De repente, palavras claras, genuínas e consagradas da nossa bela língua portuguesa parecem ter desaparecido do mapa.
Já mencionei noutro lado o ominipresente colocar, que por influência brasileira mandou borda fora o mais simples e directo verbo pôr. Como se estivesse amaldiçoado.
Uma praga também denunciada pelo escritor e linguista Manuel Monteiro no seu livro O Mundo Pelos Olhos da Língua (Objectiva, 2022), aqui recomendado. Em que reproduz várias frases que se tornaram ridículas desde que esta absurda tendência foi sendo imposta:
- «Não colocar os pés, obrigado.»
- «Colocaram as nossas vidas em perigo.»
- «As pessoas que comem peixe grelhado e depois colocam dois litros de azeite.»
- «Secretário-geral da ONU apela a Putin para colocar fim à invasão.»
- «Presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia coloca água na fervura.»
Enfim, um modismo que redundou num monumental disparate. Sucedem-se as frases abstrusas com este verbo em regime de monopólio. Debitadas até por forças políticas que se proclamam antimonopolistas.
Outros verbos que parecem cada vez mais fora de uso são começar ou iniciar. Substituídos ambos pelo feio e ambíguo arrancar. Este, agora, serve para tudo.
Ainda ontem ouvi, num noticiário da SIC: «A equipa minhota somou 1-0 e arrancou o campeonato com três pontos.»
Dois erros nesta frase. O primeiro, a utilização do verbo somar numa vitória futebolística de um-a-zero. O segundo, mais grave: este descabelado abuso do arrancar (que, não esqueçamos, significa puxar, partir, fugir, sair, extrair, colher, extirpar, remover, desenraizar, guilhotinar) como sinónimo exclusivo de começar.
Será atracção pelo erre dobrado?
Ignoro. Mas não tenho a menor dúvida em concluir que estamos perante mais um disparate generalizado.
Cada ignorante copia o outro - e o resultado é este.