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Delito de Opinião

Sabores inesquecíveis

Lambo? Lambi!

Maria Dulce Fernandes, 21.05.24

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Na primeira vez que fomos ao Porto, na pré-história da minha existência, fizemos uma viagem enorme, maçadora, sete pessoas num carro e o tempo não ajudou em nada, com uma chuva que fez questão de nos acompanhar pelo caminho.

Fomos todos convidados para o baptismo da filha do Caturno (alcunha que tinha algo a ver com peúgas) que afinal se chamava António e que morava na Rua Costa Cabral, mas o número não se sabia bem, por isso calculem a demora. Mais de 45 minutos, sem tirar nem pôr.

Lembro-me do franguinho do almoço, da passeata à tarde, de petiscar fígados e moelas com Laranjina C numa tasca à beira do Douro e de me empanturrar com "porra frita", que era o que chamavam às farturas.

No outro dia, depois do caos que foi ir tratar da higiene pessoal num único WC,  apresentámo-nos fresquinhos para o mata-bicho. A cozinha cheirava tão bem que o pequeno-almoço soube lindamente, apesar de não ter ideia do que comi.

Entretanto a São tinha feito uma série de tartes de limão merengadas que basta a lembrança para me pôr a salivar. 

Foi-se à Igreja e no regresso já estava posta uma mesa imensa e notava-se a presença de umas quantas senhoras simpáticas que tinham vindo para ajudar a servir os enchidos e as tripas. 

E foi uma dessas simpáticas senhoras que me desencaminhou...

Na pequenez dos meus 9 anos, quedei-me parada em contemplação das tartes de limão merengadas, seguramente num êxtase esfomeado. A querida senhora chegou-se à minha beira e disse: "Tira do merengue um niquinho com o dedo, que ninguém vai dar por isso." A gula venceu primeiro o medo, depois a vergonha e zás! Dedo na boca! E bem que o roí mas aquela deciosa ambrósia foi-se num par de segundos. Que merengue fabuloso, caramba! 

Olha, perdida por um, perdida por uma data de "niquinhos", praticamente toda uma tarte. 

Pena que a minha mãe me apanhou em flagrante...

Há uns meses fiz um workshop de pastelaria, na vertente de merengues. Mas não. Não cheguei perto do da São, nem pouco mais ou menos. Teria sido por eu ser miúda? Porque o fruto proibido é o mais apetecido e porque a rapina misturava adrenalina a cada lambidela? Alguma coisa foi, porque merengue igual nunca mais saboreei, essa é que é essa.