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Delito de Opinião

Reflexão do dia

Pedro Correia, 04.02.13

«O PS não tem condições hoje para recusar um debate sobre reformas que têm a ver com o futuro do País. E que necessariamente dizem respeito a um partido com responsabilidades de governo. O PS não pode recusar debater um conjunto de decisões que vão ter de ser tomadas no futuro, no quadro dos imperativos desígnios de ajustar o País às condições de permanência na moeda comum, sendo o PS um dos partidos do arco constitucional europeu. Essa responsabilidade o PS não pode de forma alguma enjeitar.»

Luís Amado, no Diário Económico

Mentira ou consequência

Rui Rocha, 21.03.11

Luís Amado afirmou hoje que estamos todos a jogar aos dados e que o país merecia estar noutra situação. Em cada um dos lados da barricada levantada em torno do PEC IV correm já interpretações que procuram arremessar para o lado contrário o peso das palavras do Ministro. Mas, uma afirmação inclusiva como esta ("todos") é sempre muito mais pesada para o lado da barricada em que o seu autor se situa. Ainda mais quando a verdade socrática sempre refutou essa responsabilidade e a remeteu para referentes que não se podiam defender (a situação internacional, os mercados), contrapondo-a a aspectos concretos da acção governativa, sempre profusamente propagandeados e pretensamente irrefutáveis, como é o caso da "excelente execução orçamental de 2011". Luís Amado sabe que a credibilidade de uma operação deste tipo, montada em torno da repetição exaustiva de uma mistificação, não sobrevive ao facto de um dos responsáveis pela marca vir expor publicamente dúvidas sobre o produto. Tal como sabia das consequências das suas afirmações quando se distanciou, no passado, de José Sócrates. Mais uma vez, Amado ensaia um movimento em que se afasta da responsabilidade própria de um membro do actual Governo para se aproximar de uma posição de neutralidade, comprometida apenas com o interesse do país. O problema é que essa basculação periódica nunca evoluiu para um lance de ruputura. E isso coloca Luís Amado no lado errado do dilema moral que paira sobre o jogo que está verdadeiramente em disputa. Aquele em que obrigam os portugueses a escolher entre a mentira ou a sua consequência.

Amado faz xeque a Sócrates

Pedro Correia, 13.11.10

 

 

Escassas horas após o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, ter feito um apelo à necessidade de todos os responsáveis da vida pública portuguesa enviarem uma "mensagem positiva" aos mercados internacionais, um dos seus colegas de Governo, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, proclama em entrevista ao Expresso que o País pode "sair da zona euro" se não houver uma profunda remodelação do Executivo com a formação imediata de uma "grande coligação", à moda austríaca. Uma descolagem clara de Luís Amado, em rota de colisão com o primeiro-ministro, que o coloca desde já à cabeça dos candidatos a liderar um suposto governo de "salvação nacional". "O País precisa de uma coligação já", declara o ministro, sem rodeios de qualquer espécie, tornando nula a mensagem anterior que Sócrates emitira pela boca de Silva Pereira.

A partir de agora nada ficará na mesma. O bloco central que tem vindo a ser defendido dia após dia, alternadamente, por personalidades da área do PS e do PSD, vai ganhando corpo. Ainda há poucas horas pudemos ouvir também o ex-ministro socialista Correia de Campos, agora deputado no Parlamento Europeu, afirmar na RTP N: "Temos necessidade de uma política bipartidária que nos permita sair da crise."

Sem necessidade de proferir uma palavra em público, Cavaco Silva vê o terreno aplainado neste cerco duplo que outros lançam para afastar José Sócrates por um lado e travar Passos Coelho por outro. Vivemos tempos interessantes. Apesar da crise. Ou antes: por causa dela.

"Não fizemos o que devíamos"

Pedro Correia, 24.05.10

 

Frases recolhidas de uma das entrevistas mais marcantes dos últimos dias:

 

-      “Era necessário reagir à pressão dos mercados mas, mais importante, garantir que fossem já lançadas reformas estruturais que asseguram um crescimento mais elevado.”

-      “Ao longo da última década não fizemos o que deveria ter sido feito. As exigências com que fomos confrontados ao aderir à moeda única não foram entendidas. O euro é uma moeda inspirada no marco alemão, com uma exigência na disciplina orçamental e fiscal, que não foi assumida pela nossa economia. Deveríamos ter sido mais rápidos ao longo da última década a fazer reformas estruturais que garantissem a competitividade da nossa economia.”

- "[A reforma do Estado] foi feita em alguns sectores mas não fomos tão longe quanto deveríamos ter ido."

- "Se o endividamento e défice excessivos são resultado da falta de produtividade e competitividade da economia devemos resolver os problemas estruturais que estão por detrás desta situação."

-      “A economia portuguesa, para resistir ao processo acelerado de integração económica que a Europa vai conhecer, tem de andar mais depressa.”

-      “É muito difícil o entendimento à esquerda do PS, mas admito que é indispensável o entendimento à direita para dar continuidade a um trabalho de ajustamento orçamental imediato e de ajustamento da economia às condições dos mercados.”

-      “Nesta fase de grande complexidade o consenso deveria ser uma imposição da própria sociedade.”

- "O PSD tem que contar com o PS. Sem o entendimento destes dois principais partidos (...) o País não conseguirá adaptar-se às condições muito exigentes com que estamos confrontados. Seria irresponsável que os dois partidos não trabalhassem numa agenda positiva."

 

Palavras de um dirigente do PSD? Não. Frases proferidas por qualquer outro membro da oposição? Nada disso. São declarações ao Diário Económico do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado - o segundo membro da hierarquia governamental. O que diz tudo sobre o actual estado anímico do segundo Executivo Sócrates, empossado há sete meses.