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Delito de Opinião

A Madeira já é independente?

Pedro Correia, 31.07.21

«A Organização Mundial de Saúde pediu que os países que estão a vacinar crianças e adolescentes contra a Covid-19 deixem de o fazer e entreguem essas doses ao sistema Covax, para que possam ser distribuídas por países mais necessitados, como a África do Sul, onde nem o pessoal médico foi ainda completamente vacinado.»

Organização Mundial de Saúde, 15 de Maio

 

«A Organização Mundial de Saúde divulgou um vídeo explicando por que não recomenda que a vacinação de crianças seja uma prioridade neste momento da pandemia do novo coronavírus.»

Organização Mundial de Saúde, 11 de Junho

 

«Tudo está preparado para, nos fins-de-semana entre 14 de Agosto e 19 de Setembro, serem administradas as duas doses de vacina às cerca de 570 mil crianças e jovens entre os 12 e os 17 anos.»

António Costa, primeiro-ministro, 21 de Julho

 

«DGS recomenda vacinar crianças dos 12 aos 15 anos só com co-morbilidades.»

Notícia do Eco, 30 de Julho

 

«Decidimos aguardar por mais informação, nomeadamente a nível da União Europeia [sobre a vacinação generalizada de adolescentes entre os 12 e os 15 anos].»

Graça Freitas, directora "geral" da Saúde, 30 de Julho

 

«Madeira começa a vacinar no sábado 20 mil jovens a partir dos 12 anos.»

Notícia do Jornal de Notícias, 30 de Julho

 

«[Vacinar cerca de 20 mil adolescentes entre os 12 e os 18 anos] é uma decisão política do Governo [regional da Madeira] que segue aquilo que são as orientações da Direcção Regional da Saúde, da task force regional da vacinação e que segue no fundo aquilo que são as linhas orientadoras da Organização Mundial da Saúde.»

Miguel Albuquerque, presidente do Governo regional da Madeira, 30 de Julho

Mágoas

Sérgio de Almeida Correia, 19.01.21

Charter Covid 2021.jpg

"What is clear to the Panel is that public health measures could have been applied more forcefully by local and national health authorities in China in January. It is also clear to the Panel that there was evidence of cases in a number of countries by the end of January 2020. Public health containment measures should have been implemented immediately in any country with a likely case. They were not. According to the information analysed by the Panel, the reality is that only a minority of countries took full advantage of the information available to them to respond to the evidence of an emerging epidemic."

Enquanto não vêm criticar o painel independente e contestar as conclusões, leia-se o que ficou escrito no segundo relatório intercalar da Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Para mim, perante a informação que ao tempo possuía, pareceu-me evidente que não se prestou a devida atenção ao assunto em tempo oportuno.

Apesar de na altura já serem muitos os casos, se na China se escondeu, na Europa e no resto do mundo ignorou-se o que se estava a passar. Recordo-me de ter querido comprar máscaras em Portugal, no final de Janeiro e início de Fevereiro de 2020, e de não as haver disponíveis para venda. Foi preciso encomendá-las. E de não haver qualquer controlo nas fronteiras e nos aeroportos. Ainda ninguém tinha pensado nisso. Depois viu-se, está-se a ver, o que aconteceu.

Tudo o resto já é passado, servindo agora de muito pouco o envio da missão da OMS à China. A evidência que houvesse há muito que terá desaparecido atento o tempo decorrido, e partindo do princípio de que nada se eliminou, de pouco servindo nesta altura uma investigação controlada ao milímetro pelos anfitriões e devidamente "protegida" pelos capatazes habituais.

As preocupações de natureza política prevaleceram sempre sobre as exigências de transparência e de saúde pública. E isso aconteceu no início da pandemia, prolongou-se durante as fases iniciais de combate, tardando-se no reconhecimento da gravidade, desvalorizando-se os sinais que se multiplicavam ao nível de uma simples gripe por parte de uns quantos pobres de espírito impantes na sua ignorância, e teve um momento alto na forma destemperada como se reagiu ao pedido australiano para que fosse feita uma investigação internacional independente à origem do vírus.

Como se fosse a imposição de sanções comerciais a quem apenas clama por verdade, e um discurso xenófobo e pindericamente nacionalista, que permitisse escamotear a necessidade de uma investigação. Que seria sempre do interesse de todos, a todos poderia beneficiar, e acaba por acontecer tarde e a más horas, quando já não é possível esconder tudo o que de errado se fez e se pretendeu que o mundo não conhecesse.

Calculo que nunca haverá nenhuma assunção de culpa, nem isso é compatível com a altivez da pose e das respostas dos muitos que falharam clamorosamente na gestão política e sanitária da pandemia.

E se em Portugal surgirá quem aponte o dedo à irresponsabilidade e falta de sentido cívico e de pertença de muitos, também me parece incontornável que o pulso e a liderança não se impuseram, sobrando voluntarismo, insensatez e microfones. 

Os mortos ficam para as estatísticas. Todos perdemos muito. E continuaremos a perder. Algumas sequelas físicas e psicológicas serão permanentes. E as culpas, essas, acabarão proporcionalmente distribuídas em prol da cooperação futura entre as instituições e entre os países.

Para que tudo prossiga na paz do Senhor e do partido. Qualquer que seja a estrela que nos guie. Até à próxima catástrofe.