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Delito de Opinião

Cilicídio

Rui Rocha, 28.01.13

O DN dedicou nos últimos dias uma Grande Investigação ao Opus Dei. Pelo que vi, o trabalho jornalístico não trouxe grandes novidades. Em todo o caso, realce-se o facto, que desconhecia, de a obra ser dirigida pelo Espírito Santo. José Rafael, no caso. Parece-me muito bem. Nomen est omen, diziam os latinos. E não podendo a missão ser assegurada pelo Pai ou pelo Filho themselves, creio que é o melhor que se pode arranjar. Parecendo que não, transmite uma certa ideia de coerência. Mal comparado, é como se o grão-mestre de uma loja maçónica trabalhasse nas obras. Também sem surpresa é o facto de a Maçonaria ter, hoje por hoje, mais influência do que o Opus. Pelo visto, o melhor que a obra conseguiu foram duas Presidências da Assembleia da República e meia-dúzia de banqueiros mais ou menos falidos. Feitas as contas assim por alto, deve sair  a coisa à razão de cinquenta milhões de vergastadas por cada cargo honorífico. No ramo do tráfico de influências, a Maçonaria é uma espécie de grande superfície e o Opus um pequeno negócio de proximidade com margens esmagadas. No fundo, é um sinal dos tempos. Tirando a Pépa, pouca gente está disponível para fazer sacrifícios. E o avental aperta muito menos do que o cilício. Claro, quando o líder afirma que tanto lhe faz que uma pessoa do Opus seja Presidente da AR ou mulher de limpeza, isso pode causar-nos algum espanto. Mas, se virmos bem, faz todo o sentido. Não tenho os números oficiais, mas dos mil e tal membros do Opus, mais de metade devem ser mulheres de limpeza. Aliás, ou me engano muito ou já houve para aí uma queixa da IURD à Autoridade da Concorrência por abuso da posição dominante no mercado das domésticas. E depois, as mulheres de limpeza têm uma actividade profissional muito adequada à concretização de certas mortificações. Quando estão a esfregar as escadas, podem aproveitar para pôr os bagos de milho debaixo dos joelhos. E confesso que também não me surpreende a composição do index das obras literárias. O Cândido do Voltaire está muito bem visto. Todos sabemos quanta sedição se esconde sob o fino véu da ingenuidade. Da mesma forma, a ninguém passa despercebido o potencial libidinoso induzido pela ausência de pontuação em Saramago. É claro que, para a protecção das almas ser completa, talvez também se pudessem incluir na lista as obras de S. Tomás de Aquino, tal como em sua e boa hora fez o piedoso bispo Étiennne Tempier de Paris. Mas nada é perfeito. E em  caso de necessidade, há sempre por aí à mão um látego prontinho para flagelar as nádegas.