14 de Fevereiro, no programa "Linhas Vermelhas" (SIC N):
«Devemos ter muito cuidado a analisar este conflito e evitar interpretações simplistas. O que está em causa não é uma luta do bem contra o mal, nem do imperalismo e dos seus inimigos, nem da democracia e dos seus inimigos. (...) Certamente não são os Estados Unidos que vão impor a democracia na Rússia.»
«O que está em causa, para a Rússia, é a segurança do seu espaço e da sua fronteira, que considera ameaçada pelo facto de um país que faz fronteira com a Rússia, a Ucrânia, pertencer à NATO e a NATO ser um espaço de influência militarizada dos Estados Unidos. A Rússia viu o seu espaço de influência ser reduzido desde a queda da União Soviética com a NATO a entrar por países cada vez mais próximos da zona de influência russa e entende que esta proximidade da NATO é uma ameaça à sua estabilidade e à sua segurança.»
«Parece-me que a questão de fundo não é a invasão da Ucrânia. O que está em causa é o espaço que é dado à Rússia e o espaço de influência da Rússia perante esta chegada da NATO às suas fronteiras.»
«É verdade que as tropas estão lá, num movimento político de pressão, mas não falaram em invasão. Quem tem anunciado a invasão são as autoridades norte-americanas com declarações bastante arrogantes do Presidente americano.»
«A Rússia está a sentir que o seu espaço vital está a ser ameaçado e desloca tropas para a fronteira com a Ucrânia como forma de pressionar a não-entrada da Ucrânia para a NATO, que é um espaço militar sob a influência dos EUA.»
«Os Estados Unidos e o Reino Unido estão a escalar os conflitos verbais e a anunciar uma invasão.»
«O que está em causa é a Rússia a ser espremida no seu espaço de influência. (...) O que temos de pensar não é no que é moralmente certo ou errado fazer perante isto: é o que é melhor para a população da Ucrânia e para a paz mundial.»
«Putin quer subir a parada porque não quer ter a NATO na sua fronteira. (...) A neutralidade militar da Ucrânia é uma condição de paz e estabilidade.»
«Não sou ingénua para não achar que por detrás dum conflito e duma escalada deste tipo não há interesses económicos fortíssimos que não são só de Putin.»
«Putin não invadiu a Ucrânia, Putin não invadiu a Ucrânia.»
...................................................................
Estas declarações da deputada do Bloco de Esquerda ocorreram quando Putin já ordenara a concentração de largos milhares de soldados junto à fronteira com a Ucrânia e iniciara intensas manobras militares na vizinha Bielorrússia.
21 de Fevereiro, no programa "Linhas Vermelhas" (SIC N):
«Eu seria mais cautelosa a anunciar uma invasão e o início de uma guerra. Condenar Putin, todos condenamos. A questão é saber se as potências europeias e as potências americanas podiam ter feito alguma coisa para evitar que este conflito escalasse. (...) As sucessivas declarações ou premonições ou antecipações de uma guerra que ainda não existe não me parece ser uma boa política.»
«A guerra não existe. É um conflito diplomático. Pode vir a ser, pode não vir a ser, nós queremos evitá-la. E não se evita uma guerra assumindo que ela existe. Eu acredito em soluções diplomáticas, sempre acreditei, porque não se evita uma guerra fazendo a guerra. (...) O que está em causa é se a atitude dos Estados Unidos contribuiu para escalar este conflito e se a atitude da NATO foi responsável por escalar este conflito.»
«Num período de grande sensibilidade, num período de grande tensão, parece-me que devemos ver todos estes factos com a maior cautela e querer o caminho da solução política em vez de querer o caminho da bravata e do conflito, como se isso solucionasse alguma coisa, quer para os Estados Unidos quer para a Rússia.»
«A declaração unilateral de Bush em 2008 que a Ucrânia e a Geórgia deviam pertencer à NATO foi vista por uma provocação à Rússia. Há um conflito histórico entre a Rússia e os Estados Unidos. Sabemos que a partir do momento em que uma força militarizada com a influência dos Estados Unidos entra na fronteira da Rússia isso vai ter uma consequência.»
«A proposta de entrada unilateral da Ucrânia na NATO precipita uma tensão que deveria ter sido evitada.»
«A democracia ucraniana tem o problema de não ser uma democracia.»
«É uma irresponsabilidade andar a abanar sanções como forma de agressividade e de escalada do conflito. Os Estados Unidos vêem nas sanções uma forma de guerra económica à Rússia e de com isso enfraquecer a União Europeia.»
«É irresponsável anunciar uma guerra e devemos evitá-la a todo o custo. Uma invasão não dá direito à guerra.»
«Eu não preciso de deixar de criticar Putin ou de condenar a invasão para conseguir condenar a política dos Estados Unidos e a política da UE relativamente à Rússia.»
«É cedo e precipitado estar a falar neste momento pois não conheço as movimentações que estão a acontecer.»
«Não quero arriscar qualificar aquilo que aconteceu, nem como invasão e muito menos como início de uma ocupação. É uma irresponsabilidade antecipar tragédias.»
«Não sabemos o que pensam de facto os ucranianos. O que vejo é um governo de extrema-direita, com fascistas, um governo corrupto.»
«O fim do gasoduto russo-alemão iria enfraquecer a União Europeia.»
...................................................................
Estas declarações da deputada do Bloco de Esquerda ocorreram no dia em que Putin anunciou ter dado ordem para o início da agressão à Ucrânia após reconhecer as pseudo-repúblicas de Donetsk e Lugansk.
Leitura complementar: A aceitabilidade vigente, do JPT.