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Delito de Opinião

As mulheres que nunca serão iguais às outras

Cristina Torrão, 09.03.25

Este vídeo tem sido dos menos vistos por mim publicados (YouTube, Facebook, Instagram). Penso que o tema é desconfortável demais. No Dia da Mulher, elogiam-se as capacidades e as características das mulheres, relembram-se as suas lutas, recorda-se o quanto há ainda por fazer (nalguns locais do mundo bem mais do que noutros). Tudo indubitavelmente importante. Estou, porém, convencida de que as mudanças apenas serão completas, quando o estatuto das prostitutas mudar também. As prostitutas são estigmatizadas, os seus clientes não. É preciso uma mudança de mentalidades. Sou a favor de não estigmatizar ninguém, naturalmente. Enquanto os homens considerarem que é de seu direito usar uma mulher como um produto, não pode haver igualdade.

Quando se fala de mulheres, ninguém se lembra delas. Porque ninguém sabe como agir. Apagam-se, como se não existissem. O seu sofrimento é pura e simplesmente ignorado. E, no entanto, são mulheres como as outras. Mulher é mulher. Seja a mãe mais considerada, seja a que vende o seu corpo. 

Da distinção

Cristina Torrão, 08.03.25

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Para essas questões filosóficas, tenho o Lavrov. Ó Lavrov!

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Putin: Explica aí ao pessoal como se distingue entre homens e mulheres.

Lavrov: Então, os homens somos nós, certo?

Putin: Sim, já me tinha apercebido.

Lavrov: E as mulheres são aqueles outros seres, aos quais não damos tempo de antena. Que nós não somos como os estúpidos dos europeus. Deixam-se ir na cantiga delas. Hoje até festejam um tal Dia da Mulher. Hahahaha!

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Jazus! Que me matas, filho.

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Boa, boa! Eu também já aprendi convosco. Colocar mulheres em posições de alto nível é uma armadilha woke na qual não torno a cair.

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Ainda não aprendeste a falar, ó Elon... Quê? Ai isto não era para dizer? Ups.

Contra a toxicidade

Cristina Torrão, 06.03.25

 

Elas surgem na última fase do Inverno rigoroso.

Ninguém cuida delas.

No meio das folhas secas, das árvores nuas, da relva por renovar, resistindo às geadas nocturnas e à neve que possa ainda cair, elas estão lá.

De repente, no meio do caminho.

 

(Assim possam regressar as mulheres, que, não sei se já repararam, mas desapareceram de cena. Iniciou-se o culto do macho grosseirão, ignorante e bronco. É grave, muito grave)

O poder no feminino

Pedro Correia, 12.02.25

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Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia

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Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu

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Kaja Kallas, chefe da política externa da UE

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Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu

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Giorgia Meloni, primeira-ministra de Itália

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Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca

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Evika Silina, primeira-ministra da Letónia

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Ingrida Simonyté, primeira-ministra da Lituânia

Palácio de Belém: um reduto da misoginia

Pedro Correia, 06.02.25

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As mulheres continuam a ser elementos decorativos na República Portuguesa. Nem me refiro a velhos partidos que nunca tiveram lideranças femininas, como o PCP (fundado em 1921) ou o PS (fundado em 1973). Refiro-me ao próprio Estado. Em meio século de sistema democrático assente no sufrágio universal a Presidência da República só foi preenchida por homens. Nisto, apesar da retórica em contrário, a democracia actual pouco se distingue dos dois regimes das décadas precedentes. 

Desde 1976 tivemos dez escrutínios presidenciais. Com 54 candidatos - 49 presenças masculinas e apenas cinco femininas. Em sete desses escrutínios só concorreram homens: elas permaneceram à margem. 

Chocante disparidade.

 

O cerco misógino rompeu-se fugazmente em 1986, com a candidatura de Maria de Lurdes Pintasilgo. Seguiram-se 30 anos de estrito monopólio masculino enquanto Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva se sucediam no Palácio de Belém.

Em 2016 houve algo inédito: duas candidatas. Marisa Matias e Maria de Belém Roseira ousaram avançar. Cinco anos depois, a deputada bloquista tornou-se única mulher repetente numa corrida à suprema magistratura da nação. Num escrutínio em que também Ana Gomes marcou presença.

Com que resultados? Ana Gomes foi a que até hoje teve mais sucesso: obteve 13% dos votos, ficando em segundo lugar - largamente ultrapassada pelo vencedor, Marcelo Rebelo de Sousa (60,7%). O segundo melhor resultado de uma mulher em candidaturas presidenciais foi o de Marisa: 10,1% em 2016, o que lhe valeu um terceiro lugar (o vencedor Marcelo recolheu 52% e Sampaio da Nóvoa ficou em segundo, com 22,9%). Cinco anos depois, recandidata, baixou drasticamente a percentagem, ficando só com 4%. Um pouco menos do que os 4,2% de Maria de Belém em 2016.

A estreante Pintasilgo tombou para quinto e último na corrida presidencial de 1986: conseguiu apenas 7,4%. A igualdade de oportunidades, que tanto se apregoa na cartilha republicana, mal ultrapassa o patamar da propaganda. 

 

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Mariana Leitão rompe o cerco, candidatando-se a Presidente da República

Para 2026, prepara-se um cenário muito semelhante. Quase todos os nomes de que se tem falado ao longo dos últimos meses, com razão ou sem ela, são masculinos: Gouveia e Melo, Marques Mendes, António Vitorino, António José Seguro, André Ventura, Mário Centeno, Augusto Santos Silva, Aguiar-Branco, Passos Coelho, Paulo Portas, Durão Barroso, Santana Lopes, Sampaio da Nóvoa, Aristides Teixeira, André Pestana.

Daí a minha enorme satisfação por ver Mariana Leitão, líder parlamentar da Iniciativa Liberal, avançar com uma candidatura a Belém, naturalmente apoiada pelo partido. Conheço-a, gosto muito dela, sei que terá um bom resultado. E, desde já, abre uma fenda na muralha da misoginia dominante. Um trunfo a favor desta jogadora federada de bridge. De certeza que não se perturba por parecer carta fora do baralho: até sentirá um gosto muito especial nisso.

Aprender até morrer

Maria Dulce Fernandes, 25.08.24

Hoje aprendi que o governo talibã do Afeganistão, além  de obrigar as suas mulheres a vestir a roupa da cama para que os homens não incorram em tentação, "aconselha" também, e pelo mesmo motivo,  as mulheres a "evitar o som em público ou a voz elevada, incluindo cantar, recitar, ou falar em microfones".

Umas sussurram enquanto os outros zurram, pois quem por lá manda são as vozes de burro.

É assim, aprender até morrer...

 

Bacall 'in excelsis'

Pedro Correia, 13.08.24

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Tinha um jeito único de olhar. Que lhe vinha de uma timidez profunda: poucos suspeitavam dela, chegando a confundi-la com sobranceria ou arrogância.

Baixava a cabeça e mirava-nos daquela forma, com os olhos em ângulo ascendente. E foi assim fotografada uma e outra vez, milhares de vezes, pelas câmaras que procuravam a sua prodigiosa fotogenia.

Era um olhar inconfundível: não houve outro como este no cinema.

 

Lauren Bacall era a última de uma estirpe rara. Vinha de um tempo em que a fama estava longe da banalização hoje tão corrente e transportava ecos dessa época tão distinta da nossa, em que havia um toque de mistério e majestade associado a quem imperava no mundo do espectáculo.

Era uma deusa do celulóide, como Ava Gardner, Rita Hayworth, Gene Tierney, Grace Kelly, Elizabeth Taylor e a eterna Marilyn Monroe. Cada vez que iluminava um pedaço de celulóide produzia em nós, mortais espectadores de osso e carne, o efeito de uma aparição.

Certas pessoas são assim: impõem-se pela sua presença. O cinema, quando não receia ombrear com qualquer outra forma de expressão artística, potencia e amplifica esta aura. Com a vantagem acrescida de ser um repositório excepcional de momentos inapagáveis.

 

Por este motivo teremos sempre Lauren Bacall entre nós. Atirando a Humphrey Bogart -- paixão na tela e na vida -- uma das mais fantásticas deixas de que há memória na Sétima Arte. Foi em To Have and Have Not -- o primeiro filme dela, o primeiro filme deles, rodado em 1944. Chamava-se Slim nessa fita, nome adequado para designar a figura esbelta que nunca deixou de ter.

Slim olhava Bogart, que ali se chamava Steve, daquele jeito único. Confessou muitos anos depois, num livro de memórias, que estava aterrorizada no momento em que rodaram a cena, filmada por Howard Hawks com base num roteiro de William Faulkner inspirado numa novela de Ernest Hemingway.

Tinha apenas 19 anos e ocultava o pânico de se encontrar num plateau cinematográfico, rodeada de celebridades. O que contribuiu para lhe baixar o tom de voz, já grave por natureza. E acentuar a intensidade daquela mirada tão singular e expressiva.

Ao vê-la, ninguém a suporia sequer nervosa. Isto ajuda a perceber o fascínio da arte de representar, ao alcance apenas de alguns eleitos.

 

«Sabes assobiar, não sabes, Steve? Basta juntar os lábios... e soprar», disse-lhe Slim/Bacall.

Steve/Bogart ficou preso para sempre àquela voz, àquele olhar só gélido na aparência.

Juntaram os lábios, os corpos, as almas e viveram felizes como nos filmes. Até a morte dele os ter separado.

Hoje bem cedo, tantos anos depois, alguns cinéfilos escutaram um assobio vindo de muito longe. Sinal inequívoco: eles voltaram a encontrar-se.

 

Texto reeditado, no 10.º aniversário da morte de Lauren Bacall

A Mulher do Ano

Pedro Correia, 01.08.24

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Ainda só estamos em Agosto, mas elejo-a já como Mulher do Ano, por mérito próprio: MARIA CORINA MACHADO. Heroína da Venezuela, luta com a força da razão contra a tirania do misógino Maduro e do seu séquito de homens «de barba rija» (major-general Agostinho Costa dixit) reclamando para o seu povo uma das mais belas palavras em qualquer idioma: Liberdade.

Num país de 28 milhões de pessoas que viu partir mais de 7 milhões na última década para escaparem à catástrofe económica e social a que 25 anos de regime "socialista" o condenaram. Já perdeu cerca de um quinto da população, registando hoje a segunda maior crise migratória a nível mundial, só superado pela Síria. Cerca de dois mil venezuelanos cruzam diariamente a fronteira, segundo estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Na Venezuela "bolivariana", onde 19 milhões de pessoas sofrem graves carências alimentares e sanitárias. Onde continuam a registar-se execuções extrajudiciais, detenções arbitrárias, casos documentados de tortura (nas celas da sinistra SEBIN, a PIDE do chavismo-madurismo) e agressões sexuais contra militantes da oposição, como denuncia o Observatório dos Direitos Humanos.

Maria Corina vai vencer, não tenho dúvidas. A Venezuela que Chávez e Maduro transformaram num narco-estado será livre. Da miséria, da corrupção, da prepotência, da opressão.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 31.07.24

«Substituir "mulheres e raparigas" por "pessoas que menstruam" não é inclusivo. É exclusivo - porque exclui as mulheres e raparigas. É anticientífico - porque só corpos de milheres menstruam. É misógino - porque apaga as mulheres de um assunto que as impacta; porque espera que as mulheres (que são a maioria da população) se anulem em prol de meia dúzia de pessoas que acreditam que nasceram no corpo errado e teimam que o mundo valide os seus sentimentos (ao invés de simplesmente viverem a sua vida como lhes apetece, sem maçar terceiros que nem sequer estão interessados); porque impõem que "mulher" seja definido por homens que se identificam como mulheres (e não menstruam), ao invés de pelas mulheres.»

 

Maria João Marques, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 19.07.24

«A menstruação resulta do sexo com que se nasce. Ao diluir o termo mulher no grupo de "pessoas que menstruam", ou de "pessoas portadoras de útero", ou ao inventar o termo mulheres cis para mulheres que se identificam com a anatomia feminina com que nasceram, como se existissem mulheres nascidas com anatomia masculina, é não só a confusão que passa a raiar a paranóia, mas também o universo feminino que fica debaixo de fogo, ferido por uma linguagem que, pretendendo-se inclusiva e libertadora das amarras biológicas, tem o resultado inverso, reduzindo as mulheres às suas características biológicas e remetendo-as para uma subcategoria do seu grupo sexual.»

 

Ana Cristina Leonardo, no Público

 

O Eixo

Putin, caudilho de um regime sem mulheres. Tenebrosamente só

Pedro Correia, 19.07.24

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Cada qual a seu modo, quatro mulheres mandam hoje na Europa: a alemã Ursula Von Der Leyen (ontem reeleita por larga margem para novo mandato como presidente da Comissão Europeia, muito acima dos 360 votos necessários), a maltesa Roberta Metsola, recém-reeleita presidente do Parlamento Europeu, a estónia Kaja Kallas, nova chefe da diplomacia comunitária, e Giorgia Meloni, que desde Outubro de 2022 chefia o Governo de Itália, terceira maior economia do euro. 

De famílias políticas diferentes, têm um traço comum: expressam intransigente apoio à Ucrânia, vítima da guerra de agressão que lhe move Moscovo.

Formam um contraste gritante com a ditadura russa, sistema sem mulheres, sistema de um homem só. Tenebrosamente só. 

O contraste torna-se ainda mais evidente quando reparamos nos aliados internacionais de Putin. O Eixo Moscovo-Minsk-Pequim-Teerão-Pionguiangue é formado em exclusivo por homens. «De barba rija», como diria um major-general putinófilo que ainda pontifica numa canal televisivo.

Até nisto o caudilho do Kremlin navega contra a História. Rumo a um passado ancestral que nada tem a ver com o nosso tempo.

 

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Parecem irmãs

Cristina Torrão, 20.05.24

Há dias, deparei com um post de Maria João Pessoa, no Facebook, questionando um hábito social que também sempre me causou mal-estar. Piropos e certos “elogios” a mulheres é, como se sabe, um assunto polémico. A esmagadora maioria deles foram fabricados sob a óptica masculina patriarcal e, sinceramente, deixam muito a desejar. Um deles é o de ver mãe e filha numa foto e dizer-se "parecem irmãs", ou "quem é a filha?".

Comentários destes pretendem ser gentis, mas pensem bem: mesmo admitindo que uma mulher foi mãe cedo, digamos, com dezoito anos, alguém acha que uma miúda de quinze fica feliz ao saber que parece irmã de uma mulher de trinta e três? Ou que uma jovem de vinte gosta de parecer irmã de alguém com trinta e oito? A mera ideia de parecer irmã da mãe, independentemente da idade, não é nada lisonjeiro para uma miúda. Nem para ninguém. Mãe é mãe! É alguém que está muito acima do nosso nível, sejamos filha ou filho! Eu detestava, quando ouvia comentários destes, na minha juventude. Mas sorria, claro, e fingia estar muito feliz.

Por seu lado, a minha mãe derretia-se de vaidade. Porém, também neste caso, sejamos sinceros: será saudável, para a auto-estima de uma mulher de quarenta anos, aparentar a falta de experiência de uma jovem de dezoito? Como diz a Maria João Pessoa, dá-se a ideia de que a mãe ainda não conseguiu amadurecer. A mentalidade patriarcal está cheia de armadilhas em forma de elogio. Neste caso, são logo duas: além de se dizer a uma mulher que parece não ter maturidade para ser mãe da jovem a seu lado, dá-se igualmente a ideia de que ela só pode ser bonita se aparentar ter menos vinte anos (no mínimo).

Não estou a dizer que é proibido elogiar. Faça-se, porém, de outra maneira, por exemplo, diferenciando as virtudes físicas e de indumentária de cada uma, sem nunca as comparar. Também nada contra o facto de se dizer ser a filha parecida com a mãe e/ou que são as duas bonitas, desde que não se caia no erro de lhes atribuir uma idade que não têm.

 

Adenda: por ter referido piropos, neste postal, várias pessoas me corrigiram, dizendo que não se trata de um piropo. Pois não. Nem eu digo isso. Chamem-lhe "chavão", ou "galanteio", eu prefiro chamar-lhe "elogio falso". Tanto é dito por homens, como por mulheres, e perpetua a ideia de que uma mulher deve ficar jovem toda a vida. Usar exemplos com velhas amigas, que conhecemos e nos conhecem bem, está naturalmente desfasado em relação ao significado do que escrevi (é ler bem, faz favor). E só mais uma coisa: porque será que não se usam frases deste tipo com homens e seus filhos adolescentes?

Governo com mais mulheres

Pedro Correia, 06.04.24

 

É o Governo que tem mais mulheres desde sempre em Portugal: são 24 entre 59 titulares de ministérios e secretarias de Estado.

Percentagem: 40,6%.

Facto positivo, sem sombra de dúvida.

 

ADENDA: Escrever que este é o Executivo com «mais mulheres desde o 25 de Abril», como faz o Polígrafo, é um sofisma. Antes do 25 de Abril - I República e Estado Novo - só houve uma mulher no Governo: Teresa Lobo, subsecretária de Estado da Saúde e Assistência (1970-1973). 

Dignidade

Pedro Correia, 23.03.24

É a palavra que me ocorre neste momento tão doloroso para a princesa de Gales e a sua família. E para a esmagadora maioria dos britânicos, chocados com a inesperada notícia da doença cancerosa da nora do Rei - tão jovem ainda, aos 42 anos.

Dignidade, sim. Além de humildade, ao revelar o seu precário estado de saúde sem a menor pompa associada à realeza. Como se fosse qualquer de nós. Talvez com mais coragem e desassombro do que a maioria de nós.

Fora do Reino Unido, somos igualmente muitos a desejar-lhe que recupere. E que, para ela, estes dias de pesadelo possam vir a ser apenas uma amarga mas distante recordação.

Ele há mulheres

Cristina Torrão, 08.03.24

Ele há mulheres

que mantêm fria a cabeça

na mais opressiva situação.

Logo lhes sai a resposta seca,

ou a adequada reacção.

Infalíveis computadores,

neurónios como chips,

músculos como tractores,

ninguém lhes chega aos acepipes.

Não há medo, nervosismo,

nem vergonha, ou intimidação.

Determinada tecla

acciona a correspondente reacção.

São imunes ao dramalhão.

 

Raciocinam numa fracção de segundo,

indiferentes aos olhares de meio mundo,

ou à solidão de um poço fundo.

E logo se lhes levanta o joelho,

direito à tomatada.

E logo se lhes levanta a mão,

aplicando a bofetada.

E logo se lhes solta a língua,

sem gaguejar, sem hesitar,

em impropérios ao camarada.

 

Ele há mulheres

que desdenham das mulheres

desprovidas de chips,

possuindo detestáveis tiques.

Não pensam com ligeireza,

mostram (sacrilégio!) fraqueza.

O medo deixa-as bloqueadas,

certas palavras, intimidadas,

certas situações, envergonhadas.

Ficam arrasadas,

sentem-se culpadas,

por não terem reagido a preceito

e levado tudo a eito.

 

Ele há mulheres

que criticam estas mulheres

sem dó nem piedade.

E deixam impoluto o homem

que as pôs em dificuldade,

que as ofendeu, ou abusou

de profícua oportunidade.

As indefectíveis mulheres

avaliam de longe a situação

no conforto do seu cadeirão.

“Havia de ser comigo,

Dizia isto,

fazia aqueloitro

e deixava o desgraçado num oito”.

Palavras de conforto,

de alento, de carinho,

solidariedade e apoio

para as suas semelhantes?

Mas que tamanhas lacrimejantes!

Não reagiu?

É porque gostou.

Não respondeu?

É porque bem achou.

Queixa-se do homem?

Ainda lhe estraga a vida

por tamanha lana-caprina.

 

Ele há mulheres

duras, implacáveis,

de reflexos memoráveis,

matemáticas e insensíveis,

cheias de soluções exequíveis,

amantes dos clássicos:

“Ai se fosse comigo”;

“Segurem-me que os desfaço”.

Treinadas, musculadas,

engomadas, engravatadas.

 

Ele há mulheres…

Que parecem (certos) homens.

© 2024 Cristina Torrão

 

Desdenhar da fraqueza é cobardia. Solidariedade é coragem.

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Imagem daqui

 

A dignidade humana é intocável.

Direitos das Mulheres são Direitos Humanos.

Quando um véu vale mais do que uma vida

Pedro Correia, 20.10.23

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O Hamas é financiado, treinado e armado pelo Irão, Estado teocrático e homicida.

Inimigo n.º 1 do Ocidente.

Inimigo n.º 1 do seu próprio povo.

Capaz de liquidar jovens indefesas, como a curda Jina Mahsa Amina, ontem justamente distinguida (a título póstumo) com o Prémio Sakharov pelo Parlamento Europeu. Morta após três dias de cruel detenção pela polícia religiosa por se ter alegadamente atrevido a sair à rua com o véu islâmico mal posto.

É indispensável que as jovens portuguesas de 22 anos (idade da infeliz Jina, assassinada em Setembro de 2022) saibam que ainda existem ideologias totalitárias prontas a pôr um pedaço de tecido acima da vida humana.

Raras vezes um prémio foi tão merecido e comovente como este, extensivo ao movimento de libertação das mulheres iranianas. O Parlamento Europeu - que nele honra a prestigiada memória de Andrei Sakharov, outra vítima do totalitarismo - volta a ser digno de elogio.

 

Leitura complementar:

- Os barbudos que odeiam as mulheres (25 de Setembro de 2022)

- Onde estão as feministas? (18 de Outubro de 2022)

Ainda o Dia Internacional da Mulher

Pedro Correia, 09.03.23

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No Afeganistão:

O brutal regime de Cabul discrimina as mulheres de todas as idades, começando pelas mais jovens, impedidas de frequentar o ensino secundário e universitário. Os casamentos forçados e as violações são frequentes no Afeganistão, onde a camarilha talibã tomou o poder em Agosto de 2021. Após 20 anos de inédita liberdade neste país, as mulheres voltaram a ser banidas da política: até esse Verão, preenchiam 27% dos assentos parlamentares. Hoje não são autorizadas a usar transportes públicos excepto na companhia de um homem da sua família. Em regra, só podem sair de casa devido a assuntos urgentes, mas terão de usar burca. Activistas dos direitos das mulheres são sistematicamente detidas e agredidas nas esquadras policiais. O Ministério dos Assuntos Femininos deu lugar ao Ministério da Propagação da Virtude e da Prevenção do Vício.

 

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No Irão:

O brutal regime de Teerão discrimina as mulheres, tratando-as como cidadãs de segunda classe. Permite a violência contra mulheres e tolera a exploração sexual de meninas. Prende, multa e açoita mulheres por aparecerem em público sem cobrir os cabelos com o véu islâmico. Reprime ferozmente as activistas pelos direitos das mulheres. Pune desproporcionalmente as mulheres no sistema judicial. Nega às mulheres todas as oportunidades políticas e económicas. Favorece os homens em detrimento das mulheres nas lei de família e sucessões. As mulheres que forem apanhadas de cabelo descoberto e roupas consideradas "imorais" podem ser presas durante dois meses pela Polícia da Moralidade criada após a implantação da ditadura teocrática, em 1979. Em alternativa, o código penal iraniano prevê que recebam «até chicotadas».