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Delito de Opinião

Momento patético de televisão

Pedro Correia, 18.06.23

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Pacheco Pereira, dizem, é historiador. Presume-se que um historiador seja rigoroso. Tudo ao contrário - lamento dizê-lo - do que foi a intervenção dele faz hoje oito dias, no programa de comentário político O Princípio da Incerteza, na CNN Portugal.

Falava-se nos cartazes exibidos na manifestação de protesto dos professores, no 10 de Junho, que visavam o primeiro-ministro e o ministro da Educação. Pacheco, cada vez mais próximo do Governo, considerou tratar-se de algo «praticamente obsceno», num acto de protesto «sem ponta por onde se pegue». E concluiu, severo e categórico: «Aquilo é de facto racista!» Ignoro se dizia o mesmo quando Passos Coelho, então primeiro-ministro, era recebido em sessões públicas com coelhos enforcados.

Sobre a autoria, que considerou anónima, também não vacilou: «Isto não é a Fenprof, isto é STOP. E Chega! Porque o Chega tem também um papel nas manifestações dos professores. No meio desta onda de radicalização, por estranho que pareça, as estruturas sindicais [da CGTP] e o PCP são dos menos imunes a essa radicalização completamente perigosa para a nossa democracia.»

É assim que se lançam os boatos. É assim que se espalha desinformação.

 

Sucede que os cartazes que mostravam uma caricatura grosseira e de mau gosto do primeiro-ministro não surgiram só no 10 de Junho: há muito que eram exibidos em manifestações de professores promovidas pela Fenprof.

Sucede também que não têm autor anónimo. Está identificado, deu entrevistas a vários órgãos de informação. Pertence não ao STOP, certamente não ao Chega. É um docente filiado - imagine-se - no Sindicato dos Professores da Zona Sul, da Fenprof. Contrariando em toda a linha a tese conspirativa desenvolvida na CNNP por Pacheco Pereira. Que devia pedir desculpa pelos vários erros, involuntários ou deliberados, que levou à antena no domingo passado.

Mas quem tiver essa ilusão é melhor aguardar sentado.

 

No mesmo programa, espantosamente, o presumível historiador fez o seguinte apelo após dizer o pior possível das tais caricaturas que ele considera racistas: «Eu gostava de ter um cartaz para a colecção da Ephemera. Agora não vão queimá-los e deitá-los todos fora! Guardem pelo menos um.»

Momento patético de televisão. 

O que diz Alexandra Leitão

Pedro Correia, 21.03.23

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Parecem frases de alguém da oposição, mas foram proferidas por uma deputada socialista: Alexandra Leitão. Anteontem, domingo à noite, naquele programa de debate da CNN Portugal onde também surge José Pacheco Pereira, incapaz de esboçar uma criticazinha que seja ao seu amigo António Costa. Ele lá saberá porquê.

 

O que diz Alexandra Leitão?

Isto:

«O que temos claramente é uma situação em que quem parece contribuir para a inflação é quem compra. Ou seja, aqueles que vivem essencialmente do seu trabalho e estão há muitos meses a perder poder real de compra.»

«O que me preocupa é estarmos numa situação em que os preços da alimentação continuam a crescer a um ritmo muito superior à inflação média. As pessoas sentem cada vez mais necessidade em adquirir [apenas] o cabaz básico. Os salários em Portugal cresceram só 1,1% no último trimestre, isto significa que temos hoje menos justiça social do que há um ano.»

«Se há mais arrecadação fiscal, se também pelo lado da oferta o Estado tem vantagens com este aumento da inflação, então os salários deviam começar a aumentar.»

 

Felizmente há vozes lúcidas no PS. Esta é uma delas.

Anntónio Costa deve detestar ouvi-la. Mais um motivo para eu a apreciar.

Tu não viste nada em Mariúpol

Pedro Correia, 22.03.22

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Imaginem que na semana do criminoso bombardeamento de Guernica, em Abril de 1937, um comentador na imprensa, supostamente antinazista e antifranquista, perorava numa coluna de jornal não sobre aquele facto chocante, inapelável, inaceitável, mas sobre assuntos laterais. 

Foi o que aconteceu com Pacheco Pereira, no Público, em prosa cheia de contracurvas e contorcionismos a pretexto da agressão russa à Ucrânia. 

Na semana em que Mariúpol foi notícia pelos piores motivos, quantas linhas dedicou o consagrado historiador à cidade mártir na página que o jornal coloca à sua disposição todos os sábados? Zero.

Fala de Gaza, da Bósnia, da Líbia, da Somália, da cobertura jornalística das operações russas em território ucraniano, das redes sociais, das audiências televisivas.

Debita banalidades do género «uma guerra é um tema emocionalmente forte» e «numa democracia as emoções têm um papel decisivo e tudo as favorece». 

Mas, de Mariúpol, nem uma linha.

Imaginem um colunista da imprensa a escrever sobre a guerra civil espanhola em Abril de 1937 omitindo Guernica.

Como se nada soubesse de Guernica, como se Guernica nunca tivesse existido.

 

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Leitura recomendada: 20 days in Mariupol: The team that documented city's agony, na Associated Press.

Pacheco, «entãosista» militante

Pedro Correia, 15.03.22

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Exemplo supremo de whataboutism - neologismo americano que já vi traduzido em português para entãosismo - foi a lamentável intervenção de José Pacheco Pereira domingo à noite, na CNNP - que ontem mencionei num postal reproduzindo vários trechos do seu fio argumentativo.

 

Confrontado perante a invasão russa da Ucrânia, Pacheco ilude o essencial da questão: estamos perante a maior agressão à livre autonomia de um Estado soberano por outro na Europa desde a II Guerra Mundial. Ao ponto de em três semanas ter provocado 2,8 milhões de refugiados agora em trânsito no continente, fugindo do seu país fustigado por bombardeamentos letais.

A União Europeia prevê que o número total de desalojados das suas habitações em solo ucraniano ascenda em breve aos sete milhões

 

O antigo eurodeputado do PSD, com manifesta relutância em debater o tema, usa um dos seus habituais truques retóricos: introduz outros na discussão, relativizando a invasão russa numa amálgama de agressões registadas noutros momentos, noutros contextos e noutras latitudes.

Foge ao concreto para se abrigar no abstracto.

Sem condenar em termos inequívocos a acção criminosa de Moscovo nem o comportamento do ditador Putin, ocorrido quando a Rússia presidia ao Conselho de Segurança da ONU - o que confere gravidade acrescida à agressão em curso.

De caminho, aproveita para polvilhar esta logorreia com condimentos racialistas, descendo ao patamar de um Mamadou Ba, na enésima variação à «culpa do homem branco», causa de todos os males do mundo. Insinuando que, no essencial, agimos por impulsos racistas.

Eis, literalmente, uma forma de ver o mundo a preto e branco. Ignorando que o caucasiano louro, neste filme de terror, é o déspota do Kremlin - não o judeu Zelenski, Presidente da Ucrânia.

 

Noutros tempos, Pacheco já foi um pensador estimulante. Agora limita-se a papaguear os últimos chavões em voga da correcção política.

Ao invés, por exemplo, do escritor espanhol Javier Marías, que em recente entrevista ao Corriere della Sera - sem nunca vacilar nas críticas a Moscovo nem usar expressões ambíguas sobre Putin - contesta o «excessivo sentimento de culpa dos ocidentais», bem visível por estes dias.

 

Em vez de louvar a admirável mobilização europeia em socorro aos ucranianos em fuga, o antigo presidente do grupo parlamentar do PSD vem fustigar a Europa ocidental, de látego em punho. E nem hesita em lançar insinuações torpes, ao dizer que damos-lhes «muita roupa estragada», enquanto ignoramos iemenitas e sudaneses devido à pigmentação da pele. Ignorando que a gigantesca solidariedade europeia com sírios, iraquianos e afegãos em 2015 - levou só a Alemanha a receber mais de um milhão de refugiados, grande parte dos quais já integrados na sociedade.

Outros países, como Portugal, fizeram o que lhes cabia.

Basta recordar a vasta mobilização nacional de 1999 por Timor-Leste que muito contribuiu para o fim da ocupação indonésia e posterior independência do território no Pacífico Sul - enquanto ele, Pacheco, apregoava a realpolitik perante Jacarta.

Tanto quanto sei, os timorenses não se distinguem por ter pele clara nem olhos azuis.

 

O racialismo brandido por Pacheco não tem o menor cabimento aqui.

Há multidões de louros entre os agressores e os agredidos - o relativismo moral da sua tese entra em colisão frontal com os factos. Enquanto ilude outra evidência: nos movimentos migratórios que sacudiram a Europa desde 2015, nunca a Rússia foi porto de asilo. As populações em fuga - fluxos imensos de Leste para Ocidente - sabem que Putin, responsável pelas carnificinas de Grozni e Alepo - jamais lhes daria abrigo.

Aliás a Rússia é hoje um país de onde se foge, não um país que se procura.

 

Além disso, convém sublinhar outro facto: existem cerca de 45 mil ucranianos residentes em Portugal, formando a segunda maior comunidade estrangeira entre nós, apenas superada pelos brasileiros. Estão integrados, falam a nossa língua, muitos deles radicaram-se há duas décadas e já têm filhos aqui nascidos.

Alguém se espanta por isto nos mobilizar ainda mais a seu favor? 

 

Outra recomendação de Pacheco: «Temos de moderar pela discussão racional, na comunicação social, muitos aspectos do nosso olhar.»

Curioso: ele pratica agora a tese, sabe-se lá porquê, mas esqueceu-se dela em diversas circunstâncias.

Em 2017, por exemplo, quando advogava com denodo a independência unilateral da Catalunha, entre acusações vibrantes ao Estado espanhol. Pródigo em adjectivos de magna ressonância, como democracia e liberdade, que não aplica na Ucrânia.

Chegou a clamar contra um hipotético cenário de Barcelona «sob ocupação militar» e até já imaginava «presos políticos» na libérrima Espanha que ousou comparar à feroz repressão chinesa em Hong Kong - noutro exemplo do despudorado whataboutism que tanto pratica.

Sem sombra de racionalidade.

 

«Os catalães mereciam mais dos portugueses» , escrevia ele em 23 de Setembro desse ano.

E os ucranianos, hoje oprimidos pela bota russa, não merecem mais dele?

Pacheco Pereira, Putin e a Ucrânia

Pedro Correia, 14.03.22

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Bombardeamentos? Ocorrem em vários sítios.

«Se estes refugiados ucranianos, que são brancos, fossem negros ou muçulmanos, nada do que está a acontecer acontecia. Bombardeamentos de cidades ocorreram no Iémene, ocorreram na Líbia, ocorreram no Sudão, ocorreram... aa... aa... na... no sul do Sudão, no Darfur. Ocorreram em vários sítios... na Faixa de Gaza. Há bombardeamentos sobre cidades e há, em muitos casos, centenas de refugiados, só que têm a cor errada.»

 

Ucrânia e Etiópia: não há diferença.

«Sírios, etíopes, sudaneses, iemenitas e muitas outras pessoas com a cor errada e com a religião errada não tiveram um centésimo da disponibilidade. E no entanto a sua tragédia não é diferente em muitos casos.»

 

O «problema ético» não é de Putin: é nosso.

«Se a nossa solidariedade em relação às vítimas de um conflito é grande para os europeus mas ao mesmo tempo é pequena para aqueles que não são nossos... não têm a nossa cor nem a nossa religião, nós temos um problema ético e moral de fundo.»

 

A invasão da Ucrânia é «um conflito».

«Nós não olhamos para os ucranianos como olhamos para os sudaneses ou para os somalis. Não olhamos da mesma maneira. Isso é uma reflexão que temos de fazer enquanto europeus: é fácil a solidariedade com alguém que é igual a nós; é difícil a solidariedade, nos mesmos termos e com uma dimensão apropriada em relação aos conflitos, com alguém que não é igual a nós.»

 

Guerra? «Moderemos o nosso olhar.»

«Temos de moderar pela discussão racional, na comunicação social, muitos aspectos do nosso olhar.»

 

Nós damos-lhes «roupa estragada».

«Uma coisa é dar roupa - aliás, muita roupa estragada, quem conheça sabe que há muita coisa estragada, há uma atitude de lavagem da consciência que eu acho que nós devíamos discutir para olhar com seriedade para estes processos. Isto significa também olharmos para nós próprios, para as nossas pessoas com dificuldades, para as nossas pessoas que vivem em situação de miséria e para aqueles que são nossos irmãos mas que têm a cor errada e a religião errada.»

 

«É preciso ter cuidado» com... a Ucrânia.

«Havia coisas que nós devíamos saber mais. Qual é o governo da Ucrânia? Que partidos estão no governo da Ucrânia? Como é que lá chegaram? Uma coisa é defender um país que está a ser invadido... aa... a sua soberania, a sua liberdade no sentido pleno. Outra coisa... é preciso ter cuidado com essa coisa da democracia versus autocracia porque não é liquído que seja assim.»

 

Excertos de uma intervenção de Pacheco Pereira, ontem à noite, na CNNP. Sem uma crítica a Vladimir Putin nem à violenta agressão da Rússia à Ucrânia, que dura há 18 dias.

Sentenças de Maniqueu

Pedro Correia, 11.02.22

Hieronymus Bosch - Wrath detail from the Table of

"A Ira" - fragmento d' Os Sete Pecados Mortais, de Hieronymus Bosch

 

No primeiro artigo que escreveu no Público desde a derrota do PSD - a segunda sob a liderança de Rui Rio em eleições para a Assembleia da República, algo inédito em quase meio século de existência deste partido - José Pacheco Pereira, bem ao seu estilo, não emite o mais remoto sinal de mea culpa. Sabendo-se que foi um dos principais conselheiros do ainda presidente laranja nestes quatro anos de liderança, poder-se-ia esperar isso dele. Mas seria exigir-lhe algo quase impossível: nada de autocrítica, como se estivesse carregado de razão desde o início. Mesmo quando os factos comprovam o contrário.

Diagnóstico dos clamorosos erros tácticos e estratégicos que culminaram no recuo do grupo parlamentar do PSD mesmo com o CDS riscado do mapa? Nenhum. Análise detalhada do ziguezagueante percurso do "partido que nada tem a ver com a direita" que Rio quis colocar rigorosamente ao centro para disputar eleitorado socialista? Omissão total. Pacheco prefere disparar contra velhos e novos ódios de estimação, elegendo agora a IL como "inimigo principal", em vez de dedicar um só parágrafo às causas directas deste enorme fracasso eleitoral do PSD, que o coloca 14 pontos percentuais abaixo do PS e com 41 deputados menos.

É um texto onde as idiossincrasias de Pacheco estão mais evidentes que nunca. A omissão de factos incómodos, a varridela apressada do que não lhe interessa para debaixo da alcatifa, as aversões de natureza pessoal camufladas de rigor analítico, o achismo elevado a sentença inscrita no granito. Eis um exemplo: «Os partidos que mais criticavam o "socialismo" estão muito mais contentes com o desastre do PSD e a eventual queda de Rio do que preocupados com a maioria absoluta do PS." Em que se fundamenta este raciocínio? «Muito mais contentes» mede-se como? Mero wishful thinking, nunca justificado na prosa conselheiral.

Tudo neste artigo, intitulado "Reflexões sobre a oposição e os seus dadas", transpira rancor, em alucinante selecção dos factos, adaptados aos processos de intenção do escriba. Pacheco questiona a inexistência de «linhas vermelhas» em relação ao Chega omitindo que foi Rio quem pactuou com este partido para formar a "geringonça" açoriana. E finge esquecer-se que quem desautorizou tais linhas vermelhas foi um dos vice-presidentes do PSD, David Justino, em declarações na CNN Portugal, a 26 de Janeiro. Falando desta forma: «Quem põe ou retira o Chega da equação é o povo português. Não é o dr. Rui Rio. São os eleitores. (...) Estou a ser realista e pragmático, porque nós não traçamos linhas vermelhas…» Quatro dias antes de o País ir a votos.

Mas Pacheco, naquele seu dualismo de Maniqueu, nunca critica os amigos. Só os inimigos. Que são cada vez em maior número, cada mais jovens e cada vez mais afastados do seu pequeno universo dicotómico, como este artigo comprova em linhas e entrelinhas. 

O regresso ao social-fascismo

jpt, 04.12.21

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"É fácil atirar contra o Chega bruto, o de Ventura, mas achar graça ao Chega sofisticado do Observador.", diz José Pacheco Pereira no "Público" de hoje.

Poder-se-á elaborar sobre as intenções do comentador, sobre o peso do legado das questiúnculas internas no PSD, desde a compita entre Passos Coelho e Ferreira Leite - amplamente abordadas no então Abrupto - até à actual, entre as diversas "tendências" daquele partido. Ou propalar uma deriva do comentador, de regresso a laivos da mundivisão que patenteou até aos anos 1980s, num período antecedente à sua dinamização do "Clube de Esquerda Liberal", já no rumo que o conduziu ao PSD de Cavaco Silva. Poder-se-á até, com malevolência desrespeitadora, aventar um ocaso analítico. Ou outro qualquer força motriz íntima.

Mas nada disso é relevante. Não só porque se restringe a uma atenção pessoalizada mas, fundamentalmente, porque nada diz do ambiente geral em que este tipo de dichotes são consagrados e respeitados. Pois, de facto, o relevante é que esta afirmação do comentador é denotativa do ambiente de alguma esquerda transgeracional actual, o regresso da invectiva aos "sociais-fascistas". Sendo estes todos os que não aderem ao ideário virtuoso que esses auto-proclamados "progressistas" perseguem - mesmo que este seja mais fluido e abrangente, menos "científico", do que na primeira versão histórica deste epíteto. E o que o foi um verdadeiro drama suicidário, naqueles anos 30s de XX, é hoje, no remanso português de Pacheco Pereira e afins, uma patacoada de triste farsa.

É(-me) uma dor de alma assistir a isto.

 

Os apoios eleitorais fortuitos

jpt, 25.09.21

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Todos, e mesmo se militantes de um partido, somos livres de apoiar as candidaturas políticas que entendemos. E se essa liberdade deve ser defendida em geral, mais ainda é pertinente - no caso dos militantes - aquando das eleições autárquicas, onde mais abrangentes e até sistémicas concepções da sociedade não estão (tanto) em jogo. Ainda assim espera-se (não se obriga, espera-se...) alguma contenção nessas deambulações naqueles que optaram por ter uma carreira política activa e que usufruem desse estatuto. 

É disso muito elucidativa esta imagem do encontro de anteontem entre José Pacheco Pereira e Fernando Medina, numa acção de campanha deste último. Alguém dirá que foi "fortuito" mas é óbvio que não se trata de um acaso que tenha surpreendido o comentador político. O homem está no seu direito de ter estas demonstrações públicas. E o seu apreço por esta "esquerda" é consabido - alguns esquecem o encontro na Aula Magna em 2013, uma espécie de réplica dos "Estados Gerais" de Guterres, no qual se congregaram o centro-esquerda, a esquerda e as esquerdas comunistas. Durante o qual Pacheco Pereira surgiu saudando "amigos, companheiros e camaradas", aventando o que veio a ser conhecido como "geringonça", da qual assim se poderá reclamar se não ideólogo pelo menos profeta. Algo que se lhe impunha - como ficou patente ao invocar, em registo de analogia, o Manuel Alegre da Rádio "Voz da Liberdade" na Argélia - como uma luta contra um verdadeiro fascismo que assombra(ria) o país, mesmo se dito mera "direita radical". 

 

 

The Russians Are Coming

jpt, 23.09.21

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The Russians Are Coming (1966) foi uma bela paródia sobre o temor, paranóia até, com o "perigo soviético". Uma era em que se augurava a omnipresente infiltração russa, em que todas as desgraças ou mesmo meros engasganços se explicavam pelos pérfidos efeitos da conspiração comunista. E também em que todas as medidas menos populares ou "canónicas" se justificavam pela sua afirmada utilidade na necessária oposição a tais ameaças.

Nestes últimos tempos muito me tenho lembrado deste filme. O "fascismo" vem sendo apregoado como "aqui mesmo ao virar da esquina" - convém lembrar as declarações da então nova deputada Moreira logo no dia das eleições legislativas, clamando contra o perigo eminente e iminente desse "fascismo", na figura do então último deputado eleito, o prof. Ventura. Pois este veio servir como "inimigo útil" para afirmação desse movimento - o qual agora finalmente realizou a sua vocação, coligando-se com o PS. E desde então - mesmo que a extrema-direita ocidental tenha regredido, com o apagão progressivo de Farage, Bannon, Trump, etc., já para não falar da afinal normalidade democrática dos conservadores britânicos, do sossego nos redutos ditos "Padania", bem como na Flandres e na "Neerlândia" como agora teremos que dizer - esse tal "fascismo", o perigo da "extrema-direita radical" continua a ser brandida como justificativo da configuração actual. O espantalho ficou mais viçoso com o bom resultado do prof. Ventura nas eleições presidenciais, muito devido ao fraco cardápio de candidaturas e ao voto de protesto à direita e centro contra o evidente conúbio entre Sousa e o PS na defesa das metástases nepotistas do regime.

 

Voltaren

jpt, 15.08.21

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Na sempre aziaga sexta-feira 13 tombei, inopinadamente, sob a urgência dos unguentos. Acabrunhado pelo império da radiculite fiquei à mercê de mãos caridosas, as quais me aspergiram com a última edição da "Visão", boletim que nunca leio - à excepção da sua excelente (fora-de-)série "Visão História", que sempre recomendo.
 
Assim sendo, neste meu imobilismo desalentado, deparei-me com uma entrevista a José Pacheco Pereira (publicitando um novo livro, o que não sendo soez é característica...), cuja retorcida argumentação muito acalentou os sintomas dos meus "bicos de papagaio". Mas tenho de ser justo, ali deparei também com uma belíssima crónica, "O avô António e um restaurante à beira da estrada" de Dulce Maria Cardoso, uma pérola rara nos periódicos nacionais, um verdadeiro Voltaren moral adequado os meus actuais padecimentos. Se não encontrardes a revista acorrei à pirataria pdf e lede o texto...
 
Madrugo hoje, insone de incómodo, e noto que no pavilhão vacinatório de Odivelas a turba rodeou o vice-almirante Gouveia e Melo, apupando-o e apodando-o de "assassino". Uma vera feira medieval, moles ululantes feitas de corcundas, raquíticos, alguns leprosos camuflados, desembarcados das "naves de loucos", suplicantes, um ou outro escravo eslavo, bruxas, pernetas, prostitutas e manetas, "endireitas" agitadores, pajens pernósticos, frades demoníacos, agentes de Castela e Aragão, mendigos ladinos e quantos mais, e isto enquanto os israelitas se escapavam, lestos, desde logo sabendo que a procissão irá sobrar sobre eles... É assim na capital do Reino.
 
Por cá, na vila a Sul do Tejo, narram-me o que se passa na vacinação. Inoculadas que foram todas as gerações mais velhas, sem preocupações nem incidentes, chegou agora a vez dos jovens, os dezoitonários, mancebos e mancebas... Que vêm acompanhados das mães, pedem apoio qual recobro sofrido, neste chegam a desmaiar, e é tamanha a histeria que - e só agora, apenas para esta leva júnior - se instalaram colchões no chão do pavilhão para que recuperem da "agressão" vacinatória.
 
De todas estas desvairadas coisas logo se soube alhures. Ao largo da costa aprestam-se os barcos bárbaros, velame já visível desde o promontório, e da raia chegam novas de que se agitam os berberes. D'El-Rei nada se espera, cirandando como sempre...
 
E eu, amarfanhado por este grifo que me acomete, feneço. Pois, afinal, não há Voltaren a dar-lhe.

Pacheco, Rio e o ódio a Passos

Pedro Correia, 06.01.21

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Faça-se justiça a Pacheco Pereira: ele continua a criticar sem desfalecimentos o governo. Mas não este: o governo que ele ataca com vigor é o de Passos Coelho. Com aquela gravitas que sempre demonstra mesmo quando abre a boca para dizer que amanhã vai estar de chuva.

 

Na última Circulatura do Quadrado de 2020, como se estivesse em 2015, o famoso historiador da Marmeleira debitou isto:

«Desde os anos de governo de Passos Coelho que se assistiu a uma enorme deslocação à direita da vida pública portuguesa em certas áreas. Essa deslocação ainda hoje não desapareceu. Ela manifesta-se sob muitos aspectos: manifesta-se na análise económica, na análise social, também na linguagem. (...) Esta degradação da linguagem é má para a democracia. Porque, entre outras coisas, acaba com o centro e com a moderação.»

E isto:

«Quem foi o governo que em Portugal mais atacou os velhos, chamando-lhes "peste grisalha" e defendendo a chamada "justiça geracional", que era tirar reformas e pensões aos mais velhos?»

E mais isto:

«O radicalismo da linguagem à direita tem uma história nos últimos dez anos em Portugal e tem a ver, evidentemente, com deslocações políticas nas quais o PSD teve uma grande responsabilidade.»

E ainda isto:

«As pessoas agora têm esta nostalgia do Pedro Passos Coelho. Esquecem-se de que quando o Pedro Passos Coelho abandonou a direcção do PSD os resultados nas sondagens eram muito maus.»

 

Plena militância anti-governo, pois. O governo de coligação PSD/CDS, finado há mais de cinco anos, mas que ele teima em enfrentar com intrepidez e denodo, imitando os antigos combatentes nipónicos infiltrados na selva filipina que continuavam a pelejar pelo imperador Hirohito várias décadas após o armistício de 1945.

Manso perante António Costa e furibundo ad aeternum com o presidente do partido que conduziu os sociais-democratas às duas últimas vitórias em legislativas: este homem é um dos mais influentes conselheiros políticos de Rui Rio, o que explica o naufrágio do PSD, patente de sondagem em sondagem.

A luta continua. A derrota é certa.

As redes

José Meireles Graça, 06.12.20

Pacheco Pereira, ficamos a saber pelo próprio, foi convidado para ir (imagino que cozinhar) ao programa de Cristina Ferreira e declinou. Fez muito bem, pode até ser que tenha dedo para a culinária mas é improvável que conseguisse estar calado.

Cristina Ferreira escreveu um livro, parece que a queixar-se dos insultos de que é objecto nas redes sociais, e Pacheco transcreve um, odioso, de um tal Paulo, um desses milhares de anónimos que expectoram a sua bruteza com impunidade, e que reza assim:

esta cristina na cama deve ser um cronho, k eu digo vos uma coisa, avaliar pela pessoa que se vê na tv, na cama deve ser um trambolho muita fava pouco vinho, vai te cronho, deves pensar k es a ultima bolacha do pacote, velha caduca…” .

Pacheco acha o comentário um crime, porque “o que é lei cá fora devia ser lei lá dentro”. 

Não vejo onde está o crime: ter opiniões idiotas é uma banalidade, haver quem as exprima grosseiramente num espaço público onde os visados não estão fisicamente presentes uma inevitabilidade, e combater este estado de coisas por forma diferente da indiferença um perigo. Já hoje os donos das redes se permitem censurar sem apelo posts sob pretexto dos grandes males que pode causar a difusão de ideias que não subscrevem. Mas nunca houve limitações à liberdade de expressão com outro fundamento, pelo que convinha que quem verbera este estado de coisas se desse ao excessivo trabalho de explicar como o remediaria.

Cristina, se se quer pôr ao abrigo da contemplação destes dejectos, tem bom remédio: apaga os comentários no seu mural e bloqueia os autores. Pode fazê-lo no Facebook, ignoro se também no Twitter (que é de todo o modo um esgoto a céu aberto mas cuja frequência não é obrigatória – não é razoável frequentar um bordel e apresentar queixa porque lá há putas).

Não fez, parece, nada disto: prefere reclamar ó pra mim que sou mulher e vítima impotente de invejosos, machistas, misóginos, malcriados, brutos e não sei quê. Logo eu, que nos intervalos do griteiro agora até escrevo livros, tenho uma alma sensível e recebo no meu programa a nata da nação, para o efeito de manusear tachos e panelas e emitir juízos sobre maravalhas e cusquices.

Isto já é um clássico: os magistrados da opinião, Pacheco entre outros, acham um escândalo que o Chico Freitas, de Freamunde, que eventualmente tem dúvidas sobre se a Terra é redonda, escreve como fala julgando que a gramática é uma doença rara, os políticos são uma corja de ladrões e os famosos gente que poderia legitimamente cobrir de perdigotos e chapadas, vá para as redes dizer da sua justiça e, pior, angariar uma data de laiques e seguidores.

É isto que dói: agora os brutos saíram do tasco e da bisca lambida, e as punhadas que já não dão na mesa sebenta, e os arrotos depois do copo de três, vão dá-los nas redes, para deleite dos outros broncos.

Pode o bom do José Pacheco sossegar. No final do artigo diz que o elogio da denúncia de Cristina Ferreira é para “vosso escarmento, vosso opróbrio, vosso desluzimento, vossa vergonha e, se tiverem de ir ao dicionário para perceber algumas palavras, ao menos ganha-se alguma coisa”. Mas não é esta gentinha malcriada que pode aproveitar as lições de Pacheco, enriquecendo a sua bagagem cultural com aquelas preciosidades lexicais – não o liam antes, e não o leem agora. De modo que não são concorrência. E, se fossem, o que Pacheco e os outros Pachecos teriam a fazer era dar ao pedal – tenham lá paciência.

Sobre o professor Ventura

jpt, 15.11.20

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(Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo; cerca dos Restauradores, Lisboa, manifestação da "restauração" contra políticas governamentais de combate ao Covid-19, 14.11.2020)

Neste fim-de-semana surgem três interessantes textos sobre o professor Ventura, deputado e candidato presidencial.

Em "Basta de Chega" António Barreto insurge-se contra a excessiva atenção, e concomitante eco propagandístico, que imprensa e opinião pública têm dado à, afinal, unideputação do partido Chega. Como muito bem diz "nada justifica tanto barulho. Nada, a não ser os defeitos dos democratas registados e dos políticos consagrados." E, se bem o entendo, deixa entender que esta abrasiva visibilidade do último deputado eleito para a legislatura vigente se deve a uma incompetência geral. Mas à sempre avisada opinião de Barreto falta-lhe - se é que me é permitido adendar algo a um intelectual deste gabarito - um factor decisivo para tamanha visibilidade. É que desde a hora exacta da sua eleição in extremis o professor Ventura foi utilizado pelo(s) movimento(s) comunitarista(s), tanto pelo também neófito (ex-)Livre como pelo já veterano BE, como factor auto-justificativo, mesmo legitimador. Pois desde as 20 e picos do dia das últimas eleições que a, inopinada para o vulgar cidadão, "luta contra o fascismo" surgiu na boca de eleitos e seus correligionários, no anunciado frenesim da luta contra aqueles 60 000 votos no comentador benfiquista, hasteada como estandarte. Depois foi só a imprensa do regime geringôncico e seus colunistas académicos sublinharem o assunto ... Na crença que "é barato e dá milhões"! Ora, e para mal dos ideológicos pecados dessa mole, por um lado (Livre) a peculiar - para não dizer mais .. - personalidade da unideputada comunitarista desbaratou os efeitos, os tais "milhões" da simpatia geringôncica; e por outro lado (BE) a crise covidocena desbaratou esses almejados "milhões", dados os custos tidos com o conúbio com o cada vez mais trôpego governo.

Em "Injectar líxiva na política", José Pacheco Pereira não deixa de ter razão. De facto, para se justificar a inclusão do nada patusco Chega no acordo parlamentar multipartidário no arquipélago adjacente, muitos propalam os imaginários ideológicos hiper-ditatoriais dos partidos comunistas portugueses, por ora conjugados com António Costa. Jpp tem razão quando diz que PCP e BE têm agora "programas activos" bem longínquos dos anseios comunistas do século passado e dos concomitantes rumos genocidas. O PCP tem uma retórica e uma alma colectiva brejnevista mas tornou-se (Lenine que lhe perdoe) um partido sindicalista, algemado aos bens distribuídos pelo capital internacional através da UE e seus agentes em São Bento. Recusando-os, aos itens do bodo, ao "modelo social europeu", veria as diluídas (e idosas, e idosas ...) "massas" fugirem para outro coito. E não podemos continuar a chamar "esquerda caviar" ao BE - eu entendo-o muito mais como "esquerda Tartex", muito mais adequado ao património sociocultural daqueles militantes - e depois considerarmos que o guevarismo retórico indicia qualquer objectivo polpotista ou enverhoxista da rapaziada. Ou seja, nenhum académico ou quadro médio-baixo militante comunitário anseia por sair do tal "modelo social europeu", quer apenas um quinhão mais para o seu sector. Ou para a sua "minoria". Sim, o conselheiro de Estado Louçã pode vir chamar "salteadora" a Merkel e afirmar que a Alemanha gosta desta pandemia pelos ganhos que perspectiva com esta desgraça toda, para minar o "espírito europeu" dos "camaradas". Mas isso será recebido pelas suas hostes tal e qual a atoarda do já moribundo Aboim Inglez a chamar "teocrata reaccionário" ao "sr. Kenzin Gyatso", quando o parlamento português se encolheu na recepção ao líder anti-colonialista Dalai Lama. Pois esses resmungos são-lhes já um folclore, uma pirraça, e vistos como tal, balbuceios de tios gerontes nos almoços de Natal antes do Covid ... Enfim, estou certo de que se deixarmos uma vara na mão comunista conheceremos o vilão. Mas de facto vão eles, comunistas mais-ou-menos comunitaristas, exasperantes que sejam, mui mansos. Coisas do euro ...  E diz bem jpp, apartando-os deste Chega. Pois o grunhismo ideológico destes agora ainda recém-chegados aos "passos perdidos" e ao quotidiano da imprensa diária é muito mais abrasivo. E terá muito mais efeitos junto da gente desaustinada. Companhias de mau porte, por assim dizer.

O terceiro texto sobre o Chega é verdadeiramente fundamental. Trata-se desta fotografia do meu querido amigo Miguel Valle de Figueiredo (ex-bloguista, primeiro no O Restaurador Olex e depois também comigo no velho ma-schamba, homem insuspeito de abismos esquerdistas ou derivas centristas). Tudo o que haverá para dizer sobre o professor Ventura e o movimento político que capitaneia está concentrado nesta imagem. Que tem tudo, mesmo tudo, para se tornar icónica.

A degenerescência de Pacheco Pereira

jpt, 06.09.20

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(Festa do Avante, 2020: ninguém para lhe dizer "ó camarada!, toma lá uma T-shirt que não parece bem estares assim vestido ...")

 

O comentador Pacheco Pereira, conhecido do "grande público" pela participação num programa televisivo de comentário político reinstalado após pressão do secretário-geral do PS, no qual agora ombreia com a adjunta deste, apresentado numa estação propriedade de um conjunto de empresas portuguesas (e de figuras gradas dos espectáculos populares, como Cristina Ferreira, Pedro Abrunhosa e Tony Carreira), publicou em 5.9.2020, no "Público", jornal propriedade do grupo SONAE, este naco: "Mas a fúria actual com a Festa do Avante! é tudo menos inocente. Tem uma clara motivação política, longe de qualquer preocupação com a pandemia ( ...) 

No recinto [da Festa] são comuns formas de reconhecimento tribal entre “camaradas”, quer através das bancas de comida, objectos, artesanato local, quer inclusive com as delegações estrangeiras de outros partidos comunistas e movimentos revolucionários. A Festa é ao mesmo tempo provinciana e cosmopolita, e transmite aos que a visitam esse sentimento de que fazem parte de uma comunidade nacional e de um movimento internacional, com amigos e inimigos. (...) 

[A raiva contra a Festa do Avante] insere-se numa clara deslocação para um radicalismo de direita que se tem vindo a acentuar em várias áreas da sociedade portuguesa, e de que o Chega é apenas a ala populista mais visível, e as redes sociais o viveiro do ódio, mas que encontra expressão numa elite que está órfã do poder, apoiada em think tanks, subsidiados por grupos empresariais, com um peso crescente na comunicação social. Repetirei de novo que uma parte importante desta deriva vem da impotência, mas com o tempo essa impotência transforma-se em raiva. A vida política portuguesa vai ser crescentemente perigosa, num caminho que encontra em Trump um inspirador não nomeado por vergonha, mas real.  ( ...)".

Há três décadas o comentador foi meu professor, e muito bom nisso. Há uma dúzia de anos esteve em Maputo, onde, gratuitamente e apenas por respeito, fiz o possível por ajudar a organização que ali o levara a enquadrá-lo o melhor possível. Espero agora nunca mais me cruzar com o traste que lhe ocupou o corpo. E a mente.

 

Adenda: há meses um holigão fez a saudação fascista num comício do prof. Ventura (sobre isso escrevi isto). Mas não apreciar os javardos que se passeiam com o Estaline na pança já é ser adepto do Trump, jpp dixit ...