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Delito de Opinião

Besteira mesmo

Sérgio de Almeida Correia, 13.09.23

Em Fevereiro de 2000, o Brasil assinou o compromisso de adesão ao Tribunal Penal Internacional, cujo estatuto foi depois publicado e entrou em vigor na ordem interna brasileira pelo Decreto 4388, de 25 de Setembro de 2002, assinado pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso. Ou seja, há mais de 20 anos que o Estatuto de Roma se aplica no Brasil.

Entre 1 de Janeiro de 2003 e 1 de Janeiro de 2011, Lula da Silva foi presidente do Brasil. E este ano voltou a tomar posse para um novo mandato.

As declarações que proferiu, ignorando o princípio da separação de poderes e o Estado de direito, e as dúvidas que levantou, não só não dignificam o Presidente da República Federativa do Brasil, como o diminuem, bem como ao país, passando uma versão cada vez mais básica e atrozmente ignorante de quem ascendeu ao cargo.

A adesão ao TPI não é uma questão de "Maria vai com as outras". E não é pelo facto de outros não aderirem, por razões egoístas e de puro e recalcado nacionalismo, que deve orientar as escolhas racionais de estados soberanos civilizados que respeitam o Direito Internacional Público.  

O chorrilho de inanidades que tem vindo a ser debitado por Lula da Silva, que ainda não está senil, começa a parecer acompanhar o nível dos seus amigos Maduro e Putin; mas o mais grave nem é isso.

O pior é o Brasil ter-se libertado do cabo de esquadra Bolsonaro, visando recuperar a sua dignidade e o respeito internacional, e para isso reelegeu Lula da Silva, para se colocar agora, quase diariamente, na esquina errada da democracia, dos direitos humanos, do conhecimento, da civilização, do progresso e do desenvolvimento, enveredando pela mais aberrante a aterradora das versões populistas.

Não sei o que Lula deve ao ditador e facínora Putin, mas mais de duzentos anos após ter conquistado a sua independência, o Brasil não merecia tão grande enxovalho.

O morcão xenófobo

jpt, 07.07.23

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O presidente brasileiro Silva veio criticar a anunciada contratação do grande treinador Carlo Ancelotti para seleccionador de futebol do Brasil, clamando - pura e simplesmente - o habitual agressivo "volta para tua terra", ainda que o mag(n)o italiano ainda esteja em Madrid, sob a nada disfarçada forma de "porque não resolve ele o problema Itália?".

A dimensão identitária do futebol e sua selecção no Brasil é consabida (entre tantos outros disso bem escreveu o antropólogo Roberto Damatta). Mas isso não chega para apagar o fundo ideológico destas declarações, até o sublinha, essa profunda xenofobia - que tanto vimos ouvindo em múltiplos ataques daquelas gentes da bola contra os treinadores portugueses. Mas agora o presidente da República, este Silva sempre tão gabado pela mole dos "movimentos sociais"...

Se fosse um Orbán a ter uma saída destas como acorreriam os bem pensantes a denunciar. Ou, para se falar daqui, e se tivesse o dr. Ventura (que tem pedigree de comentador da bola) contestado a contratação de Martínez, dizendo que fosse ele antes "tratar do problema da Espanha", que "fosse para a terra dele"?

Mas a este morcão xenófobo, Silva, ninguém apontará o dedinho punitivo.

Lula: o fascínio por ditadores (4)

Pedro Correia, 22.04.23

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«Fui ao Gabão aprender como se fica 37 anos no poder.»

Lula da Silva, Abril de 2004 (sobre Omar Bongo, ex-ditador gabonês)

 

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«Uma coisa que eu estou orgulhoso é o papel do Putin na história mundial atual

Lula da Silva, Outubro de 2019 (sobre Vladimir Putin, ditador russo)

 

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«O mundo tem de aprender com a China a ter estado e partido fortes.»

Lula da Silva, Junho de 2021 (sobre Xi Jinping, ditador chinês)

Lula: o fascínio por ditadores (3)

Pedro Correia, 21.04.23

Lula: o fascínio por ditadores (2)

Pedro Correia, 20.04.23

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«O presidente Mubarak é um homem preocupado com a paz no mundo, com o fim dos conflitos, com o desenvolvimento e com a justiça social.»

Lula da Silva, Dezembro de 2003 (sobre Hosni Mubarak, ex-ditador egípcio)

 

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«Este homem, que apanhou como pouca gente apanhou, hoje se transforma em um companheiro da maior importância.»

Lula da Silva, Setembro de 2005 (sobre Hugo Chávez, ex-ditador venezuelano)

 

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«Os dois países [Brasil e Bielorrússia] pensam de maneira parecida.»

Lula da Silva, Março de 2010 (a Aleksandr Lukachenko, ditador bielorrusso)

Lula: o fascínio por ditadores (1)

Pedro Correia, 19.04.23

Lula da Silva na Assembleia da República

jpt, 16.04.23

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Tem o Brasil todo o direito soberano de conduzir a sua política externa. E tem o Brasil todo o direito ao realismo político de país que precisa de materiais russos para a sua enorme agro-indústria, motor da economia daquele imenso império colonial, nisso tão agente do capitalismo ecologicamente devastador.
 
Dito isto é interessante perceber a que propósito é que o presidente Sousa convidou (e nisso arranjando confusão protocolar) este demagogo russófilo presidente Silva para o preâmbulo das comemorações do 25 de Abril. Convida-se Zelensky para falar na Assembleia da República e depois fala lá este tipo, e logo na data celebratória? Há limites...

Um amigo de Putin

Pedro Correia, 11.04.23

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Lula da Silva acaba de fazer declarações inaceitáveis sobre o conflito russo-ucraniano, voltando a equiparar a nação violentada ao Estado agressor. Proclama ele agora, talvez na ânsia desmedida de batalhar pelo Nobel da Paz, que a Ucrânia deve ceder a Crimeia a Moscovo, espécie de troféu de caça em honra e glória de Putin. "Paz", para o Presidente brasileiro, é sinónimo de rendição à lei do mais forte - neste caso a maior potência nuclear do planeta.

Lula diria o mesmo se a Bolívia invadisse a Rondónia, o Peru ocupasse o Acre ou a Venezuela anexasse Roraima? 

Era este senhor que o Governo queria pôr a falar na sessão solene comemorativa do 25 de Abril. Felizmente a intenção ficou pelo caminho: nada mais contraditório, um amigo de Putin a perorar em 2023 sobre liberdade.

Outra vez Lula da Silva

jpt, 02.01.23

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Desde que o PT chegou à presidência do Brasil aquele país alargou-se por África e outro mundo afora, era a época dos militantes da virtude no reforço do "Sul-Sul", dos crentes do culto aos BRICS - a China sempre nos modos deste Xi, a Rússia já de Putin, a África do Sul no rumo de Zuma, Ramaphosa e quejandos, a Índia do afinal Modi e o nosso cálido "país irmão"... Olho para 20 anos atrás, recordo o meu cenho franzido diante daquilo, e interrogo-me se sou serei eu o deficiente, pois "portador de cepticismo", ou, se pelo contrário, serão apenas parvos os que então (e hoje) tanto se entusiasmavam com aquela "alternativa" dita desenvolvimentista...
 
Mas não vi qualquer defeito naquilo da economia brasileira se extroverter para África. É certo que dos grandes investimentos em Moçambique bem ouvia - e muitos anos antes de qualquer um de nós saber da existência do juiz Moro - histórias das articulações dos macrogrupos económicos com a elite PT e a família elementar do presidente obreirista... Mas isso eram (e são) os problemas daquele país, onde a corrupção do sistema político é endémica e não típica de uma qualquer linha ideológico/partidária. De facto, o que me mais me irritava era o folclore "afro" da abordagem brasileira - entenda-se bem, em África os portugueses armam-se das lérias da comunhão "lusófona" e os brasileiros entoam a sua cançoneta da irmandade feita da sua "africanidade". Todos desafinam...
 
Enfim, quase nada sei do país e nunca cuidei de me aprofundar nisso. Li poucos escritores (Machado de Assis, Nassar e mais alguns), ouço um punhado de cantores (facilitados pelo imediatismo da apreensão que a língua comum dá). E noto que apenas um pensador me marcou - José Guilherme Merquior, um intelectual monumental que tão infelizmente morreu com apenas 50 anos, tanto deixando por iluminar. E, já nesta idade, tenho uma muito querida amiga, dois grandes amigos e conheço ainda, com simpatia algo vaga, não mais de meia dúzia de brasileiros. Ou seja, ao longo da vida o país foi-me indiferente - à excepção da floresta - e assim continua...
 
Ontem Lula da Silva regressou ao poder. É verdade que durante as suas presidências houve um enorme retrocesso da pobreza, efectuou-se uma urgente redistribuição de recursos numa sociedade imensamente desigual. E - o que é o verdadeiramente fundamental - muito se reduziu o criminoso abate amazónico. Sucede a um boçal afascistizado, um troglodita político - o qual, muito mais grave do que tudo o que a gritaria das "identidades" apregoou, e assim até escondeu, foi um gravíssimo epifenómeno da indústria assente na desflorestação.
 
Por isso tudo é bom que Lula da Silva tenha ganho. Foi eleito resvés, dada a preferência que obteve no eleitorado do "interior" (nordestino), pobre, inculto, desapossado pela desigual redistribuição social e geográfica dos recursos, ostracizado até. Só não querendo ver é que não se nota a similitude, em abstracto, com a recente eleição de Trump..., o que deixa ver como as "análises" são acima de tudo ladainhas advindas das simpatias dos locutores, nuns casos louvando as "massas", noutros casos invectivando a plebe, crente.
 
Por cá muitos desgostam de Lula da Silva, lamentam a sua ressurreição. Muito disso advém da associação do brasileiro com o nosso Sócrates - bem patenteada durante anos, em visitas oficiais e privadas, em apoios, em amizades proclamadas. E só não viu quem era Sócrates quem não quis ver, só não percebeu o tom que ele deu ao regime quem não quis. Clientelismo, nepotismo, corrupção, ataque à separação de poderes, esbanjo de recursos públicos, ataque à liberdade de imprensa, tudo isso foi Sócrates - e com a cumplicidade de alguns e a conivência de imensos. O PS tudo fez para fazer esquecer isso - o que lhe permitiu nomear um Presidente da Assembleia da República que goza connosco a propósito de Sócrates, encher o Parlamento Europeu com gente próxima de Sócrates, encher o governo de ex-governantes de Sócrates (e quando um é apanhado a esconder alguma corrupção as pessoas ainda se surpreendem...). Pois o histriónico Sócrates pode ter caído mas o regime não mudou, é preciso ser "parolo" (para citar o inaceitável Santos Silva) para não o perceber.
 
Por isso tudo, este convite para o empossamento que Lula enviou a Sócrates - em nome de uma qualquer "amizade pessoal" - é uma agressão, vil, a Portugal. E uma proclamação de que afinal não somos um "país irmão" mas sim, quanto muito, um "país sócio" para quaisquer trapaças que pareçam lucrativas. E o nosso esvoaçante Presidente deveria ter sinalizado isso. Apresentar-se, algo obrigatório como chefe de Estado, e com gravitas, nisso enfatizando a percepção da ofensa havida. Mas, claro, apaixonado por si mesmo foi-se a banhos...
 
Quanto ao Brasil? Atrevo-me a um conselho, de facto dado aos meus três queridos brasileiros: que se ouça esta "Sozinho" de Peninha cantada por Caetano Veloso e o seu interlúdio falado. E perceba-se que é falso que original e versões primevas sejam as melhores. A canção pode ser muito melhorada, tornada outra mesmo. Façam-no agora. E nisso controlem estes desafinados.
 

Caetano Veloso - Sozinho (Ao Vivo No Rio De Janeiro / 1998)

Lula

Sérgio de Almeida Correia, 02.01.23

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Lula não é, à partida, um nome simpático. O molusco cefalópode não é um bicho atractivo no seu aspecto viscoso e fusiforme, com a enorme massa visceral que faz parte do seu corpo, colocando-se entre a cabeça e os tentáculos. Confesso, porém, que, quando frescas, jovens, viçosas e macias, aprecio saboreá-las. 

Ora, isto é tudo o que não se pode dizer de Lula. Não do cefalópode, mas do operário metalúrgico que pela terceira vez, depois de libertado da prisão e politicamente ressuscitado, tomou posse como presidente do Brasil. Este Lula não tem seguramente a elegância, a beleza, os olhos ou o bambolear gingão de uma garota de Ipanema ou do Leblon. Não é fresco, nem jovem, nem viçoso, nem consta que seja macio. 

Bem pelo contrário, este vem já curtido por dois mandatos anteriores, por vários escândalos ou situações menos claras, processos judiciais, prisão e, perdoe-se-me a expressão, muita "sacanagem" que também lhe saiu ao caminho, como foi a de um tal Moro de triste memória, que aparentemente impoluto e incorruptível usou técnicas de cafajeste, atropelando a lei ao jeito bolsonarista para levar a água ao seu moinho, até ser politicamente recompensado, o que de nada lhe serviu. 

Não sendo neste velho samba-enredo apreciador do personagem Lula – o derrotado Ciro Gomes faz muito mais o meu estilo de político –, admito que, todavia, esses possam ser os seus grandes trunfos no mandato que ontem iniciou, desde que tenha sabido aprender com os erros passados.

Dele não se espera que enverede pelo populismo boçal do seu antecessor, nem que se comporte como uma elegante misse, distribuindo sorrisos e carícias à direita e à esquerda como forma de manter equilibrado o difícil presidencialismo de coligação – uma particularidade brasileira – em que vai ser obrigado a acomodar-se e mover-se para poder governar e dar aos brasileiros aquilo que tanto desejam e merecem.

Se o vice-presidente Alckmin, seu opositor nas presidenciais de 2006, e agora investido em funções que poderão ser essenciais para garantir os necessários apoios nos trade-off do Congresso, com o Senado e a Câmara dos Deputados, poderá ser um trunfo precioso, só o tempo o dirá.

Registo, para já, a forma como foi recebido e investido, a clareza das suas palavras nos discursos proferidos, que não permite segundas interpretações e lhe condicionará o mandato, bem como a presença, no que foi um record, de dignitários estrangeiros à sua posse.

E quanto a este ponto não posso deixar de sublinhar a forma como o Brasil, depois do modo indigno e humilhante como se comportou nos últimos anos o tropa-trolha que ocupou o Palácio do Planalto, voltou a cumprimentar, antes e depois da posse, e a tratar e receber o Presidente português. Não por ser Marcelo, mas apenas porque lá esteve em representação de Portugal, num gesto que também não passou despercebido aos milhares de brasileiros que vivem no nosso país.

E também a referência carinhosa que lhe foi feita pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sem soberba ou complexos coloniais, imbuído do espírito que devia, deve, sempre presidir às relações entre dois países que partilham a mesma herança secular, a língua, muitas vezes as paixões e até os defeitos.

Não será fácil reerguer um país que caminhava a passos largos para o desmantelamento das suas estruturas, e ao mesmo tempo devolver a esperança e o pão aos favelados da vida, reentrando no caminho da normalidade, devolvendo dignidade ao Estado e às instituições, cumprindo o desígnio de desmatamento zero da Amazónia, reerguendo os alicerces do estado de direito, da legalidade e da justiça, reforçando a autoridade do estado federal, a segurança de pobres e ricos, de brancos, pretos, amarelos e mestiços, qualquer que seja o seu credo, opção ideológica ou preferência sexual.

O Brasil é demasiado grande, diferente (bastou ver o minuto de silêncio por Pelé e o Papa Bento XVI, que antecedeu a posse, ou ouvir o episódio da caneta de Lula vinda do Piauí) e importante no contexto mundial para poder ser governado à balda, distribuindo "propina" a torto e a direito, escondendo o lixo debaixo do tapete ou promovendo o garimpo ilegal.

Lula da Silva tem uma hipótese única de ser recordado pelas melhores razões. Oxalá que não a desperdice, porque também não consta, mesmo sendo Deus brasileiro, que Este esteja disposto a escrever uma segunda vez sobre linhas tortas.

Não deixe o samba morrer, moço.  

Boa sorte, Brasil.

Lula da Silva ou Bolsonaro?

jpt, 16.10.22

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Há 3 anos fui convidado para ir falar na universidade de Aracajú, capital do Sergipe. Surpreendido (nem nos Olivais me querem ouvir) logo aceitei. Lá perorei. E adorei - explico-me, logo que na primeira alvorada saí da pensão exclamei "porra, isto parece Quelimane!!!", e senti-me em casa, qual filho pródigo e tão arrependido, no meio do coco-lanho e a suar em bica.
 
Enfim, vejo que agora Aracajú recebe assim Lula da Silva. Deste nada gosto, do seu "pós-imperialismo" "africanista", da devastação amazónica que incrementou. Mas ainda assim é melhor do que o outro. E em termos amazónicos - que são mesmo os únicos que me interessam, pois estou-me nas tintas para o resto lá do país deles - também. Apesar dele próprio. Ponham lá esse tipo. E controlem-no.
 
Adenda: Sobre Bolsonaro o que tinha para botar botei-o há anos, quando ele brotou. Sobre as simpatias, quantas vezes encapuçadas de mero desdém, que a sua candidatura colheu no centro e na direita portuguesa - dislates que então exemplifiquei com Pedro Borges de Lemos, um "militante do CDS" entretanto transferido para o CHEGA, e Rui Ramos, muito conhecido historiador que não transitou para o CHEGA, no meu "A propósito de Bolsonaro"; e com Assunção Cristas, então presidente do CDS e que também não transitou para o CHEGA ("Cristas e o Brasil"). E ainda sobre a única questão que me é realmente importante relativamente ao Brasil, a ecológica ("Bolsonaro e o clima") - a qual, por razões do imenso atraso cultural português, tende a ser desprezada pelos muito rústicos "conservadores" do rincão.

Canalhice

Pedro Correia, 07.05.22

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Se fosse preciso mais ainda para defini-lo como figura imprestável, Lula da Silva fica assim retratado nas declarações que prestou à edição desta semana da revista Time. Sobre Zelenski, que ele considera tão culpado como o tirano do Kremlin pelas atrocidades que os russos vêm cometendo desde 24 de Fevereiro na Ucrânia.

«Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado.» Palavras de Lula, que certamente um Hitler e um Estaline adorariam ouvir em 1939, quando invadiram a Polónia, esquartejando-a e dividindo-a como se fosse peça de caça. Afinal a culpa dessa invasão, segundo o antigo presidente do Brasil, seria também da nação polaca.

É canalhice sem nome permanecer equidistante entre agressor e agredido. Precisamente o que o ex-inquilino do Palácio da Alvorada faz nesta entrevista. Como se houvesse equivalência entre torturados e torturadores na ditadura militar que durante duas décadas existiu no seu país. Como se acima de qualquer divergência política ou ideológica não existisse um imperativo moral que nos impele a socorrer a vítima em vez de produzirmos retórica cúmplice a justificar o comportamento do violador. 

Isto quando a Amnistia Internacional acaba de sublinhar esta evidência: as forças militares enviadas por Putin para ocupar a Ucrânia cometeram ali crimes de guerra. Incluindo execuções extrajudiciais, bombardeamentos indiscriminados de alvos civis e a prática reiterada de torturas sobre gente indefesa. O que torna ainda mais inaceitáveis as declarações de Lula.

Lula e Haddad.

Luís Menezes Leitão, 09.10.18

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Tem havido grande comparação entre as actuais eleições presidenciais brasileiras e as presidenciais portuguesas de 1986, onde Freitas do Amaral, que tinha tido 46% na primeira volta, acabou derrotado por Mário Soares que conseguiu subir de 25% para 51% na segunda volta, unindo toda a esquerda em seu redor. Mas o grande feito de Mário Soares na altura foi ter conseguido ultrapassar Salgado Zenha, que tinha o apoio do Presidente Eanes. Soares estava com uma popularidade baixíssima, depois de um governo desastrado, e Eanes tinha níveis de popularidade estratosféricos. O problema foi que Salgado Zenha tentou colar-se demasiado a Eanes, dizendo constantemente que na presidência o iria sempre ouvir e seguir. Na altura a Associação Académica da minha Faculdade organizou uma sessão de esclarecimento em que os alunos faziam perguntas aos candidatos, sendo as perguntas arrasadoras. A Zenha um aluno perguntou-lhe apenas isto: "Se ele fosse eleito, Portugal iria ter um Presidente da República, na verdadeira acepção da palavra, ou iria ter um pau mandado?" Fiquei nessa altura convencido de que a candidatura de Zenha tinha acabado ali. E também me está a parecer que desta forma este não vai longe.

Lula e o drama político brasileiro

João Pedro Pimenta, 02.02.18
Não sei se Lula da Silva é culpado ou não daquilo que o acusam. Não acompanhei devidamente o processo judicial, não sei se as provas são suficientes e fidedignas, ou se Lula obteve vantagens pessoais. A verdade é que já vamos na segunda instância e o tribunal de recurso até endureceu a condenação. Mas se Lula não cometeu mesmo os actos de que é acusado, e se não obteve vantagens pecuniárias para si mesmo, cometeu pelo menos o crime - ou o pecado - de omissão pela rede clientelar e de corrupção que o PT semeou no aparelho de estado e organismos a ele ligados.
Seja como for, a candidatura presidencial do mentor do Partido dos Trabalhadores parece estar por um fio. As sondagens mantêm-no à frente da corrida. Os seus apoiantes clamam que é o único candidato "capaz de unir a esquerda". Daí minha admiração: não haverá mais nenhum candidato de esquerda com hipóteses ganhadoras? É só mesmo um político que está há quarenta anos no activo? Isto também diz muito da esquerda brasileira. Seria como se a direita portuguesa recorresse a Cavaco Silva para se "unir".
Entretanto, olha-se para o friso de candidatos que já se perfilam às presidenciais deste ano - além de Lula temos Geraldo Alckmin, Marina Silva, Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e Manuela d´Ávila - e lembramo-nos da velha piada académica: há candidatos bons e originais; mas os que são bons (com grandes dúvidas), não são originais; e os originais, como a comunista Manuela d´Avila, e sobretudo o sinistro e inenarrável Bolsonaro, não são bons. Espero  que Deus seja mesmo brasileiro, para acudir àquele imenso país.
 
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