Notas políticas (11)
Imagem da série televisiva Borgen
Lembram-se das opiniões que despontaram em Novembro como cogumelos? De repente a Dinamarca era apontada como modelo virtuoso a seguir. Motivo: ali vigora um governo liderado por um partido que não foi o mais votado nas legislativas e o "espírito de pacto" - bem visível na série televisiva Borgen, que de repente todos parecem ter acompanhado em Portugal - era então enaltecido e considerado fundamental para que um político como António Costa ascendesse ao poder por cá, embora sem ter recolhido sequer um terço dos votos expressos no escrutínio de 4 de Outubro.
Que esse modelo fomentasse o radicalismo identitário das forças minoritárias e desvirtuasse a regra número um da democracia - que manda confiar o exercício do poder aos mais votados e não aos que recolhem menos votos - era um pormenor de somenos para os arautos de tal tese, vigente apenas em quatro dos 28 Estados da União Europeia (os outros são a Bélgica, a Letónia e o Luxemburgo.) Que esse modelo assente essencialmente em coligações e não em gabinetes minoritários como aquele que se formou em Portugal era outro irrelevante detalhe.
Esta sinfonia de elogios à Dinamarca ocorreu há três meses - tempo que em política é uma eternidade. Hoje os mesmos que tanto enalteciam aquele país como fonte inspiradora são os primeiros a dirigir críticas ao Executivo de Copenhaga pelas suas leis de exclusão dos imigrantes ditadas pelo mais persecutório espírito xenófobo. De repente, já com Costa instalado em São Bento, a Dinamarca passou de virtuosa a viciosa. Na boca e na pena dos mesmos que tantos adjectivos derramaram em louvor do sistema político da monarquia nórdica.
Presumo que alguns, como protesto, tenham deixado de seguir a série Borgen até ao fim.