organização das Nações Unidas na condenação dos crimes cometidos pelo regime norte-coreano contra o seu próprio povo e lamenta as vidas perdidas às mãos de um regime autocrático e repressivo.»
O PCP votou contra.
Faz amanhã dez anos, ao fim da tarde, Jorge Mario Bergoglio surgia no balcão da Basílica de São Pedro: o sucessor de Bento XVI era apresentado ao mundo. Escolheu Francisco como nome oficial de dirigente supremo da Igreja Católica e Chefe do Estado do Vaticano. Simplesmente Francisco, sem numeração romana - deixando antever que não haverá outro com o mesmo nome depois dele. Em homenagem explícita a São Francisco de Assis, apesar de ser jesuíta.
Foi o primeiro Papa não-europeu em 1200 anos. Oriundo do continente americano - concretamente da Argentina, onde anteriormente se distinguira como cardeal de Buenos Aires. Nascido numa família de imigrantes italianos, iguais a tantas outras que demandaram aquele país para fugirem à pobreza ancestral da terra-mãe.
Assomou ao balcão, onde uma multidão estava reunida a aplaudi-lo e vitoriá-lo. De braços caídos e um ar algo perplexo, como se ainda mal estivesse refeito do peso que lhe caíra em cima após a já histórica renúncia do antecessor, impensável num Papa dos tempos modernos.
Esteve uns momentos em silêncio, contemplando aquele vasto grupo de fiéis. Depois vimos-lhe o rosto a abrir-se num sorriso largo. Disse de si próprio ser alguém que «vinha de longe», como qualquer peregrino. E pediu, com inesperada humildade, que rezassem por ele. Que todos rezássemos por ele, em qualquer recanto do planeta.
Nascia ali o Francisco «pároco do mundo», como o designou a revista italiana Panorama numa feliz síntese do que tem sido o seu pontificado. Procurando seguir à letra, na sua acção pastoral, as palavras de Cristo no Sermão da Montanha: «Bem-aventurados os construtores da paz.» E as que ecoam há dois mil anos no Evangelho de Marcos: «Quem quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos.»
Quem não vive para servir, não serve para viver, como declarou em 2015 na visita pastoral a Cuba.
O mesmo Papa que Fátima já recebeu em 2017 e Lisboa se prepara para receber, de novo como peregrino, na Jornada Mundial da Juventude.
O mesmo Francisco que em Março de 2013 viu seis deputados do PS - Pedro Delgado Alves, Isabel Moreira, Elza Pais, Miguel Coelho, António Serrano e Mário Ruivo - juntarem-se a comunistas e bloquistas na recusa de um voto parlamentar pela sua eleição. Comprovando que o sectarismo e o extremismo podem irromper em qualquer bancada.
Trinta deputados no total - alguns revelando mais intolerância pelo representante máximo da religião com maior número de fiéis no globo do que pelo ditador da Coreia do Norte.
E o que dizia esse voto supostamente tão controverso? Apenas isto: «A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, saúda o Estado do Vaticano, a Igreja Católica e todos os que professam a sua fé, pela eleição do novo Sumo Pontífice.»
«Mesmo para uma Europa desenvolvida e laica, o Papa Francisco é mais inspirador do que qualquer líder europeu», observou Teresa de Sousa no Público, naquele Março de 2013. Quando já era evidente o carisma de Bergoglio - evidente nos seus gestos despojados, no seu discurso claro, na sua capacidade de aproximação à pessoa mais comum. Dizendo que não há cristianismo sem comunidade, tal como não há paz sem fraternidade.
Com a força inequívoca do seu exemplo, digno de um genuíno discípulo de Jesus, Francisco inspirou e mobilizou crentes de todos os quadrantes geográficos nesta década do seu pontificado. E até muita gente que não partilha da sua fé.
«Sono semplicemente un pellegrino che inizia l'ultima tappa del suo pellegrinaggio in questa terra.»
Castelgandolfo, 28.2.2013
Hoje é O Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
"Quando somos capazes de superar o individualismo pode realmente desenvolver-se um estilo de vida alternativo e torna-se possível uma mudança relevante na sociedade."
Papa Francisco, Laudato si’, 208
Celebra-se hoje o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, instituido pelo Papa Francisco para a Igreja Católica, e que passará a realizar-se anualmente no dia 1 de Setembro, data em que já era comemorado pela Igreja Ortodoxa. Para o Papa, este dia vai oferecer aos fiéis e às comunidades a oportunidade de «renovarem a adesão pessoal à vocação de protectores da criação».
Se "o que Deus uniu, o homem não deve separar", o que Deus criou o homem não deve estragar. O Santo Padre deveria também ser mais específico quanto ao que considera "um estilo de vida alternativo", porque bem vistas as coisas um estilo de vida alternativo poderá ter estado na base de muitos males que minam as sociedades modernas.
No dia 1 de Setembro assinala-se O Dia Nacional das Bandas Filarmónicas
"Esta data foi instituída em 2013, por iniciativa do então secretário de Estado da Cultura, em reconhecimento da importância do trabalho desenvolvido pelas bandas filarmónicas em prol das comunidades e da formação musical.
Tendo em vista o conhecimento e estudo de documentação musical das bandas filarmónicas portuguesas, o Museu Nacional da Música tem a funcionar na sua dependência um Núcleo Documental de Partituras, instalado no Auditório Municipal Beatriz Costa, em Mafra."
Sempre que havia banda no coreto da vila, era uma festa no Pico. Quando me casei ainda era assim, as festas eram divertidas, vinham as famílias, tocava a banda, dançava o rancho... depois, não sei porquê, talvez porque as crianças abraçaram novos interesses, os músicos e os dançarinos envelheceram e essas actividades pararam quase por completo. Felizmente há tradições que não morrem e pessoas que lutam por mantê-las, porque afinal integram a nossa identidade como povo. É de louvar o trabalho que tem sido feito nesse sentido por esse país fora.
(Imagens Google)
No dia 29 de Junho celebra-se O Dia de S. Pedro/O Dia do Papa
"Tal como São João e Santo António, São Pedro é um santo popular muito estimado. É o último santo popular do ano, de acordo com as datas.
Este dia é também conhecido como o dia de São Pedro e São Paulo. Julga-se que 29 de Junho é a data do aniversário da morte destes santos. Neste dia assinala-se também o Dia do Papa, visto São Pedro ter sido o primeiro Papa. Para diferenciar São Pedro de santos homónimos, costuma-se designá-lo como São Pedro Apóstolo. Nasceu em Betsaida, na Galileia, e era pescador. Conheceu Jesus em Betânia, através do seu irmão André. Chamava-se Simão, mas Jesus chamou-lhe Cefas (Rocha, do grego petros), cuja tradução é Pedro, e o instituiu como líder da Igreja: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.” (Mt, 16:18)
O Papa tem o poder de disseminar entre todos os membros do clero e pelos milhões de católicos a palavra de Deus. Acredita-se que a palavra Papa provém do latim Papa e do grego Pappas, termo carinhoso para pai. O 266.º Papa é Francisco, com nome de baptismo Jorge Mario Bergoglio, natural de Buenos Aires. Sucedeu em 2013 a Bento XVI, que abdicou ao papado."
Admiro o Papa Francisco tanto ou mais do que admirava o Para João Paulo II, cuja canonização creio ser um profundo disparate. Era um homem do seu tempo, fez o que pôde para reerguer a igreja católica. Fez bastante, mas não removeu as raízes podres. Essa tarefa tem sido conseguida devagar e com bom senso pelo Papa Francisco, tomando publicamente posições perigosas para a hierarquia do Vaticano. Dois grandes homens. Nenhum deles fez milagres. Nenhum deles é santo.
A 29 Junho assinala-se O Dia Internacional dos Trópicos
"Esta data procura realçar a importância que os trópicos representam para os ecossistemas e para vida humana.
Localizada entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio, ocupa 40% da superfície total da Terra e é responsável por 80% da biodiversidade no mundo. No entanto, é confrontada por alterações climáticas diversas: desflorestação, exploração madeireira, urbanização e pressão demográfica.
O Dia Internacional dos Trópicos foi proclamado pela ONU em 2016."
Não gostava de morar num país tropical. Ponto.
Passar uns dias, visitar família, ver a beleza natural, conhecer a história, apreciar a comida, não beber água sem ser engarrafada. O calor destrói qualquer perspectiva de fantasia paradisíaca. A água, estar dentro de água, sempre, torna-se o único objectivo depois de meia dúzia de dias a derreter. Destinos de férias para fazer apenas praia não me seduzem.
Hoje é O Dia Internacional da Lama
"O objectivo deste dia é ligar as crianças de todo o mundo pela terra, através de brincadeiras na lama. É um dia de celebração na natureza, de libertar as crianças existentes em todos os homens e mulheres e de sujar as mãos e os pés, juntamente com outras pessoas.
Ao contrário do que se pensa, em vez de viver num ambiente estável (o que torna o corpo vulnerável), entrar em contacto com a lama e com algumas bactérias traz vantagens, já que ajuda a desenvolver o sistema imunológico.
A origem do Dia Internacional da Lama remonta a 2009, num evento do World Forum, em que surgiu a ideia de unir as crianças do mundo através da própria terra. Desde então todos os anos se celebra a data a 29 de Junho, com participantes de todas as idades, raças e religiões, provando que somos iguais (sobretudo quando cobertos com lama)."
Unir as crianças de todo o mundo através da terra parece-me uma ideia de valor. Poderíamos ensiná-las a plantar a cuidar e a colher, por exemplo. Nem toda a gente tem hortas, claro, mas todos a gente pode arranjar um vaso e plantar morangos, tomates, feijões, etc., algo que entusiasme as crianças em seguir o seu crescimento. Lama. É engraçado fazer uma batalha de lama, mas apenas as empresas de detergentes agradecem a sujidade.
No dia 29 de Junho assinala-se O Dia Internacional da Esclerodermia
"A doença ainda não tem cura, é de difícil diagnóstico – e muitas vezes silenciosa. A esclerodermia é doença autoimune multissistémica (ataca diversos órgãos ao mesmo tempo) que ao evoluir provoca inflamações crónicas, acometimento da pele, órgãos internos, enrijecimento das articulações e atinge quatro vezes mais mulheres na fase adulta do que os homens – embora possa manifestar-se em crianças.
Caracterizada pela produção excessiva de colágeno nos tecidos do corpo, esta doença é autoimune – o organismo ataca-se a si mesmo. São diversos os tipos e sintomas, o que dificulta a identificação numa fase inicial. Além de exames laboratoriais, a avaliação clínica especializada é de extrema importância para um diagnóstico assertivo e tratamento imediato."
As doenças autoimunes raramente são curáveis. Muitas podem não ser mortais a curto prazo, mas são dolorosas e extremamente incapacitantes.
É o caso desta, com o Papa exibindo uma bandeira da Ucrânia. A foto fala por si.
Papa Francisco (6 de Março)
O ye, of little faith
É a fé que nos salva, diziam na catequese.
Pode ser verdade. Não sou crente, mas acredito. Tenho fé. Sim, tenho a minha fé.
Nos chamados lugares sagrados, sempre me senti consciente da minha pequenez. Falta-me sempre o peito para tanto coração e caio amiúde num pranto que não sei explicar, apenas sei sentir.
É assim em Fátima, no Bom Jesus, em Lamego. Foi assim em Santiago de Compostela, em Lourdes ou em Roma.
Sempre defendi que somos o fruto das nossas escolhas e não acredito em predestinação, mas vezes há em que tudo se conjuga para que o acaso se transmute num acontecimento único.
Aconteceu tantas vezes.
Em Roma, por exemplo.
Fomos cedo para a Praça de S. Pedro. Nove da manhã ou talvez nem tanto, para evitar o mundo que se adivinhava. Trinta ou quarenta minutos depois, entrámos na basílica. Estranhámos pedirem-nos para revistar as mochilas à entrada. Já tínhamos passado por todo esse processo à chegada à praça, entre as colunas. Muita Guarda Suíça e provavelmente muitos mais à paisana. Um deles disse-nos que podíamos ficar ou sair, mas não poderíamos voltar a entrar. Decidimos ficar. Era o dia do aniversário do meu marido e tínhamos um almoço especial nos planos, mas ficámos. Simpático, deu-nos um livrinho com o programa e os cânticos.
A missa de ordenação de novos padres começou e o Papa Francisco entrou com todo o séquito papal. Estava ali, mesmo ali, quase à distância de um braço. Chegados ao altar-mor, começaram a celebração que durou quase três horas.
Chorei grande parte do tempo. No restante, cantei os cânticos com toda a emoção que uma estranha sensação de felicidade redescoberta me permitiu.
Quando terminou e deixaram entrar a mole humana que aguardava, sentimo-nos sozinhos e sentámo-nos cá fora a chorar.
A emoção da fé envolveu-nos e embalou-nos naqueles momentos de puro fascínio.
E a praça cá fora transbordava de gente unida pela mesma fé.
Foi uma emoção extraordinária.
A 15 de Maio de 1982, depois de ter visitado o Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, em Braga, o papa João Paulo II viajou de helicóptero até ao Porto, onde presidiu a uma missa celebrada junto à Câmara Municipal, na Avenida dos Aliados.
Esta é a versão oficial. Na verdade, o helicóptero que transportava Sua Santidade não aterrou no Porto. Aterrou em Vila Nova de Gaia. Mais precisamente, no Quartel do Regimento de Artilharia Nº 5 do Exército Português, a cerca de duzentos metros do apartamento onde eu morava com os meus pais e o meu irmão.
Imagem Open House Porto
É conhecida a imagem da igreja e do antigo mosteiro (hoje quartel) da Serra do Pilar, no alto do morro sobranceiro ao rio Douro, de onde se tem uma das melhores vistas sobre a ponte de D. Luís, a cidade velha do Porto e a Ribeira (porto medieval). À altura da visita de João Paulo II, o lanço do muro do Regimento de Artilharia Nº 5 que dá para a Rampa do Infante Santo estava ainda marcado por vários círculos vermelhos pintados à volta das marcas das balas disparadas a mando do brigadeiro Pires Veloso, em Outubro de 1975, contra os SUV, que controlavam o RASP (abreviatura pela qual era conhecido o Quartel da Serra do Pilar, nessa altura). Durante horas, ouvimos, de nossa casa, as descargas de G3 e da restante artilharia pesada. Mas isto será assunto para outro postal.
Entrada do Quartel da Serra do Pilar, na Rua Rodrigues de Freitas, © 2011 Horst Neumann
A 15 de Maio de 1982, as euforias não eram revolucionárias. Depois de ter aterrado no Quartel da Serra do Pilar, João Paulo II transferiu-se para um descapotável. Desceu a Rua Rodrigues de Freitas e, chegado à Avenida da República, virou à direita, em direcção à ponte D. Luís. Por trás das grades de segurança, milhares de pessoas ladeavam o lanço final da avenida que conduz à ponte. Eu fazia parte dessa turba, juntamente com duas amigas. Tínhamos entre dezasseis e dezassete anos.
João Paulo surgiu, finalmente, a acenar à multidão. Quando passou por nós, algo insólito aconteceu: o solidéu voou-lhe da cabeça e aterrou no meio da avenida. Fiquei especada a olhar para o adereço papal, nem sequer me estiquei para seguir o carro até ele desaparecer de vista. Passada a comitiva, lá jazia o solidéu, ninguém lhe parecia ligar. E atingiu-me uma grande vontade de o ir buscar, esgueirando-me por entre as grades. Mas hesitei, as forças policiais vigiavam a multidão que começava a dispersar.
Custava-me, porém, sair dali sem me apossar da relíquia (e mal sabia eu que João Paulo II seria canonizado vinte e três anos mais tarde). Informei as duas amigas das minhas intenções, em busca de solidariedade. Sempre era diferente irmos as três buscar o solidéu, do que uma sozinha. Mas elas alegaram que seríamos admoestadas pela polícia. Repliquei que nenhum dos polícias parecia reparar na peça caída no meio da rua, encontravam-se de costas para ela, concentrados na multidão. Mas as duas mantiveram-se firmes. Se alguém tentasse passar as barreiras de segurança, eles com certeza actuariam.
Fiquei numa hesitação entre o ir e não ir. E o receio, aliado à falta de apoio, acabou por vencer.
Não nego que tivesse sido a melhor decisão. Mas ainda hoje encaro a possibilidade de ter sido bem sucedida, pelo que estaria na posse de uma verdadeira relíquia.
Quem terá ficado com o precioso objecto? Terá sido devolvido ao papa?
Uma coisa é certa: até sairmos dali, o solidéu permaneceu caído no meio da avenida.
Solidéu papal - imagem Wikipedia
Chegou ao fim uma das mais delicadas e perigosas, mas também uma das mais significativas, viagens pastorais do Papa. Entre a pandemia e as bombas que o infeliz país tem sofrido há vários anos, a viagem ao Iraque parece ter corrido muito bem e permitiu cumprir vários objectivos, como o encontro com o Ayatollah Sistani, a grande autoridade xiita do Iraque, as vítimas do Daesh e as celebrações com as tão massacradas (e antiquíssimas) igrejas da Mesopotâmia, e são tantas, apesar dos fiéis mingarem por causa das perseguições e da violência.