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Delito de Opinião

Ucrânia: mil dias de pesadelo...

Pedro Correia, 19.11.24

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Escombros de Irpin após violento ataque russo 

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Mariúpol violada pelos mísseis de Moscovo até ficar reduzida a quase nada 

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Butcha transformada num mar de ruínas em consequência dos bombardeamentos

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Kramatorsk: civis massacrados. Houve 63 mortos (incluindo 9 crianças) e 150 feridos

 

... Mas resiste à brutal ofensiva da maior potência nuclear do globo. Graças ao heroísmo do martirizado povo ucraniano. E à admirável tenacidade do Presidente Zelenski, alvo de repugnantes calúnias lançadas pela propaganda russa e da aleivosia de compagnons de route de Moscovo com acesso aos palcos televisivos em Portugal. Como o sinistro major-general Agostinho Costa, que em 28 de Fevereiro de 2022 declarou na CNNP: «Estou convencido que o senhor Zelenski já não está lá [em Kiev]. Senão a gente via-o na rua. Já não está lá. Está certamente em Lviv.»

Não consta que, até agora, tenha corado de vergonha. 

Como dizer pogrom em árabe?

João André, 13.10.23

Amanhã passará uma semana desde o maior massacre de judeus desde a II GUerra Mundial. A palavra pogrom, que se desejaria banida depois da criação do Estado de Israel, voultou a ser invocada para fazer referência ao massacre de mais de 1.200 pessoas - note-se, pessoas - por uma organização não apenas terrorista mas, especialmente depois de 7 de Outubro de 2023 (o qual já vi referido como Sábado Negro) - uma organização que pode ser cada vez mais descrita como fascista ou até nazi.

Não há desculpas para o que aconteceu e procurá-las nos últimos anos de política israelita (ou de outros países no Médio Oriente) é menorizar o sofrimento de quem morreu ou foi ferido ou raptado, é familiar destas vítimas ou qualquer outra pessoa com coração que não esteja demasiado dessensibilizada para reconhecer o sofrimento de pessoas que nada fizeram para ser assim atacadas.

Quando olhamos para estes actos é normal para certas pessoas procurar justificações e para outras apontar o dedo simplesmente ao Mal. A realidade é que há sempre explicações, por preversas e repugnantes que sejam, como neste caso, que são vendidas pelos responsáveis como "justificação". Se a política de Israel em relação à Palestina não tem sido justa há já décadas, não há forma de justificar a "retaliação" do Hamas à mesma. Especialmente quando, pelo que vou lendo de comentadores que se debruçam sobre as políticas na região e mais dela sabem que eu, o Hamas pretendia especialmente evitar uma aproximação da Arábia Saudita a Israel.

Há 9 anos escrevi sobre este assunto em dois posts, numa altura em que Israel entrou em Gaza. Na altura considerei que a ameaça do Hamas era menor. Talvez tivesse razão na altura, mas obviamente que o tempo ou me explicou o quanto estava enganado ou mudou a equação. O que não muda são as consequências: após massacre de israelitas que nada mais faziam que viver as suas vidas, o exército israelita (Forças de Defesa de Israel, FDI) vai entrar num território onde a esmagadora maioria das pessoas também apenas pretende o mesmo. Como li hoje num artigo, "o Anjo da Morte lambe os beiços".

Note-se que isto poderá também ser parte do que pretende o Hamas. Se o FDI empurrar os palestinianos para o Egipto, vai possivelmente acabar a colocá-los entre a espada e a parede e a levar à indignação do mundo árabe. Suponho que seja essa a intenção do Hamas, para quem a população palestiniana não mais é que um campo de recrutamento e fonte de mártires da causa. O ódio do Hamas levou ao massacre de israelitas inocentes*. Uma retaliação cega de Israel, especialmente por odem de um fraco e incompetente Netanyahu, poderá fazer o mesmo a palestinianos. O Anjo da Morte, de facto.

Pergunto-me então, se no meio do sangue que já foi derramado e à espera daquele que ainda correrá, se os facínoras do Hamas saberão como dizer pogrom em árabe.

 

* Nota: não aceitarei qualquer comentário que seja ofensivo para com judeus, israelitas em geral ou palestinianos. Posso aceitar pontos de vista distintos em relação ao conflito, mas não sobre a moralidade do massacre. Quem não quiser respeitar este ponto de vista terá o comentário eliminado.

Pudor

Pedro Correia, 08.01.15

Há sempre um sociólogo pronto a invocar causas "sociais" como factor atenuante para os autores dos crimes mais sórdidos. Se o sociólogo estiver de folga, avança o psicólogo de plantão, evocando os traumas sofridos na infância como caução moral dos actos criminosos cometidos na idade adulta.

Na ausência episódica de ambos, logo emerge uma voz oriunda da classe política a dizer não importa o quê numa resignada complacência perante a barbárie. Ontem, nesta ronda, coube o turno à eurodeputada Ana Gomes. A responsabilidade dos homicídios que semearam o terror em Paris, garante a intrépida socialista, dilui-se nas "políticas de austeridade anti-europeias".

Ainda nauseados pelos ecos do brutal atentado perpretado no coração da pátria do racionalismo por elementos da guarda avançada do terror, testemunhamos o protagonismo de quem se aproveita dos cadáveres de mártires da liberdade de expressão para difundir a demagogia mais rasteira.

Nestes momentos em que somos confrontados com a face do mal no seu horror absoluto apetece implorar a certas vozes que se calem em nome do mais elementar, recomendável e misericordioso pudor.

Ucrânia: A história repete-se?

Luís Menezes Leitão, 20.02.14

Foto: Louisa GouliamaK/AFP 

 

As esperanças da Ucrânia à independência e até a uma eventual integração na União Europeia estão hoje reduzidas a cinzas. Tristemente isto parece ser o destino histórico do povo ucraniano. A dissolução da URSS, a que assistimos a partir de 1991, parece ter sido apenas um compasso de espera que permitisse a reconstituição do Império Russo, a que Vladimir Putin se tem dedicado com enorme esmero. O curioso é que parece estar-se a repetir ao inverso o que ocorreu no início do século XX em que a dissolução do Império Russo em 1917 parece ter sido apenas um ensaio que permitisse a construção da URSS. Em ambos os casos a Ucrânia não consegue escapar à órbita russa.

 

Após a revolução de Fevereiro de 1917, Lenine apareceu a apoiar as aspirações de autonomia da Ucrânia, criticando o governo de Kerenski por as procurar travar. Quando chegou ao poder, a ambição de parar a guerra com a Alemanha levou-o a assinar o tratado de Brest-Litovsk que, reconhecendo uma independência formal da Ucrânia, na prática a entregava aos alemães. A subsequente derrota da Alemanha permitiu-lhe a recuperação dos territórios entregues, tendo exigido durante a guerra civil que se seguiu uma defesa intransigente da Ucrânia. Ficou nessa altura célebre uma frase que terá proferido: "Se perdermos a Ucrânia, perdemos a nossa cabeça".

 

Sob a tutela de Estaline, a Ucrânia foi absolutamente massacrada, tendo sido objecto de um dos mais esquecidos genocídios da história, o Holodomor. Efectivamente, mal assume o poder Estaline decide quebrar quaisquer aspirações independentistas dos ucranianos. No Inverno de 1932-1933, decide mesmo esmagar a população pela fome estimando-se que cerca de 10 milhões de ucranianos tenham morrido de fome, como é aqui recordado. Estaline explicaria a sua decisão através de uma citação que ficou tristemente célebre: "A morte resolve todos os problemas. Sem o homem não há problema".

 

Crianças ucranianas na grande fome de 1932-1933 

 

A Ucrânia foi nessa altura objecto igualmente da cobiça de outro torcionário. Conforme Hitler escreveu no Mein Kampf, considerava seu objectivo de vida recuperar para a Alemanha todos os territórios que o Kaiser tinha obtido em Brest-Litovsk, incluindo naturalmente a Ucrânia. Por isso, logo após que conseguiu vencer na frente ocidental europeia, atacou a União Soviética, chegando a ocupar a Ucrânia. Depois de Estalinegrado, os soviéticos esmagaram a Alemanha, ficando claro que iriam dar as cartas no pós-guerra. Por decisão de Estaline, a Ucrânia foi logo admitida nas Nações Unidas, juntamente com a URSS e a Bielorússia, apenas para efeito de ter três votos na Assembleia Geral. Tal facilitou, no entanto, a independência ucraniana aquando da dissolução da URSS pois já era membro da ONU.

 

Após a independência, a Ucrânia tem vivido numa hesitação entre a esfera de influência da União Europeia e a da Rússia, que normalmente se reflecte numa correspondente divisão do seu território entre um ocidente mais pró-Europa e um oriente mais pró-Rússia. Parece, no entanto, que agora o todo-poderoso Senhor do Kremlin quer cortar quaisquer veleidades pró-Europa, nem que para isso tenha que efectuar um brutal massacre da população, na esteira de Estaline. A União Europeia é que parece assistir impotente a isto, tendo-se limitado a aprovar umas sanções simbólicas quando os mortos já atingiam a centena. Na verdade, nada pode fazer. Além do enorme armamento de que a Rússia dispõe, há a enorme dependência que a Ucrânia e vários Estados Europeus têm do gás russo. Depois da intervenção na Geórgia em 2008, a reconstrução do Império Russo vai de vento em popa.