Três livros (3)
Desde a criação do mundo que esse desprezível sentimento faz parte das nossas vidas. Foi a inveja que levou Eva à maçã e foi por ela que o diabo se afastou de Deus. Foi deusa romana, que por onde passava tudo secava, está presente em Dante e serviu de objecto de estudo a Tomás de Aquino. Há quem lhe reconheça, de acordo com o judaísmo, na justa medida, qualidades propulsoras do progresso e surge associada a numerosos artistas. Bosch imortalizou-a numa obra de excepção que pode ser apreciada no Prado, e ei-la agora de novo redescoberta na trama do último livro de Carlos Morais José, um pequeno tratado das compulsões da alma humana que viaja pelas desventuras de Camões, Diogo Vaz de Caminha e Diogo Couto, percorrendo Baudelaire, Borges, Leitão de Barros e alguns mais, até desaguar em Malinowski. Escrito com a simplicidade própria da escrita que se quer intemporal, reconhece-se com facilidade a formação antropológica do autor numa espécie de observação participante da história e da literatura na figura do seu protagonista. Editado com cuidado pelos Livros do Oriente, traz na capa uma reprodução do belíssimo Retratto de uomo con libro (1530), de Parmigianino. Agradável surpresa que marca este final de 2016 e será, sem dúvida, uma das estrelas da próxima edição do festival literário Rota das Letras. Deixa-se ler com gosto, o que o recomenda que seja relido numa próxima oportunidade. De preferência à noite e durante o Inverno, para que a viagem da leitura nos transporte aos caminhos percorridos pelo autor. Em Lisboa foi lançado no final de Outubro, em Macau será apresentado no próximo dia 13 de Dezembro, onde contará com a análise sabedora do Prof. Carlos André.