Está de chuva
O mês de Outubro foi o quarto mais chuvoso em Portugal desde 1931. Não vi que fosse título em lado nenhum.
Interrogo-me quantas manchetes suscitaria se tivesse sido o quarto mais seco destes últimos 92 anos.
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O mês de Outubro foi o quarto mais chuvoso em Portugal desde 1931. Não vi que fosse título em lado nenhum.
Interrogo-me quantas manchetes suscitaria se tivesse sido o quarto mais seco destes últimos 92 anos.
Figura nacional do mês
É o português com mais projecção internacional: Cristiano Ronaldo recebeu pela quinta vez o troféu de melhor jogador do mundo que lhe foi entregue pela FIFA - organismo máximo do futebol - numa gala realizada em Londres, a 23 de Outubro. Justa distinção ao capitão da selecção nacional pelo seu desempenho na época desportiva anterior, em que contribuiu para a conquista da Liga dos Campeões, do campeonato espanhol e do Mundial de clubes (com a camisola do Real Madrid) e para o terceiro lugar da equipa das quinas na Taça das Confederações, em que Portugal participou pela primeira vez.
Figura internacional do mês
O mês começou com uma vitória de Pirro do presidente do Executivo da Catalunha, Carles Puigdemont, num referendo sobre a independência da Catalunha que violou a Constituição de 1978 e o Estatuto Autónomico da região. Nem o Estado espanhol nem a comunidade internacional validaram esta consulta, nem a declaração unilateral da independência que logo se seguiu, forçando o Governo de Mariano Rajoy a accionar a cláusula da lei fundamental que suspende as instituições autonómicas. Destituído do cargo e convocado pela justiça, Puigdemont fugiu a 30 de Outubro para a Bélgica, onde promete liderar a "resistência" a Madrid.
Facto nacional do mês
Ainda traumatizado pelo drama de Pedrógão Grande, o País viu-se confrontado com uma tragédia de proporções ainda mais vastas, na fatídica data de 15 de Outubro, em que a área florestal de dezenas de concelhos do interior e até do litoral foi total ou parcialmente destruída pelas chamas. Viseu, Coimbra, Leiria, Castelo Branco, Braga, Aveiro e Guarda foram os distritos mais afectados pelos incêndios, que provocaram a morte de 45 pessoas, arrasaram empresas, pastos e áeas de cultivo, inutilizaram aldeias, cercaram cidades, calcinaram o pinhal de Leiria e deixaram um rasto de devastação com prejuízos ainda difíceis de contabilizar. No plano político, a tragédia levou à demissão da ministra da Administração Interna e a um reajustamento no elenco governamental.
Facto internacional do mês
Turbulência total na Catalunha, com uma sucessão de acontecimentos alucinantes ao longo do mês: referendo ilegal no dia 1, declaração unilateral da independência em Barcelona (dia 10), logo seguida da suspensão dos efeitos do acto separatista, aprovação no Senado espanhol do artigo 155.º da Constituição que revoga a autonomia (dia 27), convocação de eleições antecipadas na Catalunha para 21 de Dezembro, fuga para Bruxelas do presidente cessante do Governo regional, acusado - tal como outros ex-membros do executivo - de rebelião, sedição e peculato pela justiça espanhola. O processo tem vindo a causar sérios danos à economia catalã: cerca de duas mil empresas regionais já transferiram a sede social para outras zonas de Espanha, o turismo baixa e o desemprego aumenta.
Frase nacional do mês
«Temos um país devastado. O Estado falhou e temos um Governo fragilizado. Só aceitaria este cargo estando motivado. Por isso claro que estou motivado.» Palavras francas e desassombradas, pronunciadas pelo novo ministro adjunto Pedro Siza Vieira a 19 de Outubro, ainda antes de tomar posse, em declarações ao jornal digital Eco, que assim conseguiu ultrapassar a concorrência. Siza Vieira, um advogado muito próximo de António Costa, exprimiu sem rodeios aquilo que a esmagadora maioria dos portugueses pensa após duas sucessivas tragédias que deixaram o País mais pobre, mais ferido, mais desolado e mais triste.
Frase internacional do mês
«São momentos muito complexos, mas seguiremos adiante. Porque acreditamos no nosso país, sentimo-nos orgulhosos do que somos. Porque os nossos princípios democráticos são fortes, são sólidos. E são-no porque assentam no desejo de milhões e milhões de espanhóis de conviver em paz e em liberdade.» Palavras do Rei de Espanha, Filipe VI, no mais difícil momento do seu reinado, iniciado em Junho de 2014. Palavras proferidas a 3 de Outubro num discurso de seis minutos, na sequência imediata do referendo ilegal na Catalunha, algo que - segundo o monarca - configurou uma "inadmissível deslealdade perante os poderes do Estado" e de quem os representa em solo catalão.
« Já reparaste que os dias estão mais pequenos»
Figura nacional do mês
Os portugueses passaram a conhecer o luso-angolano Luaty Beirão, que fez uma prolongada greve de fome no hospital-prisão de São Paulo, em Luanda, contra a existência de presos políticos em Angola. Esteve 36 dias sem comer. Mas mantém-se em prisão preventiva, tal como outros jovens acusados de promover um "golpe de Estado" contra o regime angolano. Contaram todos com várias manifestações de apoio em Portugal.
Figura internacional do mês
Justin Trudeau tornou-se em 20 de Outubro, aos 43 anos, novo chefe do Governo do Canadá, derrotando nas urnas o primeiro-ministro conservador Stephen Harper. O liberal Trudeau, de 43 anos, é filho de um dos mais carismáticos chefes do Governo canadiano: Pierre Elliot Trudeau, que liderou o país quase ininterruptamente entre 1968 e 1984. O Partido Liberal, com cerca de 40% dos votos, obteve 184 dos 338 lugares no Parlamento.
Facto nacional do mês
A 4 de Outubro os portugueses elegeram o novo elenco da Assembleia da República. Vitória da coligação Portugal à Frente (PSD+CDS), com 38,5%. O PS ficou em segundo (32,4%). Seguiram-se BE (10,2%) e CDU (8,3%). O partido PAN (1,4%) elegeu pela primeira vez um deputado, André Silva. PSD e CDS, embora conquistando mais de dois milhões de votos, perderam cerca de 700 mil em comparação com as legislativas de 2011.
Facto internacional do mês
Uma manifestação a favor da paz, exigindo conversações entre o Governo turco e os militantes curdos do PKK, acabou num banho de sangue provocado por bombistas suicidas. Foi o maior atentado de que há memória na Turquia contemporânea: aconteceu na capital do país, Ancara, quando duas violentas explosões, na manhã de 10 de Outubro, mataram 102 pessoas e feriram mais de 400 nas imediações da estação ferroviária central da cidade.
Frase nacional do mês
«O Governo de Passos e Portas acabou hoje.» Declaração da porta-voz do BE, Catarina Martins, após uma reunião com o líder do PS, António Costa, deixando antever um entendimento entre as esquerdas para travar um segundo Executivo liderado por Passos Coelho. A frase foi proferida a 12 de Outubro, oito dias após as legislativas. Cavaco viria a empossar Passos no dia 30 apesar de PSD e CDS não terem maioria no Parlamento.
Frase internacional do mês
«Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra?» Frase da Presidente brasileira, Dilma Rousseff, proferida a 13 de Outubro. A declaração reflecte bem a enorme tensão política que se vive no Brasil na sequência das revelações da imprensa sobre tráfico de influências e corrupção no país - o que já levou à detenção de destacados membros da classe política, no âmbito da Operação Lava Jato.
Algumas virão cá a pretexto da política, como depois se verá. Nem que seja pelo nome. Outras surgirão a propósito do Outono - mesmo que seja um Outono quente, como se anuncia. Hão-de aparecer por aí canções de Jacques Brel, Carly Simon, Billy Joel, Muddy Waters, Billie Holiday, Ray Charles, Sarah Vaughan, Yves Montand.
E outras que quiserem sugerir-me. Estejam à vontade.