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Delito de Opinião

O PS (também) nos Olivais

jpt, 14.02.23

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Cresci nos Olivais (Lisboa), bairro sui generis para tal, a nossa geração sabe-o - e lá voltei após 25 anos, já cinquentão . Nestes últimos anos botei breves postais face a uma "junta de freguesia" com características de puro caciquismo, mediocridade intelectual e executiva e anunciado nepotismo. Nas últimas eleições municipais sublinhei como as perdas de votação do PS na freguesia - muito devidas às manigâncias e arrogâncias da sua presidente - foram, por si só, suficientes para a derrota da candidatura de Medina à câmara. Enfim, 40 anos de PS, sob apenas dois presidentes de junta, culminaram na evidência de que o PS só tem esta indigência para propor no centro da capital, algo denotativo de estado degenerado daquele partido.

Ontem o telejornal da TVI emitiu uma reportagem letal sobre os socialistas da junta de freguesia, comandados há uma década pela peculiar Rute Lima (uma colunista do jornal "Público", o que denota o servilismo político das direcções do jornal). Nela são denunciados múltiplos exemplos de puro nepotismo - por exemplo, várias contratações de parentes por afinidade ou consanguinidade dos membros da junta, contratados em feriados (inclusive num 1º de Janeiro recente....!) , manipulação de concursos públicos, etc. E termina a reportagem com uma nota escandalosa, anunciando uma reunião dos eleitos decorrida no último domingo, destinada à destruição documental...

Alguns dirão que é apenas um caso pouco relevante, uma minudência paroquial, mera questiúncula de freguesia - apesar de esta ser bem maior do que muitas das câmaras do país, e sita no centro da capital. Mas não é correcta essa visão. De facto, todos os regimes, todos os sistemas políticos, todos os partidos e ideologias, são permeáveis a (más) influências de grandes interesses económicos... Mas o problema é quando os regimes ficam prisioneiros deste tipo de petty-corruption (a contratação da namorada do vereador e putativo novo presidente, a contratação do filho da presidente, a adjudicação directa da pequena prestação de serviços ao camarada de partido, etc.). Pois isto significa a degenerescência do regime, evidente caso de top-down, de cima a baixo... E patenteia a inexistência de dinâmicas internas dos partidos incumbentes em se regenerarem, enviesarem para rumos democratizadores e desenvolvimentistas. 

Sobre este caso dos Olivais há ainda três pontos relevantes: nada disto é surpreendente, não só ecoa a fatigada vox populi do bairro como traduz todo o aspecto caciquista que este poder lisboeta patenteava, diante da cumplicidade apoiante da liderança partidária; tudo isto vem a público devido a uma reportagem jornalística inserida naquilo a que os próceres socialistas constantemente atacam - e convém lembrar o tétrico actual presidente da Assembleia da República, agora a pavimentar a sua candidatura a Belém, sempre na sua peleja contra a investigação jornalística, a que chama "jornalismo de sarjeta", e pronto a procurar legislar para obstar à efectiva liberdade de expressão e fértil em pressões sobre as administrações e direcções dos órgãos de comunicação social. E finalmente, ainda mais demonstrativo do que é o PS actual: como deixei aqui no final de 2021, a socialista Rute Lima, que tem este entendimento do exercício  dos poderes autárquicos, foi logo cooptada para em tempo parcial trabalhar na gestão da câmara de Loures, conquistada pelo seu partido nas últimas eleições. Pois é isto que o PS considera relevante e necessário  para o exercicio do poder. Autárquico e nacional.

Programa sobre os Olivais

jpt, 10.12.22

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Vizinhos elogiosos dão-me a conhecer este programa radiofónico (aka podcast) "Lisboa e os Lisboetas" devido a esta sessão (51 minutos) sobre o meu bairro Olivais. Avanço para o ouvir, enquanto leio: interessa-me o bairro e conheço o "entrevistado" (é uma conversa, não uma entrevista) Pedro Bidarra há 40 anos, olivalense de gema, publicitário renomado, romancista, tipo refinado e de bela verve.
 
Na introdução da conversa o autor do programa deixa algumas indicações sobre "os Olivais" (é assim que se diz) rural, pré-1950s, incidindo na rede de "quintas" das quais há apenas alguns vestígios remanescentes. E mais para a frente alude à evolução da actual "Avenida de Berlim", a velha "Entre Aeroportos" (o de Cabo Ruivo, para hidroaviões, e o posterior da Portela), memórias corográficas decerto que interessantes para os fregueses que as desconheçam.
 
No início da conversa o Pedro Bidarra deixa um pouco da sua, que é a nossa, a da geração fundadora dos Olivais, memória sobre como foi crescer no bairro no pós-25 de Abril - e faz muito bem em lembrar que algo disso deixou no seu ríspido e tão interessante romance "Azulejos Pretos" (ele tem outra ficção, "Rolando Teixo", que é um mimo, e vou avançando isto porque vem aí o Natal e dar livros é bom, e ambos são uma boa opção).
 
Depois a conversa desenrola-se, e torna-se um espaço para o autor do programa - José Sá Fernandes, um antigo vereador municipal (surgido com o BE e prosseguido no PS) -, "mudando a agulha" com constantes derivas elogiando ... a sua obra camarária. Deixo cair o livro, deliciado, ficando só a ouvir - pois ter-se-á perdido um bocado do fio à meada olivalense, mas com ganhos, pelo menos para mim, crente que sou no método indutivo. Pois é um documento, delicioso (repito-me) sobre "lisboa", aquela "que anoitece" como (não) cantava o cantor... Lá mais para o fim o Bidarra (com algum carinho - é notório que são amigos - quiçá irónico) deixa uma breve pérola, tentando matizar o fervor intervencionista, até demiúrgico, do político agora radiofónico.
 
Enfim, terminado o programa não resisto e prometo-me: depois dos quartos-de-final de hoje ouvirei o programa (30 minutos) dedicado ao "Bairro Alto" (post-Frágil, claro), cuja "entrevistada" é a articulista do "Público" Carmo Afonso, comunista, putinesca e que se queixa de os taxis lisboetas federem a "trabalhadores portugueses". Mais "lisboa", decerto...

Sou o José dos Olivais, tenho 58 anos e já fui emigrante...

jpt, 28.10.22

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Acabo de conhecer este episódio parlamentar. É o da "Ana dos Olivais" - uma historieta sobre uma imaginada "Ana de 25 anos" do meu bairro lisboeta, narrada como se exemplar por um deputado do PSD, Alexandre Poço, que assim a quis projéctil endereçado ao primeiro-ministro António Costa.
 
O breve episódio (na ligação estão as duas curtas intervenções) causa-me duas constatações: 1) Alexandre Poço, um ex-jotinha PSD agora já adulto deputado, e que foi conhecido por nós-vulgo através de uma fruste candidatura autárquica que quis "engraçadista", nem televisão vê. Pois se o fizesse em qualquer "filme de tribunal" americano teria aprendido o célebre mandamento: nunca fazer perguntas para as quais não se está preparado para a resposta. E como tal foi-se ele à bancada fazer uma pirueta retórica - um ademane engraçadista -, e em resposta levou "pela medida grande". Para melhor me fazer entender direi que Poço, a putativa "jovem estrela PSD", esteve para Costa como há dois dias Flávio Nazinho esteve para Harry Kane... Encomende-se o rapazola ao VAR ou ao gongo, a ver se se safa nos seus próximos atrevimentos no hemiciclo que, pelos vistos, imagina qual campo da bola ou ringue.
 
2) O episódio chamou-me a atenção por ter sido invocado o meu bairro. No qual cresci até aos 25 anos, ao qual voltei aos 50. Conheço alguma coisa do que se passa. Várias vezes botei sobre os Olivais: notando os maus efeitos de uma atrapalhada, pois voluntarista, reforma da administração autárquica; notando a ausência de políticas de "reanimação" urbana; vendo o predomínio de uma visão assistencialista de paternalismo clientelar; clamando contra o - de facto - boçalismo das lideranças que o PS implantou numa freguesia central da capital (com 32 mil eleitores, repito-me até à exaustão). E sublinhando, com a ênfase que me foi possível, que só aquilo que o PS perdeu nos Olivais nas últimas autárquicas foi suficiente para derrotar Medina (malvada a Sorte, pois a este lhe serviu para chegar a ministro, e sorridente como se vê nestas gravações...).
 
Mas notei também, e botei-o, a total irrelevância, a candura ignorante, das restantes candidaturas autárquicas, das atenções partidárias, sobre este meu bairro (o tal dos 32 mil eleitores sitos no centro da capital). Nem à esquerda, nem à direita, nem ao centro, nada foi proposto, nada foi pensado e discursado, um vácuo completo. Mais surpreendente ainda num partido com traquejo, experiência de poder nacional e autárquico, como o é o PSD e que tinha uma candidatura municipal pujante. Nada mesmo, apenas umas candidaturas fundidas, uns candidatos mudos e quedos.
 
Avançaram alguma coisa no último ano? Ouviram o real, pensaram-no, projectaram algo? Que se saiba nada disso aconteceu, nada disso foi divulgado. Resta apenas este jotinha engraçadista, qual um galamba psd, a invocar o bairro e seu universo num destemperada patetice... Convirá perceber que não há pior, não há rumo mais eunuco, do que o engraçadismo (o que serve para o PSD deste jotinha e também para a IL, a qual, ou muito me engano, ou com Rui Rocha ainda mais perseguirá esse aparente trunfo). E, acima de tudo, convirá que o PSD (e não só) perceba que "o que é preciso é pensar a malta". Não é animá-la...
 
Enfim, sou "o José dos Olivais, tenho 58 anos e já fui emigrante...". E não tenho paciência para estes jotinhas vácuos.

Pastelaria Nova Arcadas

jpt, 21.09.22

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Ficou célebre a definição que é descrição feita por George Steiner, que hoje ainda mais actual surge: “A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa, frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos Cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos ou definidores em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Poucos em Inglaterra, após um breve período em que estiveram na moda, no século XVIII. Nenhuns na América do Norte, para lá do posto avançado galicano de Nova Orleães. Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter­-se-á um dos marcadores essenciais da ideia de Europa”. Atrevo-me a deixar adenda ao dito do sábio, é esta "civilização" Europa - esse eixo de Lisboa a Odessa, da Sicília a Copenhaga - o local dos cafés individuais, cada um com seu dono, configuração única, estilo próprio e clientela particular, assim conteúdo específico, "personalidade" por assim dizer, e não dessas cadeias americanófilas, Starbucks ou quejandas "padarias portuguesas"...
 
E se isso é para Lisboa, cuja biografia pode ser traçada em levas de "cafés", "leitarias" e "tascas", com suas nomenklaturas e seu lumpen, por maioria de razão o digo para os Olivais, esse meu bairro onde cresci e, agora, me aquiesço nas vésperas do forno. Uma grande extensão construída nos 1960s, abarcando a anterior Encarnação, orlada pelo vetusto Olivais Velhos, costas viradas ao Tejo, tornou-se o bairro "a maior freguesia da Europa", gabávamo-nos sem preocupações de rigor, povoada por casais jovens carregados de filhos, como era então costume. Uma enorme população, que Salazar mandara ser multiclassista, nisso saudavelmente desprovida de "condomínios" securitários e fronteiras finórias. População essa, a juvenil e respectivas parentelas, que se associava em torno dos cafés pelos quais cada grupo optava, por motivos de vizinhança, classe, estrato, estilo ou consumos... Do "Gordo" ao "Modesto", do "Tosta" à "Nanu", entre tantos e tantos outros - de tal forma que décadas depois ao conhecer-se alguém que tenha crescido nos Olivais logo se impõe a sacramental pergunta "onde é que paravas?", como quem pergunta "quem és tu?".
 
Eu "era" do "Tó" - na Cidade do Lobito -, nome que marcava o estabelecimento do (óbvio) Senhor António, que o deteve durante décadas, pastelaria com ares de "classe média" (como então não se dizia), algo excêntrica no tal caldeirão interclassista da azáfama do bairro. As décadas passaram, eu parti (tal como quase todos os do bairro), o "Tó" foi trespassado, assumiu o nome "Arcadas" e foi prosseguido em boas mãos conjugais, o sempre "Senhor" João e a "Dona" Júlia , a propiciarem o bom ambiente necessário.
 
Nestas décadas as formas de convívio muito foram mudando. Nesse entretanto o bairro envelheceu, e nisso empobreceu. Os indígenas partiram, em múltiplas direcções. Novas levas de habitantes foram chegando, muito menos atreitas ao "estarmos juntos" e encapsuladas pelos efeitos do paradigma "centro comercial" que se instalou. Como é óbvio, o espectro de "cafés" foi-se atrofiando e os ambientes respectivos unificaram-se, no primado de uma rudeza vigente, atrofiadora de qualquer vislumbre de tertúlia.
 
A tudo isso foi resistindo o "Arcadas", como o comprovei quando regressei aos Olivais, 25 anos depois de ter partido. Ainda albergando a terceira idade original e, mais do que tudo, ponto de encontro da nossa "Velha Guarda" quando em visita ao bairro. Ali havia uma boa "imperial". E um bom ambiente: gente educada e gentil no serviço - uma tradição de décadas que unia as gerências que lhe conheci -, que assim moldava (e filtrava) a clientela. E onde encontrava eu amigos e (ex-)vizinhos que vêm da primária, do liceu, da adolescência. E também da juventude adulta. E até, imagine-se, feitos nesta era cinquentenária. Ali se falava de quase tudo: talvez não de Kierkegaard mas decerto que de Babel ou Steiner... De trabalho, do ânimo - nosso e dos outros-, de política, de futebol, da saúde própria e alheia, do rame-rame, dos nossos queridos, de gastronomia e culinária, de livros, das memórias e até ainda dos anseios, e (hélas, já não) de mulheres. E durante tudo isso bebia-se..
 
Há dois anos o casal proprietário entendeu, merecidamente, ter chegado o momento da reforma e trespassou o café. Passado a uma dessas "cadeias". O descalabro foi imediato. E ficou o bairro completamente desprovido de uma esplanada com um mínimo de elegância, nisso indutora de convívio apetecível, de ponto de encontro.
 
Enfim, agora, dois anos depois, hoje mesmo, o (Senhor) João e a (Dona) Júlia reabrem o café, a por tantos de nós, habitantes e ex-habitantes, ansiada Pastelaria "Nova Arcadas". De lá um amigo logo me enviou um efusivo "Já abriu!!!" com esta fotografia. Eu estou alhures, em nenhures. Mas exulto, e amanhã aproximar-me-ei do Trancão, irei ali à cidade do Lobito, para um imperial ou até mais. Espero uma mesa composta. Apaziguada até, pela felicidade de nos podermos encontrar no nosso sítio. Aprazível. E com aquele leve travo, tão precioso, da alguma elegância. Apenas a q.b., sem ademanes. Como sempre ali foi.

Olivais de novo

jpt, 17.07.22

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Aqueles que me vêm aturando nestes anos - e em particular desde que regressei à Pátria Amada - talvez se lembrem das minhas cíclicas investidas sobre a Junta de Freguesia dos Olivais (Lisboa), sua respectiva presidente, a inefável (sim...) Rute Lima, e o conjunto de decisões, práticas e demagogias que dali vai brotando. Os que me dedicam mais paciência recordar-se-ão ainda de como provei - matematicamente - que foi devido ao trambolhão eleitoral socialista nos Olivais que o presidente da Câmara teve o ensejo de ascender a Ministro das Finanças, pavimentando o seu óbvio rumo a São Bento... Santa serendipidade, deve murmurar Medina, louvando assim as patacoadas dos seus correligionários na freguesia.

Alguns dirão que exagero, que aquela equipa PS de Lima não pode ser tão má como eu a pinto. Pois então comprovo-me, deixando a notícia de há dias que só agora vejo: a Junta de Freguesia desinterpretou a indicação governamental e mandou fechar todos os parques infantis dos Olivais. Foi a única Junta a borregar desta maneira, tamanha a incompetência (para não dizer pior) que lá grassa. E, ao que consta, aos fregueses que acorreram ao seu sítio pedindo esclarecimentos, os autarcas defenderam a sua posição alegando que "está calor, isso faz mal às crianças". Depois, dias passados, lá emendaram a patetice.

Espero que este exemplo, entre o pungente e o patético, sirva de vez para que me votem indulgência: quando me irrito com a Junta do meu bairro não é coisa de "partidos". É mesmo porque Rute Lima (colunista do prestigiado jornal de referência "Público", convém recordar) e sua equipa ultrapassam o imaginável. E sempre insisto, colocados no poder pelo PS em Lisboa, capital do país, entre o Parque das Nações e as Avenidas Novas - numa freguesia com 32 mil eleitores.

Isto deve dizer qualquer coisa sobre a natureza daquela agremiação.

Chamuças nos Olivais

jpt, 01.05.22

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Há anos que o bom do José Paulo Pinto Lobo faz o favor de ir lendo o que boto em blogs. Por isso sabe bem da minha única adesão ideológica: o chamucismo. Já explicitei a minha crença de que o motor da História é a demanda de chamuças, a Utopia pregnante é perfeição da Chamuça, e que a Estética se funde na Ética no propósito da correcta condimentação sob o crocante da massa.

Disso conhecedor o Pinto Lobo logo me avisou que na festa popular na Encarnação (Olivais) - a decorrer até ao próximo fim-de-semana - ali estaria um templo da Chamuça. Logo acorri e pude comprovar da verdadeira, e inolvidável, excelência das chamuças que o simpaticíssimo Edgar Bragança ali está a distribuir, iluminando mentes e palatos.

Comi várias, falámos um pouco da "Pérola do Índico" - de onde ele é oriundo - e de alguns amigos comuns, mas pouco pois ele não tinha mãos a medir, face aos gulosos clientes que se enfileiravam ali defronte. Para culminar abarquei uma fatia de bebinca que estava, pura e simplesmente, e para não exagerar, soberba.

Parti, com a alma sossegada, pois dotado do folheto do World Masala - Comida com (C)Alma, assim com possibilidades de encomendar a decerto que magnífica "comida ao domicílio" que a equipa do Edgar Bragança providencia.

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Quando é para resmungar um tipo deve fazê-lo. Mas para isso também deve louvar quando é para louvar. E nisso há que frisar que está muito bem a Festa que a Junta de Freguesia dos Olivais está a organizar durante estes quinze dias. Ide lá, mesmo que fregueses de outras paragens. E, insisto, visitai o sítio das chamuças

Olivais & Loures

jpt, 21.11.21

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Nos últimos tempos fui botando sobre os Olivais - onde resido - e a sua peculiar Junta de Freguesia. Referi (aqui e aqui) o seu inaceitável e desavergonhado comportamento durante o dia de eleições, com o pessoal contratado pela Junta para acompanhar as votações a envergar vestes propagandísticas da lista do PS. Pouco antes antes aludira (por exemplo aqui e aqui -  para além de textos bem anteriores) a essa mediocridade caciquista dos elementos PS que ali dominam desde há décadas. E depois das eleições sublinhei como as perdas de votação do PS naquela freguesia - e que muito se deveram às manigâncias e arrogâncias da sua presidente face aos interesses da população - foram, por si só, suficientes para a derrota da candidatura de Medina à câmara (aqui, aqui, aqui).

Tal insistência minha poderá parecer demasiada a quem não conheça o "bairro" e não possa assim perceber a intensidade do baixo nível daqueles eleitos para a Junta, a indigência intelectual da abrasiva demagogia, o exercício pessoalizado do poder autárquico - histriónico no caso da presidente da junta. E, acima de tudo, o efectivo desrespeito pelos fregueses, patente na forma altaneira e paternalista de exercício de funções. De facto, uma atitude anacrónica, já excêntrica pois situada no centro da capital. E a qual foi, repito, bastante punida nas últimas eleições, ainda que a lista do PS tenha mantido a Junta apesar dessas grandes perdas de votos - insisto, faltou aos restantes partidos a tempestiva apresentação de candidaturas informadas e preparadas para este exercício.

O que é interessante - e tão denotativo da prática política dominante, do modus operandi socialista - é que a nossa presidente da Junta e colunista do prestigiado jornal "Público", Rute Lima, após este percurso na gestão da freguesia, irá acumular o seu posto com um outro cargo remunerado na câmara de Loures, recentemente ganha pelo PS, isto independentemente de futuros "concursos" para os postos públicos, ascensão ancorada na "amizade" entre os políticos locais. "Nada de ilegal", diz a autarca e colunista do "Público". Não é ilegal, é imoral, como se refere neste artigo de jornal. Bem sublinhando que estas "contratações" (ainda por cima em acumulação de funções) "em regime de substituição" servem para aplainar o terreno, de molde a que estes contratados a "prazo" possam garantir os lugares nas futuras encenações de concursos públicos...

E assim tudo isto, este conúbio entre o PS de Loures e o PS dos Olivais, será apenas aquilo constante do les beaux esprits se rencontrent. E é notório: os anos passam e as pessoas do PS não aprendem, não mudam, nunca melhorarão. Estão lá para isto mesmo. Aquele partido, feito desta gente, é irreformável. Há os maviosos "parolos" a la Santos Silva, disfarçados do "não sei nada" E há os quem nem de "parolos" se mascaram, a la Carlos César...

Enfim, os meus desejos de boa sorte para os vizinhos de Loures. Que bem precisarão. Tal como nós, sofrendo estas Rutes Limas e estes Ricardos Leões. Desde o topo do governo até cá abaixo, até à mais ínfima e recôndita das caves da coisa pública...

 

O Polígrafo, a queda de Medina e os Olivais

jpt, 04.10.21

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A propósito dos hipotéticos efeitos nos resultados eleitorais de Lisboa tidos pela reportagem da "Sábado" sobre as práticas aquisitivas da presidente da junta de freguesia de Arroios, o Polígrafo tem hoje um artigo - de Carlos Gonçalo Morais - que mostra terem sido substanciais as perdas da candidatura de Medina nessa freguesia. E através da comparação com as outras freguesias lisboetas onde o PS não ganhou a freguesia (perdendo a presidência ou repetindo a derrota) evidencia ser Arroios uma das freguesias onde a punição eleitoral do PS, tanto para a Câmara como para a Junta, foi maior, apenas ultrapassada pela acontecida no Lumiar, deixando assim implícito (quase explícito...) que o desvendar daquelas deselegantes práticas da presidente da Junta terão lesado a candidatura camarária do partido incumbente. Para comprovar isso o artigo apresenta uma tabela com os resultados dessas freguesias. E conclui, certeiramente, que "é verdadeiro que a freguesia presidida por Margarida Martins – Arroios - foi uma daquelas em que o PS perdeu mais votos nas últimas autárquicas em Lisboa, quer para a Câmara Municipal, quer para a Assembleia de Freguesia, com a erosão a ser ainda maior para Margarida Martins do que para Fernando Medina."

Eu direi que é "Verdadeiro, Mas...". E recordo este meu postal, "Os Olivais e a derrota de Medina" - nisso para ele apelando à atenção do Polígrafo, se tal for possível. É certo que na freguesia dos Olivais o PS não perdeu a presidência da Junta (o critério que o artigo escolheu para a comparação). Mas as suas perdas foram substanciais, e isso será um dado interessante para esta reflexão sobre o peso global da derrota em Arroios. 

Para o evidenciar vou aduzir Olivais à lista de freguesias apresentadas pelo Polígrafo:

 

 

Os Olivais e a derrota de Medina

jpt, 30.09.21

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Eu cresci nos Olivais e um quarto de século depois, já cinquentão, a eles regressei - e fui blogando sobre isso (2.3.2004, 16.6.2016,  31.7.2019). Também estive no Olivesaria, blog colectivo dedicado ao historial do "bairro". Nos últimos anos, e até antes de ter retornado ao país, de vez em quando sobre ele escrevi, até breves textos com alusões políticas - como em 27.3.2013, 28.11.2014, 21.6.2016, 29.3.201721.9.2017, 30-9-20172.10.2017, 3.12.2017,  29.11.2019, etc. Nunca um texto sistemático, fora de blogs, e devia tê-lo feito, nisso pensei e até como resultado de inúmeras conversas com vizinhos amigos sobre a situação do bairro e as deficitárias características dos incumbentes autárquicos. Fiquei-me na preguiça dos meros resmungos bloguísticos.  

Tendo residido 18 anos em Maputo quando regressei aos Olivais três factos - para além de intuir acentuadas alterações sociográficas - chamaram-me a atenção. O mais visível foi o mau estado da recolha de lixo e da manutenção dos muito vastos ajardinados - e se alguém chegado de uma cidade com os problemas urbanos como Maputo tem reparava naqueles disfuncionamentos é porque algo estava mesmo mal . Maldisse sobre isso, até em blog. Mas, justiça seja feita, só depois soube que houvera uma relativamente recente alteração nas responsabilidades municipais, com o aumento das tutelas das juntas de freguesia. As quais, provavelmente, estariam suborçamentadas para enfrentar as novas tarefas e estariam também desprovidas dos recursos humanos adequados para as executar. 

 

 

O meu voto amanhã

jpt, 25.09.21

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Esta cena do Estado nos tratar como criancinhas estúpidas, proibindo que falemos publicamente de política na véspera das eleições, tem que acabar. Mesmo.
 
Para quem se possa interessar: amanhã, domingo, para a CML votarei na lista encabeçada por Carlos Moedas. Faço-o resmungando. Pois votar num tipo que trata Medina pelo primeiro nome dá-me uma enorme azia - pois a proximidade a Medina só descredibiliza, polui. E, também, porque não tenho paciência para estes gajos que me tratam por "tu". Nem andámos juntos na escola nem fizemos a tropa ao mesmo tempo. Para falar comigo que usem a terceira pessoa, porra. No singular, com apelido. No plural, respeitando quem os elege. Alguém que diga isso a Moedas, se voltar a ir a votos. E aos outros patetas que montaram a campanha (que assim começou, dizem-me, por mero e preguiçoso decalque de similar expressão numa velha campanha espanhola).
 
Para a minha Junta de Freguesia dos Olivais - onde manda uma inenarrável presidente socialista, que será secundada por Vanda Stuart e Ágata? Que se lixe, votarei no PCP.

Olivais, Lisboa: a autofilia camarária

jpt, 27.03.13

Cresci no bairro dos Olivais, em Lisboa. Uma urbanização dos anos 1960s, uma mescla sociológica ("melting pot" a la Portugal de então) a acolher a alvorada da macrocefalia urbana no país, o crescimento da cidade "capital do Império" de então - estatuto bem marcado na toponímia do bairro, os Olivais-Sul com as ruas nomeadas segundo as localidades ultramarinas (eu sou "da Bolama") e as dos Olivais-Norte dedicadas a evocar os mortos na guerra colonial (a minha irmã viveu na "Alferes Barrilaro Ruas").

  

 [O Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, descerrando a lápide onde se perpetua o nascimento da nova urbanização (imagem encontrada aqui)]

 

Obra de regime, do Estado Novo tardio. Na ideologia, no simbólico, na visão sociológica. E no urbanismo projectado. Um ideal "civilizador" baseado num irenismo sociológico, "vizinhando" diversos estratos sociais, crente nas "boas influências", nos mecanismos de integração cultural e, até, na possibilidade de assim induzir alguma mobilidade social e cultural. Desde uma classe média mais abonada, o pessoal "das vivendas", ali à "rotunda do relógio", passando pelo funcionalismo público de alto estatuto (os tempos eram diferentes ...) agregado nos "prédios dos juízes" ou dos "militares" (oficiais superiores) ou às vivendas para quadros com prole avantajada (que ainda os havia). E, no outro extremo da pirâmide, mas contíguos nas residências, outro tipo de habitação social para reinstalados de zonas pobres, até refugiados das cheias que avassalaram Lisboa em finais dos 1960s, alguns conjugados em zonas que adquiriram nomes pitorescos como "Aldeia dos Macacos" ou "Vietname", que o célebre "Cambodja" era além-fronteiras, apesar destas porosas, já no início de Chelas.

Locais esses, e outros, temidos em criança, de onde vinham as vagas de perigosos "ciganos" (que não o eram), primeiro para nos roubar as bolas e outros "gadgets" (que não se chamavam assim e eram bem poucos), depois para nos entre-aliarmos, aprendendo a viver no mundo como ele é, e, finalmente já como criança-mor, os invadirmos para comprar as diversas drogas com que esfuziámos a chegada da idade. Caldeirões destas mezinhas eram as "escolas" de então, o célebre D. Dinis (também lá em Chelas mas frequentado por gente do "nosso" lado), a "Piscina", os "Viveiros" que fundei e onde andei durante anos, em cima daquela areia vermelha que afinal era tóxica. Escolas de peculiar funcionamento, cuja memória sempre me faz sorrir diante dos tontos queixumes d'agora, esses de que "a escola dantes é que era boa".

Enfim, nisso resultou uma enorme freguesia, então com uma população jovem e descabelada (um dia deu-me a saudade e escrevi este "Olivais", memórias quase em regime etnográfico). Com uma cultura "regional", "tribalista" se se quiser. Calão, percursos, ícones, referências próprias. E mecanismos de solidariedade, que foram ficando, mesmo que algo esgarçados pelas décadas passadas - ainda hoje em Maputo descubro, de quando em vez, um tipo dos Olivais. "Do norte ou do sul?" logo é a questão, "do Modesto, do Tó ou Tosta, do Brisa?", logo segue o inquérito, a ver das raízes e percursos traduzidos pelos cafés, fortins de então, exactamente como outros perguntam colégios ou duplas consoantes ou falsos tios. E fico de olho no "tipo dos olivais", a ver se precisa de algo (e, confesso, se justifica a atenção). Tudo isso porque a gente gostou de lá crescer. Há alguns anos os projectistas, alguns arquitectos que vieram ser célebres, fizeram rescaldo e lamentaram o rumo do bairro e até deixaram entender que reconheciam erros. Talvez. Mas os utilizadores gostaram.

Bem, vem esta memória a propósito do que vai acontecendo no velho bairro. E também para justificar esta minha atenção. Pois um tipo dos Olivais, mesmo que vivendo do outro lado do mundo, fica atento ao que lá se passa.

 

No centro dos Olivais um baldio ficou "esquecido" durante décadas. Originalmente pensado para "centro social", comercial e cultural, mas as convulsões da sociedade nos 70s e 80s estancaram o processo. 

 

 

O baldio foi mato até à democracia. Então aconteceu a reforma agrária. No Alentejo e não só. Pois também ali o terreno foi tomado pela população, as franjas mais "populares" circundantes foram-se a ele e retalharam-no em courelas, dedicadas ao auto-consumo, lembro que em particular de viçosas couves. Cresci nestes prédios, literalmente com machambas diante do nariz.

Anos passados, na euforia da europa e da "economia de serviços", finalmente se avançou com a urbanização. Prédios de habitação, escritórios e um centro comercial (entretanto, após o Acordo Ortográfico, chamado shopping centre). E mais haveria, hotel para o Euro-2004, se calhar mesmo pensado para a EXPO-98, para apoiar o aeroporto, enfim. Claro que ainda não está pronto. A obra começou há 20 anos, em 1993, como mostra esta retrospectiva apresentada no Olivesaria, um blog colectivo dedicado ao bairro que partilhei com alguns velhos amigos-vizinhos.

 

 

 

 

 (Abril de 1993)

A primeira parte do projecto ficou assim, uma "grande muralha", completamente esquecida do tom original do bairro, sempre residencial. Esquecida qualquer ideia de zona verde (certo que há uns canteiros dentro do shópingue). Muitos logo protestaram, até porque o estabelecimento de serviços cívicos, culturais se se quiser, foi apagado. Pois nestes tempos "sem ideologias" o cívico é o centro comercial, que a gente ou vai às compras ou vai ver as montras. E os calhamaços.

 

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 (Primeira parte do projecto concluída)

 

Depois, logo depois, avançou-se para a segunda parte do projecto. Mais prédios, nada mais do que prédios. Tudo tão apertadinho, tão utilizado, que um deles está mesmo, literalmente, em cima do passeio. Apesar do grande espaço daquela rotunda. O espantoso é que vinte anos depois do início do projecto as obras não estão concluídas. Claro, há anos que os últimos prédios terminados estão vazios e que vários outros estão ainda em estrutura. A demência, a cupidez, a irracionalidade económica na república da "economia de serviços", da "indústria da construção civil" e do sacrossanto "poder local".

Repito: há vinte anos que começou a construção na rotunda central dos Olivais, entretanto passado de bairro arrabalde a zona central da cidade, pelo crescimento a leste, pela Expo-98. E ainda não está terminada. Nem há actividade construtora.

Neste festim de betão surgiu o óbvio, já anunciado há décadas atrás. Tanto foi o espaço ocupado, inutilizado, e a falta de planificação, que o estacionamento no centro daquele bairro residencial se tornou um quebra-cabeças. A solução camarária demorou. Mas depois foi simples. (Quase literalmente) Lapidar.

 

 

 

Foi-se à rotunda (esta, onde está um tal de "Spacio Shopping") e instalou o sentido único para os automóveis. Para facilitar o estacionamento em espinha, claro. Mas assim constituindo um autódromo.

Dada a dimensão da área é uma total violência naquela área urbana. Sob o ponto de vista urbanístico. E também securitário, tornando uma aventura pedonal uma mera ida às compras. Ainda para mais num universo tão envelhecido ("pai, porque há tantos velhos em Portugal?" pergunta-me a minha filha, espantada, aquando nos Olivais).

A desmesurada e irreflectida medida está em "experiência" durante este semestre. Alguns olivalenses, de rija têmpera, lançaram agora uma petição. Para refutar esta insensatez. Urbanística. E também securitária. A petição está aqui: contra as alterações no trânsito e na mobilidade nos Olivais Sul.

Não será apenas um assunto para "olivalenses". Será, com toda a certeza, assunto para qualquer habitante do país com sensibilidade . Para qualquer peão. Para qualquer cidadão. Nem que seja apenas para ensinar algo aos autarcas. Educá-los, civilizá-los. Exactamente, o tal propósito que alimentou o projecto "Olivais" ...