Fredy Montero é uma das melhores aquisições do futebol português nos últimos anos. Natural da Colômbia, jogava nos Estados Unidos e foi descoberto em boa hora pelos olheiros de Alvalade. No Sporting, em oito jogos disputados esta época, fez 12 golos -- a melhor marca do género registada por algum jogador do clube pelo menos neste século, contribuindo em larga medida para que a equipa leonina seja de momento a que tem maior índice ofensivo a nível europeu, acima do Real Madrid, do Manchester City e do Barcelona. "O ataque mais mortífero da Europa", como titulou o Record, recorrendo à típica terminologia da imprensa portuguesa especializada em futebol.
Com ele em campo, ao contrário de quase todos os restantes jogadores do nosso campeonato, a notícia não é quando marca: é quando não marca.
Dir-se-á, para quem veja de fora: os adeptos sportinguistas devem andar eufóricos. A resposta só pode ser afirmativa.
Mas nem sempre foi assim. Recuemos três meses.
Montero acabara de chegar a Lisboa, tendo sido apresentado aos sócios no estádio José Alvalade. Tiraram-se as primeiras fotografias, já com o colombiano vestido de verde e branco, ao lado do presidente do clube, Bruno de Carvalho.
A esmagadora maioria dos sportinguistas nunca o vira jogar. Aguardou, portanto, com genuína expectativa, para o avaliar em campo.
Mas não faltou também quem desde logo começasse a dizer mal da escolha, ruminando argumentos contra o atleta colombiano e a escolha feita pela direcção sportinguista, duramente criticada em blogues que dizem ser leoninos e cujas caixas de comentários reflectem o desvario que por vezes se apodera de certos adeptos da bola, sejam ou não do Sporting.
Mantenho o meu arquivo sempre actualizado. E do arquivo desenterro frases como estas, então publicadas nesses blogues:
«O Ghilas [avançado entretanto contratado pelo FC Porto, onde não tem passado do banco de suplentes] é dez vezes superior a este Montero. Mas este dá uma comissão maior.»
«Parece um jogador mediano, penso que será mais para fazer número.»
«Ao contrário do que diziam, ele não é craque, longe disso.»
«Dado que Montero não é um jogador de área, temos aqui alguns problemas.»
«Para mim não é um verdadeiro goleador e tenho dúvidas que faça 15/20 golos numa época.»
«Troco Montero pelo Bruma [ex-jogador sportinguista entretanto transferido para um clube turco], esse é craque, é o único que me vai levar a ir a Alvalade.»
«Montero não mostrou instinto goleador.»
«Não vale a pena andar a contratar por contratar, sem dinheiro muito dificilmente se consegue qualquer acréscimo de qualidade.»
«No dia em que o Bruno [de Carvalho] contratasse mesmo um jogador a sério punha o Sporting nas primeiras páginas de toda a imprensa internacional.»
Gostaria de saber o que os ressabiados que escreveram tudo isto pensarão de Montero agora. Imagino que festejam com a mesma satisfação que eu os golos marcados pelo avançado que tanto denegriram. E são até capazes de garantir nas conversas de café, muito à portuguesa, que anteviam desde o início que seria um excelente reforço. No momento em que a Europa do futebol já tem os olhos postos em Alvalade, à espreita das próximas prestações em campo do jovem colombiano.
O problema é que isto não sucede só no futebol.
A ignorância é muito atrevida. As palmas de aprovação e os polegares ao alto nas redes sociais são sempre mais prováveis quando se utilizam palavras contundentes. E dizer mal do que não se conhece -- sem conceder sequer o benefício da dúvida ao destinatário das críticas, por mais gratuitas que sejam -- é um verdadeiro desporto nacional.