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Delito de Opinião

Curiosidades do Adriático (e não só)

João Pedro Pimenta, 16.06.23

Os venezianos adoram leões. Melhor dito, veneram-nos, como por osmose ao seu padroeiro, o Apóstolo e evangelista S. Marcos, de tal forma que colocaram o leão do santo no centro da sua bandeira, provavelmente a mais bela que um (antigo) estado já ostentou. Está por toda a cidade e arredores e em muitas antigas dependências, nos estandartes, nas pedras e nos papéis. 

Um dos mais conhecidos é o leão do Pireu. Esta imponente estátua de mármore, a principal de quatro estátuas de felinos, guarda a entrada do Arsenale de Veneza, o maior estaleiro naval e industrial europeu desde a Idade Média até à Revolução Industrial, base da poderosa armada da Sereníssima, que tanto contribuiu para o desfecho de Lepanto e do seu domínio partilhado do Adriático e do Mediterrâneo. 

 

 

A função do Leão do Pireu é quase mítica, constando de reproduções várias (Corto Maltese fica especado diante dele em Fábula de Veneza, por exemplo, em cujo enredo é parte importante), e esse misticismo advém das inscrições no seu dorso e da sua origem. Não é "do Pireu" por acaso. A estátua existe desde o séc. IV a. C. e guardava a entrada do porto de Atenas, por vezes conhecido como Porto Leone, tal a imponência do seu guardião.

 

Em 1687, numa das suas múltiplas guerras contra os otomanos (que tinham sido rechaçados recentemente de Viena, iniciando assim um lento declínio, coisa a que Veneza já assistia desde que Vasco da Gama chegara à Índia), os venezianos entraram na barra do Pireu e cercaram Atenas. Retiraram dias depois perante a chegada de reforços dos turcos, não sem antes saquearem inúmeras peças na região, em especial o leão que guardava o porto, que levaram como troféu, e, tão ou mais importante, de bombardear o paiol de munições dos otomanos, no cimo da Acrópole, cujo interior rebentou, deixando apenas de as paredes externas. Esse paiol era nada menos que o Pártenon, ainda hoje o mais belo edifício da Grécia, e é essa a razão de até aos nossos dias só conservar o exterior.

Atenas não perdeu todo o Parténon, mas perdeu o leão e as suas inscrições laterais, runas nórdicas, uma das suas curiosidades. Pensei durante algum tempo que tinha sido alguma incursão dos vikingues e um ataque ao Pireu, mas não se tratou exactamente disso. Nas suas viagens até ao Mar Negro, os nórdicos encontraram-se inevitavelmente com os bizantinos. Tão impressionados ficaram estes últimos com a sua valentia que o imperador bizantino tomou a seu cargo uns quantos para a sua guarda pessoa, a célebre guarda Varegue. Segundo parece, foram estes que num episódio no Pireu deixaram os seus grafitis em forma de runa no dorso do leão (já naquela altura os monumentos gregos eram vandalizados com inscrições, e muito mais tarde Byron também daria o seu mau exemplo no templo do cabo Sounion). 

O Leão tornou-se, com dois mil anos de idade, o fiel guardião do Arsenal de Veneza, até hoje, quando as instalações ficaram reduzidas a funções mais modestas e não permitem a entrada do público em geral. Quanto ao significado das inscrições, a Wikipedia explica.

 

 

Já agora, ainda que a marinha veneziana tenha sido respeitável durante séculos, já não existe. Em contrapartida, uma das suas rivais, a marinha portuguesa, continua por cá, ainda que com contratempos. Ficam aqui uns registos do recente Dia da Marinha, no qual pela primeira vez a NRP Sagres acostou ao cais do Porto, na Ribeira (até aí apenas estivera do lado de Gaia), trazendo a imagem de proa do Infante D. Henrique até bem perto da casa onde ele nasceu.

 

 

 
 

Um off-load na Armada

Paulo Sousa, 20.03.23

Para quem está familiarizado com o Rugby (perdoem-me a o uso da palavra no formato original) conhecerá o movimento de passe de bola designado por off-load. Desconheço se existe alguma tentativa de tradução desta expressão, mas, linguística à parte, consiste num passe feito por um jogador que não consegue evitar ser placado e, sacrificando a sua progressão, num esforço derradeiro consegue deixar a bola jogável para um companheiro. Uma imagem vale mais que mil palavras e convido quem desconheça o conceito a ver estes exemplos.

A essência do off-load resume-se ao momento em que o passe é feito. Se for demasiado cedo, o defesa mudará imediatamente o seu enfoque para o jogador que a recebeu. Se for feito no momento certo, o jogador que o faz disponibiliza-se para ser placado deixando assim que a bola continue a circular na posse da sua equipa. Por isso, um off-load bem feito exige generosidade e capacidade de sacrifício pela equipa.

Vem isto ao assunto na sequência do recente caso do NRP Mondego.

Sem acesso a informação para além daquela que me passou pelos écrans, aos poucos apercebi-me que estava a assistir a uma metáfora de um off-load na vida militar.

Melhor do que qualquer civil, os militares, mais ou menos garbosos, conhecem o peso da disciplina que os rege. Por isso é óbvio que os treze marinheiros que decidiram não cumprir as ordens recebidas conheciam as consequências dos seus actos. Sabiam bem que ninguém os iria acudir e que de uns tempos a ver o sol aos quadradinhos não se livram.

Quando o caso se tornou público, as reacções em cadeia foram as expectáveis.

Os portugueses sacudiram a cabeça com o desdém que os falhanços de soberania lhe causam, o CEMA lembrou o que tinha de ser lembrado, os russos livraram-se de prestar assistência em alto-mar, os restantes membros da NATO lembraram-se do caso de Tancos e o PM mandou descativar quase 40 milhões de euros para a manutenção da navios da Armada.

Apesar da referida descativação ter sido publicada em Diário da República um dia depois deste incidente, o nosso habilidoso PM logo mandou dizer que a decisão tinha sido tomada, por mera casualidade, uns dias antes. Palavra dada… etc., ninguém é obrigado a acreditar nele, embora que quem não o aplauda incorra na pena de ser carimbado de fascista.

E nisto regressamos ao off-load. Os treze marinheiros irão dentro, o que até é menos gravoso do que morrer afogado, e com o seu sacrifício contribuíram para a libertação das verbas orçamentadas para a manutenção da frota da Armada.

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 20.05.22

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A 20 de Abril celebra-se O Dia Europeu do Mar

"O Dia Europeu do Mar celebra-se todos os anos nesta data. 

Esta iniciativa visa consciencializar as pessoas para oportunidades e desafios que o mar traz nas áreas de inovação, investigação e cooperação. Por outro lado, pretende-se destacar a importância da preservação ambiental e da biodiversidade dos mares. É ainda uma oportunidade para as comunidades que vivem junto ao mar mostrarem o seu contributo.

Este dia foi criado pela Declaração Tripartida Comum (da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu) que estabelece o Dia Europeu do Mar, a 20 de Maio de 2008."

Portugal é terra de mar. O mar dominou a vida dos habitantes deste pequeno rectângulo desde sempre. Os mais importantes colonizadores chegaram por mar, os mais importantes feitos da nossa história foi por mar que se lançaram, o mais importante para as gentes daqui foi sempre o mar, porque o mar é vida e sustento. O mar tem um fascínio próprio. É belo e aterrador e por isso desafiante. Vencer o mar era vencer o medo.

 

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Hoje celebra-se em Portugal O Dia da Marinha

"​O Dia da Marinha celebra-se a 20 de Maio desde 1998, em homenagem ao grande feito de Vasco da Gama (c.1469-1524). Trata-se do dia em que a sua pioneira armada, que pela primeira vez na história ligou, por via marítima, a Europa ao Oriente, chegou a Calecute, na Índia, em 1498.

Até 1998 o Dia da Marinha era celebrado a 8 de Julho, data da partida da armada de Vasco da Gama de Lisboa, em 1497. Com esta alteração, pretendeu-se dar ênfase ao cumprimento do objectivo perseguido durante décadas, o descobrimento do caminho marítimo para a Índia.

O Dia da Marinha celebra-se em cada ano numa localidade costeira portuguesa para estreitar os laços entre a população portuguesa e a sua Marinha, através de uma agenda que integra diversos eventos."

Marinheiros que nós fomos. Audazes pioneiros, os tais das cascas de noz que galopavam ondas e incertezas, que navegaram todos os mares e deram novos mundos ao mundo. 

Marinheiros que nós fomos, orgulhosos, empreendedores, conquistadores, mercadores, propagadores da fé nas velas da Cruz de Cristo.

Fomos heróis.

 

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No Dia 20 de Abril celebra-se  O Dia da Abelha

"O Dia Mundial da Abelha celebra-se todos os anos a 20 de Maio. Este dia homenageia o aniversário de Anton Janša, pioneiro nas modernas técnicas de apicultura do século XVIII.

Esta data comemora a importância dos seres polinizadores e procura sensibilizar-nos para as ameaças que as abelhas enfrentam. Pretende-se valorizar a sua importância para o equilíbrio do ecossistema, para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável.

A ONU estima que as várias espécies de abelha enfrentam hoje um risco 100 a 1000 vezes superior de extinção devido ao impacto humano na natureza.

O Dia Mundial da Abelha foi proclamado pela Resolução 72/211 adotada na Assembleia Geral da ONU de 20 de Dezembro de 2017."

Sem polinização não há sustento. Os efeitos agrotóxicos têm encurtado consideravelmente o tempo de vida dos insectos polinizadores e tornam as obreiras menos activas, o que tem impacto negativo nas colónias.

É um facto comprovado que várias espécies de abelhas têm desaparecido nas últimas décadas principalmente na Europa. Estes acontecimentos devem-se à presença de espécies invasoras como a vespa asiática, mas a causa primeira  serão as actividades humanas.