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Delito de Opinião

Emoções #7

A lua

Maria Dulce Fernandes, 26.05.21

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Oh lua, oh luar

Aqui tens o meu menino

Ajuda-me a criar

Tu que és mãe

Eu que sou ama

Tu que o crias

Eu que lhe dou mama

Repetia a Avó Júlia, com o meu irmão no colo, janela aberta para o Tejo, numa noite fria de Novembro, um céu estrelado e uma lua farta, imensa, que jorrava uma luz gateada de um veludo empalidecido. Era um momento solene aquele em que, seguindo ritos pagãos milenares, se oferecia em segredo o bebé à lua, deusa e mãe fonte de vida,  para que pudesse medrar sob a sua protecção.

Lembro-me de querer entrar e a Avó Adelaide me dizer que não, que só podemos ver, longe e em silêncio. Porquê? Perguntei eu. Porque é magia, disse a minha avó, e o homem que lá está com um molho de silvas às costas a olhar para nós, pode ficar zangado.

Durante muitos anos fiz sempre adeus à lua, para que o homem das silvas me visse e não se zangasse comigo.

Observar a lua é uma emoção.

Fotografar a lua é emocionante.

Tenho centos de fotos de todas as fases em diferentes horas do dia e dos contrastes de luz em que se apresenta.

Eu nasci na mudança da lua. Os meus irmãos,  as minhas filhas e os meus netos também. Estar com a lua ou andar aluada são estados normais.

Pode parecer cliché, mas é emocionante, empolgante e emotivo poder sentar-me numa praia escura e ver a lua, altiva no seu perigeu espelhar-se no mar e espraiar gotas de luz na crista de cada onda.

Hoje vou fazer serão.

Instantes em sépia com capa de muitas cores (24)

Maria Dulce Fernandes, 15.07.19

A Luada

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Sou de luas. Desde tenra idade que o Homem na Lua me mirava com olhar reprovador sempre que fazia alguma traquinice, dizia a minha avó. De dia não havia lua, por isso podia fazer todas as maldades que ninguém via, mas a avó dizia que sim, que havia lua, que ela estava lá sempre, só que se escondia para me testar.
 
Sou de luas. Sempre me guiou no escuro da noite, quando os candeeiros eram esparsos e os néons só nos filmes.

Sou de luas. Quando a luz reflectida no mar guiava os barquinhos até à praia onde se puxava a rede e o peixe cintilava sob o luar como irrequietos pedaços de prata.
 
Sou de luas. Certinhas, contadas ao dia, acompanharam cada nascimento, cada brotar de vida que dei de mim.
 
Sou de luas. Como me instruiu a Bisavó Júlia, que aprendera com a sua bisavó, o que a ela lhe ensinaram os que foram, ofereci os meus rebentos à bênção da lua entoando os dizeres pagãos cuja origem se perdeu na noite dos tempos:


 

  "Oh Lua, oh luar,
Aqui tens a minha menina,
Ajuda-me a criar.
Eu sou a mãe, tu és a ama,
Dá-lhe tu o colo,
Que eu lhe dou a mama."
 
 
 
Sou de luas. Sei que me agita, que me altera, que me alvoroça. Comparsa de perenes noites insones, é a ela que conto os meus segredos, aqueles que nem eu própria conheço, que são reclusos da minha aresta lunar, aquela que nunca limei, a mais selvagem, mais agreste, mais bravia.

Sou de luas. Tenho por ela o mesmo fascínio que encantou escritores e poetas, embalou doces paixões, belas e horrendas metamorfoses, e viu o homem crescer do nada e tornar-se humano à luz da Lua.

A Lua e os pequenos animais

João Carvalho, 31.07.12

«A China quer voltar à Lua em 2013». Como é possível voltar onde nunca se esteve? «A China vai tentar no próximo ano aterrar pela primeira vez uma sonda exploratória na Lua». Curiosamente, «a terceira tentativa lunar da China será lançada no segundo semestre de 2013, informou a agência Xinhua, que indica que o objectivo da expedição é a recolha de dados sobre a superfície da Lua.» Como se os dados sobre a superfície da Lua não fossem já conhecidos há mais de quatro décadas. Se não fosse a actual liquidez financeira de Pequim, acho que os EUA já teriam manifestado estranheza.

Três pontos da notícia prenderam a minha atenção de modo especial, o primeiro dos quais é que, em 2001, a China mandou para o espaço a nave Shenzhou-2 «com pequenos animais a bordo». Alguém se lembra se foram baratas, grilos, formigas ou outros ainda mais pequenos?

O segundo ponto é que o recente lançamento da Shenzhou-9 «ganhou destaque por incluir a primeira mulher astronauta». O eixo da Terra oscilou quando os chineses tremeram ao saber do caso. Como se sabe, os chineses dão um enorme valor ao papel das mulheres.

Finalmente, Pequim considera que o projecto para 2013 «evidenciará a importância crescente do país como potência, a sua capacidade tecnológica e o sucesso do Partido Comunista na transformação de uma nação pobre num país próspero». Ora aqui está o que pode ser muito pedagógico para os partidos comunistas. E não só: Portugal também poderá passar com facilidade da pobreza à prosperidade: basta mandar uma nave para o espaço. Se for com pequenos animais a bordo, falem comigo que eu tenho algumas ideias.