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Delito de Opinião

Balada do tempo breve

Laura Ramos, 19.09.12

  Luiz Goes (1933-2012)

 

Foi-se  uma voz  única, singular, irrepetível. Um cantar como não se tinha ouvido nunca. Um registo de barítono inimitável, pelo timbre e pela excelência. Pelo sentimento profundo, nascido das entranhas. Saído dos poros da autoria das suas próprias músicas e também das suas muitas e belíssimas letras.

Não, este não é mais um qualquer requiem. Goes era arrebatador e nunca faltou no prato dos meus cd´s. Ficará para sempre, porque não vou amá-lo pelo tempo breve que dura o voo da ave sobre um campo de neve...

Luiz Goes foi, com José Afonso, o expoente máximo da canção de Coimbra do século XX.  Ambos criaram estilos completamente novos rompendo tradições, o que, como sabemos todos, é o caminho certo para as manter vivas.

Hoje, a floresta arde nos subúrbios de Coimbra: olho ao longe e penso que serão, neste horror humano de destruição e perda, as cinzas das suas partituras, dos seus versos, das suas serenatas. E sobretudo das suas emoções, que convertia nas nossas próprias comoções.

Jamais conseguirei explicar a quem não o entenda o encanto indizível do fado de Coimbra. Que de elitista passou a provinciano, de bizarro a patético, mas continua, firme: fado, sempre fado, num género único que faz dele a única canção de cariz local que é cultivada pelos... forasteiros.

Talvez só saiba ouvi-lo quem vive o seu contexto.

Quanto aos outros, nem sabem o que perdem. Mas como chegar  a tudo, neste país de melómanos e de intensiva criação musical? Percebo.