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Delito de Opinião

Bye Bye Brasil.

Luís Menezes Leitão, 07.07.18

Bye Bye Brasil. Foi uma pena, uma vez que depois da desilusão do Mundial passado, esperava ter visto este ano um Brasil na sua melhor forma. Mas há que reconhecer que não foi o caso. O futebol praticado não foi convicente e a equipa parecia apostar toda na fama de Neymar, a meu ver totalmente injustificada. Aliás, não percebo como é que o PSG pagou 200 milhões por um jogador cuja maior especialidade são as simulações e as fitas em campo. Perante um adversário temível, como a Bélgica já tinha demonstrado que seria, depois da reviravolta no jogo com o Japão, o Brasil não soube jogar com o dinamismo e a concentração adequadas. Bastou um autogolo inicial e a equipa já não foi capaz de dar a volta ao resultado. Esperemos que no Qatar as coisas fiquem melhores, mas para isso é manifesto que a equipa tem que ser outra. É preciso uma revolução total na selecção brasileira, a começar já.

Estratégia brilhante.

Luís Menezes Leitão, 16.06.14
 
Tenho de reconhecer que Paulo Bento teve uma estratégia brilhante neste jogo do Mundial de Futebol. Conseguiu demonstrar a Angela Merkel que não só precisamos de um segundo resgate, como vamos precisar de um terceiro e até mesmo de um quarto resgate. Vejam o ar de desespero da senhora perante a evidente má prestação de Portugal em comparação com a da Alemanha. Está encontrada a explicação para o facto de Passos Coelho não se ter querido deslocar ao Brasil e assistir ao jogo. Escapou assim à fúria de Merkel, mas agora ficou tudo esclarecido. Agora só falta perguntar quando é que vem a próxima tranche do dinheiro.

A ver o Mundial (16)

Pedro Correia, 12.07.10

Este foi o melhor Mundial de Futebol desde o de 1986 - o de Maradona e Valdano, conquistado contra os alemães no estádio Azteca, da Cidade do México. Nenhum outro, de então para cá, teve o condão de me prender tanto à TV. Sobretudo nenhum outro, desde então, revelou tantos artistas da bola, vários dos quais integrados na selecção vencedora - a de Espanha, que bateu a Holanda numa final tensa e disputada palmo a palmo, com excesso de faltas e alguma escassez de discernimento, com Robben a falhar escandalosamente um golo e Villa desta vez sem a ponta de sorte que o foi acompanhando no decurso do torneio. Mas um solitário golo de Iniesta, já no prolongamento, deu à Espanha o primeiro Mundial da sua história, dois anos depois de ter conquistado o Europeu.

É um justo prémio. A equipa treinada por Vicente del Bosque demonstrou o melhor conjunto de exibições colectivas, servidas por inegáveis talentos pessoais. Enquanto Portugal experimentava mais de 50 jogadores nos desafios da fase de qualificação, Espanha manteve a sua estrutura-base, com atletas que actuam juntos desde os sub-17. Um trabalho de fundo - prolongado no tempo, perseverante nos métodos e ambicioso nos objectivos - que acaba de colher os seus frutos.

Alguma vez saberemos o que isto é? 

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Quadro de honra - A Espanha, com a fúria de sempre mas mais astuciosa do que no passado, foi a melhor selecção. Gostei muito também da Holanda, justa finalista. A Alemanha, que conquistou a terceira posição, demonstrou ter tão boa técnica como disciplina táctica. Mas o futebol que mais me apaixonou foi o latino-americano. O Uruguai, que luta sempre pela vitória. O elegante Chile. O tenaz Paraguai. O combativo México. Sem esquecer a Argentina, sobreavaliada pelos habituais comentadores de serviço. Duas boas surpresas: o Gana e os Estados Unidos.

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Quadro negro - A França qualificou-se fraudulentamente, com um golo contra a Irlanda que nunca deveria ter sido validado. Teve o castigo merecido: uma das participações mais negativas de que há memória numa fase final de um Mundial. Regressou a casa entre apupos unânimes. E alguém deu pela Itália - campeã do mundo em 2006 - na África do Sul?

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Decepções - O Brasil de Dunga, o Portugal de Queiroz: selecções irmãs. Na manifesta falta de ambição e na relativa falta de talento. Ressalvo as exibições de Eduardo e Fábio Coentrão, entre os portugueses, e de Maicon, por bandas dos brasileiros.

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Os melhores - Muitos e bons, felizmente. De Espanha - Casillas, Piqué, Puyol, Ramos, Iniesta, Fábregas e um fabuloso trio: Xaví, Iniesta e Villa. Da Holanda - Robben, Sneijder e Van Persie. Da Alemanha - Özil, Lahm, Müller e Schweinsteiger. Do Uruguai - Forlán, Cavani, Lugano e Luis Suárez. Da Argentina - Higuaín. Do Gana - Gyan. Do México - Giovani dos Santos. Dos EUA - Donovan.

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Os piores - Torres foi, pela negativa, a excepção espanhola. Ultrapassado, no entanto, por vários outros de quem se esperava muito e ofereceram quase nada. Kaká, do Brasil. Drogba, da Costa do Marfim. Eto'o, dos Camarões. Lampard e Rooney, de Inglaterra. Cristiano Ronaldo, de Portugal. E toda a selecção francesa, com Ribéry à cabeça.

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Para lembrar - Ficou demonstrado que o Campeonato do Mundo de Futebol também pode realizar-se em África. Muitos duvidavam. Estavam enganados.

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Para esquecer - As vuvuzelas.

A ver o Mundial (15)

Pedro Correia, 11.07.10

Jogo aberto, com boa nota no plano técnico e quase sem momentos mortos. Suspense no resultado até ao último instante. Cinco golos marcados alternadamente em cada baliza. E a confirmação de que alguns dos jogadores que protagonizaram esta partida figuram entre os melhores do Mundial que hoje termina. Forlán, Luis Suárez e Cavani, pelo Uruguai. Müller, Özil e Schweinsteiger, pela Alemanha.

Assim se desfez um dos mais disparatados lugares-comuns que é costume ouvir nestas alturas: que o jogo destinado a decidir quem fica com o terceiro lugar do torneio (posição que Portugal conseguiu em 1966) não tem qualquer interesse. É mais uma imbecilidade a somar a tantas outras que surgem tradicionalmente em catadupa, de quatro em quatro anos, a propósito de cada mundial de futebol.

(Curiosamente, alguns dos jogos mais insuportavelmente monótonos e desinteressantes que vi desde sempre foram finais de campeonatos do mundo: basta recordar as de 1990 e de 1994.)

Alemanha e Uruguai, duas excelentes selecções, mostram que o futebol pode ser eficaz sem deixar de ser um bom espectáculo. Só por isto já valeria a pena acompanhar este jogo, que poderia ter conhecido um desfecho bem diferente. Bastaria que o pontapé de Forlán, na marcação de um livre, tivesse dirigido uns centímetros mais abaixo a bola que embateu com estrondo na barra. Precisamente no último segundo do desafio.

Num instante tudo se ganha, tudo se perde.

A magia do futebol é feita disto.

 

Alemanha, 3 - Uruguai, 2

 

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P. S. - Há quatro anos foi tudo diferente. Portugal não se limitou a ver de longe o jogo destinado a apurar o 3º lugar. Portugal estava lá, em campo, a disputá-lo com a Alemanha. Perdemos, mas chegámos muito mais longe do que agora. E na altura houve quem achasse que era muito pouco. Não restam dúvidas: tornámo-nos muito menos exigentes de 2006 para cá.

Sabia que... (finalíssima)

João Carvalho, 10.07.10

... não acredito em polvos? Pois bem: não acredito. Nem em oráculos. Portanto, acredito ainda menos em Paul, o oráculo. Para mim, os oráculos são como as bruxas: não existem, pero que los hay, los hay.

Agora que já sabe, posso confessar o que mais me transtorna nesse polvo de aquário feito vedeta tentacular. Com o Paul, caro leitor, acontece-me o mesmo que me acontece com o primeiro-ministro: não acredito nele, pero que lo hay, lo hay.

Os desiludidos fãs de Queiroz

Pedro Correia, 09.07.10

 

Carlos Queiroz, acolhido há dois anos como seleccionador nacional por um coro quase unânime dos comentadores futebolísticos, ao jeito de um concerto para piano e vuvuzelas, recebe agora as primeiras críticas dignas desse nome na chamada imprensa da especialidade. Mais vale tarde que nunca. Mas convém não esquecer que estes mesmos "críticos" são aqueles que festejaram entusiasticamente a contratação de Queiroz por Gilberto Madaíl, como alternativa ao odiado Scolari.

A mudança de posição deles é tão grande que, para contrariar esta plêiade de "analistas" da bola, quase me apetece agora defender Queiroz. Só não o faço por uma questão de elementar coerência. Acontece que, no momento em que o actual seleccionador português ainda era levado em ombros pela opinião pública futebolística, já eu destoava do tom geral. Em textos como este: A brilhante selecção da era Queiroz (11 de Setembro de 2008). Ou este: Toma lá mais seis, Queiroz (20 de Novembro de 2008). Ou ainda este: O clube de fãs de Queiroz (24 de Novembro de 2008).

Como é óbvio, nada tenho a alterar em relação ao que então escrevi. Mas vale a pena ler os comentários que esses meus textos suscitaram para se perceber melhor como era favorável o ambiente da 'opinião pública' relativamente a Queiroz, o homem que teve tudo ao seu dispor e agora vem queixar-se da "estrutura amadora" que ele próprio construiu, numa versão recauchutada dos inqualificáveis desabafos proferidos em 1994, ao falhar a qualificação da selecção nacional para o Mundial dos Estados Unidos. Dê o mundo as voltas que der, há coisas que nunca mudam.

A ver o Mundial (14)

Pedro Correia, 07.07.10

 

Os especialistas

 

Andaram a "vender-nos" a Argentina, que iria arrasar tudo e todos. E a Costa do Marfim - selecção-maravilha de África. De caminho, apostaram na Itália, "como sempre acontece". Resignaram-se depois a vaticinar o triunfo do "imbatível" Brasil de Dunga. E, enfim, garantiram que o Mundial seria dos alemães, graças ao seu "poderio atlético" e à sua "incomparável disciplina táctica". Raras vezes os ouvi mencionar a Espanha entre os favoritos. Nem vaticinar, como técnico vencedor, o "velho" Vicente del Bosque (quase com 60 anos), casmurro e obstinado, que teimou em não seleccionar o "astro" Senna, em deixar Silva no banco e em manter na defesa o "inábil" Puyol, que "toda a gente sabia" ser um jogador cheio de insuficiências.

São os especialistas em futebol cá do burgo. Falam e falam e falam e falam. Mas teimam em não acertar. A Espanha qualificou-se hoje para a final, que disputará com a Holanda. Com um golo de Puyol, mais "inábil" que nunca.

 

Alemanha, 0 - Espanha, 1

Transparências

Sérgio de Almeida Correia, 06.07.10

Primeiro foi a miserável campanha de qualificação, conseguida in extremis contra esse potentado futebolístico que é a Bósnia-Herzegovina. Seguiram-se estágios de luxo em que os meninos foram sempre brindados com todas as mordomias e apaparicados pela imprensa e pelos adeptos, que passavam horas à porta dos hotéis e dos locais de treino para obterem um aceno distante das estrelas. Pelo caminho, o seleccionador nacional foi prometendo mundos e fundos, uma campanha inesquecível e, naturalmente, tudo fazer para trazer o título para casa.

Houve quem fosse pondo água na fervura logo depois da convocatória ter saído quando viu a lista de jogadores nela incluídos e ousadamente dissesse que com aqueles jogadores nem com Cristiano a mil à hora chegaríamos a algum lado.

A prova começou e o que se viu foi um desconchavo, uma equipa que não se entendia dentro do campo e um mar de desentendimentos fora do campo. Afinal entre os eleitos sempre havia uns que eram mais eleitos do que outros.

No final, a selecção limitou-se a cumprir os mínimos, o que é sempre muito pouco para quem aspirava ao título mundial e partiu do 3º lugar do ranking da Fifa. Sem brilho e sem classe.

À medida que a competição avançava os jornais davam conta da saída de outros seleccionadores, do final do ciclo. Foi assim com a França, com a Itália, com a Costa do Marfim, com a Inglaterra, com a Grécia, com o México, mas também com o Brasil, com a Argentina, com o Japão e mais uns quantos.

Quanto a Portugal já se percebeu que ficará tudo na mesma. Os nossos padrões de exigência não são comparáveis com os dos outros países. Por isso Madaíl continuará na Federação. E Queiroz também. Quem fez a campanha que ele fez seguramente que merece receber mais € 800.000 de bónus, a juntar aos quase € 115.000 de salário mensal. Com estas compensações pelo trabalho realizado, Carlos Queiroz deverá ser uma espécie de gestor público da Federação Portuguesa de Futebol. A linha está feita. Agora é só seguir para bingo.   

Villa provoca convulsões perigosas

João Carvalho, 05.07.10

Camacho, antiga estrela do Real Madrid e comentador de futebol, ficou tão excitado com o golo espanhol que garantiu a vitória face ao Paraguai que ia dando cabo do equipamento com que colaborava no relato. Veja aqui o momento em que pouco faltou para lhe dar alguma, além de andar com o microfone pelo ar. David Villa nem sonhava que o golo marcado podia ser mau para a saúde.

Tschüss!

João Carvalho, 04.07.10

Dalma Maradona teve de aproximar-se e conter a fúria palavrosa do pai, que estava cheio de razão: por que é que não deixaram a Argentina ganhar, não é verdade? Tiveram foi muita sorte, que o homem dos dois relógios de pulso não se despiu ali mesmo. Ainda por cima, se há coisa que chateia o mais pacífico dos mortais é sentir no ombro uma mão enluvada um bocado pidesca.

Já os alemães foram muito mais contidos. Sempre pragmáticos e com bons modos, apenas lhe apresentaram educadamente cumprimentos de despedida. Tschüssinho, pá!

A ver o Mundial (13)

Pedro Correia, 03.07.10

 

O HOMEM MAIS SOLITÁRIO DO MUNDO

 

O futebol permite imortalizar imagens que nos acompanham vida fora. Imagens de implacáveis derrotas e vitórias redentoras que nada têm a ver com a abstracta "justiça dos resultados" tantas vezes invocada em vão pelos comentadores da modalidade. Porque o que se joga num relvado, sobretudo numa competição com a amplitude de um campeonato do mundo, transcende largamente um resultado desportivo, tornando-se uma espécie de alegoria do destino humano. São momentos de glória e desespero que perpetuam famas, boas e más. Momentos como aqueles segundos finais desse fantástico jogo que foi o Gana-Uruguai, ontem disputado em Joanesburgo.

Os ganeses desejavam ser a primeira selecção africana a atingir as meias-finais de um Mundial. Os uruguaios, arredados desde 1970 de uma meia-final, ambicionavam resgatar o brilhante passado futebolístico do seu país, campeão mundial em 1930 e 1950. Motivações diferentes, mas suficientemente mobilizadoras para empolgar os atletas. Naqueles instantes, cada um deles transportava os sonhos de milhões.

Foi aí que tudo aconteceu. A pressão atacante ganesa rompeu a exausta defesa uruguaia: com o guarda-redes Muslera batido, Luis Suárez - a estrela da equipa - impediu duas vezes consecutivas a bola de entrar na baliza. Mas à segunda actuou à margem das leis futebolísticas.

 

Como se pode falar em "injustiça" no futebol? Neste jogo disputado com os pés, Maradona tornou-se um deus do Olimpo ao marcar com a mão contra a Inglaterra em 1986. Thierry Henry conduziu fraudulentamente a França ao Mundial da África do Sul ao meter também a mão à bola. E foi igualmente com as mãos que Suárez alterou o curso da história, impedindo o Gana - o primeiro país da África negra a tornar-se independente no ciclo pós-colonial - de chegar ao pódio mundial do futebol.

Tudo mudou naquele fragmento final do jogo. O árbitro português, Olegário Benquerença, assinalou o inevitável penálti. E todo o peso do mundo caiu de imediato sobre os ombros do ganês Asamoah Gyan, encarregado de o marcar. O destino decide-se numa fracção de segundos, em poucos centímetros de terreno. Como às vezes numa guerra mundial. Como às vezes no mais banal acto do nosso quotidiano. Se marcasse, Gyan veria o seu nome inscrito para sempre na galeria dos heróis; se falhasse, tornar-se-ia símbolo de fracasso a perdurar por gerações. Que o diga o guarda-redes Moacir Barbosa Nascimento, o guarda-redes que deixou entrar o fatal golo uruguaio na final do Maracanã, em 1950, ditando o traumático adeus do Brasil ao título na sua própria casa.

 

Gyan tomou balanço, partiu para a bola - e rematou à barra.

Nada mais havia a fazer.

Seguiu-se a roleta das grandes penalidades que sempre ocorre quando o desafio termina empatado, como este terminou (1-1). Mas era óbvia a vantagem do Uruguai: o falhanço anterior arrasara psicologicamente os jogadores do Gana, enquanto os sul-americanos se sentiam ungidos pela graça de Deus.

Levaram a melhor, claro.

No futebol, a fraude pode compensar: ganhou quem merecia perder. Mas o estranho sortilégio deste jogo passa também por isto.

O rosto de Gyan, devassado pelos grandes planos televisivos, era uma máscara de dor: uma etapa crucial da vida dele fechou-se para sempre quando aquela bola bateu na barra. Naquele momento, não havia ser humano tão fotografado no planeta. Naquele momento, não havia ser humano tão solitário no mundo.