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«El pasado está vivo en la memoria, el futuro presente en el deseo»
Carlos Fuentes - uma das figuras cimeiras do chamado 'realismo mágico', que congregou nomes de romancistas que permanecerão ligados a um dos melhores momentos de sempre da literatura universal, como Gabriel García Márquez, Juan Carlos Onetti, Mario Vargas Llosa, Julio Cortázar, Miguel Angel Asturias e José Lezama Lima - era não só um grande ficcionista mas um excelente cronista, crítico, ensaísta, espectador sempre comprometido com os acontecimentos contemporâneos. Envolveu-se em polémicas, com frontalidade e desassombro, na defesa dos seus ideais que contrariavam tantas vezes os ditames da correcção política, como bem se percebe nesta entrevista publicada em Janeiro, uma das últimas que concedeu. E nunca faltou à chamada quando as circunstâncias o intimavam a ser solidário com quem sofria - no seu país ou em qualquer outro.
Há dias, a propósito do seu falecimento, lembrei-me que ele era também um excepcional pensador. Sobre os mais variados temas - incluindo a morte. «Creemos que la muerte de hoy dará presencia a la vida de ayer. Con Pascal repetimos: “Nunca digas ‘lo he perdido’. Mejor di: ‘lo he devuelto’”. Piensa que es cierto. Hay quienes mueren para ser amados más. Piensa que el muerto amado vive porque el amor que nos unió está vivo en mi vida. Piensa que sólo lo que no quiere sobrevivir a todo precio tiene la oportunidad de vivir realmente.» Este seu belíssimo texto escrito há dez anos bem pode servir de epitáfio ao gigante das letras mexicano que nunca ganhou o Nobel mas conquistou justamente o coração de milhões de leitores no mundo inteiro.
Um pormenor, em política, pode fazer toda a diferença. Que o diga Enrique Peña Nieto, o próximo candidato à presidência do México pelo Partido Revolucionário Institucional, de má memória. Favorito nas sondagens, este advogado de 45 anos deslocou-se no passado dia 3 à Feira do Livro de Guadalajara, onde deu uma conferência de imprensa. Preparado para se pronunciar sobre temas muito complexos da política nacional e internacional, claudicou no entanto quando Jacobo García, o correspondente do jornal espanhol El Mundo no México, lhe fez uma pergunta muito simples e muito concreta: quais os três livros que mais o marcaram?
O local e a circunstância sugeriam tal pergunta. Surpreendente foi o que se seguiu: Peña Nieto pareceu ter ficado verdadeiramente embaraçado, enrolou-se nas palavras durante cinco intermináveis minutos e acabou por deixar a pergunta sem resposta. Limitou-se a aludir à Bíblia, embora admitindo que nunca a leu integralmente, e ainda se lembrou do romance La Silla del Águila, embora atribuindo-o por flagrante lapso ao historiador Enrique Krauze (é uma obra de Carlos Fuentes, o mais célebre novelista do México).
O vídeo tornou-se um dos mais vistos na Internet pelos mexicanos, com 80 mil visualizações nos primeiros três dias, contribuindo para reforçar o embaraço do candidato. Agora apontado como uma das figuras mais ignorantes da vida pública do país, o ex-governador do Estado do México tem vindo a ser alvo de chacota generalizada. Um político da oposição gracejou: "Ele ao menos podia ter citado a Branca de Neve e os Sete Anões." Enquanto um humorista, especulando sobre qual seria a escolha do candidato para figura mais inspiradora do século XX, foi cáustico: "Martin Burger King."
Em política, não existem irrelevâncias: tudo é importante. Nem nunca se deve baixar a guarda. Porque, quando menos se espera, o desaire espreita. O diabo está nos pormenores.
Já nem é essa cena (já escrevo como se fala no secundário) do vazio que fica quando morre um homem que deixou obra; é mais por causa desse cancro que é a desmemória, doença dos media comuns que passou também para a blogosfera. Isto por causa da morte de tatic, que quer dizer padre em tzotzil, Samuel Ruiz, o bispo dos direitos indígenas de Chiapas. Quando todos vestiram as suas fardas e pegaram nas suas armas, ele vestiu a sua, a batina, e usou como ninguém a palavra. Quando todos as despiram, ele nem tirou a sua nem deixou de falar. Porque as causas, quando são a sério, não uma moda, sobrevivem ao anonimato e vão até ao fim. Nos anos ainda do PRI, e do dedazo, foi um dos que mais e melhor apontaram a dedo, no México, os barões da ditadura perfeita e da segregação. Pelo menos aqui, no DO, fica lembrado.