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Delito de Opinião

Sobre o naufrágio das elites políticas

Sérgio de Almeida Correia, 24.06.24

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“[À] force d’excès de transparence, de mandats rabotés, de rémunérations plafonnées et de prérogatives réduites, on ne trouvera bientôt en politique que des moines soldats prêts a tout à sacrificier pour le bien public ou des personnalités narcissiques en quête effrénée de pouvoir et reconnaissance.

Le centriste Hervé Marseille, président de l’Union des démocrates et indépendants (UDI) et pillier du Sénat, qui traine ses guêtres en politique depuis quatre décennies, caricature à peine : « Ce n’est plus la politique pour les nuls, c’est la politique par les nuls! »”.

 

Porque o tempo não é elástico e há razões que me ultrapassam, não pude aqui deixar um comentário, pequeno que fosse, ao que aconteceu nas eleições europeias, tanto em matéria de candidaturas como de resultados. Em todo o caso, não me passou despercebida a forma tão pouco razoável como Pedro Nuno Santos e o PS violaram o contrato com o eleitorado que nas legislativas de 10 de Março havia votado no partido, convencido de que Marta Temido, Francisco Assis e Ana Catarina Mendes iriam respeitar e cumprir o mandato para que haviam sido eleitos.

Se a ideia era candidatá-los nas eleições europeias, então para quê fazê-los eleger para a Assembleia da República? Para depois se fazerem substituir por nulidades que ninguém conhece? Como é possível gente séria e decente estar na política e prestar-se a isto?

Bem se pode vociferar contra o populismo e o cavalgar extremista das múltiplas ondas que vêm e vão, que será muito difícil, enquanto as actuais circunstâncias de exercício da política se mantiverem entre nós, conseguir quanto se perceba a razão que alguns têm. E recordo-me aqui de um dos últimos escritos da Ana Sá Lopes, do muito que o Pacheco Pereira, o António Barreto, o Manuel Carvalho e também a Maria João Marques, entre outros, que também têm escrito e analisado o estado de indigência política e cívica em que nos encontramos. De tal modo que já nem o Presidente da República ou a magistratura escapam ao escrutínio dilacerante da opinião popular, não pública, que faz as delícias do jornalismo trash.

 O livro que aqui vos trago – Les Naufrageurs – acabou de sair e faz parte de um conjunto de três que recentemente adquiri. Dos outros falarei a seu tempo. Foi escrito por uma conceituada jornalista e grande repórter do Point – Nathalie Schuck – que se deu ao trabalho de procurar investigar as causas deste estado de deserção cívica em que caiu a classe política francesa, dando a palavra, como ela escreve, aos “premiers acteurs de cette machine qui s’est dangereusement grippée: les responsables politiques”.

E nesse exercício, realizado numa França cada vez mais turbulenta e que vai de novo para eleições dentro de muito pouco tempo, escutou primeiros-ministros, uns mais recentes outros mais antigos, os conselheiros e pesos-pesados dos governos de Chirac, Sarkozy, Hollande e Macron, bem como presidentes de câmara, responsáveis partidários, aspirantes ao Eliseu, altos funcionários, membros do Conselho Constitucional e do Conselho de Estado.

Tem a chancela das Éditions Robert Laffont, custou-me 19 Euros e acabou de chegar às livrarias francesas.

Não perderão nada em lê-lo, creio, independentemente do posicionamento político-ideológico que cada um assuma.