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Delito de Opinião

A fossa séptica social

João André, 30.08.24

Não tenho Twitter, Instagram ou Tiktok. Tenho Facebook mas com audiência altamente limitada e quase e só para manter contactos com amigos. Menos que 100 ligações (e algumas porque mo pedem com mais frequência que aquela que tenho paciência para recusar).

Tenho LinkedIn para assuntos profissionais e tento escrever o mínimo possível, até porque se tem vindo a tornar um novo Facebook. Fora isso só escrevo aqui, embora frequentemente pense em criar novo espaço para a minha escrita.

Sou assim porque a internet, e especialmente as redes sociais, se têm tornado uma fossa séptica de opiniões. Quando antigamente a comunicação era mais pessoal, a maior parte das pessoas demonstravam respeito uma para com as outras ou pelas opiniões, ou mantinham uma distância saudável em relação aos que não o faziam. A internet veio mudar isto. O anonimato, ou pelo menos a falta de contacto pessoal, tem feito com que o respeito por outros e opiniões se tenha reduzido. É quase universal e eu, por muito que o tente evitar, não sou alheio a isso.

No entanto isto custa-me muito. Comentários negativos não me custam, mas trolls com comentários parvos sim. O meu post abaixo (que entretanto decidi limpar) é um exemplo que até quase parece positivo. Se calhar o problema é meu. Certamente que o é. Por isso decidi acabar com isto de chafurdar na lama.

De ora e diante, os meus posts, poucos e raros que sejam, serão apontados a assuntos pouco controversos. Se abordar algum aspecto mais complicado (como fiz antes), ou deixarei os comentários fechados ou completamente abertos sem moderação. Deixarei de olhar para eles e deixarei de comentar. A minha saúde mental não mo permite. Quem quiser chafurdar, a caixa está abaixo. Eu abri a porta, mas não esperem que eu olhe para a fossa.

Revista da "imprensa"

jpt, 29.08.24

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O gigantesco CR7 está com 899 golos oficiais (e avança que quer chegar aos 1000...). Na Liga dos Campeões o Sporting irá jogar com o Manchester City e com o Arsenal - e ou seremos arrasados ou, caso contrário, o Amorim partirá para sempre... Os gajos do marketing da Mercadona conseguiram um grande trunfo sexual - e eu há anos a puxar pelo "Queen Margot" do Lidl e nem uma garrafa grátis consegui, uma injustiça. Hugo Soares, o jotão do PSD, não consegue distinguir Trump dos outros, mas o professor Ventura consegue. Pinto da Costa, proto-moribundo, diz que "Bruno de Carvalho foi injustiçado". É já consabido que a culpa da "troika" foi de Albuquerque - e entretanto ninguém se lembra que a avó do neo-Costa, Palla de seu nome, dizia, ufana, que "qualquer um seria melhor primeiro-ministro do que o último", isto quando Sócrates, o penúltimo, era o 44 de Évora e a urna de Campo de Ourique ainda não tinha sido necessária, bons velhos tempos em que o "democrático" "Observador" ainda não se prostituía ("manda os teus textos para o Observador", dizem-me os palhaços andantes...). Por falar em putas, o Ocidente é uma puta, Orban é um democrata, e a culpa da guerra da Ucrânia é mesmo dos filhosdaputa ocidentais, diz no Delito de Opinião.

O que me vale é que não vou aos ananases do Mercadona, fico-me sozinho. Onanista, que ainda verto... Junto ao Queen Margot. Esse do Lidl. Alemão, ocidental, filhodaputa.

Escritos sobre as jornadas

João Pedro Pimenta, 03.08.23

Finalmente um artigo, da autoria de Pedro Gomes Sanches, que fala das JMJs referindo-lhe a sua diversidade, uma palavra que está tão na moda mas que curiosamente não tem sido utilizada no maior evento de sempre em Portugal, com quase todas as nações do mundo. E também refere Deus, coisa tão pouco usada no discurso público com a estúpida justificação de que "a sociedade é laica" (como se a sociedade fosse um todo homogêneo, as pessoas não pudessem falar porque as outras não estão habituadas e o sentimento religioso não fosse parte da sociedade). Um pouco agressivo aqui e ali, mas assertivo.

Mas mais assertivo, mesmo de mão na anca, é este, de Maria João Marques, que desbarata a malta que não esconde o seu ódio (não confundir com algumas críticas razoáveis) pelo evento, com especial ênfase no BE. Dá cabo de um conjunto de ideias pré-concebidas e autêntica xenofobia vinda de gente que costuma acusar os outros disso mesmo.

Noutro registo, mas igualmente com algumas críticas, ver o que escreveu Afonso Reis Cabral.

Entretanto, sabem qual é o zénite da ironia? É ver a estátua de um tipo que expulsou os jesuítas, construída por outros que os reexpulsaram, no meio de uma enorme multidão que ali se deslocou para ver e aclamar um jesuíta. Definitivamente, muito pouco é definitivo.

Achismo

Pedro Correia, 15.12.20

Não sei se convosco se passa o mesmo. Deixei de ter paciência para ouvir qualquer frase que comece pela muleta verbal «eu acho que». Não há outra tão estafada e repetida até à náusea nos ecrãs televisivos.

Esta gente que está sempre a "achar" seja o que for errou a vocação. Em vez de exercer o comentário, devia dedicar-se à resolução de enigmas policiais. Se alguém se tornou especialista em achar alguma coisa, foram os detectives. Sherlock, Poirot, Maigret e Columbo: eis quatro célebres cultores do achismo em versão literal. Mas estes não se limitaram a mandar bitaites: encontraram mesmo o que tinha sido furtado ou estava oculto.

Dizer mal e dizer bem

Pedro Correia, 26.12.19

Escrevo textos de opinião, ininterruptamente, há mais de 30 anos. Ao longo de todo este tempo, nunca me esqueci de uma recomendação que, era eu jovem jornalista, me fez um camarada de profissão curtido em sabedoria e experiência: «Nunca digas tanto mal de alguém de quem possas vir a dizer bem nem tanto bem de alguém de quem possas vir a dizer mal.»

As lições mais simples, muitas vezes, são as que mais perduram.

Notas políticas (11)

Pedro Correia, 18.02.16

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Imagem da série televisiva Borgen

 

Lembram-se das opiniões que despontaram em Novembro como cogumelos? De repente a Dinamarca era apontada como modelo virtuoso a seguir. Motivo: ali vigora um governo liderado por um partido que não foi o mais votado nas legislativas e o "espírito de pacto" - bem visível na série televisiva Borgen, que de repente todos parecem ter acompanhado em Portugal - era então enaltecido e considerado fundamental para que um político como António Costa ascendesse ao poder por cá, embora sem ter recolhido sequer um terço dos votos expressos no escrutínio de 4 de Outubro.

Que esse modelo fomentasse o radicalismo identitário das forças minoritárias e desvirtuasse a regra número um da democracia - que manda confiar o exercício do poder aos mais votados e não aos que recolhem menos votos - era um pormenor de somenos para os arautos de tal tese, vigente apenas em quatro dos 28 Estados da União Europeia (os outros são a Bélgica, a Letónia e o Luxemburgo.) Que esse modelo assente essencialmente em coligações e não em gabinetes minoritários como aquele que se formou em Portugal era outro irrelevante detalhe.

Esta sinfonia de elogios à Dinamarca ocorreu há três meses - tempo que em política é uma eternidade. Hoje os mesmos que tanto enalteciam aquele país como fonte inspiradora são os primeiros a dirigir críticas ao Executivo de Copenhaga pelas suas leis de exclusão dos imigrantes ditadas pelo mais persecutório espírito xenófobo. De repente, já com Costa instalado em São Bento, a Dinamarca passou de virtuosa a viciosa. Na boca e na pena dos mesmos que tantos adjectivos derramaram em louvor do sistema político da monarquia nórdica.

Presumo que alguns, como protesto, tenham deixado de seguir a série Borgen até ao fim.

Agora imaginem o que ele escreveria se fosse um esquerdista pró-aborto

Sérgio de Almeida Correia, 28.10.15

"O petisco, porém, é mero engodo, pois os sinais positivos são em grande medida aparentes. A realidade é muito diferente da imagem que a coligação PSD-CDS usou como bandeira nas últimas eleições, e que lhe deu a vitória. Há várias bombas retardadas que gerarão problemas graves nos próximos tempos, exigindo medidas duras.

O crescimento não é suficiente ou sequer sustentável. O desemprego continua altíssimo e perdeu a dinâmica de descida, enquanto o investimento se recusa a atingir um nível decente. No Orçamento, depois de tanto esforço, atingiu-se apenas o limite máximo do intervalo permitido. Pior, a indiscutível redução do défice foi conseguida sobretudo à custa de medidas contingentes e temporárias, com poucas reformas na máquina. Preferiram-se cortes em salários e pensões, que na campanha todos os candidatos se propuseram eliminar. Por isso a tão falada consolidação orçamental está ainda muito longe. Por sua vez, o lado privado da situação financeira não é mais favorável. As empresas continuam descapitalizadas, os bancos permanecem frágeis e a taxa de poupança das famílias encontra-se no mínimo histórico. A conjuntura só é boa se comparada com a anterior.

Dois elementos agravam o quadro periclitante. Primeiro, o cansaço da austeridade. O país, embora longe de ter suportado o ajustamento necessário, sente-se com o dever cumprido e merecedor de alívio. O segundo é a vontade explícita que todos partidos manifestaram na campanha de lho conceder, prometendo tudo o que a ilusão exige.

Assim, qualquer governo que resultar da negociação pós-eleitoral vai ficar mal, faça o que fizer. Se cumprir as promessas, verá a troika regressar em breve; se tiver juízo e proceder como a situação exige, é crucificado por engano aos eleitores." - João César das Neves, A Ratoeira, DN

Ignacio Martínez de Pisón, escritor espanhol, artigo La Vanguardia

Patrícia Reis, 13.09.15

O que é ser um bom político, análise do autor espanhol partindo de três séries de televisão: Os Homens do Presidente, House of Cards e Borgen. Ignacio Martínez de Pisón escreve sobre a nossa visão política, necessariamente diferente depois de conhecermos Josiah Bartlet, Frank Underwood e Birgitte Nyborg. Lamentavelmente não há tradução. Para quem queira, aqui fica.

 

Los buenos políticos

Las series de televisión accedieron a la mayoría de edad cuando renunciaron al simple entretenimiento para asumir como propia una función tradicionalmente asociada a la literatura: la de ser una herramienta con la que interpretar la realidad. Nuestra percepción de la política, por ejemplo, no es la misma ahora que antes de la emisión de El ala oeste de la Casa Blanca, ese curso intensivo acerca de la gobernanza de la compleja y diversa sociedad norteamericana. Hasta entonces, nadie nos había contado tan bien cómo era la política vista desde dentro: los tejemanejes y pasteleos que a veces se hacen necesarios para sacar adelante una medida justa, los dilemas éticos a los que un estadista tiene que enfrentarse, las intromisiones de la pequeña prosa de la vida en la gran poesía de la Historia, las deslealtades que menudean en los aledaños del poder... No sin un optimismo ciertamente ingenuo, la serie transmite los clásicos valores norteamericanos: la fe en el progreso y en el potencial del pueblo estadounidense, el orgullo de sentirse centinelas del mundo libre, una vocación de liderazgo unida al concepto de responsabilidad colectiva.

Nadie que no sea ambicioso llegará jamás a dirigir los destinos de un país como Estados Unidos, así que hemos de suponer que Josiah Bartlet, el honesto e ilustrado presidente interpretado por Martin Sheen, lo fue alguna vez: su acceso al Despacho Oval viene a satisfacer unas aspiraciones que la concesión previa de un premio Nobel no parecía haber colmado. Pero la suya es una ambición puesta al servicio del bien común, el obsequio de sí mismo que el gran hombre hace a sus compatriotas. En House of Cards, por el contrario, es el bien común el que desde el principio está al servicio de la desmedida ambición de su protagonista, el maquiavélico Frank Underwood al que da vida Kevin Spacey. House of Cards es el envés de El ala oeste de la Casa Blanca. Donde antes había ejemplaridad y vocación de servicio, ahora hay hipocresía y tendencia a la manipulación. Donde había fe en la dignidad natural del ser humano, hay cinismo. Donde había alta política, sólo hay politiquería. En House of Cards, los políticos íntegros y honrados van quedando por el camino, y el bueno de Bartlet nunca habría pasado de ser un miembro más de la Cámara de Representantes.

Frente a El ala oeste de la Casa Blanca, que mantiene una confianza plena en el sistema, House of Cards exhibe las vergüenzas de un parlamentarismo reducido a la función de cómplice y tapadera de los omnipotentes lobbies. A su manera, es una serie antisistema. ¿Con cuál de las dos interpretaciones quedarnos? Por desgracia, no existe la democracia ideal, invulnerable, así que tendremos que convenir que en buena medida la política son las personas que la hacen. Personas que tienen o no la formación y el empuje necesarios. Personas que aciertan o se equivocan. Personas que creen de verdad en la democracia o que no: imagínense el desastre si un individuo como Donald Trump acaba sucediendo a Obama.

Otra de las grandes series políticas de los últimos años es Borgen, protagonizada por una presidenta danesa llamada Birgitte Nyborg. El partido que lidera es minoritario en el parlamento, de modo que la labor de gobierno la obliga a un constante ejercicio de equilibrismo político. A veces esos equilibrios provocan la deserción o el sacrificio forzoso de algunos de sus colaboradores más cercanos, y Nyborg suele despedirse de ellos con las siguientes palabras: “Eres un buen político.” ¿Qué entenderíamos nosotros por un buen político? Seguramente, una persona que aspira a mejorar las condiciones de vida de sus conciudadanos sin excluir a ninguno, que antepone los intereses públicos a los privados, que genera consensos y mantiene abiertas las vías de diálogo, que no inventa enemigos a los que echar las culpas de sus fracasos, que está dotada de la energía y la preparación necesarias para llevar adelante las reformas, que sabe comunicar las bondades del proyecto que lidera... Así es Nyborg precisamente, y el espectador desea desde el principio que esa mujer honesta y decidida supere todos los contratiempos que se interpongan en su camino. Pero nadie sigue siendo el mismo tras un período de intimidad con el poder, que aislándote de la sociedad limita tu visión de la realidad, que te apea de tus principios y distrae de tus objetivos, que altera definitivamente tu escala de valores... ¿En qué momento el buen político, aunque mantenga intactas sus capacidades, deja de serlo? Cuando el propósito de mantenerse en el poder desplaza al de servir al interés general. A partir de ese momento, ya no hay consensos sino componendas, no estrategias sino triquiñuelas, y el arte de la política degenera en simple politiqueo. Para entonces suele ocurrir que el buen político, que en el trayecto ha tenido que ir desembarazándose de sus mejores colaboradores, se ha quedado solo, y no hay nadie a su lado para advertirle: “Eras un buen político pero ya no.”

 
Nenhuma tradução disponível

Coisas que não sei se Tocqueville, Dahl ou Held alguma vez entenderiam

Sérgio de Almeida Correia, 18.07.15

"faz parte da democracia ter, de vez em quando, opiniões diferentes"

 

Pois, o ideal era só haver opiniões diferentes em relação à bola. Ou só aos domingos. Nisso há quem esteja muito à frente e não tolere opiniões diferentes. Nem sequer de vez em quando.

Seria um mundo muito mais arrumado, Herr Schäuble, tem toda a razão. E olhe que o Prof. Cavaco Silva é pessoa para compreendê-lo e até concordar consigo. A democracia, de vez em quando, é uma chatice.

Tanta ilusão, tanta mentira, tanta ignorância (1)

José Gomes André, 21.10.13

"o PEC4, o programa que evitava a intervenção da troika em Portugal"

"Consumada a infâmia, a campanha contra José Sócrates continuou dentro de momentos"

"na semana de demissão de José Sócrates os juros do nosso financiamento externo passaram de 7% para 14%"

"José Sócrates foi estudar. Escreveu uma tese, agora em livro, que o honra porque tem um ponto de vista bem argumentado"

"não podem culpá-lo (Sócrates) de uma infâmia que levou o país ao colapso político, financeiro, cívico e moral".

 

Clara Ferreira Alves, no Expresso, em artigo de opinião (!)

Alteração de circunstâncias.

Luís M. Jorge, 02.10.11

Que dizer às pessoas num momento como este? Tenho pensado nisso enquanto leio os outros blogs ou poiso os olhos nos jornais e encontro apenas ressentimento e angústia.

 

A opinião está barata, como qualquer produto em mercados saturados, mas a esperança não. Talvez não possamos mudar a realidade, mas está ao nosso alcance mudar alguma coisa em nós. Podemos ser um pouco mais observadores, um pouco mais capazes, e tentar fazer coisas que ainda não fizemos.

 

São raros os seres humanos verdadeiramente indefesos. São poucas as pessoas que não conseguem criar uma estratégia — e onde há uma estratégia há sempre uma esperança.

 

A esperança não é uma experiência colectiva, é uma experiência individual. Não depende da crise, não depende da idade e pode reforçar-se em contextos prejudiciais.

 

Por isso devemos aprender a separar os ruídos do mundo da nossa voz interior. Se a carga afectiva dos outros o perturba, ignore-a. Até nos períodos de crise há gente que prospera: procure essas pessoas.

 

Cada um de nós pode ser um pouco melhor a estabelecer objectivos realistas e a cumpri-los. Jorge Luis Borges escreveu que a coisa mais superficial de um homem são as suas opiniões.

Ignore as opiniões tóxicas.