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Delito de Opinião

Felizmente temos o Nuno

Sérgio de Almeida Correia, 28.10.14

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Se pudéssemos dominar as palavras como

se domina um cavalo, com a rédea da retórica

a puxar os impulsos do sentimento e as esporas

da emoção a fazerem correr a frase até

ao fim do verso, o poema seria como a planície

por onde a imaginação cavalga sem freio nem destino,

liberta de cavaleiro e sela.

 

Ou então, se tivéssemos pela frente o oceano

da página e aí lançássemos a barca da estrofe, sem

antes ter perguntado qual o tempo que iria fazer

durante a viagem, veríamos nascer o temporal

 de dentro de um céu de substantivos escuros

como nuvens, e o medo do naufrágio pesar-nos-ia

no ritmo de uma queda de sílabas.

 

Mas se estivesses aqui, com o teu olhar

pousado num campo de palavras, não apenas

as que designam flores ou aves mas outras

como a terra, a lama, a erva, o verde sombrio

de um arbusto próximo, eu faria do poema

a raiz desse tronco que os invernos não arrancaram,

e alimentá-la-ia com a seiva do amor; e sentiria

nas suas folhas os cabelos da tua noite,

as nervuras da tua mão, o fruto dos teus lábios.

 

(Nuno Júdice, A Inspiração Nocturna, in O fruto da gramática)

Nem só de pão vive o homem

Ana Vidal, 16.05.13

 

É um homem sereno, tímido, afável e generoso. Tão generoso que me prefaciou um livro e depois se dispôs a fazer de propósito, com toda a naturalidade, uma viagem de 300 Km só para apresentá-lo. Bastaria isso para elogiá-lo e ficar feliz por ele. Mas é por ser o ENORME poeta que é - leio-o há anos, sempre em estado de puro deslumbramento - que o felicito pela notícia que acabo de saber: Nuno Júdice, pelo conjunto da sua obra, publicada pela Dom Quixote, acaba de ser anunciado vencedor da XXII Edição do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana.

 

Muitos parabéns, Nuno, o prémio é merecidíssimo!