Um violento tiro ao lado
Os atentados na Noruega demonstram, uma vez mais, que o lado mais negro da nossa natureza consegue ser realmente terrível. Já algumas reacções à tragédia demonstram que se a maldade não conhece limites, a idiotice também anda lá perto. Uma cadeia norueguesa de lojas baniu 51 videojogos considerados "violentos". Tudo isto porque, ao que parece, o terrorista é fã do jogo Modern Warfare e jogava World of Warcraft para passar o tempo e para contactar com amigos sem levantar suspeitas. Vá lá: os videojogos já estão mais do que habituados a servir de bode expiatório. Agora imaginem que o terrorista tinha delineado todo o seu plano com um tabuleiro de "Risco" ou, para ter ainda mais estilo, de Xadrez. O que se fazia? Bania-se o jogo, prendia-se o Kasparov por incitar (ou ter incitado) o terrorismo e desmantelavam-se as racks do Deep Blue que estão em museus?
Em jeito de aviso aos colegas e leitores do Delito, tenho a dizer que joguei Doom, Duke Nukem e Quake na infância/adolescência (jogos muito violentos) e World of Warcraft durante cinco anos (um dos jogos preferidos do tipo, atenção), entre outros títulos que normalmente envolvem píxeis a morrer. Já agora, e porque dos videojogos à literatura e ao cinema é um saltinho, entre os meus livros preferidos o The Catcher in the Rye, de Salinger (todo o psicopata que se preze tem um Holden Caulfield dentro de si, é matemático) e o A Clockwork Orange, de Burgess (se este não incita à violência juvenil). Robert A. Heinlein é um dos meus autores de eleição (como se sabe, Heinlein era praticamente - e injustamente, mas isso pouco importa - considerado fascista). Mas sou um bom tipo, e não quero assustar ninguém.