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Delito de Opinião

Os comentadores e Moçambique (2)

jpt, 08.02.25

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Location of Xai Xai -  Capital of Gaza Province

Aos meus compatriotas que se interessam por Moçambique: o mapa indica onde é Xai-Xai, capital da província de Gaza - desde a independência o mais extremado reduto eleitoral do Frelimo. Que eu saiba Xai-Xai não é uma das duas cidades referidas pelo comentador televisivo (remunerado?) "senhor embaixador" Martins da Cruz como as únicas tendo "problemas" políticos. Nem será alvo dos aventados interesses económicos do comentador televisivo (remunerado?) "doutor" Miguel Relvas. Nem objecto de análise detalhada do comentador televisivo (decerto que remunerado) administrador "Paulo" Portas. Ainda assim Xai-Xai existe... E vários amigos acabam de me enviar ligações para a transmissão em directo (via FB) da visita que Mondlane - o "populista" "imprevisível" para o "Público", o mero "bolsonarista" para os acomodados cleptófilos - está a fazer à cidade. Um incrível, gigantesco, banho de multidão!
 
Será um facto politicamente impressionante? Talvez. Esperemos pelos telejornais e painéis deste fim-de-semana... pois neles o "senhor embaixador" Martins da Cruz, o "doutor" Relvas ou o (administrador) "Paulo" Portas nos virão esclarecer. Remunerados? Quiçá... E até mesmo que algum "jornal de referência" possa atentar nisto.
 
E até poderá ser que alguns dos nossos actuais ministros "abram a pestana". Trata-se de insistir, apesar da pouca esperança a ter com esta gente.

Os comentadores televisivos e Moçambique

jpt, 07.02.25

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Aos meus compatriotas que se interessam por Moçambique: o mapa indica onde é Chibuto, na província de Gaza - desde a independência o mais extremado reduto eleitoral do Frelimo. Que eu saiba Chibuto não é uma das duas cidades referidas pelo comentador televisivo (remunerado?) "senhor embaixador" Martins da Cruz como as únicas tendo "problemas" políticos. Nem será alvo dos aventados interesses económicos do comentador televisivo (remunerado?) "doutor" Miguel Relvas. Nem objecto de análise detalhada do comentador televisivo (decerto que remunerado) administrador "Paulo" Portas. Ainda assim Chibuto existe... E vários amigos acabam de me enviar ligações para a transmissão em directo (via FB) da visita que Mondlane está a fazer à pequena cidade. Um incrível, gigantesco, banho de multidão!
 
Será um facto politicamente impressionante? Talvez. Esperemos pelos telejornais... pois neles o "senhor embaixador" Martins da Cruz, o "doutor" Relvas ou o (administrador) "Paulo" Portas nos virão esclarecer. Remunerados? Quiçá...

Cena nada bíblica na Zambézia

jpt, 03.02.25

Judith_Beheading_Holofernes-Caravaggio_(c.1598-9).

Caravaggio pintou assim a bíblica decapitação de Holofernes, um fundamentalista religioso (diríamo-lo assim, hoje), um brutal iconoclasta ou idólatra, consoante os pontos de tomada de vista.
 
Após um belo fim-de-semana - que aqui narrei com detalhe -, leio a habitual enxurrada de mensagens vindas de Moçambique. Entre as quais continuo a receber filmes da recente visita do novo Presidente Chapo à Zambézia. São denotativas. Pois o partido Frelimo, para além do seu próprio aparelho, sempre usou a administração pública para mobilizar a população no acolhimento às autoridades nacionais - feriados, convocatórias aos funcionários, distribuição de benesses (roupa, comida...). Ainda assim agora - e na recepção a um novo presidente!!! - ninguém aparece. As imagens são explícitas: planos fechados, centrados em Chapo e em pequeníssimos grupos folclóricos arregimentados, grupos de militantes que não ultrapassam a dúzia de membros. É absolutamente inédito. E, simultaneamente, continuam a circular vários filmes com os monstruosos banhos de multidão que Mondlane obteve na digressão da semana passada. Tudo isto cria a sensação de uma irrealidade, quase como se peça dramatúrgica debruçada sobre uma medieval dissolução do poder, obrigatoriamente terminada em tragédia.
 
Mas não há qualquer irrealidade. Há uma real aproximação ao abismo. Isso é não só ilustrado como também gritado por uma série de filmes que recebo, mostrando detalhadamente um episódio deste último sábado. Em Morrumbala (capital distrital na Zambézia que Chapo visitou), em plena vila, a população decapitou um polícia ou miliciano, dito como autor de vários assassinatos políticos. O corpo jaz no meio da rua, a cabeça foi levada para um entroncamento central para que todos vejam. Consta que a polícia debandou.
 
As imagens mostram uma violência extrema. "Bíblica", se se quiser invocar o Antigo Testamento. Mas "contemporânea" se se quiser olhar para o mundo circundante. E será importante que estes novos políticos, que tanto parecem rezar, percebam que as rezas em excesso e a razão em falta tem sempre o mesmo resultado.

"Zé, então e como está aquilo em Moçambique?..."

jpt, 30.01.25

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(Venâncio Mondlane em Tete, julgo que ontem)

"Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", perguntam-me diariamente amigos, agora que "as coisas" de lá se afastaram um pouco dos "escaparates" da imprensa. Substituídas por questões prementes, como a do deputado ladrão de malas - repararam como o Ventura, após o seu estupor inicial, agora aparece a reclamar-se "primeiro denunciante"?; as inanerráveis malfeitorias laborais dos bloquistas - face às quais o prévio vereador Robles surge como um simpático agente prenhe de empreendedorismo; a relativa inflexão de PNS sobre imigrantes - que põe os seus camaradas a clamar contra qualquer esforço alheio de adaptação às mundividências nacionais (a "cultura portuguesa", para se falar de modo simples) e o colunista-Expresso Raposo dispara(ta)ndo um lusotropicalismo actualizado: "para semos um V Império, que é um império-cais, onde o mundo pode atracar...", sim o homem escreveu isto; mais as demissões no núcleo governamental devido a trapalhadas privadas, recentes e actuais - mas quem escolhe estes tipos?; e, acima de tudo, o drama da "linguagem de rua" do treinador Lage. Já para não falar das minudências que ocupam os espaços mortos dos telejornais e comentários, o frenesim trumpiano, aquela maçada de Gaza, e a cansativa exigência de Putin em defender o "espaço vital" da sua Mãe Rússia, para se falar como a intelectual Mortágua...

Enfim, com tudo isto a gente distraiu-se de Moçambique. Eles também já estavam a abusar da nossa paciência, é certo... Por isso as perguntas dos meus amigos, essa repetida "Zé / Zezé, então e como é que está aquilo em Moçambique?...", até porque interrompi a saraivada de postais sobre o assunto (os quais sublinho pela sua divulgação telefónica, para aborrecimento de alguns deles, presumo). Costumo responder que talvez seja melhor ouvirem o que dizem sobre o assunto os nossos antigos ministros, reciclados em facilitadores de negócios e até administradores das grandes empresas - "não lhes escrevas os nomes", "não te metas com esses gajos", "não ganhas nada com isso", avisam-me amigos, não tão juniores assim...

Então, e para responder a esses amigos que se foram interessando pelos destinos daquela minha Não-Pátria, resumo o que sei: o candidato Venâncio Mondlane regressou ao país e anunciou três meses sem manifestações  (deu os consuetudinários "100 dias de estado de graça" ao novo governo). O partido Frelimo nomeou um novo executivo, com tantos membros oriundos do anterior poder que aparenta ser de continuidade ("uma evolução na continuidade", como diria Marcello, o original). A mortandade entre os militantes oposicionistas nas localidades - incluindo jornalistas - terá amansado, mas não abundam as investigações sobre a responsabilidade dos desmandos sanguinários dos últimos meses. Ainda assim, de quando em vez a polícia usa de violência seguindo-se represálias populares, algo significativo em especial aquando no Sul de país, antiga zona monopólio de implantação frelimista.

Entretanto, a predisposição para entabular conversações com o oposicionista Mondlane, que fora enunciada pelo novo presidente, ainda não se concretizou, e segue o poder Frelimo na sua muito habitual postura esfíngica - "índica", como muitos referem, em particular os dirigentes socialistas portugueses quando em "visitas de Estado" e que agora se arrepiam ao ouvir falar de algumas características comuns às mundividências e práticas portuguesas (mais depressa se apanha um mariola do que um paraplégico, como é consabido...). Os velhos partidos oposicionistas, Renamo e MDM, que se haviam recusado a integrar o novo parlamento estão já a arranjar as micas, dossiers e as pastas de executivo para assumirem lugares.

Nisto Venâncio Mondlane, que se autoproclamara "presidente do povo", encetou uma digressão, uma ronda de "presidências abertas", por assim dizer... Recebo imagens de uma curta visita ao Hospital Central de Maputo, causando um enorme júbilo entre os ali situados. E de gigantescos banhos de multidão em Bobole - perto de Maputo - e em Tete, a Norte. Situações que muito denotam com quem está o povo, a quem o povo apoia. Por mais que custe aos "empreendedores" lusos. E a alguns outros.

Adenda: no sábado (dia 1 de Fevereiro, às 16 horas) estarei na biblioteca municipal de Setúbal, instituição que teve a gentileza de me convidar para falar sobre o meu livro "Torna-Viagem". E, quem sabe, pois dependendo do interesse dos que comparecerem, depois de tentar impingir a colecção de crónicas (2/3 das quais decorrem naquele país) poder-se-á falar um pouco sobre "como está aquilo em Moçambique". Se algum dos leitores do Delito de Opinião estiver nas cercanias será um prazer vê-lo por lá.

Portas e Moçambique

jpt, 20.01.25

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Desde há já bastante tempo que vou vendo, não sempre mas habitualmente, a coluna dominical de Paulo Portas no telejornal da TVI. Portas fala bem, prepara-se, e está informado sobre as coisas do mundo - sai do rame-rame da politicazinha portuguesa, das cercanias dos "Passos Perdidos", e aborda com consistência (apesar da brevidade do programa) temas excêntricos às ladainhas dominantes no abundante "clube de comentadores". Para além de que pessoa que me é muito querida ter sido recentemente sua aluna e me ter confidenciado que o homem é um excelente professor, o que me reforçou a atenção. Ainda para mais porque este ofício de "comentador generalista" é a actual sequela, por paupérrima que seja, da velha figura do "intelectual público", pelo que convém ir sabendo o que os seus oficiais - os poucos melhores e os muitos piores - impingem aos incautos... Enfim, adiante,
 
ontem vi a sua apresentação. E desatei-me a rir, sozinho, ao ouvi-lo falar de Moçambique, país que o ex-ministro bem conhece. Pois na sua apologia ao poder agora empossado, Portas anunciou-nos que o novo governo nada tem a ver com o poder anterior... Eu não sou politólogo, daqueles que têm conhecimentos "etnográficos" sobre os "campos políticos" locais, sabedores enciclopédicos do "quem é quem", verdadeiros "coleccionadores de borboletas" e especialistas em previsões de teias urdidas e rompidas. Sou apenas um tipo que usa a rede "Whatsapp", que tem o telefone carregado de mensagens a darem conta das imensas continuidades, pessoais e colectivas, políticas entenda-se, normais que sejam, entre o governo moçambicano anterior e o actual.
 
E interrogo-me, mero telefone na mão, sobre a razão que leva Portas a fazer tal apologia. Tal como a faz Miguel Relvas. Ou Martins da Cruz (outro comentador, ao qual os locutores não tratam pelo primeiro nome - como agora é hábito pateta - mas sempre com as mesuras sacralizadoras do "Senhor Embaixador"...). Porque farão estes tipos, e alguns outros, tais apologias ao status quo de Moçambique. É que muitos resmungam diante da cumplicidade (arteriosclerosada) do PCP e do silêncio camarada do PS (no qual ainda há quem pense enviar António Vitorino para Belém..). E há até quem proteste com a atrapalhação de Rangel ou a diletante pressa de Montenegro diante de Moçambique. Mas ninguém se pergunta da razão que leva estes "intelectuais públicos" de "direita" a opinar deste modo sobre o país nosso aliado...
 
Faço uma proposta àqueles que são sensíveis às argumentações destes ex-ministros sobre Moçambique - até por sua simpatia para com discursos oriundos deste sector direitista da opinião política. Jaime Nogueira Pinto é uma homem da "direita profunda". E é, nas suas características próprias e respectiva mundividência, um verdadeiro "intelectual público". E conhece muito bem - muitíssimo, diria eu - Moçambique e os seus intervenientes políticos. E acaba de publicar sobre aquele país este artigo: "Moçambique: no limite do desespero".
 
Ou seja, bem desejo que os meus compatriotas que se querem informar sobre Moçambique, e que tendem para o lado destro, leiam este Nogueira Pinto. E mudem de canal televisivo quando os outros começarem a perorar, seguindo eles razões que a (boa) razão desconhece...

Na Tomada de Posse de Chapo

jpt, 15.01.25

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1. Quando vivia em Moçambique escrevia no blog ma-schamba. Ali não falávamos de política nacional - era um colectivo de estrangeiros. Mas às vezes resmungava com os dislates da imprensa portuguesa sobre o país. Voltando a Portugal, de vez em quando vou escrevendo sobre o país e seus rumos - principalmente no mais lido Delito De Opinião. Porque gosto de Moçambique; porque julgo que pouco dele se fala na imprensa (e na academia); porque muito me irritam alguns disparates que, ainda assim, vão saindo sobre o passado e o presente (sim, estou a pensar no "Público" mas não só. Por exemplo, agora será um "caso de estudo" o que se passa - e porquê - na SIC Notícias). Decerto que por isso neste - tardio - acordar da imprensa sobre a situação (estrutural) de Moçambique, dois ou três jornalistas amigos "sopraram" o meu nome às redacções para que apareça eu a "comentar". E lá fui eu, algumas vezes. Ora se o escrever me é normal, já o "aparecer" é coisa excêntrica. Face a isto os amigos próximos riem-se, com algum piedoso carinho: pois me sabem mais dado ao culto da rusticidade, e este meu rumo de mimalho narcísico desilude-os um pouco. Por isso sinto necessidade de me justificar diante deles, lembrando-lhes a minha condição de já sexagenário. Assim alquebrado.
 
2. Nesse rumo fui gentilmente convidado para hoje comentar na RTP3 o discurso de empossamento de Daniel Chapo. Logo após recebi uma simpática mensagem de uma amiga distante de Maputo - a qual, pelo que dela conheço, presumo não seja uma venancista. Enviou-me a foto com uma legenda, a qual sumarizo nos meus mais deselegantes termos por um "não borregaste". O que me alivia pois não quero ali tomar "partidos" - mas sim partido, por um melhor país!
 
O que disse é simples de resumir: há hipóteses de diálogo, e Chapo vem dando indícios de ter essa capaz disponibilidade. E que o discurso foi bom, apaziguador, e apresentando um ror de intuitos desenvolvimentistas (ainda que nós saibamos que "de boas intenções estão os Panteões Nacionais cheios").
 
Logo vários amigos me "mensajaram" a sua descrença na hipótese de diálogo Chapo/Frelimo-Mondlane. Então explico-me: para além da obrigatoriedade pragmática desse apaziguamento dialogante há outros dois factores. Por um lado, o discurso de Chapo (que ainda não li apesar de o ter recebido no momento exacto do seu término) tem grande similitude com o programa de Mondlane. Ou seja, coincidem no diagnóstico da situação do país ("dialogam" sobre isso, se assim se quiser). Poderão discordar das formas executivas tendentes às reformas, mas isso é a jusante.
 
Por outro lado, há algo que só depois vi. Quando Mondlane se rebelou contra (mais) esta fraude eleitoral, vários intelectuais alcochoados com a cleptocracia vigente se insurgiram contra o evangelismo público (e propagandeado) do candidato. Ora acabo de ver um filme oficial da candidatura de Chapo, no qual surge ele imediatamente antes do empossamento, ajoelhado em profunda oração, acompanhado da sua mulher, e invocando a iluminação divina para os seus actos. Ou seja, os dois políticos partilham este cristianismo político, um liame dialogante com toda a certeza, mesmo que pertençam a congregações evangélicas diferentes.
 
E isto, a ascensão de um presidente do Frelimo que explicita a sua devoção pela iluminação do deus cristão, significará algo muito relevante. A velha Frelimo, o partido vanguarda Frelimo, de inspiração m-l e com laivos maoístas - que ainda habita nas saudosas memórias da "velha guarda" marxista e de alguns desses intelectuais - já desapareceu há muito, é consabido. E talvez surja agora como uma "democracia-cristã", ecuménica no seu trans-catolicismo e abertura coabitante ao islamismo. Acompanhando dinâmicas no continente. E por mais que isso me seja distante, ateu e adepto da laicidade (algo que muito ultrapassa a mera religião), também o prefiro aos guevarismos folclóricos e aos tétricos brejnevismos.
 
3. A população, em particular a apoiante de Mondlane, exige melhores condições de vida, menos corrupção, mais desenvolvimento e maior democratização. Esta última implica que os políticos - os que estão no poder e os que a isso aspiram - são não só criticáveis como são (devem ser) criticados. Mondlane ontem atacou o MNE português de forma desabrida. Causou a Rangel um enorme rombo no seu capital político pessoal - ele terá de deitar borda fora todo o seu lastro para se manter à tona de água. Pois deixou que a relação com um importante interveniente de um aliado fundamental chegasse a um ponto destes, descurou-se.
 
Mas Mondlane esteve péssimo. Rangel não fez campanha em Moçambique, não urdia conspirações contra a oposição, não financiou o partido oponente, não fez qualquer ingerência. Terá tido ritmos e tons menos felizes sobre a situação moçambicana. Mas se Mondlane disso discorda então contesta o governo português, critica-o, em público se considerar necessário. Mas se tem apenas problemas com o nosso ministro, fala com o nosso embaixador, pede para que ele transmita o seu desconforto, desagrado, ao ministro em causa, ao seu PM, até mesmo ao PR. Agora um ataque pessoal, uma critica ao seu desempenho político, em tom desabrido, em público? Foi completamente descalibrado. Foi uma agressão ao governo português, até mesmo a este Estado aliado. Mondlane quer ser estadista? Seja-o, já. E nunca assim.
 
Muitos não concordarão comigo. Considerando "Venâncio" intocável. Apodando-me de "xicolono". Mas é mesmo isto o que eu penso: Rangel esteve muito mal neste processo, o seu SENEC é inexistente, o que é péssimo. Mas isso são problemas nossos, portugueses. E Mondlane esteve muito pior. Mas isso é um problema deles, moçambicanos.
 
4. Enfim, presumo que terminada a minha tournée televisiva pois quero crer / desejo que amainada esteja a situação moçambicana, lembro os amigos que hoje irei - já não em registo narcísico mas apenas conversacional - à Radio Observador, ao programa Convidado Extra. Irei falar do meu livro "Torna-Viagem", e andanças concomitantes. Com o explícito objectivo de seduzir algum(ns) hipotético(s) leitor(es). Aduzo que amigos (e não só) compraram o livro, alguns até o leram. E entre estes houve quem tivesse gostado...
 
A entrevista radiofónica é transmitida às 20 horas mas ficará aqui disponível na página do programa . E o livro "Torna-Viagem" - o tal carregado de crónicas em Moçambique - só se compra encomendando-o na página da plataforma digital: https://publishpt.bookmundo.com/books/366121

O Fim de Rangel

jpt, 14.01.25

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Um amigo jornalista telefona-me em alvoroço, "já ouviste o Venâncio Mondlane?, arrasa o Rangel...!". E manda-me a ligação à curta "live" (como se diz no Facebook) do homem. Cinco minutos de Mondlane, hoje. O homem pode não derrubar o poder em Moçambique. Mas conseguiu destruir Rangel, de uma forma nunca vista e inaudita nestas coisas das relações externas. Isto dirá qualquer português, independentemente das suas simpatias partidárias. (A partir dos 3'45'' do filme). (Tem já notícia no "Observador").
 
Mas tenha-se em atenção um nada detalhe. Qualquer pessoa que tenha alguma atenção às relações entre Portugal e Moçambique, ao ouvir o terrível ditirambo de Mondlane contra Rangel perceberá uma facto crucial: o governo português nomeou este Nuno Sampaio (o da fotografia) para Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação. E ele inexiste. E assim Rangel, distraído (e petulante) ardeu.

Ontem em Moçambique

jpt, 14.01.25

Imagens de ontem da Deutsche Welle de Moçambique. Em Maputo a senhora insurge-se, em desespero, contra a polícia, esse último bastião repressor. Será ela uma "vândala", como se dizia até há pouco? Será ela uma descrente na inovadora oposição parlamentar do Podemos, como alguma intelectualidade surge a afiançar? Será uma "inimiga do povo", como dirão os "camaradas" de cá, lacaia do capitalismo? Ou apenas uma "alienada", desconhecedora dos seus "direitos inalienáveis"? Ou uma fervorosa "bolsonarista", como os enfeudados resumem?
 
Ontem mesmo, segundo a ong de observação eleitoral DECIDE, mais seis mortos em confrontos com a polícia em Moçambique, 3 na província de Inhambane, outros 3 na Zambézia.
 
Que amanhã o nosso servidor a quem emprestámos um gabinete no Palácio das Necessidades tenha isso em atenção. E que fale devagar, após sete voltas à boca com a língua, fingindo-se sábio.

Moçambique: a maldição dos recursos humanos

jpt, 03.01.25

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(Estrada Dondo-Inhaminga, Agosto 1999)
 
(Recebi um amável convite para publicar um texto sobre Moçambique na coluna "Oficina da Liberdade" no jornal "Observador". Como não é de acesso livre deixo-o aqui, em versão ligeiramente retocada. A fotografia que escolho para encimar o postal tem um sentido e um sentimento. O sentido é este: continuo a acreditar que para os portugueses perceberem aquele país é preciso que alguém ponha as botas no matope. O sentimento é este: tenho saudades de pôr as botas no matope). 
 
1. Moçambique está em agonia desde as eleições legislativas, presidenciais e provinciais de 9 de Outubro. Este processo não é inesperado, dada a evidente gangrena do regime. Em Portugal acolhido pela usual distracção, na qual coabita o desinteresse pelas “coisas de África” - vistas como “imutáveis” - com o seguidismo aos regimes vigentes, por via de um dito “interesse estratégico” nacional. Mas a continuada repressão – que causou já mais de 250 mortos entre oposicionistas - trouxe uma recente azáfama na imprensa.
 
Assim, escapo ao actual imediato, recuando em busca de uma visão mais abrangente. Afastada da ideia demasiado “poética” que por cá se tem do país, tão visto como “a Pérola do Índico” - o velho cognome de Lourenço Marques/Maputo que se alastrou ao território nacional –, maculada apenas pelas cíclicas calamidades naturais. Imagem advinda das plácidas memórias colonas, imunes que estiveram – ao invés dos seus congéneres no restante ultramar continental – às agruras das guerras coloniais, pois lá circunscritas em áreas recônditas. E também ao sucesso actual de uma literatura “leve” moçambicana, a qual anima estereótipos sobre aquelas populações, suas mundividências e ambições.
 
 
 

Sobre a actualidade em Moçambique

jpt, 26.12.24
Motim em prisão de máxima segurança em Moçambique: 33 mortos, 1500  fugitivos | Moçambique | PÚBLICO
 
Nos últimos tempos aqui tenho deixado vários postais respeitantes à situação em Moçambique. E também criticado a falta de atenção na imprensa portuguesa sobre o assunto.
 
Hoje o programa 360º da RTP 3 dedicou meia hora a esta matéria. Reportagens sobre a actualidade imediata nos primeiros 13'. E depois uma conversa, na qual tive o privilégio de ombrear com a excelente Zenaida Machado.
 
Aos que quiserem assistir bastar-lhes-á "clicar" nesta ligação. Tratam-se, grosso modo, dos primeiros 30' do programa.

Moçambique pós-Natal

jpt, 26.12.24

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Antes do Natal aqui deixei o meu repúdio pelo seguidismo - típico de "deficientes intelectuais" - do governo e do presidente da República às posições do poder de Maputo. É um assunto que pouco interessa aos portugueses. Tal como pouco lhes interessará que nenhum dos nossos países congéneres ou das multilaterais a que pertencemos se aprestaram a fazer comunicados com o mesmo teor acrítico. Bem pelo contrário, todos se vêm distanciando do rumo daquele poder instituído.

Logo então referi que o candidato oposicionista Venâncio Mondlane - actualmente no exílio em parte incerta - fez declarações muito explícitas, criticando a posição portuguesa, sem abordar outras posições internacionais. Mas também alertou os seus seguidores no sentido de salvaguardar os "nossos irmãos portugueses" que no país habitam, irresponsáveis da irresponsabilidade dos seus governantes. (Mas quem acompanha a situação moçambicana também sabe que Mondlane não tem controlo total sobre a contestação. Entenda-se bem: não tem um partido organizado, não tem "milícias" - como especulavam os parcos apoiantes do poder -, tem "apenas" uma enorme influência "moral" / política mas a qual não é espartilho total das massas contestatárias). 

Ou seja, as posições de Montenegro e do nosso Presidente da República - esse Dâmaso Salcede da política nacional -, pressurosos em caucionar o poder Frelimo, não só descuram o processo democrático moçambicano, não só destoam das posições dos nossos aliados. Mas também perigam o bem-estar dos nossos compatriotas no país. E a estes nossos dois próceres some-se o MNE Rangel, cujas actuais contradições sobre Moçambique o recobrem da peçonha da indignidade pessoal.

Nesta alvorada deixava eu no meu blog uma plácida memória, até íntima, sobre este meu Natal. Quanto atentei, via Whatsapp, no massacre ontem acontecido em Maputo - e que talvez hoje continue. Dado o desnorte estatal houve fugas massivas das prisões de Maputo, para as quais as autoridades, já incapazes de susterem as fugas, apontam contraditórias causas: a ministra da Justiça refere que tiveram origem interna às cadeias, o comandante da polícia afirma terem sido promovidas por manifestantes oposicionistas - o que parece desmentido pelas imagens das saídas em barda, portões afora, dos prisioneiros. E figuras oposicionistas clamam que foram organizadas pelo poder, para criar uma situação de insegurança que legitime o recurso à força, para reestabelecer uma "ordem" pública, uma pax frelimica...

Entretanto, a polícia - que nos últimos meses tem vindo a reprimir "sem fé nem lei" os contestatários do poder instaurado - conseguiu recuperar algumas dezenas de fugitivos. Filmes de telemóvel realizados por agentes policiais mostram-no. Congregaram esses fugitivos, transportaram-nos, interrogaram-nos, abateram-nos. Com júbilo! Filmam os cadáveres, para registo e "relatório". "Estes julgavam que as armas não disparam", clamam, apoucando aqueles restos mortais. Deixo acima a imagem de um desses assassinados - em vários filmes aparece detido, entrevistado, transportado: diz-se um "brigadista" (entenda-se, um criminoso de baixo risco, perto de ter cumprido metade da pena e passível de liberdade condicional, já com autorização para saídas diurnas laborais nas imediações da prisão). Passadas horas está cadáver, amontoado entre dezenas de corpos, e dito pelos polícias como "nigeriano" e "agitador"...

Trata-se de um massacre em curso em Maputo. Levado a cabo pelos agentes dos poderes lestamente caucionados por este trio: Rebelo de Sousa, Montenegro, Rangel. Malditos sejam estes. E malvistos, pois execráveis.

Para quem se interesse por este assunto, mas julgue ser imperscrutável em Portugal o actual processo moçambicano, aconselho a que na SIC Notícias recue até ontem, dia 25 de Dezembro, às 21.25 h., quando decorre um desses programas de comentário político - que agora me recomendaram ver... O comentador Miguel Morgado (militante do PSD) tem uma análise informada e totalmente pertinente do que se passa em Moçambique, e uma visão radicalmente crítica das posições havidas sobre o governo e o presidente (que são do seu partido). Ou seja, é possível estar aqui e perceber não só a situação moçambicana como entender o profundo despautério que grassa em Belém, em São Bento e nas Necessidades.

E ouça-se também o que diz sobre o assunto o militante do PS e antigo governante Prata Roque, o outro comentador. Pois é amplamente denotativo do que como o poder português impensa e, em particular! Defende o homem as posições pró-regime de Maputo - cabal defensor das solidariedades internas à Internacional Socialista e, porventura, das ligações privadas entre respectivas elites políticas. Mas atente-se mais ainda na abjecta, obtusa, cavernícola mediocridade dos seus argumentos: o que lhe importa é lamentar que em Moçambique "se fale cada vez menos português" (uma imbecilidade factual), e que a população seja cada vez menos sensível à "lusofonia" e - ainda por cima - à "portugalidade"... Não é apenas uma patetice, trata-se mesmo de um escarro intelectual, para além da imoralidade ululante.

E é isto, esta nulidade, esta esterqueira, que ascende a governos do PS. É  isto que é docente na actual Faculdade de Direito de Lisboa (!). E é isto, já agora, a que as televisões pagam para "informar" e "fazer opinião" as gentes de cá. Enfim, é a tralha imunda que vem grassando, há décadas, no "Bloco Central".

Entenda-se, conhecendo e sentindo Moçambique, vendo na alvorada pós-Natal o que estou a ver a acontecer em Maputo, vomito impropérios, jorram-se-me. Nenhum dos quais tão ordinários, javardos, como dizer "Prata Roque". Sem com isso salvaguardar de desprezo similar os actuais incumbentes.

O governo português e Moçambique

jpt, 24.12.24

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Em 2024 houve mundo afora um imenso, inusitado, número de eleições nacionais. A reduzir a atenção internacional sobre cada uma delas. Some-se a isso a relevância mundial das eleições americanas, até monopolizadora de interesses alheios,  a continuidade das duas guerras que mais convocam os cuidados da opinião pública e, agora, a queda do velho regime sírio. Tudo isso se congregou para a pouca relevância externa das eleições presidenciais, provinciais e legislativas moçambicanas do último Outubro. Também por cá isso aconteceu.

Nossa desatenção nacional que se reforça pelas características do nosso arco parlamentar politicamente significante. Entre o qual há em relação ao poder daquele país uma atávica solidariedade do PCP. E um desinteresse real do BE - note-se que a única intervenção significante desse partido sobre o assunto foi uma declaração da deputada Matias, a qual, de facto, apenas utilizou o caso moçambicano para criticar a posição portuguesa e europeia face à ditadura venezuelana. Quanto ao PS há uma solidariedade explícita, advinda da comunhão na Internacional Socialista, bem como - e até será mais relevante - existem liames já de décadas entre algumas figuras gradas socialistas e a oligarquia moçambicana, a vera causa do de outro modo inacreditável silêncio do PS sobre este assunto. Quanto ao PSD poder-se-á explicar o silêncio por um trio de influências: o peso de lóbi interno de algumas figuras desse partido, o rumo titubeante neste caso do seu actual Ministro dos Negócios Estrangeiros - o qual, decerto, brandirá um paupérrimo, de mítico, "sentido de Estado" para agora se justificar. E, decerto, a opinião do incompetente e ininteligente presidente da República que desse partido emanou, suas características sempre exponenciadas quando sobre Moçambique se trata. Ficarão os olhares críticos parlamentares sobre a situação moçambicana a cargo da IL, que tem tido posições pertinentes, e do ignaro bolçar revanchista colonialista desse CHEGA que para aqui anda...

Ontem, ao fim de dois meses e meio (muito mais do que ocorreu em vários processos eleitorais deste ano em África), o Conselho Constitucional moçambicano aprovou os resultados finais - como seria de esperar. Fez algumas alterações aos números inicialmente anunciados pela CNE. Grosso modo, atribui mais 4% dos votos ao segundo candidato mais votado - que tem protestado os resultados -, e mais 1% a um outro. Entretanto, ao longo destes dois meses de contestação popular dos resultados anunciados foram vários os relevantes militantes do partido do poder que confirmaram publicamente a longa tradição do seu (do seu, sublinho) partido na manipulação dos processos eleitorais. Corolário dessas más práticas no ano passado decorreram umas eleições autárquicas sob uma enorme, escandalosa, fraude. 

Neste 2024 aconteceu mais uma enorme manipulação eleitoral. Aos protestos generalizados seguiu-se uma brutal repressão policial: o assassinato de figuras do oposicionistas Podemos, mais de uma centena de mortos, pelo menos centenas de feridos. 

Não contesto que o partido Frelimo tenha ganho as eleições, julgo até ser normal que isso tenha acontecido: aconteceu uma grande abstenção, na desmobilização do voto oposicionista devido a uma longa tradição de manipulação eleitoral, na desagregação real do histórico oposicionista Renamo (de facto cooptado pelo poder, e assim compreendido pela população), na tripartição da oposição eleitoralmente significante, para além do peso histórico do partido do poder e de este ter um efectivo aparelho partidário na totalidade do país. Não contesto a sua vitória nem a afianço, pois de facto os processos eleitorais não são credíveis - como deixou explícito a declaração da missão de observação eleitoral da UE, raríssima de tão crítica. 

A toda essa tradição de prática política eleitoral some-se a atroz repressão em curso, da qual houve nos últimos dois meses incontáveis testemunhos fílmicos e fotográficos.

Mas ontem, ao fim dos tais dois meses e meio, o Conselho Constitucional validou o processo eleitoral. Duas horas depois, meras duas horas depois, o nosso governo divulga a sua concordância apoiante ao velho poder de Maputo. Articulando algumas recomendações gerais sobre "boas práticas" com a adopção, explícita, da linguagem que o Frelimo usa para agora se legitimar, como está escarrapachado na utilização de "o novo ciclo" no documento oriundo das "Necessidades", tópico na actualidade sempre propalado pelo partido incumbente. Nesta deriva, decerto que emanada por concordância entre Belém e São Bento (e as Necessidades, decerto), não houve sequer uma pausa, uma ligeira demora - tão típica da linguagem diplomática -, que significasse um desconforto - com o passado recente, com o presente, com o molde de autocracia eleitoral, com o constante viés repressivo.

Resta apenas um frenesim, conivente, de Sousa, Montenegro & Rangel. Precaução, dirão os sacerdotes da "realpolitik". Incompetência e desatenção, direi eu, defensor da "realpolitik".

E se há dias para ter vergonha de ser português este é um deles. A causar um Natal acabrunhado.

Adenda

Ao meu postal criticam-no, por via privada, por "aceitar" a vitória do Frelimo. As pessoas querem - sobre aquilo que "torcem" - proclamações, como se adesões. Não as farei a propósito de partidos estrangeiros. O que digo é que não recuso a hipótese da vitória do Frelimo (e adianto razões plausíveis). Mas adianto que, seja qual for o resultado apurado, nada daquilo é credível. E que a reacção do governo português é execrável. Digamos assim, se por cá volta e meia se pede a demissão (até a cabeça) de um qualquer ministro (da Educação, da Administração Interna, da Justiça, etc) por causa de um qualquer episódio, por maioria de razão se deveria pedir o abate deste ministro Rangel. 

Quanto ao resto dizem-me que hoje - nas suas comunicações audiovisuais - o oposicionista Mondlane zurziu no nosso presidente e no nosso governo, com total pertinência. Tendo também a clarividência de salvaguardar os nossos compatriotas residentes no país. De facto inocentes da incompetência do nosso presidente e deste ministro dos negócios estrangeiros (entenda-se bem, o seu comunicado é inadmissível...).

Mas como é Natal e Rangel é Rangel tudo passará e ninguém por cá ligará.

A imprensa portuguesa sobre Moçambique

jpt, 18.12.24

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(Homenagem da Ordem dos Advogados a Elvino Dias, advogado do candidato presidencial Venâncio Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do Podemos, partido que o apoia, no local dos seus assassinatos; Maputo, 19 de Outubro de 2024, fotografia de Paulo Julião/Lusa, publicada no jornal "Público")

 

A escritora comunista Ana Bárbara Pedrosa publica na "Sábado" um artigo sobre a situação moçambicana. No qual repete a sua interpretação, já apresentada há cerca de dois meses no "Público": o problema de Moçambique é o candidato oposicionista Venâncio Mondlane - que ainda por cima está no estrangeiro, o mariola (ela prefere chamar-lhe "ególatra", mas é sinónimo).

Após cuidadosa leitura do artigo tenho um contributo para a reflexão da militante comunista ("activista" diz-se no seu partido...), e muito agradecerei se alguém lhe transmitir: Vasco da Gama atravessou o Cabo da Boa Esperança em 1497, e convém conhecer os detalhes históricos quando se quer utilizar a História para figuras de estilo.

Quanto ao resto não tenho muito a dizer...

O Funeral do Jornalista Moçambicano Mano Shottas

jpt, 15.12.24

Anteontem aqui deixei as brutais imagens do assassinato policial do jovem jornalista moçambicano Mano Shottas, ocorrido em Ressano Garcia.

Para melhor exemplificação do que se está a passar em Moçambique, da repressão que acompanha o estertor da ditadura cleptocrática do Frelimo, deixo agora imagens do funeral de Mano Shottas, acontecido ontem. Durante o qual, na sequência de nova investida policial, houve vários feridos e, pelo menos, dois mortos.

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Abel Nuer Timana, morto a tiro em Ressano Garcia no funeral de Mano Shottas.

Morais Sarmento sobre Moçambique

jpt, 15.12.24

Nos últimos tempos tenho aqui referido a situação política em Moçambique. Nesse âmbito lamentei o silêncio do nosso governo e o das restantes autoridades estatais., algo constante desde o início desta crise. E nisso demonstrei a contradição sobre o assunto entre o eurodeputado Paulo Rangel e o ministro Paulo Rangel - que deveria ser letal para o actual MNE, pois descredibiliza-o totalmente, mostrando-o um demagogo rasteiro. Tal como lamentei o efectivo silêncio noticioso entre a imprensa portuguesa. Sem intuitos exaustivos, nem possibilidades de isso tentar, ecoei algumas boas intervenções na imprensa -, mas notando que não só vêm diminuindo, como também nunca acompanharam a relevância dos acontecimentos num país nosso aliado, membro da CPLP. E que são também acompanhadas de indecentes dislates (exemplificados por peças como esta patética crónica no "Público" da escritora comunista Ana Bárbara Pedrosa ou o discurso no PE do PCP), e mesmo de vergonhoso servilismo ao regime ditatorial vigente (como o de Miguel Relvas).

Por isso muito saúdo esta intervenção televisiva de Morais Sarmento. Na qual aborda o silêncio institucional e noticioso em Portugal sobre a situação moçambicana, acertadamente comparando-o com a atenção dedicada a outras realidades internacionais - e mesmo em Moçambique (no caso de calamidades). Frisando também que este silêncio tem repercussão naquele país.

Convém sublinhar que Morais Sarmento não só é membro relevante do  partido governamental - presumo que teria agora maiores responsabilidades políticas não fora a grave doença que o acometeu e da qual, felizmente, recuperou. Mas também não é apenas um comentador, pois tem responsabilidades institucionais (é presidente da FLAD). E tem também alguns (e perfeitamente legítimos) interesses económicos no país, pois julgo que ainda será sócio de um pequeno hotel em Inhambane. E nada disso - bem pelo contrário - o impede de dizer aquilo que é óbvio: este silêncio governamental é lamentável. Incompetente, adianto eu. Tal como o é a falta de empenho da imprensa.

Moçambique no "Le Monde"

jpt, 14.12.24

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O artigo que o Le Monde acaba de dedicar a Moçambique. Para os não francófonos saliento um parágrafo:
 
Até à data, as autoridades moçambicanas beneficiaram do silêncio cúmplice da comunidade internacional. Nem a União Africana nem a organização regional da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) se pronunciaram sobre as irregularidades do escrutínio e a violenta repressão que se seguiu. A Amnistia Internacional acusa a SADC de uma "lentidão terrível" e de um "silêncio ensurdecedor" ao condenar "as violações do direito de manifestação e os assassinatos de manifestantes.”
 
E tal como se aponta o dedo a estas multilaterais africanas (SADC, UA) também se pode interrogar o silêncio substantivo da Commonwealth e da União Europeia. Já nem falo da CPLP, cujo silêncio neste caso é uma proclamação de total irrelevância, verdadeira certidão de óbito institucional.
 
E como seriam importantes intervenções explícitas destas multilaterais antes do dia 23, data anunciada para a decisão do Conselho Constitucional, mais-do-que provável encenação da legitimidade da fraude eleitoral em curso.

A morte do jornalista moçambicano Mano Shottas

jpt, 14.12.24

Mano Shottas foi até agora um jovem moçambicano. Apresentando-se despojado dos habituais símbolos das malvadas utopias, sem cruzes ou crescentes, estrelas ou barbudos, metralhadoras ou alfaias - surge sim, no seu mural feito canal comunicacional, vestido com uma camisola do Barcelona, o de Messi. Não viveu a velha Paris, as estepes em guerra, não calcorreou o mundo. Encontro-o em Ressano Garcia mas até duvido que conhecesse Nelspruit...
 
Assim sendo, pois desprovido de embrulho épico ou cosmopolita, de ares "intelectuais", nunca será considerado, venerado, como um repórter bravo e bravio, como um Capa ou um Reed, apesar de ter mais ou menos a idade deles quando avançaram para as guerras que os celebrizaram. Ou mesmo - mais contemporâneo e "africanista" - desse Kapuscinski, o propagandista de Agostinho Neto. Por isso muito duvido que lhe venham a dedicar versalhadas de pé-quebrado, ditas "de resistência". Nem as mesuras da amnésia, sempre doadas àqueles Prémios Camões africanos que tantas loas teceram, no adequado in illo tempore, aos fuzilamentos e campos de concentração ditos revolucionários.
 
Pois Mano Shottas não foi até agora um "jornalista", de carteira profissional. Mas sim um tipo das "redes sociais", "sem filtros" e "editores", um mero "jovem". Alguns até o dirão um "vândalo"...
 
O filme é brutal, repito!!! Mano Shottas está em Ressano Garcia, a fronteira com a África do Sul. Está a fazer uma "live" - o jornalismo de cidadania, que tantos refutam e querem calar. Está a transmitir em directo a repressão policial (? - dizem-me que hoje soldados ruandeses estiveram ali em acção, mas não posso afiançar). A pequena vila está a ferro e fogo. Shottas, jovem bravo e bravio, filma e descreve. A repressão sobre o seu povo. É atingido, cai. Continua a emitir: "fui alvejado, pessoal... estou a morrer, pessoal". E morreu!
 
Nós aqui? Calados. E lá? Os instalados, escribas e outros, na ladainha da invocação de um passado que dizem glorioso - o dos campos de concentração, note-se, o do largar carregamentos de gente no mato, para serem "pasto de leão", lembre-se a miserável "glória" dos "tempos" da "mamã" e dos "papás"! E a prometerem "emendar-se"... depois de décadas tétricas.
 
Um homem vê o jovem Shottas a balbuciar, agonizando. E não pode deixar de clamar, cá de longe, e mesmo sendo estrangeiro: Anamalala! Basta! Acabou!

A indeterminação em Moçambique

jpt, 08.12.24

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Em Moçambique reina a indeterminação. A inacção governamental - e as eleições ocorreram há já dois meses - enquanto as manifestações se sucedem, por todo o país. E continua a violência policial - entretanto as forças armadas mantêm-se calmas, numa espécie de "neutralidade activa". E também surgem, cada vez mais, respostas violentas das populações, investindo contra instalações públicas, privadas e empresariais. Nas grandes cidades e nos entroncamentos viários levantam-se barricadas, impedindo o trânsito - e acabo de ler que "brigadas" manifestantes irrompem pelas centrais eléctricas exigindo a interrupção da produção. Nisto já há centenas de feridos e cerca de noventa mortos. Grassa o temor de uma hecatombe, fervilham os rumores e as teorias conspiratórias. Cá longe recebo catadupas de mensagens, filmes, imagens. Telefonemas, preocupados. Opiniões diversas. Mas unânimes no anseio da paz, da "resolução do conflito" emergente. 

De quando em vez chega um sinal de que a vida continua, assim esperançoso. Ontem recebi esta mensagem, reencaminhada, uma crónica das barricadas de Maputo (da qual desconheço a autoria). Será apócrifa? Talvez não o seja ("cheiro-a" verdadeira). Mas si non è vero é ben trovato:

Permitam-me partilhar convosco algo inusitado que aconteceu-me esta manhã!

Na manhã de hoje, decidi ir à Matola Gare visitar um velho amigo. Na zona de Baião, encontrei uma barricada dos manifestantes a "cobrar portagem", eu com a minha camisa do Sporting CP pus-me a negociar com eles para atravessar, e um deles diz: "grande sportinguista..." e eu com um tom de orgulho, respondi: - SIM! e somos campeões, somos Spoooorting, e um dos manifestantes na barricadas, diz: passa lá boss, vocês do Sporting estão a sofrer maningue.

 

 

Moçambique: o apear das estátuas

jpt, 06.12.24

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Aquando dos estertores dos regimes autocráticos são recorrentes estes momentos de derrube popular - e, depois, de "remoção" estatal - das estátuas dos seus dignitários, sempre erigidas em tentativas de os "imortalizar" e aos regimes "perpetuar".
 
As imensas imagens que tenho recebido de Moçambique - e que me recuso a partilhar - mostram que a violência campeia. Há várias que são tétricas (agora mesmo a desgraça acontecida no hospital de Chibuto), outras preocupantes (a queima de instalações empresariais, partidárias, até estatais), a indiciarem o descambar generalizado. Outras comoventes - o chefe de polícia (de Morrumbala?) a tentar refugiar-se em casa, sendo apedrejado já no seu quintal, diante do desespero da sua mulher...
 
Urge repetir que nada legitima esta repressão policial - é uma "violência estatal" não legítima, pois, mais que não seja, é serôdia. E nada justifica a "justiça popular" (expressão revolucionária, tão do agrado das correntes ideológicas em tempos viçosas, que nunca significou mais do que revanchismo).
 
Desse feixe de situações retiro, até espantado, uma noção: são agora várias as ocorrências acontecidas na província de Gaza, desde sempre "feudo" do FRELIMO, berço até de tantos dos seus líderes históricos. Até ali, no interior rural, a população voltou costas ao seu velho partido. Será que as elites políticas e as intelectuais (estas sempre tão menos relevantes do que se julgam) ainda não perceberam isso? Que anamalala!
 
E disso o símbolo mais gritante - e para mim mais surpreendente -, felizmente pacífico, encontro-o hoje, nesta imagem (que tirei de filme). Em Pemba a população apeando a estátua do general Chipande, proclamado herói da "guerra de libertação nacional" pois dito autor do seu "primeiro tiro". E que era o quarto na sempre murmurada como estipulada "dinastia" presidencial, os 4 grandes do partido: Machel, Chissano, Guebuza, Chipande. E que, chegada a sua era, delegou - porventura devido à sua idade, pois então já septuagenário -, indicando o actual presidente Nyusi.
 
Ou seja, o derrube (que já aconteceu, pelo menos numa escola) da estátua de Nyusi é apenas a afronta a um epifenómeno, uma personagem secundária, removível, por isso ainda passível de purificação. Mas o derrube da estátua de Chipande é o arrastar pelo chão da "legitimidade histórica". É mesmo um anamalala.
 
(Anamalala é a "palavra de ordem" em voga no país, termo macua que significa - mais ou menos - "basta"/"acabou")

Moçambique: assim se vê a força do PC

jpt, 28.11.24