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Delito de Opinião

Novilíngua

Pedro Correia, 28.06.24

apropriação cultural   elefante na sala   pacto de agressão   grande capital   banho de multidão   tecido produtivo   processo de empobrecimento   instrumentos de dominação  minoria étnica  acto eleitoral  novo ciclo  valores de abril  fadiga fiscal  segundo resgate  tratado orçamental   política de direita   capitalismo selvagem   dívida soberana   lucros colossais   défice democrático  responsabilidade orçamental  assento parlamentar  programa cautelar  direitos reprodutivos  alargamento a leste   estado social   fundos europeus   ganhos de produtividade   crescimento zero   valor acrescentado   factor produtivo   alternativa de esquerda   bloco central   processo decisório   interesses dos trabalhadores   economia paralela   emergência financeira   estado da arte   procedimento concursal   arco da governação   novos desafios   parceiros sociais   direitos adquiridos  terceira via  faixa etária  almofada orçamental  crescimento sustentável  paraíso fiscal  indispensável clarificação  socialismo científico  causas fracturantes  heteropatriarcado tóxico   tarefa hercúlea   fonte próxima   novo paradigma   reforma estrutural   zona de conforto  democracia iliberal   janela de oportunidade   murro na mesa   a todos e a todas

Que tal experimentarem?

Pedro Correia, 02.11.23

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Pedro Sánchez renovou o pacto de governação com a esquerda radical em Espanha. Mais do mesmo, mas num quadro muito frágil: o PSOE necessitará do apoio dos separatistas e republicanos catalães, por um lado, e dos soberanistas e filo-terroristas bascos, por outro, além dos nacionalistas da ultra-esquerda galega, para conseguir uma precária aritmética parlamentar. Que promete vida curta ao próximo Executivo.

Reformas à vista? Para já, apenas no plano vocabular. Em vez de "consumidores" a novilíngua socialista instituiu a designação "pessoas consumidoras". Em vez de trabalhadores, "pessoas trabalhadoras". Enquanto se dirige aos "cidadãos e cidadãs" prometendo (por exemplo) transportes de qualidade "para todos e todas".

 

Disparates que contrastam em absoluto com aquilo que Emmanuel Macron defendeu na terça-feira, ao inaugurar a Cidade Internacional da Língua Francesa. O inquilino do Eliseu pronunciou-se contra a chamada linguagem inclusiva, que distorce uma regra fundamental dos nossos idiomas de raiz latina: o masculino prevalece enquanto fórmula neutra e para a formação do plural indiferenciado, sem especificações de género.

Nunca percebi, aliás, por que motivo os cultores de redundâncias, que adoram duplicar palavras em nome do combate ao "heteropatriarcado tóxico", não levam esta lógica até ao fim. Para serem coerentes, deviam dizer "os ricos e as ricas, os poderosos e as poderosas, os corruptos e as corruptas". Etc, etc.

Que tal experimentarem?

A novilíngua segundo Orwell

Paulo Sousa, 03.07.21

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Postal destinado aos que querem banir palavras e, especialmente, aos que estão, e irão, ser proibidos de as utilizar.

Na sequência do postal do Pedro Correia de ontem, e do meu que o seguiu, e para não perder o balanço passo a transcrever mais algumas passagens do já referido “1984” de George Orwell.

Excerto de uma conversa de almoço entre Winston e o seu camarada Syme, que trabalha na Décima Primeira Edição do dicionário da Novilíngua.

 

“– Estamos a dar ao idioma a sua forma final, a forma que há-de ter quando ninguém falar nenhuma outra língua. Quando chegarmos ao fim, pessoas como tu terão que aprendê-la de novo. Julgas com certeza que a nossa principal tarefa é inventar palavras novas. Mas não é nada disso! Estamos é a destruir palavras, dezenas, centenas de palavras por dia.

(…)

– Coisa magnífica, a destruição de palavras.

(…)

– Tu não aprecias verdadeiramente a novilíngua, Winston – disse quase com tristeza. – Mesmo quando nelas escreves continuas a pensar em velhilíngua. (…) Não compreendes a beleza da destruição das palavras. Sabias que a novilíngua é a única língua do mundo cujo vocabulário diminui ano após ano?

(…)

– Não vês que a finalidade da novilíngua é precisamente restringir o campo do pensamento? Acabaremos por fazer que o crimepensar[i] seja literalmente impossível, pois não haverá palavras para o exprimir.

(…)

– Em 2050 (provavelmente até antes) todo o conhecimento da velhilíngua terá desaparecido. Chauser, Shakespeare, Milton, Byron só existirão em versões da novilíngua, não simplesmente transformados numa coisa diversa, mas no contrário daquilo que eram. Até a literatura do Partido mudará. Mesmo as palavras-de-ordem mudarão. Poderá substituir um slogan “liberdade é escravidão” quando o próprio conceito de liberdade tiver sido abolido? Toda a atmosfera mental será diferente. No fundo, não haverá pensamento, tal como hoje o entendemos. A ortodoxia significa a ausência de pensamento: a ausência de necessidade de pensar. A ortodoxia é inconsciência.”

 

[i] Pensamentos punidos pela Polícia do Pensamento

Um pouco mais perto da distopia totalitária

Paulo Sousa, 02.07.21

Na sequência do postal do Pedro Correia sobre a autoproclamada “conquista civilizacional” do governo espanhol, não pude deixar de recordar este excerto do clássico “1984” de Orwell.

O acto sexual era encarado como uma operação desprovida de importância, vagamente repugnante, como um clister. (…) Havia até organizações como a Liga Juvenil Anti-Sexo, que defendiam o celibato total para ambos os sexos. Todas as crianças deveriam ser engendradas por inseminação artificial (insart, em novilíngua) e educadas em instituições públicas. Winston dava-se conta que ninguém levava esse projecto a sério, mas de certa forma quadrava bem com a ideologia geral do Partido. O Partido estava a tentar extinguir o instinto sexual ou, caso não fosse possível extingui-lo, pelo menos distorcê-lo e conspurcá-lo.

Proibir o sexo

Pedro Correia, 02.07.21

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O Governo espanhol fez aprovar a Lei Trans e de Igualdade LGBTI, que introduz alterações no Código Civil, designadamente no capítulo sobre paternidade e filiação. As mudanças previstas - concedendo "autodeterminação de género" aos maiores de 16 anos sem autorização parental, conselho médico ou tratamento hormonal - interditam palavras como mãe e pai: a nova designação politicamente correcta é "progenitores". A partir de agora com monopólio legal. 

A mãe torna-se "progenitora gestante" e o pai será "progenitor não-gestante".

 

A engenharia social levada a cabo pelo Executivo de Pedro Sánchez investe contra outras palavras arcaicas, como mulherhomem. Neste admirável mundo novo, só há lugar para pessoas, sem distinção de sexo. Aliás, o próprio sexo é banido: a novilíngua, de tesoura em riste, apenas permite "género".

A comunista Irene Montero, ministra da Igualdade, congratula-se com esta "conquista civilizacional". Qualquer madre superiora diria o mesmo. O sexo regressa assim à clandestinidade. De onde, segundo algumas boas almas, nunca devia ter saído.

Holandês, dos Países Baixos

Pedro Correia, 15.06.21

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Agora desatou tudo a escrever e a dizer "Países Baixos" - horrorosa expressão - para designar o que anteriormente se designava por Holanda. Duas palavras, somando 12 letras, em substituição de uma só com sete. 

A coisa foi tão célere que até o alegado "dicionário" Priberam se apressou a alterar a definição: agora Holanda não é nome de país, como sempre supusemos, mas mera "região dos Países Baixos" - além de "tecido fino de linho" e "papel espesso" (!).

Como sempre acontece, logo surgem os mais papistas que o papa: reescrevem a História normalizando pelo padrão actual tudo quanto ficou para trás. Como se lê neste texto da página oficial da UEFA, em que o Checoslováquia-Holanda, jogo de abertura do Europeu de 1976, é agora denominado "Checoslováquia-Países Baixos". Deixaram metade da cosmética retroactiva por fazer: se rebaptizaram a Holanda, deviam ter rebaptizado também a actual República Checa, mesmo quando não se designava assim, para mantar o critério.

Não tardará muito para que livros como A Holanda (1885), de Ramalho Ortigão, ou A Amante Holandesa (2003), de Rentes de Carvalho, sejam rebaptizados também, por imposição da novilíngua.

 

Não sei o que me deixa mais perplexo. Se esta mania tão contemporânea de complicar o que é simples e alterar o que vem de longe, se a repetição mecânica da novidade em piloto automático, com todos a evitarem parecer fora de moda.

Procuro no inefável Priberam se já inventaram gentílico alternativo ao tradicional holandês. Parece que não: nem rasto de "paisesbaixenses", "paisesbaixeses" ou "paisesbaixanos". Conclusão: deixou de dizer-se Holanda, mas continua a haver holandeses - e nada mais que holandeses - nos denominados Países Baixos.

Avisem-me, por favor, quando a coisa mudar de novo.

Como se fossem obscenidades

Pedro Correia, 22.03.21

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Nova Ninhada de Gatinhos, óleo de John Falter (1954)

 

Sexta-feira foi Dia do Pai. Ou era, já não sei. Porque a cartilha politicamente correcta manda adoptar nova designação, que ouvi repetida várias vezes: agora é Dia dos Pais. Tal e qual, neste descafeinado e confuso plural pós-moderno. Como se fosse a mesma coisa.

Questiono-me se em Maio também será assinalado o Dia das Mães. Para combater aquela anacrónica noção de só haver uma mãe - tese que alguns de nós, impenitentes reaccionários, ainda perfilhamos.

Já falta pouco para saber.

 

As luminárias vanguardistas da Universidade de Manchester, no Reino Unido, resolveram entretanto este dilema adoptando uma cartilha de linguagem "inclusiva" que elimina palavras como mãe e pai. Manda a nova etiqueta que se diga guardiã ou guardião, como se a mãe fosse a baby sitter e o pai fosse pastor de cabras ou ovelhas.

Já chegam atrasadas. Pioneira nesta novilíngua foi uma escola novaiorquina - a Grace Church, em Manhattan - que se antecipou a decretar obsoleta, quiçá mesmo "fascista", qualquer alusão a pai ou mãe.

Como se fossem obscenidades. 

 

As meninas e os meninos agora só têm autorização para dizer adultos ou família. Aliás meninas meninos são vocábulos também banidos: agora diz-se amigos ou malta. É mais fixe, é cool

Em nome da "inclusão" que exclui. Na melhor lógica orwelliana: ignorância é força, paz é guerra, liberdade é escravidão.

O inclusivo

João Pedro Pimenta, 24.11.18

Pedro Filipe Soares, o infeliz líder parlamentar do Bloco, escreveu esta semana no Público um artigo a louvar a "linguagem inclusiva", sendo exemplo disso a expressão que ele usou na convenção do seu partido: "camaradas e camarados". A esse tipo de linguagem, para "mudar mentalidades", já George Orwell lhe deu um nome no "1984": chamou-lhe novilíngua. Seja como for, não deixa de ser estranho vermos alguém afirmar-se "inclusivo" dias depois de afirmar que "não fala da direita porque esta não conta para o futuro do país". E Pedro Soares, conta para o quê, para além da invenção de novos termos?

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Glossário da novilíngua: “azia de diversão”.

Luís M. Jorge, 04.04.11

Def:

 

Excesso verbal de quem fez uma grande merda, ou aplaudiu uma grande merda, dirigido a quem fez uma pequena merda, com o propósito de mudar de assunto.

 

Ex.:

 

- Mas como é que pudeste deixar o nosso filhinho Rubem ao sol dentro do carro durante quatro horas numa tarde de Agosto, homem?
- E tu, como é que pudeste dar-lhe um kinder chocolate antes do jantar, sua puta?

 

Outros:

 

Isto já não é sujo. É simplesmente porco. Sim, porco.
Javardo!