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Delito de Opinião

Lição de futebolês (para que saibam)

Pedro Correia, 23.11.23

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É um quatro-dois-três-um mas muitas vezes é mais um quatro-cinco-um de uma equipa que não se desorganiza nem se desposiciona muito e que sai bem na transição sobretudo nas bolas a passar em momentos de definição dessa transição ofensiva com alguma criatividade e alguma atenção à bola parada e ao jogo aéreo muito forte com os laterais a centrar nessa circunstância pois quando pressionada em bloco meio alto a equipa vai jogar tendencialmente em bloco baixo sobretudo quando os alas não são jogadores de largura e têm dificuldade nas acções de construção e a contratransição é vital porque quando se perde a bola em zona ofensiva se o pressing foi imediato pode ser recuperada instantaneamente e a contratransição numa equipa que a faça bem e que tenha qualidade de finalização muitas vezes é fatal e este é um jogo em que interessa revelar capacidade de pressionar alto e de recuperar alto e de meter grandes intensidades sobretudo na primeira parte sem deixar o adversário trocar a bola naqueles dois metros de construção da zona defensiva nem jogar no risco pois quando se recupera mais atrás eles encontram-se lá todos.

 

Fui suficientemente claro ou preferem que faça um desenho?

É preciso é que a bola role

Pedro Correia, 03.06.20

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Recomeça hoje o mais estranho campeonato nacional de futebol das nossas vidas. À porta fechada, como se as bancadas dos recintos desportivos, ao ar livre, fossem perigosíssimos focos de contágio. Isto quando o Governo já autorizou a reabertura de centros comerciais.

Um campeonato que esteve parado quase três meses, que tenta mudar as regras da competição a meio como se isso não atentasse contra a elementar ética desportiva. Com uma equipa açoriana a jogar voluntariamente muito longe de casa, transformando numa farsa o discurso contra a macrocefalia lisboeta. Com a perspectiva inicial de se disputar "no menor número possível de estádios", que começaram por ser apenas nove mas que afinal serão dezassete. Tudo e o seu contrário sempre a pretexto do novo coronavírus.

 

Um futebol que assume o divórcio compulsivo entre jogadores e público, embora ainda lhe chamem espectáculo, apesar de proibirem sócios e adeptos de frequentar as bancadas dos seus estádios, enquanto se permite que a malta acorra ao Campo Pequeno para aplaudir o humorista Bruno Nogueira, com a complacente presença do primeiro-ministro. 

E a gente, do lado de fora, aplaude também. Cada vez menos cidadãos, cada vez mais súbditos deste Estado em incessante produção de decretos e portarias desdizendo numa semana o que dissera na semana anterior e vai tolerando chocantes excepções, até ao alegado "estado de emergência", enquanto proclama o primado da igualdade perante a lei.

 

É preciso é que a bola role sobre a relva e que a gente se entretenha de olhos fixos na pantalha. Todos embalados na cantilena do "novo normal" com o estribilho "vai ficar tudo bem" a servir de placebo enquanto nos dias pares se grita às pessoas para recolherem a casa (e se for preciso encerram-se em "cerca sanitária") e nos dias ímpares se estimula as pessoas a saírem de casa e "consumirem" seja o que for com o dinheiro que deixaram de ter.

Que soe o apito inicial. Quero lá saber do "desconfinamento", estou-me nas tintas para a "curva exponencial", tenho raiva a quem sabe o que é uma zaragatoa: quero é bola. Eis-me pronto a trocar o estádio pelo sofá, em festiva celebração do "distanciamento social" - expressão que todos usam sem fazerem a menor ideia do que significa.

Até já estou de cachecol, apesar do calor. E se a Senhora Directora-Geral da Saúde mandar, assisto obedientemente aos jogos em casa de máscara e luvas, como faz agora o Senhor Presidente quando frequenta um restaurante para mostrar aos portugueses como este doce país se tornou muito mais seguro com ele ao leme.

Há vida para além da bola

Pedro Correia, 17.09.19

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Debate Costa-Rio foi ontem acompanhado por 2,7 milhões de telespectadores. Demonstração clara de que as pessoas se interessam por política. E só não acompanham mais porque os canais de televisão pouco mais têm para oferecer do que telenovelas e futebol. Aliás, à hora do debate, um dos putativos canais de "notícias" dava destaque... à bola.

 

Foram estes os outros debates com maior audiência:

Costa-Sousa (SIC) - 1,1 milhões de espectadores

Costa-Silva (SIC) - 1,065 milhões de espectadores

Costa-Cristas (TVI) - 935 mil espectadores

 

Costa lidera, portanto - não só nas sondagens, mas também nos debates.

O menos visto? Martins-Silva, na SIC Notícias, apenas com 68.100 espectadores.

O novo ópio do povo

Pedro Correia, 28.08.19

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A TVI, no seu canal informativo, prometia ontem conceder destaque a Assunção Cristas, entrevistada por um jornalista da casa e alguns especialistas em diversas áreas incluídos entre os participantes nesta emissão, transmitida em directo. Sob o título genérico «Tenho uma pergunta para si» (o abuso do redundante pronome "si", que me soa sempre a nota de música, reflecte o empobrecimento da nossa linguagem comunicacional).

Tentei fixar a atenção nesta entrevista, mas desisti a meio. Porque me pareceu desde o início que se destinava apenas a despachar agenda e aliviar um fardo. Decorria tudo num tom tão impaciente, como se houvesse urgência máxima em retirar a presidente do CDS do ar, que obrigou uns e outros a falar em ritmo anormalmente acelerado.

Assunção, pressionada pelo ponteiro dos segundos, parecia uma picareta falante, para usar a expressão que Vasco Pulido Valente colou noutros tempos a António Guterres. Os interrogadores de turno, quando demoravam um pouco mais a formular a pergunta, eram de imediato interrompidos pelo profissional da casa. O próprio Pedro Pinto, ao comando desta emissão tão frenética, parecia mais confinado à função de cronometrista do que de jornalista.

E afinal tanta pressa para quê? Para que o mesmo canal informativo da TVI desse lugar a três cavalheiros de calças de ganga a discorrer tranquilamente sobre os mais recentes rumores do chamado "mercado de transferências" da bola. Preopinavam em modo pausado, de perna traçada, como se estivessem no café e tivessem todo o tempo do mundo para perorarem sobre coisa nenhuma.

Foi a minha vez de recorrer ao cronómetro: cavaquearam das 22.36 às 23.57. Um dos membros deste trio já estivera em antena durante a tarde, entre as 17.58 e as 18.48, tagarelando sobre o mesmíssimo assunto.

Estranho critério jornalístico, estranho critério informativo - cada vez mais monotemático. Como se nada mais houvesse de relevante do que as tricas do futebol.

Alguém aí falou em ópio do povo? Se o fez, acertou em cheio.

Rescaldo de um jogo em futebolês

Pedro Correia, 04.05.14

 

-- Boa noite. O que achaste deste jogo tão emocionante?

-- Duas palavras bastam. Em futebol o desequilíbrio pode tomar números absolutamente impensáveis. Tivemos aqui um choque entre um modelo de jogo e a estratégia. O modelo de jogo que mais gosto de ver é aquele que tem posse de bola e futebol largo e tentativa permanente de domínio do adversário. A dimensão estatégica do jogo, ou seja a abordagem em concreto do adversário, pode ser determinante sobretudo quando estamos perante duelos a eliminar. A equipa vencedora teve uma abordagem de quatro-quatro-dois inicial procurando diagonais com mais uma unidade ofensiva mas defendendo sempre com duas linhas de quatro e subidas. Apertou sempre a construção dos centrais e dificultou muito a saída da turma antagonista. E travaram os corredores, que são o grande ponto de força dos rivais, com um futebol mais rendilhado. Podemos chamar àquilo um quatro-dois-três-um, mas aquilo em rigor é quatro-dois-quatro. Jogaram com os extremos projectados, muito na órbita dos laterais, e em subida permanente. Os outros, sem um médio de recuperação de bola, revelaram uma estratégia quase suicida. Falharam a abordagem estratégica, mas isso pode sempre acontecer aos melhores. Fiz-me entender?

-- Bem... não propriamente. Não te importas de repetir tudo outra vez, mas um pouco mais de-va-gar?

-- Impossível, pá. Já não faço a menor ideia do que disse.

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O admirável mundo da 'vox pop'

Pedro Correia, 21.11.13

"Portugal não tem uma grande selecção."

"Paulo Bento é um treinador fraco tacticamente."

"Já chega de falar de Cristiano Ronaldo."

"O Cristiano não merece que falemos mais dele."

"Cristiano Ronaldo não é o melhor do mundo."

"Miguel Veloso é um jogador banalíssimo."

"O Nani não rende nada."

"Pepe não é português."

"O que é que Scolari fez em Portugal?"

 

Frases de "populares" escutadas durante a tarde de ontem na televisão

Isto não é apenas sobre futebol

Pedro Correia, 24.10.13

Fredy Montero é uma das melhores aquisições do futebol português nos últimos anos. Natural da Colômbia, jogava nos Estados Unidos e foi descoberto em boa hora pelos olheiros de Alvalade. No Sporting, em oito jogos disputados esta época, fez 12 golos -- a melhor marca do género registada por algum jogador do clube pelo menos neste século, contribuindo em larga medida para que a equipa leonina seja de momento a que tem maior índice ofensivo a nível europeu, acima do Real Madrid, do Manchester City e do Barcelona. "O ataque mais mortífero da Europa", como titulou o Record, recorrendo à típica terminologia da imprensa portuguesa especializada em futebol.

Com ele em campo, ao contrário de quase todos os restantes jogadores do nosso campeonato, a notícia não é quando marca: é quando não marca.

 

 

Dir-se-á, para quem veja de fora: os adeptos sportinguistas devem andar eufóricos. A resposta só pode ser afirmativa.

Mas nem sempre foi assim. Recuemos três meses.

Montero acabara de chegar a Lisboa, tendo sido apresentado aos sócios no estádio José Alvalade. Tiraram-se as primeiras fotografias, já com o colombiano vestido de verde e branco, ao lado do presidente do clube, Bruno de Carvalho.

A esmagadora maioria dos sportinguistas nunca o vira jogar. Aguardou, portanto, com genuína expectativa, para o avaliar em campo.

Mas não faltou também quem desde logo começasse a dizer mal da escolha, ruminando argumentos contra o atleta colombiano e a escolha feita pela direcção sportinguista, duramente criticada em blogues que dizem ser leoninos e cujas caixas de comentários reflectem o desvario que por vezes se apodera de certos adeptos da bola, sejam ou não do Sporting.

Mantenho o meu arquivo sempre actualizado. E do arquivo desenterro frases como estas, então publicadas nesses blogues:

«O Ghilas [avançado entretanto contratado pelo FC Porto, onde não tem passado do banco de suplentes] é dez vezes superior a este Montero. Mas este dá uma comissão maior.»
«Parece um jogador mediano, penso que será mais para fazer número.»

«Ao contrário do que diziam, ele não é craque, longe disso.»
«Dado que Montero não é um jogador de área, temos aqui alguns problemas.»
«Para mim não é um verdadeiro goleador e tenho dúvidas que faça 15/20 golos numa época.»
«Troco Montero pelo Bruma [ex-jogador sportinguista entretanto transferido para um clube turco], esse é craque, é o único que me vai levar a ir a Alvalade.»
«Montero não mostrou instinto goleador.»

«Não vale a pena andar a contratar por contratar, sem dinheiro muito dificilmente se consegue qualquer acréscimo de qualidade.»

«No dia em que o Bruno [de Carvalho] contratasse mesmo um jogador a sério punha o Sporting nas primeiras páginas de toda a imprensa internacional.»

Gostaria de saber o que os ressabiados que escreveram tudo isto pensarão de Montero agora. Imagino que festejam  com a mesma satisfação que eu os golos marcados pelo avançado que tanto denegriram. E são até capazes de garantir nas conversas de café, muito à portuguesa, que anteviam desde o início que seria um excelente reforço. No momento em que a Europa do futebol já tem os olhos postos em Alvalade, à espreita das próximas prestações em campo do jovem colombiano.

O problema é que isto não sucede só no futebol.

A ignorância é muito atrevida. As palmas de aprovação e os polegares ao alto nas redes sociais são sempre mais prováveis quando se utilizam palavras contundentes. E dizer mal do que não se conhece -- sem conceder sequer o benefício da dúvida ao destinatário das críticas, por mais gratuitas que sejam -- é um verdadeiro desporto nacional.

Lição de futebolês em dia de Portugal-Israel

Pedro Correia, 11.10.13

 

É um quatro-dois-três-um mas muitas vezes é mais um quatro-cinco-um de uma equipa que não se desorganiza nem se desposiciona muito e que sai bem na transição sobretudo nas bolas a passar em momentos de definição dessa transição ofensiva com alguma criatividade e alguma atenção à bola parada e ao jogo aéreo muito forte com os laterais a centrar nessa circunstância pois quando pressionada em bloco meio alto a equipa vai jogar tendencialmente em bloco baixo sobretudo quando os alas não são jogadores de largura e têm dificuldade nas acções de construção e a contratransição é vital porque quando se perde a bola em zona ofensiva se o pressing foi imediato pode ser recuperada instantaneamente e a contratransição numa equipa que a faça bem e que tenha qualidade de finalização muitas vezes é fatal e este é um jogo em que interessa revelar capacidade de pressionar alto e de recuperar alto e de meter grandes intensidades sobretudo na primeira parte sem deixar o adversário trocar a bola naqueles dois metros de construção da zona defensiva nem jogar no risco pois quando se recupera mais atrás eles encontram-se lá todos.

 

Fui suficientemente claro ou preferem que faça um desenho?

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Siga a dança

Pedro Correia, 07.01.13

 

Franky Vercauteren abandona Alvalade 75 dias depois de ter sido contratado. Convém avivar as memórias mais fraquinhas: "É uma pessoa que aposta na formação, é ganhador e é um antigo jogador de qualidade. Houve dezenas de treinadores que se ofereceram para treinar o Sporting. Enquanto os nomes iam correndo, nós já tínhamos escolhido Franky Vercauteren."

Estas palavras foram proferidas a 30 de Outubro pelo presidente Luís Godinho Lopes, que acrescentou: "Agradeço a paciência que os adeptos têm tido e a forma como apoiam a equipa. Estou a trabalhar para criar um projecto sustentável e isso não se cria resolvendo os problemas à pressa."

Palavras carregadas de involuntária ironia, como hoje bem se vê. Godinho Lopes reclama para si próprio algo que não concede a mais ninguém no clube: tempo e paciência. Na grelha de Alvalade foram triturados quatro treinadores desde Fevereiro de 2012. Avança agora Jesualdo Ferreira. O quinto em menos de 11 meses. Depois de Domingos Paciência ("espero que fique o tempo suficiente para atingir o sucesso no Sporting"), Sá Pinto ("trouxe outro ânimo à equipa"), Oceano Cruz ("faz parte do presente e do futuro") e do macambúzio belga que parte como chegou: de rosto carrancudo.

Como eu o compreendo. Havia de rir-se de quê?

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Um esticado, dois encolhidos

Pedro Correia, 20.11.12

Passei ontem os olhos por um desses programas de paleio futebolístico que pretendem animar os serões televisivos de segunda-feira. Comentava-se qual seria a forma ideal de fazer determinado gesto. Segundo um dos intervenientes, a coisa só merecerá certificado de validade se tiver dois dedos encolhidos entre um esticado. Parecia quase uma metáfora do referido programa: um esticado, dois encolhidos.

Replicava outro interveniente que "à americana" basta um dedo esticado, não havendo necessidade de encolher nada.

Fiquei elucidado, uma vez mais, sobre a qualidade do programa e za(r)pei rapidamente para outro canal. Nestas ocasiões, nada melhor do que premir o dedo indicador no botão de comando. É quanto basta.

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As continhas

Bandeira, 15.06.12

Penso ter finalmente compreendido. Se Portugal vencer a Holanda mas a Dinamarca ganhar à Alemanha por 3-2, caímos fora. Caso Portugal perca com a Holanda por 1-0 e a Alemanha vença a Dinamarca, estamos dentro. Imagine (faça um esforço) que Portugal vence com triplo hat-trick de Postiga e a Alemanha se vai abaixo com um auto-golo de Mario Gomez: A dívida pública portuguesa desaparecerá sem deixar rasto e Ratzinger, que ficará com muita vergonha, abdicará, sendo Paulo Bento eleito papa com o nome de Bento XVII. A Irlanda regressará ao Euro, tendo Leopold e Molly Bloom como adjuntos de Trapattoni, na eventualidade de todas as selecções (todas mesmo) perderem amanhã, Bloomsday. Caso a Dinamarca vença a Alemanha e Portugal perca contra a rainha da Holanda em badminton, Passos Coelho enviará um beijinho à senhora Merkel (que perderá o cargo de chanceler para António Borges), mas não conseguirá evitar que a Moody's atire Portugal para a categoria de Vinagre de Tinto- (com perspectivas negativas). Se, porém, a Alemanha perder por 50 golos ou mais, a Grécia será repescada do fundo lodoso do rio Meandro, onde agora se encontra, e atirada ao Egeu (perdoe a vírgula antes da copulativa), desta feita com cópias em tamanho real do Hermes de Praxíteles presas aos artelhos ou, em alternativa, artigos seleccionados das nossas sucessivas Leis do Arrendamento Urbano. Se acha que nada disto faz sentido, consulte as regras da UEFA e depois falamos.

Vai uma apostinha?

Pedro Correia, 14.06.12

Confesso: ando cansado de ouvir falar do Nélson Oliveira. E tenho bons motivos para isso. Na segunda-feira, 48 horas antes do Portugal-Dinamarca, dois diários desportivos puseram o jovem suplente do Benfica em destaque nas suas primeiras páginas. "Estamos de cabeça levantada", dizia o jovem, cujo retrato ocupou praticamente a capa inteira desse dia do diário A Bola. A justificação para o destaque fotográfico, esclarecia o jornal, tinham sido os três golos apontados pelo rapaz... no treino da véspera.

Como não há coincidências, no mesmo dia O Jogo apressava-se a antecipar a presença do jovem Nélson no lugar de Helder Postiga como ponta-de-lança da selecção. A sua inexperiência em jogos internacionais, o facto de nem Jorge Jesus o incluir no onze titular das águias e a certeza de não ter marcado um único golo no campeonato pareciam irrelevantes perante a onda mediática que ia engrossando em torno do seu nome, agigantando-se qual tsunami a chegar à costa. "Nélson Oliveira ganha espaço", titulava nesse dia o Record, tentando não perder a corrida. "Nélson Oliveira é um trunfo para Paulo Bento", dizia a RTP no dia seguinte, citando o treinador Rui Vitória.

Foi preciso Paulo Bento pôr fim a tanta especulação com quatro palavras apenas: "Vai jogar o Helder." Que por acaso até marcou contra a Dinamarca.

Nélson jogou meia hora, como suplente de Postiga. Sem marcar. Mas nem por isso desaparecerá das manchetes. Vai uma apostinha?

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De que falamos quando falamos em "ser feliz"?

Pedro Correia, 20.05.12

 

Um dos mais irritantes chavões da bola é aquele em que se procura justificar a vitória de um determinado clube dizendo que este "foi feliz". Ontem à noite, na SIC Notícias, lá recorreu o comentador Joaquim Rita a tal chavão, procurando assim desvalorizar a conquista da Liga dos Campeões pelo Chelsea.

Mas afinal em que é que este clube "foi feliz"? Por ter jogado em casa do adversário, o Bayern de Munique? Por ter actuado sem três dos seus mais emblemáticos jogadores? Por ter dado uma lição de táctica no Arena de Munique? Por ter confirmado que possui uma defesa sólida e um perigoso contra-ataque? Por ter revelado um inegável índice de eficácia ofensiva ao ponto de marcar um golo no primeiro pontapé de canto que teve a seu favor? Pelo facto de o guarda-redes Cech ter defendido dois penáltis?

Dizer que o Chelsea "foi feliz" é o mesmo que dizer que jogou de azul. Um lugar-comum idêntico a tantos outros. Uma "explicação" que nada explica.

Uma frase nada feliz.

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Direito à multiplicação de cachecóis

Pedro Correia, 05.04.12

O João Gobern tem todo o direito de se assumir como adepto benfiquista. E, sendo convidado para fazer comentário futebolístico na RTP precisamente como analista de cachecol, tem naturalmente também o direito - e neste caso quase o dever - de assumir a sua condição de benfiquista. Nada a objectar quanto a isto. Sendo assim, quem poderá espantar-se que vibre em directo com a marcação de um golo da sua agremiação ao minuto 92 de um jogo contra um clube que ameaça disputar-lhe o título? Fará sentido compará-lo ao ex-ministro Manuel Pinho que foi afastado do Governo socialista por ter feito um feio gesto a um deputado da oposição na respeitável sede da democracia que é a Assembleia da República?

Quanto a mim, o caso pode e deve servir de pretexto para a indignação sportinguista mas sem ter Gobern como alvo. Quem merece críticas é a RTP, que inclui há quatro anos na grelha regular do seu espaço informativo um programa de comentário futebolístico, intitulado Zona Mista, que apenas permite um adepto de cachecol. O do Benfica. À revelia das suas obrigações de serviço público que lhe impõem normas acrescidas de isenção, pluralismo e equidade. Como se uns cachecóis fossem mais iguais que outros...

A questão é só esta. E é quanto basta para merecer debate. E suscitar legítima indignação.

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Prognósticos depois do jogo

Pedro Correia, 12.03.12

 

Em matéria de prognósticos posso revelar aqui em rigoroso exclusivo a todos os eventuais interessados que o Sporting vencerá o difícil desafio da primeira mão contra o Manchester City dado que se encontra num excelente momento de forma demonstrando os seus jogadores muita ambição e querer e denodo e arreganho como aliás eu sempre disse. Prevejo mais ainda que essa vitória se concretizará por um golo sem resposta numa inegável confirmação de que Ricardo Sá Pinto foi a melhor escolha para o lugar anteriormente desempenhado pelo Domingos Paciência que não tinha o controlo do balneário e só os treinadores que conseguem conquistar o balneário são dignos de almejar as vitórias em campo e eu nunca ocultei que o Sá Pinto era a minha opção natural para o lugar do Domingos pessoa que aliás eu nem sequer nunca elogiei. E mais prevejo que essa vitória se materializará através de um fantástico tento do Xandão destinado a confirmar em Alvalade os magníficos dotes exibicionais que anteriormente o tinham notabilizado naquele clube brasileiro de que me falha agora o nome. E concluo este meu prognóstico vaticinando que o golo será marcado de calcanhar como fazia o Sócrates não o filósofo mas o médico atestando assim o atleta Xandão os extraordinários dotes de defesa-goleador que eu aliás sempre tive ocasião de enaltecer e que a massa adepta do Sporting tardava em reconhecer por não ter a rara intuição para detectar talentos que modéstia à parte é apanágio da minha humilde e brilhante pessoa.

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