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Delito de Opinião

Greve no metro

Teresa Ribeiro, 04.11.21

Há décadas que esta gente faz greve todos os anos para reivindicação de aumento de salário (durante a pandemia fizeram uma trégua, por motivos óbvios). Esta recorrência, tão regular como um relógio suíço, só lhes pode ter rendido muito para lá do que qualquer trabalhador ganha, em média, neste país. Pena que ainda não se tenham lembrado de fazer o que há uns anos fizeram com o pessoal da CP: Divulgaram publicamente as suas tabelas salariais e as regalias de que gozavam e foi um escândalo.

Jardim Lisboa

jpt, 02.02.20

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Jardim Lisboa: vamos ter uma cidade mais ecológica, mais ajardinada, mais bilhete-postal. Como contestar?

Leio que haverá ciclovia na Almirante Reis. Já vejo os lisboetas pedalando avenida acima, uns virando à Graça, outros do Areeiro descendo (e subindo) a Moscavide e por aí ... Acho muito bem. Muito saudável. Muito moderno. Muito Medina, digamos assim.

Entretanto: anteontem, sexta-feira, eram 19.57 quando entrei na estação de metro dos Anjos. 6 minutos para comprar bilhete, pois apenas duas máquinas e meia dúzia de pessoas na habitual atrapalhação de quem não as conhece. Depois 9 minutos para o comboio. Saí na Baixa-Chiado. Aguardei 7 minutos pelo comboio. Chegou, entrei. E aguardei que arrancasse. 2/3 minutos. Na estação seguinte idem, estancado. Na estação seguinte idem. Saí no Marquês. Esperei 7 minutos pelo comboio. Lá aportei ao Rato. Entrei no restaurante, passando já do "um quarto para as nove" e os amigos a protestarem, risonhos, com o meu atraso. Ansiosos por me verem? Ou, como eu, a resmungarem: a pé tinha(s) chegado mais depressa? Pois dos Anjos ao Rato de metro levei mais de três quartos de hora ...

Jardim Lisboa, como contestar o iluminismo do dr. Medina, a cidade-bilhete-postal? As ciclovias avenidas acima e abaixo? Os eixos pedonais? Os etc. e tal?

Temporariamente, frequentemente

João Sousa, 10.11.19

Hoje de manhã, por volta do meio-dia, estava este aviso num dos elevadores da estação de Metro do Chiado:

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Considerando a regularidade com que encontro aquele elevador avariado, nuns dias com aviso e noutros sem ele, acho que mais valia o Metropolitano de Lisboa passar a colocar um aviso apenas quando o elevador está a funcionar. Algo como: "Equipamento temporariamente em funcionamento".

Assim se gere a coisa pública

Pedro Correia, 03.07.19

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Metro de Arroios, encerrado há dois anos

 

Faz agora dois anos, a 19 de Julho, que a estação de metropolitano de Arroios - numa das zonas mais movimentadas de Lisboa - fechou para obras de "remodelação e beneficiação". Um encerramento destinado, no essencial, a alargar a plataforma da estação para que pudesse receber mais carruagens.

Estas obras, especificou na altura o loquaz ministro do Ambiente, iriam durar 18 meses. Um prazo que parecia razoável, embora certamente demasiado longo para os utentes habituais daquela estação, com destaque para quem mora ou trabalha em Arroios. E, sobretudo, para os comerciantes ali estabelecidos.

Aproveitou-se a ocasião para a habitual sessão de propaganda, enfeitada com estatísticas futuras: «O alargamento do comboio deverá permitir um aumento de 37% dos lugares disponíveis por hora, 128% no corpo do dia e 49% na hora de ponta à tarde.»

 

Passaram os 18 meses, em Janeiro de 2019 - a promessa, como tantas outras, deu em nada. Nessa data, faltaria concluir 80% da obra. «Só para montar o estaleiro» a empreitada demorou «quatro ou cinco meses», como denunciou um deputado municipal comunista. Em Fevereiro foi lançado um novo concurso, face ao incumprimento do primeiro contrato, e anuncia-se agora que a estação não reabrirá antes de 2021. Com o consequente aumento da despesa para os contribuintes: curiosa noção de "serviço público". E de manifesto empobrecimento do comércio privado: até Maio de 2018, pelo menos dez estabelecimentos tinham ali encerrado as portas.

O loquaz ministro não se tem pronunciado sobre o tema. O presidente da Câmara de Lisboa limita-se a sacudir responsabilidades: «Esta é uma obra de uma empresa que é gerida pelo Estado, não pela câmara. Não posso mais do que partilhar o meu lamento quanto ao atraso.»

É o mínimo que Fernando Medina pode fazer, quando se demora quatro anos para remodelar só uma estação de metro. E já que proclama a intenção de proporcionar uma «verdadeira alternativa de mobilidade, assente na disponibilidade do transporte público» na capital, onde entram 370 mil veículos por dia. Como será isso possível, com uma oferta tão medíocre e limitada?

 

Felizmente para o Governo, passou a moda dos buzinões, das "marchas lentas" e dos cordões humanos: o ministro do Ambiente e o primeiro-ministro (que já foi presidente da Câmara de Lisboa) podem, portanto, dormir descansados. 

O local mais espaçoso no Metro de Lisboa

Diogo Noivo, 14.02.17

Em Lisboa, ficar em casa é um acto de rebeldia. Exposições modernaças, bares trendy, restaurantes étnicos, arquitectura (ou arquitetura?) desempoeirada, lançamentos de livros de dietas detox, lançamentos de lojas, lançamentos de “conceitos”, enfim, uma canseira de solicitações. Só ao Tejo é que ninguém se lança – já não se fazem portugueses como o Marcelo, o que, pensando bem, não é mau de todo.
Lisboa está na moda, Lisboa é sexy, Lisboa é cosmopolita. Desde que não seja para viver e trabalhar. Sobre as digressões cosmopolitas da capital muito há a dizer, começando pelos “happenings” e pelos “conceitos”, na sua maioria cópias baças daquilo que se faz noutras paragens. No entanto, o drama está no penoso quotidiano.
Regressado de Madrid, onde desta vez vivi cerca de um ano, as diferenças no dia-a-dia são esmagadoras. Na capital espanhola consigo tratar da minha vida usando os transportes públicos, em particular o Metro. Profissionalmente, mesmo que num só dia tivesse de estar em três ou quatro sítios diferentes, o Metro dá abasto. Para as coisas mundanas, como ir ao supermercado, ia a pé. Ao contrário do que sucede em Lisboa, Madrid mantém o comércio local vivo. Em todos os bairros da cidade há supermercados, farmácias, pastelarias, lojas de informática, livrarias, ginásios, cabeleireiros, lojas de roupa, restaurantes, enfim, tudo o que faz falta. Em matéria de acesso à cultura, voltamos aos transportes públicos. Cinema, teatro, livrarias grandes ou especializadas, todos têm uma estação de Metro por perto. Não conheço na cidade de Madrid um único trajecto que se percorra com maior rapidez e conforto de carro do que em transportes públicos. Já em Lisboa conheço vários.
É verdade, as estações de Metro em Madrid são feias, algumas causam mesmo repulsa. Pelo contrário, as de Lisboa são verdadeiras obras de arte. Reconhecida a diferença, importa salientar um aspecto relevante quando falamos de transportes públicos: o Metro de Madrid funciona. O metropolitano da capital espanhola apostou na dimensão e na funcionalidade da rede, a segunda mais extensa na Europa. O de Lisboa apostou na imagem. Em hora de ponta, o intervalo de tempo entre metropolitanos em Madrid ronda os 3 minutos. Em Lisboa, também em hora de ponta, o intervalo de tempo oscila entre os 5 e os 15 minutos, isto quando não temos as célebres “perturbações de linha” – eufemismo para o muito português “desemerdem-se”.
Dir-me-ão que as coisas por Madrid também não são fáceis, ao ponto de ter sido necessária a contratação de empurradores. Certo, mas isso só demonstra o quão eficazes são por lá: Lisboa não tem empurradores, mas devia. O grau de intimidade entre estranhos proporcionado pelo Metro de Lisboa em hora de ponta está à beira de desafiar as noções mais lassas de libertinagem. Mas até nem é mau dar por mim nessa situação. Não porque seja um tipo devasso, mas porque é sinal de que consegui entrar na carruagem. Depois de uns bons 15 minutos de indagações anatómicas mútuas e forçadas, que inevitavelmente levam a comparações, quase sempre desfavoráveis à minha pessoa, lá chegarei ao meu local de trabalho sem grande atraso. Amaçado, com a paciência na reserva, com odores no corpo que não são os meus (por princípio, não me oponho a ter no corpo odores de terceiros, mas ao menos que me paguem um copo primeiro), exausto, mas a horas.
Nada disto parece interessar. O que importa é que a cidade é famosa. E o Metro de Lisboa “é nosso”, novamente público, livre do jugo capitalista previamente autorizado por uma infame concessão a um nefando privado. Se o regresso ao perímetro público traz dificuldades, paciência, é o preço a pagar. Além do valor do passe, claro. Bom, o valor do passe é claro, mas a correspondente factura tem uma tonalidade tão escura que nauseia.
Aqueles que pugnaram por um Metro público, ignorando por completo a sua funcionalidade, eficácia e o serviço prestado aos passageiros, deveriam meter as suas ideias no mesmo sítio onde eu meteria a minha pasta se eles viajassem ao meu lado. Ainda que por definição seja um sítio aconchegado, é mesmo o único local com espaço num Metro lisboeta em hora de ponta.

Lisboa: o caos nos transportes (actualizado)

Pedro Correia, 16.11.16

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A Câmara Municipal de Lisboa diz que pretende tirar os carros do centro da capital e tudo tem feito nesse sentido. Esperar-se-ia que, em consequência, a rede de transportes colectivos melhorasse. Nada disso. Pelo contrário, o metro nunca funcionou tão mal. De tal maneira que se torna infrequentável em dias de maior afluxo de público, como sucede invariavelmente quando há jogos de futebol do Sporting e do Benfica. E aconteceu ontem, com o cenário de caos ocorrido a propósito do início da chamada Web Summit em Lisboa.

A administração da empresa, eventualmente confrontada com o congelamento de verbas destinadas à manutenção e ampliação da frota, mostra-se incapaz de adequar a oferta à procura.

 

A paciência dos utentes está a esgotar-se. Não passa um dia sem ocorrência de avarias na rede do metropolitano, que força sucessivos atrasos, relatados sem cerimónia a todo o momento nos avisos sonoros das estações. Quando as carruagens chegam às plataformas, vêm em regra sobrelotadas: não é rara a circunstância em que os passageiros são forçados a aguardar pelo transporte seguinte, tão lotado como o primeiro.

Estes episódios são mais frequentes na linha verde, que liga o Cais do Sodré a Telheiras. É a mais movimentada da rede do metro, pois passa em estações tão procuradas por residentes e visitantes como a Baixa-Chiado, o Rossio, o Martim Moniz, a Alameda e o Campo Grande. E no entanto, apesar disso, é a que dispõe de menos carruagens: três por comboio, em vez de quatro como seria de supor dada a dimensão das estações.

Não por acaso, o metro  lidera a nada honrosa lista das queixas de passageiros sobre o mau funcionamento dos transportes apresentadas à Autoridade da Mobilidade e dos Transportes ou no livro de reclamações da empresa: 878, só no primeiro trimestre de 2016.

 

Como utente diário do metropolitano de Lisboa, tenho assistido às cenas mais lamentáveis, afectando geralmente estrangeiros que nos visitam. Mães forçadas a levar carrinhos de bebés ao colo por avaria dos elevadores. Pessoas muito idosas obrigadas a subir a pé dezenas de escadas por avaria sine die da escadaria rolante, aliás inexistente na grande maioria das estações. Deficientes que desembarcam em plataformas sem elevadores e não avistam um só funcionário da empresa disponível para lhes prestar informações. 

Já para não falar no lixo que se acumula em diversos acessos às estações. A do Campo Grande é  um dos piores exemplos - talvez por estar fora dos habituais circuitos turísticos e não aparecer tanto nas fotografias. Fernando Medina, que tanto gosta de discorrer sobre política internacional nas suas tribunas mediáticas, bem podia um dia destes pronunciar-se sobre toda esta degradação.

 

O congestionamento do metro implica por sua vez enchentes noutros transportes, que também funcionam de forma cada vez mais caótica - com destaque para a frota da Carris, que raramente cumpre horários e suprime carreiras sem avisar, indiferente aos indignados protestos dos passageiros.

Não pode haver pior cartaz turístico do que este. Nem pode haver maior incentivo à utilização do automóvel na capital.

É chegado o momento de fazer a pergunta que se impõe: foi para isto que o Governo de António Costa se apressou a anular as concessões a grupos privados dos transportes públicos de Lisboa?

À custa de todos nós

Pedro Correia, 26.06.15

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O Metropolitano de Lisboa está hoje todo o dia parado, devido a mais uma "greve dos trabalhadores". É a oitava que se realiza este ano, que ainda nem vai a meio - atingimos portanto uma média superior a mais de uma por mês.

Oito dias de greve, que paralisam este imprescindível serviço de transportes públicos da capital, porquê? Não por questões de carácter laboral: os funcionários do Metro têm um nível salarial muito acima da média nacional, regalias de que nenhum outro trabalhador dispõe, vínculos contratuais sólidos, estabilidade profissional e uma carreira bem definida.

O motivo destas greves é protestar contra a subconcessão do Metro a entidades privadas - uma decisão já assumida pelo Governo, com plena legitimidade, tanto mais que constava do seu programa eleitoral, sufragado em 2011.

Dizem os sindicatos do sector que as paralisações se destinam a "defender o serviço público". Mas, por amarga ironia, cada greve constitui um argumento suplementar contra a estatização dos transportes urbanos junto das centenas de milhares de portugueses que os utilizam. Porque são eles - em larga medida pertencentes aos segmentos mais desfavorecidos da população - os principais afectados por estas paralisações.

Direi mesmo mais: são os únicos. As direcções das empresas até beneficiam, pois poupam em custos de energia e pagamentos de salários. E o Governo vê o seu argumentário reforçado: nas empresas privadas de transportes não existem greves. Essas sim, defendem os desfavorecidos.

 

Só na Área Metropolitana de Lisboa, 43% dos residentes utiliza regularmente os transportes públicos. Mas, em vez de servirem a população, empresas como o Metro servem interesses políticos - em estreita convergência com o Partido Comunista, que encontra hoje no segmento dos transportes urbanos o seu principal reduto de apoio sindical. Hipocritamente, dizem defender os mais pobres enquanto lhes negam o direito constitucional ao transporte. Roubando-lhes dias que foram antecipadamente pagos no momento da aquisição dos passes sociais. Abusando da posição dominante, num arremedo de darwinismo social.

Hoje todos nós - e somos, só os utentes do Metro, quase meio milhão por dia - tivemos de inventar meios alternativos para nos deslocarmos rumo ao local de trabalho, ao centro de emprego ou ao centro de saúde. Sem carro ou sem gasolina para o pagar. Sem dinheiro para gastar em táxis. Com passes tornados inúteis pelo oitava vez em 2015.

 

Em 2014, as três empresas públicas de transportes que servem a capital (Metro, Transtejo e Carris) apresentaram um défice de natureza operacional superior a 110 milhões de euros - quantia paga pelo Orçamento do Estado, ou seja pelos contribuintes. Muitos deles pagam três vezes estes prejuízos: através dos impostos, dos títulos de transporte adquiridos por antecipação e dos meios alternativos que têm de inventar para deslocações nos dias como hoje.

Indiferente a tudo isto, a casta sindical já planeia novas paralisações. Aniquilando o transporte público enquanto proclama defendê-lo. À custa de todos nós.

As greves do metro na óptica do utilizador

Marta Spínola, 18.06.15

Agora que já passei por diversas greves de metro - há mais de dez anos que o utilizo diariamente -, desde as só até às dez às de 24 horas, de quando havia uma de vez em quando até às regulares, posso dizer com propriedade: façam greves para aí, já contorno de forma relativamente simples a questão.

Já sei que é um direito, que nem sempre se percebe para o que ou para quem são e isso nem importa muito porque, lá está, as pessoas têm direito e podem fazer greve.

Muito bem, mas para quem usa no dia a dia, para quem tem de chegar a algum lado e depende do metro para isso, não é imediata a solidariedade e a compreensão. Somos assim, pronto, não é por mal. Isto também é pouco relevante para os números da greve, deixem-nos ter este amor/ódio por elas e desabafar redes sociais e blogues fora.

O Metro do nosso descontentamento

Ana Lima, 25.02.12

Por muitas razões, das quais não vou agora falar, sou uma defensora da utilização dos transportes públicos. Apesar de gostar muito de andar a pé em Lisboa, utilizo, entre outros, o metro, com alguma frequência. É inegável o esforço que tem sido feito para melhorar a qualidade da sua utilização. A rede tem sido aumentada, as estações renovadas e, à excepção de algumas alturas do dia, as viagens não são desconfortáveis.

No entanto, nos últimos dias...

Provavelmente por contenção de custos, a circulação na linha verde faz-se agora (ainda não percebi se durante todo o dia, se apenas a algumas horas), apenas com três carruagens. Algumas das consequências deste facto são:

- as correrias nas plataformas de quem está desatento aos avisos ou simplesmente não consegue ler à distância em que o painel informativo se encontra. Esta situação é agravada no caso de pessoas idosas;

- a rápida saturação do espaço nas carruagens (hoje alguns casais estrangeiros, com crianças e carrinhos, não conseguiram entrar numa das estações, não apenas por não haver lugares sentados mas porque não conseguiam mesmo entrar - e isto à hora de almoço);

- a acumulação com o descontentamento já existente, face ao aumento do preço das viagens e a situações, que espero pontuais, mas que acontecem cada vez mais, como o não funcionamento de elevadores e escadas rolantes (pelo menos na estação do Cais do Sodré);

- o stress de uma viagem em que, não bastando a situação de irmos colados a vários desconhecidos, ainda temos que ouvir todas as lamentações e vociferações de quem se sente tão mal servido.

Sabemos que a aplicação de medidas de racionalização e emagrecimento é um imperativo inevitável mas impõe-se que ela seja feita criteriosamente para não se retroceder demasiado no tempo e para que não se afastem as pessoas dos transportes públicos, o que é contrário a tudo o que se deseja para uma cidade moderna.

Não sei se esta medida está em vigor ou se se encontra prevista para outras linhas. Sei, no entanto, que os investimentos que têm sido feitos na melhoria das estações, no seu alargamento, a oferta de actividades culturais, não fazem qualquer sentido se as carruagens não servirem para transportar os utentes com um mínimo de qualidade. E transformar o dia inteiro numa hora de ponta contínua diminui-a substancialmente.

Mesmo adoptando apenas um ponto de vista economicista, estas medidas não servirão certamente para fortalecer a empresa. Muito provavelmente diminuirão os custos mas, a médio e longo prazo, diminuirão também os ganhos.

Por enquanto nós já estamos a perder.

O Plano Estapafúrdio, perdão, Estratégico dos Transportes

João Campos, 03.11.11

Parece que já há uma ideia mais concreta da parte do Governo sobre que transportes públicos estoirar na cidade de Lisboa. A lista pode ser consultada aqui. Alguns comentários:

 

22: faz algum sentido retirar um autocarro que liga directamente o Aeroporto ao centro da cidade (Marquês de Pombal), quando nem há metro ou comboio para lá chegar? A única coisa disparatada no 22 é acabar às nove e meia da noite.

 

Rede da Madrugada (201, 202, 203, 205, 206, 207, 208, 210): É o fim do transporte nocturno em Lisboa. Ou ganham os táxis em serviço, ou ganha o INEM a transportar malta que foi sair à noite e levou carro. A cidade é que perde, naturalmente.

 

76: É bom que a malta que estuda na Faculdade de Motricidade Humana tenha carro...

 

Eléctrico 18: É certo que o 18, ao contrário dos restantes eléctricos, não tem grande relevância turística, mas não deixa de ser uma pena ver a cidade perder o seu mais bonito meio de transporte. 

 

Metro: valeu a pena prolongar as linhas até à Amadora e Odivelas para encerrá-las a partir das 21 horas?

 

Desconheço o impacto que a supressão das restantes carreiras vai ter na cidade, mas imagino que seja grande.

 

Falta sabermos qual vai ser o plano de redução e reconfiguração de carreiras na Carris, e o que vai acontecer ao Metro. De qualquer forma, se isto passar e se o Metro passar a fechar às 23h, o Governo pode enfiar no cu qualquer ideia de promover o transporte público e de retirar carros da cidade. 

Quase-famosos por um dia (o último)

José Maria Gui Pimentel, 27.09.11

Todos conhecemos quem conheça um amigo que tem um primo que esteve pouco antes, ou esteve para estar no próprio dia mas não esteve, nas Torres Gémeas, em Nova Iorque. Pois bem, eu próprio posso afirmar com bravata que estive, com a minha Namorada, em Shanghai, na linha 10 do metro, dois míseros dias antes do acidente que hoje ocorreu. Mais a sério, este acidente, somando-se ao que ocorreu recentemente num dos comboios de alta-velocidade do país, faz temer pela eficácia da técnica avançada dos caminhos-de-ferro chineses. Por outro lado, embora sem a mínima validade teórica, vai valendo aquela célebre teoria de que "não podem" ocorrer dois acidentes semelhantes seguidos...

1825 dias depois, não há ciclovia que lhe valha

João Campos, 18.05.11

1825 dias de derrapagem nas obras do Metro de Lisboa que estoiraram a Avenida Duque D'Ávila. São apenas mais cinco anos - mais coisa menos coisa - do que o previsto. A derrapagem orçamental também deve ter sido grande, já que os comerciantes ficaram praticamente só com... poeira. É um bom retrato de como são feitas muitas obras públicas neste país.