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Delito de Opinião

Não são só os três grandes que andam à caça no mercado de Inverno

Sérgio de Almeida Correia, 11.01.14

É sempre motivo de satisfação ver portugueses ascenderem a posições de topo em instituições e empresas internacionais. Olhando para as suas actividades e a excelência dos conselhos que tem dado, nomeadamente em Portugal, assessorando o actual Governo e fazendo recomendações em matéria de salários, direitos laborais e privatizações, não é difícil perceber para que quer uma instituição como a Goldman Sachs, fundamentalmente um banco de investimento que já está em toda a parte, uma multidão no seu conselho consultivo. Mas vendo o currículo profissional e, em especial, político de José Luís Arnaut, é fácil perceber por que razões o querem lá. Da política ao desporto, passando pela banca, seguros, electricidade, propriedade intelectual, cidades, ordenamento do território, palops, e o que mais se lembrarem, não há nada que o homem não domine ou para que não esteja vocacionado. Português, simpático, com lugar cativo no comentário político das televisões, e amigos em todo o lado, são poucos. Com a sua polivalência, tirando um ou outro ministro do actual executivo e alguma gente ligada a uns bancos que todos andamos a pagar, ainda são menos. Um verdadeiro ponta-de-lança. Razões mais do que suficientes para lhe darmos os parabéns e acreditarmos, piamente, que será mais um na Goldman Sachs a trabalhar para a fraternidade e a filantropia universais. 

É, ou não, mérito do Governo o regresso aos mercados? (2)

José Maria Gui Pimentel, 02.02.13
Em resposta ao gráfico bem trazido pelo jaa, e aos restantes comentários feitos aqui, vê-se no gráfico acima que os spreads dos periféricos estão, de facto, em queda desde o início de 2012. Uma queda que se tornou mais pronunciada, e sobretudo mais significativa, a partir do final de novembro. O que nos traz àquilo que eu estava a querer dizer: as palavras e as acções de Draghi tiveram, sem dúvida, um efeito importante, mas foi o facto de os líderes do euro, particularmente Angela Merkel, terem juntado o seu destino ao da Grécia e dos restantes periféricos que capacitou os investidores de que se havia alcançado um ponto de não retorno.
Dito isto, e fazendo uma cronologia breve, ainda no início do ano o BCE concedeu pela 2ª vez elevados montantes em fundos de longo-prazo aos bancos, enquanto a Alemanha e restantes países ditos core se começaram a comprometer com medidas no sentido de maior integração orçamental. No início de março, os mesmos países core comprometeram-se mais com o destino da Grécia ao concederem um novo empréstimo. Ainda na Grécia, o governo reestruturou a dívida detida por privados. Em meados do ano, a coisa começou irreversivelmente a inverter-se. No Conselho Europeu de final de junho, os países anunciaram medidas para aprofundar a integração. No final de julho, Draghi proferiu as famosas declarações, afirmando que “o euro é irreversível”, levando a que no início de setembro anunciasse que o BCE estava disponível para intervir no mercado secundário de dívida pública, no sentido de auxiliar os países sob pressão. Finalmente, no início de dezembro, na reunião do ECOFIN chegou-se a um acordo para a formação do mecanismo único de supervisão (MUS), que tinha sido acordado em traços gerais na cimeira de final de junho.
Paralelamente, é verdade que se verificou um alargamento das políticas monetárias expansionistas dos principais bancos centrais, o que ajudou a redireccionar fundos para os activos de maior risco (e, por isso, maior retorno).
Note-se, ainda, o caminho divergente da dívida espanhola, cujo spread é o único que se mantém acima dos níveis do início de 2012, uma vez que aos problemas orçamentais e do sistema financeiro se alia a dimensão problemática do país (que dificultará um resgate externo).

É, ou não, mérito do Governo o regresso aos mercados?

José Maria Gui Pimentel, 31.01.13

Embora concorde genericamente com a estratégia seguida, a verdade é que a resposta objectiva é: não. Desde o início de Setembro, o spread da dívida portuguesa face à alemã tem diminuido bastante, mas tem-no feito grosso modo paralelamente ao das dívidas dos restantes "periféricos" (na verdade a queda do spread da dívida grega foi bem mais pronunciada, tendo começado a descolar depois das decisões de novembro do Eurogrupo).

 

Daqui se percebe que a súbita queda do spread -- que se encontra já em quase metade dos valores de início de Setembro -- não resultou de nenhum factor específico de Portugal. Isto não invalida, ainda assim, que o Governo possa com alguma propriedade argumentar que as suas políticas -- nomeadamente a relativa acalmia conseguida, apesar de tudo, nos últimos meses e a aprovação do Orçamento -- permitiram que os factores externos que beneficiaram a dívida portuguesa pudessem actuar.

 

A propósito, ao contrário do que tem sido dito, esta pronunciada diminuição da pressão dos mercados não se deveu exclusivamente aos comentários de Mario Draghi -- afirmando estar disposto a fazer tudo quanto necessário para salvar o euro -- e às subsequentes medidas do BCE. Resultou também da determinação demonstrada, finalmente, pelos líderes políticos europeus (particularmente Angela Merkel) em manter o euro unido, e, mais do que isso, ao facto de os chamados países core terem tomado medidas que os levaram a um ponto praticamente de não retorno. Em suma, Portugal encontra-se subitamente no caminho de regresso aos mercados essencialmente devido ao facto de os decisores europeus terem empenhado capital, político e monetário na sobrevivência da moeda-única.   

O melhor é reciclá-lo

Sérgio de Almeida Correia, 06.07.11

Foi dando gás enquanto pôde a Passos Coelho. Depois atreveu-se a dizer aos portugueses, no melhor do seu estilo demagógico-populista, que com ele na Presidência os mercados olhariam para nós de outra forma. Ele era a garantia que o País precisava para sair do atoleiro em que estava. Entretanto, o PEC IV foi chumbado, fomos para eleições, o líder do PSD multiplicou-se em contactos internacionais, apadrinhou cartas em inglês para acalmar os mercados, e como 85% dos portugueses votaram nos partidos que subscreveram os acordos com a UE/BCE/FMI, isto agora ia tudo andar sobre rodas. Depois veio o novo Governo, cheio de craques reconhecidos internacionalmente, e o programa de Governo que vai pôr ordem nas contas públicas e restituir aos portugueses o respeito e a credibilidade internacionais. Com ou sem corte no subsídio de Natal, a resposta dos mercados, essa entidade tão venerada pelo senhor primeiro-ministro e pelos economistas do Governo, veio da forma mais brutal. Um anúncio no New York Times e outro no Financial Times dizendo que o lixo é reciclável é capaz de fazer mais por nós do que acusar os senhores da Moody's de "terrorismo".